quinta-feira, 11 de abril de 2024

O germe colonialista de Igrejas Cristãs volta a atacar…

 O germe colonialista de Igrejas Cristãs volta a atacar… 


Alder Júlio Ferreira Calado 


Em meados dos anos 90 do século passado, realizou-se, no Seminário Arquidiocesano, em João Pessoa-PB, um Encontro avaliativo e prospectivo, organizado pelos Padres Italianos “Fidei donum”, no Nordeste, para o qual foi também convidado o Pe. José Comblin, a fazer uma reflexão crítica sobre o evento. Antes dele intervieram duas pessoas convidadas, após o que Comblin foi instado a fazer sua reflexão. Seu primeiro gesto foi o de apagar o que estava anotado na lousa, justificando que, até ali se havia tratado no âmbito do consciente, e ele passaria a tratar do inconsciente.


Tratou, então, de questionar o que motivava os missionários europeus - sendo ele também um missionário europeu - a fazerem seu trabalho no Brasil, como se duvidasse de que o único propósito fosse apenas evangelizar. De forma direta ou indireta, sem deixar de reconhecer o legado evangélico do trabalho dos missionários europeus, ele passava  também a questionar a existência de certa pretensão colonialista, de quem vinha mais para ensinar do que para aprender com os pobres do Brasil. Supérfluo dizer de certo mal-estar produzido no ambiente, a tal ponto que o palestrante não compareceria ao encontro, na parte da tarde. 


Aqui tomo a rememoração deste episódio, do qual fui testemunha, como um dos convidados, como ilustração pedagógica para uma reflexão crítica acerca do risco de reprodução ideológica, de caráter colonialista, em que podem incorrer, de um lado, missionários e missionárias não nascidos no Brasil, em sua atividade de evangelização dos pobres, na América Latina e em outros continentes, e, de outra parte, o público-alvo destas atividades, aos se portarem como meros receptáculos (portanto, passivos) da mensagem recebida. Nas linhas que seguem, tratamos de problematizar tais riscos, recorrendo à rememoração de traços históricos da ação missionária ocidental feita na América Latina e no Brasil. Em seguida, cuidamos de compartilhar alguns questionamentos que podem ser úteis, no enfrentamento permanente destes riscos.


Este episódio me vem à memória, como uma ocasião propícia para redobrar a vigilância quanto à necessidade de superação cotidiana e processual, em face dos riscos de introjeção do germe colonialista que pode sobreviver, de parte a parte, nas relações entre missionários e missionárias não-nascidos no Brasil e Cristãos e Cristãs aqui nascidos.


Como se deu a ação missionária realizada na América Latina e no Brasil?            


Os povos originários, africanos e de outras regiões têm sido, após o século XVI, alvos constantes do processo ocidental de colonização. Na verdade, já três séculos antes, sob a égide dos papas em conluio com os reis, haviam autorizado, por meio de bulas a invasão, a apropriação das terras e das riquezas dos povos africanos, bem como sua escravização. É farta a literatura multidisciplinar que analisa criticamente, sob os mais diferentes aspectos e perspectivas, onde, quando e como isso se deu. Um dos traços axiais do processo colonialista se acha intimamente conectado a suas motivações econômicas -  religiosas - especialmente protagonizadas pela a cristandade. 


A empreitada colonial, desde seus inícios, se deu graças à aliança entre o trono e o altar, ou seja, entre as metrópoles europeias e, depois, dos Estados Unidos, e seus respectivos chefes religiosos tanto católicos quanto protestante. Nas grandes viagens de navegação rumo às Américas (então, conhecidas como às “Índias”), estavam presentes a espada e a cruz, simbolizando os instrumentos da conquista das terras e dos povos de além-mar, tornando-se a principal estratégia de “dilatação da fé e do império”. Não é à toa, a este propósito, que o símbolo da cruz vinha afixado nas velas das embarcações ibéricas destinadas à África e à América Latina.  


Sem esquecermos tantas outras fontes históricas, aqui recorremos especialmente à densa contribuição oferecida pelo Projeto da CEHILA (Comisión de la Historia de la Iglesia Latino-Americana), coordenado por uma Equipe de historiadores Latino-Americanos entre os quais Enrique Dussel, José Oscar Beozzo, Eduardo Hornet, há quem também recorremos, em seu conhecido “A História do Cristianismo na América Latina e no Caribe” (São Paulo: Paulus, 1994). Na perspectiva histórica protestante, por sua vez, nos inspiramos em autores tais como William Yoo (cf. por exemplo: “What kind of Christianity? A History of Slavery and anti-Black racism in the Presbyterian Church”, Presbyterian Publishing, 2022. - Livro que me empenho em adquirir), José Bittencourt Filho (cf. textos e vídeos, inclusive sua contribuição escrita para o livro “Cristo e o Processo Revolucionário Brasileiro: a Conferência do Nordeste 50 Anos Depois (1962-2012)”, Editora Muad X, 2012.).


Seja na tradição missionária católica, seja na empreitada missionária protestante, o germe colonialista/escravista se achava fortemente inoculado. Em ambos os casos, era prática frequente a presença de escravos em conventos e a disposição de chefes religiosos protestantes. Convivia-se, sem escrúpulos, com os valores da escravidão, ainda que flagrantemente contrastando com a mensagem evangélica. A era constantiniana e mesmo o advento da Reforma Protestante, alimentados por valores helenísticos e pela ideologia do Império Romano, serviram de base justificativa para tal abuso. Aí estava agindo eficazmente o germe colonialista, durante séculos, na empresa missionária de igrejas cristãs, na América Latina e no Caribe.


Tanto as incursões missionárias católicas, quanto as protestantes já eram, desde seus países de origem, acometidas do germe colonialista/escravista. Para tanto, no caso da Igreja Católica uma rápida consulta ao teor de Bulas papais, tais como a “Dum diversas”, de 1452, de autoria do Papa Nicolau V;  “Romanus Pontifex” (1455), de autoria do Papa Nicolau V, e à “Inter caetera”, de 1493, de autoria do Papa Alexandre VI, nos enseja a perceber a gravidade desses documentos, ao autorizarem monarcas europeus a invasão violenta e a escravidão de povos Africanos. Importa, ainda, assinalar que tais bulas se associam intimamente ao famigerado “Dictatus Papae”, de meados do século XI, atribuído ao Papa Gregório VII. 


No que toca ao legado de Igrejas Protestantes, também podemos observar a presença do germe colonialista/escravista, em suas incursões na América Latina e no Caribe. Mesmo em se tratando de Igrejas Cristãs históricas - Igreja Batista, Igreja Presbiteriana, Igreja Metodista, Igreja Anglicana, entre outras -, há relatos colhidos de fontes credíveis, que atestam práticas escravistas (trazidas de suas respectivas matrizes, especialmente do Sul dos Estados Unidos), nestas organizações eclesiásticas, seja no Rio de Janeiro, seja em Minas Gerais, seja em São Paulo, etc.


Passados 5 séculos, a despeito de seus fluxos e refluxos, eis que, no cenário histórico  atual com o ascenso das forças neofascista em escala mundial podemos constatar sinais de uma pavorosa recidiva, a merecer especial atenção de quantos e quantas seguem empenhados na construção processual de um novo modo de produção e de gestão societal, ecologicamente respeitoso da dignidade de nossa Casa Comum, economicamente justo, socialmente participativo e culturalmente diverso.


Tais registros resultam relevantes, para avaliarmos o que se passa hoje, no cenário brasileiro, com o reavivamento de tendências da ultra Direita, com a qual setores de Igrejas Cristãs, católicas e protestantes se têm mostrado organicamente afinados. Manter firme a vigilância, quanto a este fato, constitui uma tarefa permanente aos grupos e pessoas que se sentem discípulos e discípulas do Movimento de Jesus, até porque, ante o alerta trazido por José Comblin, no episódio acima descrito, ninguém de nós está isento deste risco, pois, como também alerta Paulo, “Quem estiver de pé, cuide para não cair” (I Cor 10,12). 


João Pessoa 11 de Abril de 2024.           


terça-feira, 9 de abril de 2024

À memória das Ligas e das lutas camponesas

 À memória das Ligas e das lutas camponesas


Alder Júlio Ferreira Calado


O movimento das Ligas Camponesas, iniciado no Engenho Galileia, em Vitória de Santo Antão - PE, em meados dos anos 50, estendeu-se rapidamente pela Paraíba, pelo Nordeste e outras regiões. Tendo surgido como uma iniciativa camponesa de caráter meramente assistencial, graças a militância e ao compromisso político de figuras tais como Zezé da Galileia, João Targino, José Francisco, Francisco Julião (em Pernambuco) e João Pedro Teixeira, João Alfredo Dias (Nego Fuba), Pedro Fazendeiro, Elizabeth Teixeira (“Mulher marcada para viver” em seus bem vividos 99 anos) - estes últimos da Liga de Sapé - PB, foi ganhando força e se firmando, em âmbito nacional, a clamar pela Reforma Agrária. 

A segunda metade dos anos 50 e os inícios dos anos 60 mostraram-se pródigas nas lutas pelas então chamadas Reformas de Base (reforma agrária, reforma urbana, reforma da educação, reforma bancária…). Trata-se de um período histórico profundamente marcado pelo ascenso de movimentos sociais  - do campo e da cidade, estudantil, operário, etc -, a ponto de atraírem a ira e a perseguição dos segmentos dominantes da sociedade brasileira. Este período constitui uma das épocas mais promissoras e animadoras no tocante ao avanço das forças progressistas e de esquerda da sociedade brasileira. Não foi por acaso que o governo dos Estados Unidos investiu tantos recursos para abortar este processo revolucionário então em curso, não bastasse a violência e as perseguições desencadeadas pelos latifundiários, em associação a outras forças reacionárias, tais como as forças militares, igrejas cristãs, a imprensa hegemônica, os banqueiros, entre outras.

Nas rápidas linhas que seguem, cuidamos apenas de registrar traços da manifestação anteontem dia 07/04/2024 ocorrida, no memorial das Ligas e das Lutas camponesas da Paraíba, situado no município de Sapé - PB, em homenagem aos lutadores e lutadoras das ligas camponesas, especialmente deste Estado. Dela participaram centenas de pessoas, vindas de vários municípios vizinhos e da capital. A manifestação foi animada por Alane e Marquinhos, a coordenarem a pauta do dia, da qual fizeram parte diversos números, tais como a participação do conhecido repentista Oliveira de Panelas, da ciranda de Cocos de Caiana dos Crioulos, do coral Voz Ativa de João Pessoa, entremeados de falas rememorativas, feitas por diversos militantes, mulheres e homens.

Não tendo podido participar fisicamente, cuidei de me informar sobre o ocorrido, fazendo questão de compartilhar aspectos vivenciados, no Memorial das Ligas e das Lutas Camponesas da Paraíba, como uma manifestação do Reconhecimento da importância de fazermos esta memória, comprometendo-nos a tornar sempre vivo este legado, especialmente na atual quadra histórica e expansão das forças distópicas e tenebrosas, que infestam nossa sociedade.

Que as Ligas Camponesas nos inspirem a garra e o compromisso de enfrentarmos os desafios de hoje, conscientes de que os movimentos sociais, do campo e da cidade, seguem sendo as forças principais, sem as quais não podemos superar os atuais desafios.


João Pessoa, 09 de Abril de 2024. 


quarta-feira, 3 de abril de 2024

Encontro preparativo para a XIV Semana Teológica Pe. José Comblin

 Encontro preparativo para a XIV Semana Teológica Pe. José Comblin


Alder Júlio Ferreira Calado 


No centro de formação Pe. José Comblin, situado em Café do Vento (Sobrado - PB), realizou-se, no dia 24 de Fevereiro  passado, o primeiro Encontro de preparação para a realização da XIV Semana Teológica Pe. José Comblin (STPJC). Bem acolhidos, como de hábito pelo Pe. Hermínio Canova, participaram do Encontro: Pe.Hermínio, Elenilson, João Batista, Jéssica, Maria José (membros do Grupo José Comblin); Glaudemir (membro da Associação dos Missionários e Missionárias do Campo);Salene (Integrante do Grupo Santa Dulce dos Pobres); Aparecida, Glória, Alder (Membros do Grupo Kairós, sendo Gloria e Salene também integrante do CEBI); e Noaldo (advogado da CPT), que também almoçou conosco e compartilhou informações acerca do caso Almir Muniz, trabalhador da CPT desaparecido é assassinado, julgado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH), em San José, na Costa Rica, sessão da qual Noaldo também participou.


Por volta das 09 horas, após o café preparado por Maria José, Pe. Herminio convida os presentes a tomarem assento à mesa da varanda. Rememora os pontos de pauta e os objetivos da reunião. Em seguida, convida a todos a um momento de Oração, com base na leitura do dia 25/02, versando sobre a Transfiguração de Jesus (Mc 9,2-10). Após a leitura, convida os participantes a compartilharem sua interpretação e sua reflexão sobre a leitura do dia, aspectos diversos e complementares vinham  à tona. Podemos entender a narrativa da Transfiguração como um apelo à nossa atitude de fé e de esperança diante dos desafios hoje enfrentados pela humanidade, o que exige de nós uma atitude de vigilância e de oração, por meio do serviço aos mais necessitados (o sempre atual apelo dos profetas à nossa solidariedade ao órfão, a viúva e ao estrangeiro).


Após anunciar os principais pontos da pauta (informes trazidos pelos participantes; notícia sobre os desafios da Escola de Formação Missionária de Santa Fé-Solânea-PB; primeiros passos para a XIV Semana Teológica Pe. José Comblin; um olhar sobre a atual conjuntura; lançamento de livros), ouvimos alguns informes trazidos pelos participantes bem como uma rápida explanação feita pelo Pe. Hermínio acerca das dificuldades e do fechamento (provisório?) da Escola de Formação de Missionários de Santa Fé, à qual se seguiram algumas intervenções, inclusive da parte de Glaudemir. Quanto ao principal da pauta - a organização da XIV STPJC - , foram solicitadas sugestões  de temas, lugares e datas desta nova edição da STPJC. Foi feita, então, uma roda de sugestões temáticas. Começou-se por lembrar que, neste ano, completam-se 40 anos da publicação, pela Vozes, do livro “O Clamor dos Pobres, O Clamor de Jesus, bem como da publicação de um dos tomos de “Breve Curso de Teologia” (em quatro volumes), todos de autoria de José Comblin. Foi ainda lembrado que, em 1974, foi publicado, pela Vozes, o livro “Jesus de Nazaré”. Dada a atualidade dos temas, isto poderia inspirar a organização da XIV STPJC.


Sem prejuízo desta sugestão, também surgiu a proposta de exercitarmos a memória do Teólogo José Comblin, a partir de sua experiência espiritual, do modo como buscou vivenciar, ao longo da vida, uma Espiritualidade da Libertação ou uma Espiritualidade Reinocêntrica, a partir da mensagem nuclear anunciada e testemunhada por Jesus. Acolheu-se a sugestão de irmos amadurecendo nossa reflexão sobre a questão temática, deixando para tomar uma decisão, na próxima reunião do nosso Grupo, marcada para o dia 11/05.


Além da questão temática, vieram a tona outros aspectos relativos à XIV da SPTJC tais como: onde, como e quando realizar as Jornadas Comunitárias e a Sessão de Encerramento. Na ocasião, foi sugerido fazer novas experiências em outras comunidades, mantendo, porém, a de Várzea Nova e a do Centro de Direitos Humanos Dom Oscar Romero, em Tibiri II. Também, foi acolhida a ideia de encontrarmos um novo local para a sessão de encerramento. 


Dada a hora avançada, foram apenas rapidamente esboçados alguns elementos da conjuntura internacional e nacional, destacando-se o crescente avanço da Extrema Direita pelo mundo (Hungria, Polônia, Itália, Holanda, Suécia, Portugal…), inclusive na América Latina e no Brasil, onde persiste um preocupante cenário bolsonarista. Apesar dos esforços do Governo Lula, em busca de reconstruir o País, tem enfrentado obstáculos de monta, tendo que enfrentar a Direita, seja ante o Bolsonarismo, seja no Parlamento, seja na mídia hegemônica, seja os interesses no Agronegócio, dos banqueiros… não menos desafiante, uma certa paralisia dos movimentos populares, sindicais e partidários.


O último ponto de pauta constou da informação da publicação recente de dois livros: “Contemplando e Anunciando os Sinais do Reino”, de autoria do Missionário e educador popular Glaudemir Silva, que o apresentou brevemente; e o livro “Kairós, 25 anos”, escrito por Aparecida e Alder, recuperando a memória deste grupo que nasceu, em 1998, na casa do Padre José Comblin. 


Ao final do Encontro, ficou acordada nossa próxima reunião para o sábado, 11 de maio próximo. Como de costume, foi-nos servido um saboroso almoço, com direito a brinde oferecido por Pe. Hermínio.


João Pessoa, 03 de abril de 2024



segunda-feira, 1 de abril de 2024

A Extrema-Direita infesta o mundo Pervertendo a humana condição

A Extrema-Direita infesta o mundo

Pervertendo a humana condição


Alder Júlio Ferreira Calado


A Extrema-Direita, em todo o mundo 

Ameaça o Planeta e os humanos 


Tênue, o fio que distingue a  Direita e Extrema

Sempre juntas, quando e como lhes convém


Enganosa, a alcunha de “Centrão”

Os seus atos só pendem pra Direita


O verniz “democrático” das potências

Só ilude quem as chama “Democracia”


Emblemáticos os fracassos reiterados 

Para a ONU deter o genocídio      


Os humanos são parte da Mãe-Terra

Pra Direita, ela é só mercadoria 


Ser humano é chamado a ser mais 

Pra Direita, só importa ter mais bens


Frente ampla, se serve, é em eleição

Na gestão, a Direita é quem mais ganha


Do orçamento, aos ricos o filé 

Para os pobres sobram ossos e nada mais 


Qual moloche, o Mercado exige humanos 

Em ofertas, sacrifícios sanguinários


Os fascistas se creem supremacistas

A direita defende privilégios


Cultivam idolatria, falam de Deus 

Mas seu Deus é o dinheiro, deus Mamom


Acumulam riqueza em excesso 

E de fome e miséria matam milhões


Tem horror dos indígenas

A riqueza existente nas suas terras


São herdeiros diretos de escravistas

Seu projeto é voltar a escravidão


Igualdade de direito entre os gêneros

Prós fascistas mulheres são objeto


Não bastassem os covardes bombardeios 

Sionistas de fome matam um Povo


Genocídio se faz a olhos vistos

Sob o olhar complacente da “grande” mídia 


O massacre sionista dos palestinos 

Nos remete a traços de holocausto 


Sionismo desafia a própria ONU

“Terroristas” pra mídia é só Hamas…


Palestinos massacrados a céu aberto 

E Tarcísio e Caiado a quem apoiam?


Diminui desemprego, mas o Mercado

Precariza os empregos, extremamente


Se lutamos por nova sociedade

Da memória não podemos abrir mão


Militares não são proprietários

Do destino da Pátria e da nação 


A gestão só compete aos civis

Militares já têm própria função 


Condição de armados, “ipso facto” 

Já os leva para fora da Política 


Se lutamos por nova sociedade

Da memória jamais abramos mão!


Das tragédias de golpes sucessivos

Extraiamos lições para superá-los  


Se a gestão do Estado é dos civis 

Dela distem os que lidam com as armas 


Militares não devem ser um “gueto”

Têm que estar a serviço dos civis 


Fora a pauta militar bem específica

Que se formem em conjunto com os civis  


Refundar toda a pública segurança 

Com critérios democráticos essenciais


Decisões democráticas não se tomam 

Sob a mira de tanques e canhões


Servidores, não donos de nações

São as Forças Armadas e congêneres 


Há civis tão somente a governança 

Que a política se afasta dos quartéis


O Império interveio contra o Golpe

Dissuadiu os generais da intentona


As potências não dão ponto sem nó

E se algo oferecem, exigem em dobro


Infeliz da Nação, ai do Governo 

Que a outro dever a sua sorte


Reverencia a João Pedro e companheiros

Lutadores das Ligas Camponesas


Homenagem a Gregório Julião, 

João Targino e Zézé da Galiléia


João Pessoa 31 de Março de 2024


segunda-feira, 25 de março de 2024

Sem uma Espiritualidade Reinocêntrica as Igrejas Cristãs não têm saída: Ponderações acerca dos atuais retrocessos ante a Tradição de Jesus

 Sem uma Espiritualidade Reinocêntrica as Igrejas Cristãs não têm saída: Ponderações acerca dos atuais retrocessos ante a Tradição de Jesus 


Alder Júlio Ferreira Calado


Também na história do Movimento de Jesus, a Espiritualidade Reinocêntrica é alimentada pelo exercício constante da memória profética. Hoje, dia 24/03, duas efemérides nos vêm ao espírito: a memória do martírio de Dom Oscar Romero, Arcebispo de São Salvador, em 24 de março de 1980, e, antes dele, nos vêm ao espírito as vítimas da Ditadura Militar da Argentina (1976-1985), das quais nos toca profundamente a resistência profética das Mães da praça de maio.


O crescente distanciamento dos ensinamentos da Tradição de Jesus, observável a olhos vistos, no cotidiano de parte expressiva dos que se confessam cristãos (Católicos, Protestantes, Ortodoxos), em escala mundial, nos tem levado a enfrentar questionamentos do tipo: O que explica o espantoso número de escândalos (Econômico-financeiros, Morais e outros), a envolverem conhecidas figuras de Padres, Pastores, Bispos Cristãos? O que está por trás do descrédito crescente de instituições religiosas? Como explicar a expansão incessante do número de Padres, Pastores e Bispos, cujas práticas traem os ensinamentos do Evangelho? Como entender as crescentes afinidades observáveis entre Católicos e Evangélicos neopentecostais, protagonistas de causas claramente distanciadas dos valores fundamentais do Evangelho, e, ao mesmo tempo, profundamente afinados com as causas mais abomináveis da extrema-Direita?


Nas linhas que seguem, cuidaremos de refletir brevemente sobre tais indagações, ousando sustentar, como hipótese  - com várias outras pessoas - que as experiências de ontem e de hoje de um modelo de Igreja auto-referenciada têm levado inevitavelmente a uma negação objetiva dos valores axiais da Tradição de Jesus - o Reino de Deus e sua Justiça (CF. Mt 6,33). 


A este propósito, o Papa Francisco, em seus escritos, mensagens e discursos, não têm cessado de insistir na repreensão de grande parte do Clero, que se torna refém de uma Igreja Auto-referenciada, desconectada da Tradição de Jesus, em relação à qual a Igreja (e toda Igreja que se confessa cristã) deve ser sinal ou instrumento a serviço do Reino de Deus. Desde sua primeira Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium”, o Papa Francisco cuida de alertar os agentes de Pastoral inclusive o Clero sobre isto, de modo a classificar o clericalismo como uma espécie de enfermidade que infesta a Igreja Católica, nos dias atuais, chegando mesmo a tratá-los como “funcionários do Sagrado”. No n.95 da E.G., por exemplo, lemos “Também se pode traduzir em várias formas de se apresentar a si mesmo envolvido numa densa vida social cheia de viagens, reuniões, jantares e recepções. Ou então desdobra-se num funcionalismo empresarial, carregado de estatísticas, planificações e avaliações, onde o principal beneficiário não é o povo de Deus mas a Igreja como organização. Em qualquer um dos casos, não traz o selo de Cristo encarnado, crucificado e ressuscitado, encerra-se em grupos de elite, não sai realmente à procura dos que andam perdidos nem das imensas multidões sedentas de Cristo. Já não há ardor evangélico, mas o gozo espúrio duma autocomplacência egocêntrica.


O ascenso da extrema-Direita, seja no âmbito internacional, tem recorrido abusivamente a diversas igrejas  - e com sucesso!-, como meio eficaz de propagação de sua ideologia. Isto não se faz, sobretudo por parte das lideranças eclesiásticas (pastores e padres), sem uma atitude objetiva de atraiçoamento dos valores centrais do Evangelho: a compaixão pelas vítimas das injustiças sociais a solidariedade com os sofredores e humilhados, a partilha dos bens comuns, o cuidado com a Casa Comum, entre outros.


Embora tais contradições se verifiquem ao longo de séculos de Cristandade, nunca é demais rememorar a resistência profética testemunhada, ao longo desses mesmos séculos pelas “minorias abraâmicas”, como as chamava Dom Helder Câmara, é certo que houve, ao longo deste mesmo tempo, alguns períodos densamente proféticos como vimos na América Latina, entre os anos 60 e 80, com o protagonismo de toda uma geração de bispos-profetas. Mas, isto se dá raramente, justamente graças a sua atitude renocentrica, isto é, de não sucumbirem a tentação de buscar fazer prevalecer os interesses institucionais sobre os valores do Reino de Deus


O Papa Francisco, ao fazer esta e outras críticas, apenas atualiza o Espírito da Constituição “Lumen Gentium”, cuida de definir a Igreja como Instituição que, fiel ao Projeto de Jesus, é chamada a testemunhá-lo em meio ao Povo de Deus, a serviço da humanidade, sem pretensão a nada impor, mas em diálogo aberto com todos os povos e nações. Lamentável é que, hoje prevalece muito contra-testemunho por parte de tantas figuras clericalistas, inclusive leigos, a atuarem como meros funcionários a serviço dos interesses institucionais da Igreja, distanciando-se dos valores do Reino de Deus e sua Justiça. Valores de fraternidade/solidariedade, de partilha, de diálogo, de solidariedade com os mais necessitados e de serviço gratuito, não de denominação.


Com relação a outras Igrejas, o atual contexto apresenta atitudes semelhantes, de um descompromisso com a mensagem nuclear da Tradição de Jesus. Por meio de rígidos laços de hierarquia, não raramente chefes eclesiásticos agem como se fossem o alvo principal do culto e das atividades de várias Igrejas e denominações.


Agem, salvo exceções, em função dos interesses institucionais, pouco ou nada ligados diretamente aos valores do Evangelho. Não raramente, chefes eclesiásticos (pastores, padres, bispos…) se acham envolvidos em práticas e prédicas a serviço dos seus próprios interesses, ainda que o façam em nome de Deus ou da própria instituição que dirigem. Uma situação frequente, ao alcance dos olhos de muitos fiéis, têm a ver com sua agenda ordinária, recheada de campanhas e iniciativas preocupadas com o aumento do dízimo e das contribuições, seja persuadindo seus fiéis a aumentarem suas contribuições, seja envolvendo-os em campanhas arrecadatória para fins eclesiásticos discutíveis (reforma de prédios, novas construções, aquisição de bens duráveis nem sempre necessário, etc.). Tudo isto se fazendo com pouca transparência ou nenhum controle público efetivo.


Não se trata de casos isolados, mas de uma tendência crescente, a revelar ter a ver com um modelo de Igreja autocentrado e cada vez mais desconectado do movimento de Jesus. Revelam um progressivo afastamento de uma Espiritualidade Reinocêntrica, que podemos traduzir, na expressão já cunhada pelo Bispo de Roma, como uma “Igreja em saída”, uma Igreja samaritana comprometida com a causa libertadora dos mais necessitados: O grito da Mãe terra, os povos originários, as mulheres vítimas de  feminicídios e de violências de todo tipo, as vítimas de homofobias, as comunidades quilombolas, os jovens marginalizados do campo e das periferias urbanas, os moradores em situação de rua, os migrantes entre outros.


Eis por que insistimos, junto com tantas outras vozes, em que sem uma Espiritualidade Reinocêntrica, não há saída para as Igrejas Cristãs . Neste sentido, recomendamos o aprofundamento do exercício da memória profética e da autocrítica, desde o chão do nosso cotidiano, recorrendo inclusive a leituras comunitárias, tais como as que vimos fazendo de livros como “50 Anos de Teologias da Libertação” “Contemplando e Anunciando os Sinais do Reino” (de autoria de Glaudemir da Silva), sem esquecermos dos luminosos textos produzidos pelo CEB (Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos), entre tantos outros.                                                                                                                                 


Eis por que insistimos, junto com tantas outras vozes, em que sem uma Espiritualidade Reinocêntrica, não há saída para as Igrejas Cristãs . Neste sentido, recomendamos o aprofundamento do exercício da memória profética e da autocrítica, desde o chão do nosso cotidiano, recorrendo inclusive a leituras comunitárias, tais como as que vimos fazendo de livros como “50 Anos de Teologias da Libertação” “Contemplando e Anunciando os Sinais do Reino” (de autoria de Glaudemir da Silva), sem esquecermos dos luminosos textos produzidos pelo CEB (Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos), entre tantos outros.       

João Pessoa, 24 de março de 2024

    


 


terça-feira, 19 de março de 2024

A religião como Projeto de poder político: Notas sobre a expansão no Brasil da Teologia do Domínio

A religião como Projeto de poder político: Notas sobre a expansão no Brasil da Teologia do Domínio


Alder Júlio Ferreira Calado


Mergulhados em tempos distópicos e tenebrosos, assistimos, perplexos, à crescente expansão, em escala mundial, da extrema-Direita, movida pela ideologia fascista, centrada em contra-valores tais como a violência, a mentira contumaz, a hipocrisia, todos promovidos, em grande parte, pela mídia hegemônica, especialmente por suas redes digitais. Neste movimento deletério dos princípios elementares que norteiam o processo de humanização, o apelo à religião tem se dado de modo abusivo, especialmente por meio de seus próceres. 


Nas últimas décadas, com efeito, temos constatado avanços significativos da onda neofascista, na Europa, na América-Latina e alhures, como manifestação emblemática do desenvolvimento capitalista, em sua fase / face neoliberal, em seu potencial extremamente devastador, seja das condições socioambientais, seja das condições econômicas (com graves consequências no aumento das desigualdades sociais, seja no âmbito político, seja no âmbito cultural).


No caso específico do Brasil, salta aos olhos o recurso abusivo que seus representantes têm feito da Religião como meio privilegiado de impor uma ideologia teocrática, apelando também para os mecanismos de controle dos aparelhos de Estados. É assim que diversas denominações ditas Evangélicas, em parceria com segmentos neopentecostais católicos, têm recorrido, por diferentes estratégias, à promoção de iniciativas e eventos, com o claro propósito de proselitismo, seja em redes de televisão, de rádios, de periódicos, seja investindo maciçamente na eleição de candidatos e candidatas a cargos com mandato executivo e legislativo, tanto na esfera municipal, tanto no plano estadual, quanto na esfera federal. Também no âmbito do Judiciário, sua presença se faz notar. Importa, ainda, ter presentes suas investidas nos aparelhos repressivos do Estado. 


Tal como a conhecida Teologia da Prosperidade, na qual se fundamentam ricos pastores de várias denominações evangélicas, de modo a induzirem grande número de seus seguidores a manterem e até a aumentarem sua contribuição mensal, dita “Dízimo”, sob a promessa de que Deus multiplicará seus bens e abençoará suas vidas, vem ganhando força a chamada “Teologia do Domínio”, cujos traços principais cuidamos de destacar.  


Cumpre, antes de tudo, assinalar a relação  orgânica entre  a Teologia do Domínio e o movimento mundial da extrema Direita, em suas estratégias de submeter a sociedade civil ao cerrado controle ideológico dos princípios e valores totalitários que a  caracterizam. O controle ideológico constitui um pilar decisivo de suas diversas estratégias de controle total da vida social, econômica, política, cultural, subjetiva, ética, estética e espiritual.


Cada uma dessas dimensões se mostra como alvo direto ou indireto de seu projeto totalitário. Recorrendo a um exemplo ilustrativo deste projeto, podemos mencionar a recente fala feita pela ex-Primeira Dama do Brasil, quando do recente Ato público, realizado na Avenida Paulista em São Paulo, a pretexto de esclarecimentos e em defesa do ex-Presidente do Brasil. Tal Ato, em sua abertura, remetia ou lembrava, antes, a realização de um culto, cujo rito se mostrou caracterizado por forte traços da Teologia do Domínio, à medida que a ex-Primeira Dama, usando e abusando de textos Bíblicos do Antigo Testamento, em uma interpretação fundamentalista, conclamava seus ouvintes a uma batalha em defesa do Bem e contra o Mal, em que o Mal corresponde a todos aqueles que não concordam com os propagadores da Teologia do Domínio, tornando-se, por isto mesmo, perigoso inimigo a ser combatido e exterminado.               


Outro traço da Teologia do Domínio é o abuso de uma hermenêutica supremacista do Antigo Testamento, com o propósito de lastrear suas teses de submissão da humanidade a dogmas supremacistas veterotestamentários, aos quais tenta submeter, inclusive, os ensinamentos do Novo Testamento e do próprio Evangelho. Trata-se da substituição do Deus-Amor pelo Deus dos exércitos, sempre pronto a combater e a exterminar todos os que não lhe prestam obediência. Ou seja, a Teologia do Domínio, em sua insensatez, persegue todos os diferentes como inimigos, sob a alegação de estarem contra Deus, o seu Deus. 


O apelo abusivo ao nome de Deus só agrava o teor de uma ameaça de desfiguração da condição humana, à medida que vivencia e tenta legitimar, como se os valores fossem da condição humana, traços mais perversos da mesma condição humana, situação que se pode observar por suas posturas e atitudes não raro desumanizantes, ecocidas, misóginas, androcêntricas, racistas, xenofóbicas, aporofóbicas, islamofóbicas, homofóbicas, transfobicas, entre outras. 


Seguir estudando criticamente como se estrutura e organiza a Teologia do Domínio e suas manifestações no atual cenário internacional e nacional constitui relevante tarefa, como meio de combatê-las em suas raízes. Para tanto, convém (re)visitar alguns estudos que nos fornecem elementos históricos do aparecimento e evolução deste fenômeno. Nesse sentido vale a pena (re)ler, por exemplo, um estudo feito por Delcio Monteiro de Lima em seu livro “Os Demônios descem do Norte” (Editora Francisco Alves, 1987), bem como - agora, já sobre o tema específico - o livro “Heaven on earth?: the social & political agendas of dominion theology” (1992). 


No que toca especificamente ao caso brasileiro cumpre lembrar o empenho investigativo de João César de Castro Rocha e outros, a exemplo de Andrea Dip, em seu livro “Em nome de quem?: A bancada evangélica e seu projeto de poder” (Editora Civilização Brasileira, 2018). Neste sentido, recomendamos acompanhar mais de perto seus escritos e entrevistas, a exemplo da concedida por João César de Castro Rocha no podcast Pauta Pública. 


Nesta entrevista, podemos ler: “Em meio ao avanço de investigações da Polícia Federal sobre as suspeitas de um plano de golpe de Estado por parte de Jair Bolsonaro e seus aliados, o ex-presidente reuniu milhares de apoiadores na avenida Paulista no dia 25 de fevereiro. Para o historiador e professor de literatura comparada na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) João Cezar de Castro Rocha, no futuro os historiadores verão essa manifestação como um momento sintomático de algo que há muito tempo se articula nos bastidores: pela primeira vez, tornou-se explícito o projeto da teologia do domínio. No episódio 109 do podcast Pauta Pública, o professor explica as dimensões religiosas da manifestação bolsonarista. Segundo Castro Rocha, a teologia do domínio usada nos discursos de Michelle Bolsonaro e Nikolas Ferreira foi desenvolvida nos Estados Unidos e, recentemente, adotada no Brasil. Ela é a base da doutrina de várias igrejas, como a da Lagoinha, diz o professor.” (https://apublica.org/2024/03/teologia-do-dominio-e-mais-perigosa-para-democracia-que-bolsonarismo-diz-historiador/


Um final sintomático desta investida teocrática, podemos perceber na votação prevista para esta semana, de um Projeto de Lei propondo a isenção de impostos para igrejas, a despeito de o Estado se declarar laico.


João Pessoa, 19 de março de 2024.


* Texto ditado pelo autor, e digitado por Elizabete Santos Pontes, Gabriel Luar Calado Bandeira e Heloíse Calado Bandeira, a quem o autor expressa sua gratidão.


terça-feira, 12 de março de 2024

A eficácia político-pedagógica da militância de Breno Altman: Notas acerca de sua exposição anti-sionista, na Paraíba

 A eficácia político-pedagógica da militância de Breno Altman: Notas acerca de sua exposição anti-sionista, na Paraíba 


Alder Júlio Ferreira Calado 


Na véspera da comemoração do natalício de Gregório Bezerra (13/03/1900-21/10/1983), admirável lutador popular, a quem prestamos nossa homenagem, cuidamos de compartilhar um registro acerca da presença de Breno Altman, na Paraíba, para lançamento do seu livro “Contra o Sionismo: Breve história de uma doutrina colonial e racista”


Figura de referência da Esquerda, o Jornalista Breno Altman tem-se notabilizado pela qualidade de suas análises e de suas intervenções orais e escritas, seja no plano internacional, seja no âmbito nacional. Por meio de sua participação diária, tanto em canais alternativos (ora em “Opera Mundi”, ora no canal Brasil 247 e em outras redes digitais), vem se mostrando reconhecidamente e qualificado pelas suas análises e intervenções criteriosas.


Apresentando-se como Judel, de espectro anti-sionista, tem-se tornado alvo predileto, sobretudo por conta de sua corajosa oposição e denúncia das atrocidades cometidas pelo Governo sionista de Israel contra o Povo Palestino, de sistemática perseguição pelas forças sionista e ultra-Direita, a exemplo da Conib (Confederação Israelita do Brasil), que lhe tem movido ação judicial por suposta posição anti-semítica.


Ao invés de limitar-se a mera defesa, no plano judicial, Breno Altman não tem cessado de responder, ativa e altivamente, a tal perseguição, seja por meio de entrevistas, seja pela publicação de seu recentíssimo livro “Contra o Sionismo” (Alameda Editorial, 2023), seja ainda pela fecunda iniciativa de debater a questão sionista, desde suas raízes histótica e sua evolução desssastrada, percorrendo as 27 unidades federativas do Brasil, inclusive a Paraíba. As linhas que seguem, se circunscrevem a fornecer uma breve notícia de sua recente passagem pela Paraíba.


Com o apoio e solidariedade de múltiplas entidades da sociedade civil (Entidades Sindicais, de Movimentos Populares, de correntes partidárias e estudantis), Breno Altman esteve também na Paraíba, no início da semana passada, tendo cumprido 6 compromissos, sendo 3 em Campina Grande (no meio sindical, com os estudantes e na UFCG) e 3 em João Pessoa (no Sindicato dos Correios, na Assembleia Legislativa e na UFPB).


Aqui nos limitamos a destacar aspectos axiais de sua exposição feita, na UFPB, no dia 05/03 próximo passado, encontrando o auditório 411, do CCHLA completamente lotado, especialmente por jovens. Tendo-lhe sido passada a palavra, Breno Altman, após a saudação inicial, começou por apresentar as razões de sua presença: esclarecer sobre a relevância do tema, que hoje desponta como a questão mais urgente para o mundo e a necessidade de aprofundamento dessa questão, para um enfrentamento exitoso.


Em seguida cuidou de enfrentar, em perspectiva histórica, os fundamentos e a evolução do Sionismo. As atrocidades, ainda em curso, cometidas pelo Sionismo contra os Palestinos, não datam de 07/10/2023, em consequência da violenta insurgência do Hamas, mas constituem prática corriqueira, há pelo menos 75 anos, ou ainda mais precisamente desde o final do século XIX, quando o Congresso sionista inspirado nas teses de Theodor Herzl (1860-1904), realizado em Basileia (Suíça). Cometendo uma fraude de interpretação histórica, assumida pelo congresso, segundo a qual, diferentemente da interpretação vigente durante séculos, de que somente a partir da chegada do Messias, o Povo Judeu cuidaria de retornar ás suas origens geográficas, Herzl contra propunha a tese de que se deveria começar já os preparativos para a chegada do Messias, promovendo desde ja o retorno dos judeus ás suas origens geográficas, disperssados que haviam sido pelo mundo, principalmente na Europa após as antigas diásporas.  


Desde então, seguiram-se, sobretudo no período pós-Primeira Guerra (1914-1918), sucessivas e crescentes investidas dos sionistas contra a terra e a gente Palestinas. Contando com o poderoso financiamento de tropas bem armadas a invadirem aldeias, a expulsarem os palestinos de sua terra, as centenas de milhares, com o apoio do Reino Unido, dos Estados Unidos, da França e de outras potências europeias, os Sionistas foram apropriando-se a força de grande parte das terras palestinas, ao tempo em que promoviam o retorno de euro-judeus a estas terras, para ocupá-las e civilizá-las ao arrepio dos direitos mais elementares do povo palestino.


Após a segunda guerra mundial, em virtude de grande comoção suscitada pelo holocausto (do qual foram vítimas 6 milhões de judeus), a recém-fundada ONU acabou consentindo uma partilha de territórios  profundamente injusta para com os Palestinos, na qual estes que antes ocupavam a enorme parte do território, tiveram que perder suas propriedades para os novos colonizadores. Pacto evidentemente a que se opuseram os palestinos, com a solidariedade dos povos Árabes. 


Desde então, há mais de 7 décadas, sucedem violentos conflitos, opondo, de um lado, os colonos invasores (os sionistas) e, por outro lado, a resistência árabo-palestina, dos quais os mais atrozes ocorreram em 1967, quando da chamada “Guerra dos Sete Dias “, o de 1973 e o atual genocídio, que ja dura 5 meses, perpretado pelo Gorverno de Israel contra os Palestinos na Faixa de Gaza.


Em sua exposição, Breno Altman destaca que tal genocídio não teria lugar, sem a cumplicidade dos Estados Unidos, da Grã-Betânia e das potências imperialistas do Ocidente, que lhe fornecem pesados armarmentos, combustível e apoio logístico. Breno Altman, ao final de sua fala, fez questão de reconhecer a relevância da corajosa denúncia feita pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva das atrocidades cometidas pelo Governo de Israel contra o Povo Palestino, parte expressiva do qual formada por vítimas inocentes, principalmentes crianças e mulheres.


Pelo exposto, podemos observar, não apenas a qualidade da fala do expositor, como também a eficácia de sua militância política, inspirando-nos a seguir adiante, em uma resistência proativa, especialmente no tocante às nossas organizações de base solidariedade ao Povo Palestino.


João Pessoa, 12 de Março de 2024