quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

MICRO-RELAÇÕES REVOLUCIONÁRIAS ANUNCIAM, PREPARAM E INAUGURAM UM TEMPO ALTERNATIVO...


MICRO-RELAÇÕES REVOLUCIONÁRIAS ANUNCIAM, PREPARAM E INAUGURAM UM TEMPO ALTERNATIVO...

Alder Júlio Ferreira Calado

Por um longo tempo - e ainda hoje -, temo-nos quedado reféns de uma prática e de uma concepção reducionistas de "Revolução", propensos a percebê-la como sinônimo de "tomada violenta do poder", para o que nossas melhores energias criativas se deslocam para o domínio de estratégias militares, ao ponto de superestimarem o alcance "revolucionário" da questão militar, tendo como trágica consequência o abandono ou a crescente subestimação do sentido substancial das ações revolucionárias, centradas na tecedura de relações pessoais, comunitárias, societais alternativas ao modelo hegemônico. Isto se deu ou se dá tanto mais em consequência do abandono ou do desprezo do caráter revolucionário das mircro-relações, nutridas pela mística revolucionária cotidianamente exercitada, pessoal e coletivamente, pelos sujeitos grávidos de alternatividade à lógica e à rotina do atual modo de produção, de consumo e de gestão societal. Ainda que mantendo um discurso anticapitalista, tornamo-nos contaminados, nas micro-relações do dia-a-dia, pelo germe do Capital e sua multiplicidade de atrativos, a começar pelas suas manifestações de enorme efeito pirotécnico de demonstração de força, de poder, de luxo...

Tempo houve - e não faz muito -, em que tínhamos razões de sobra, para desconfiarmos das obras suntuosas, dos mega-eventos, das iniciativas de grande potencial pirotécnico, tão ao gosto do Mercado e do seu Estado, eternos adoradores do deus Mamon. Tal é, com efeito, seu poder de sedução, que consegue inebriar também grupos e pessoas que dizem combatê-lo... Até que nos demos conta de que este modelo, sendo histórico, não tem fôlego para se manter eternamente, que podemos e devemos estar atentos ao caráter dos seus frutos, ele terá feito em nós profundos estragos, inoculando em nós marcas traumáticas duradouras, tais como: individualismo, consumismo, compulsão à acúmulo de bens supérfluos, reféns de modismos, de "marketings", de grifes, de"disputa de privilégios, de narcisismo, da ideologia do endividamento, de multiformes ataques socioambientais, projetos necróficos, desfiguração da condição humana...

No passado recente e menos recente, também no presente, nas mais distintas esferas da realidade, dói-nos constatar como prevalecem largamente tais valores e tais práticas.

1.Práticas nossas, no dia-a-dia.
No domínio econômico, impera - sempre em nome da ideologia do progresso ou da "modernização" - a frenética corrida às "obras faraônicas", (expressão cunhada no tempo da Ditadura Civil-Militar, instalada a partir de 1964, no Brasil, enquanto na América Latina, nos quedamos aterrorizados com, no dizer de Eder Sader o "rumor de botas”...). Eram chamadas de "obras faraônicas", pelos setores ligados às classes populares, iniciativas tais como a rodovia Trans-Amazônica, a hidrelétrica de Itaipu, a construção de usinas nucleares, entre outras. Na versão atualizada desta mesma lógica "faraônica", que tanto favorece gigantescos esquemas de corrupção, multiplicaram-se tais iniciativas - dezenas de hidrelétricas, projetos de transposição como a do Rio São Francisco, atividades de efeito devastador de povos da região e bens preciosos como nossa densa biodiversidade, nosso subsolo e nossos territórios devastados pela gula desenfreada das gigantescas empresas de mineração presenteadas pelo (des)governo Temer e seus aliados, entre outras atrocidades.

Ainda no plano econômico, cumpre destacar os estragos tremendos provocados pela praga do desperdício. A cultura do desperdício já nos acompanha, há um bom tempo. Desperdiçamos alimentos, água, energia, tempo, habilidades criativas…

No plano político, enquanto superestimamos grandes eventos, campanhas eleitorais, agendas oficiais, de um lado, por outro lado nos descuidamos das micro-relações, e seu potencial revolucionário. De um lado, atribuímos, a justo título, considerável importância aos atos de corrupção vindos de cima, enquanto pouca ou nenhuma atenção emprestamos aos “pequenos” atos de corrupção por nós mesmos cometidos, em nossas micro-relações do dia-a-dia, acabamos por demonstrar uma atitude de hipocrisia, sempre de dedo riste apontando falhas alheias, enquanto nos tornamos uma verdadeira fábricas de auto-justificativas - inúteis! -, tentando fugir de nossas responsabilidades pessoais e grupais.

Com frequência, acusamos os “de cima” de autocráticos e ditadores, enquanto no âmbito familiar, nos espaços de trabalho,e em outros micro-ambientes, não atentamos para as nossas próprias ações autoritárias, possessivas e anti-democráticas.

No campo das relações sócio-ambientais, mostramo-nos, em palavras, pródigos de cuidados como nossa Mãe-Natureza, com a biodiversidade, com os rios, com as matas e florestas, com os mares, com a fauna, com a flora, etc, enquanto nos mostramos frequentemente contraditórios, em nossas práticas cotidianas, relacionadas com a nossa “Casa-Comum”, por meio de práticas de desperdícios, de insensibilidade para com as plantas e os animais, descomprometidos com os devidos cuidados moleculares de nossos rios, de nossas praias, de nossos mares, de nossas florestas…

Na esfera dos valores


Uma mística revolucionária pervade, por certo, todas e cada uma das esferas da vida. Também, e talvez sobretudo, o campo dos valores, dada sua influência - positiva ou negativa, conforme nossas escolhas - sobre cada fio existencial do nosso percurso. Sabemos que, seres ao mesmo tempo de natureza e de cultura, somos constantemente condicionados, mas não determinados!, pela complexa e vasta teia de relações que vamos tecendo, ao longo da vida. As circunstâncias nos condicionam, sim, sob vários aspectos. Por outro lado, contudo, a despeito deste condicionamento, temos a nosso favor uma boa margem de liberdade, que nos ajuda a enfrentar e vencer nossos próprios limites, sempre a depender de nossas escolhas. Escolhas feitas em meio a inúmeras situações. Uma delas, por exemplo, tem a ver com nossa atitude diante dos constantes sinais que a vida nos proporciona. Sinais que, a todo momento, se lançam diante de nós, enquanto nós podemos ou não levar a sério. Não raramente, eles se nos mostram, e nós mal os percebemos, embora tenhamos visão, audição e outros sentidos saudáveis. Dão-se-nos reiteradamente, e nós seguimos, por vezes, insensíveis. Não nos dispomos a interpretá-los, adequadamente; e, menos ainda, a tomá-los a sério, em nossa vida. Abdicando de nossa liberdade, de nosso protagonismo (pessoal e coletivo), preferimos ser levados ao sabor dos ventos... O "Deixa a vida me levar", não raro, constitui uma vã autojustificativa, para não enfrentamos, como devemos, os desafios da vida. Para tanto, empenhamo-nos em multiplicar "álibis", que, no fundo de nossa consciência, sabemos enganosos: "Eu sou assim mesmo", "Tenho que ser como sou: é meu destino."; E assim multiplicam-se, em série, as "boas" justificativas, como forma de evitar a aventura de mudar, de ir mudando, no que está bem ao meu alcance. Não cessamos de dizer que queremos um mundo novo, mas sempre achamos que se trata de algo a ser feito por forças do Além, ou por obra dos outros, sem nossa participação direta neste processo. Neste caminhar, "Revolução" acaba constituindo-se um horizonte longínquo, praticamente inviabilizado no âmbito do concreto, das relações cotidianas, muito menos algo construído também com a minha participação, no que está ao meu alcance.

2.Práticas inspiradas numa mística revolucionária
Doravante, cuidamos de levantar possibilidades de tornar o processo revolucionário como algo concreto, construído passo a passo, também com nossa efetiva contribuição. Neste sentido, somos instados, dia a pós dia, a considerar e tomar a sério nossa cota de participação, nos diversos espaços relacionais dos quais participamos.  

* Nas micro-relações econômicas do dia-a-dia

- Como seres (também econômicos), somos chamados a participar, em tudo o que estiver ao nosso alcance, do processo produtivo, em todas as suas dimensões. Por exemplo, nas atividades produtivas caseiras, por que atribuir tal encargo (que deveria ser de todos) a apenas uma pessoa, quase sempre uma mulher, quando podemos e devemos participar também das tarefas produtivas de nossa casa, quer no preparo de alimentos, quer na higiene e no asseio da casa, quer nos cuidados da roupa e da louça, etc. Trata-se de tornar também nosso, o desafio de superar a velha dicotomia trabalho intelectual/trabalho manual... De modo semelhante, somos chamados a tomar consciência e a participar de tantos outros afazeres domésticos, inclusive no necessário equilíbrio entre o que se recebe e o que se gasta.

-Seja no âmbito comunitário, seja no âmbito pessoal, buscar vivenciar uma rotina alegre, de simplicidade, de sobriedade, por meio de uma auto-vigilância em relação aos apelos consumistas, não apenas vindos "de fora", mas também (quase) imperceptivelmente instalados e "naturalizados" e introjetados, desde o recinto familiar ou da pequena comunidade... Isto se manifesta, no cão do dia-a-dia, sob as mais diversas formas: (re)aprendendo a gostar de pratos simples e saudáveis, mesmo quando os demais seguem suas preferências; (re)aprender a viver sem luxo, sem a ditadura de grifes, de sofisticada parafernália de equipamentos; (re)aprendendo a utilizar vestes, equipamentos fundamentais e outras coisas, pela função essencial que cumprem, não pela marca ou pela sofisticação mercadológica (para que trocar, a cada ano, este ou aquele equipamento, se ele segue cumprindo bem suas funções?) (re)aprender a recorrer aos bens da natureza, com moderação: por que deixar escancarada a torneira, para um simples escovar de dentes? Por que passar cinco minutos debaixo do chuveiro elétrico, se eu posso tomar meu banho em dois minutos, ou com água desaquecida? Por que descartar mercados públicos ou feiras livres, em favor exclusivamente de se fazer compras em "shoppings"? Sem desconsiderar o componente "qualidade", o que me leva a preferir usar uma roupa ou um calçado comprados na feira, a comprá-los só nos "shoppings"? A quem sirvo ou a quem dessirvo, com tal atitude? (Re)aprender a valorizar, na prática, os produtos das feiras agro-ecológicas, espalhadas por nossas cidades, que, às vezes, nem conhecemos. (Re)aprender a descobrir as belezas tantas de nosso país, de nossa região, ou de dos vizinhos latinoamericanos, em vez de só preferir curtir as "disneys" da vida...? E as perguntas podem - e devem - ser multiplicadas. Cada resposta dada tem a ver - ou não! - com nossa opção revolucionária...  

* Nas micro-relações políticas do cotidiano

Tratamos aqui do Político, entendido como uma relação que ultrapassa a dinâmica sociedade-Estado, de modo a alcançar também as micro-relações, que se dão nos mais variados espaços sociais de que participamos: no ambiente familiar, no ambiente de trabalho, nos espaços lúdicos, no campo religioso, etc. Tratamos, em breve, de uma cidadania expressa nas relações do cotidiano, quer no âmbito macro, quer no âmbito micro. Uma coisa leva necessariamente a outra. Aqui, nossa atitude revolucionária, se faz presente e deve ser avaliada sempre a partir de nossas práticas concretas, não tanto a partir do nosso discurso, a menos que este se apresente consequente com minha prática. Neste sentido, a postura revolucionária leva todo cidadão/cidadã a uma constante auto-vigilância quanto às formas de tomada de decisão, nestes espaços, bem como ao reconhecimento do protagonismo de todos, a cada um cabendo contribuir, de acordo com suas possibilidades, de modo a evitar o estrelismo, o mandonismo, o culto da individualidade e vícios semelhantes.

Tal postura mais facilmente se estende às macro-relações, a medida que somos chamados a um permanente exercício de autovigilância, graças ao constante aprimoramento de nossos sentidos, do ver, do ouvir, do sentir, do intuir, tanto no âmbito comunitário quanto no âmbito pessoal. Assim, buscamos exercitar constantemente nossa capacidade crítica e autocrítica, não apenas na escala local, como também regional, nacional, internacional, fazendo-o por meio de um acompanhamento diuturno de fontes diversificadas e divergentes de analise da mesma realidade, evitando assim a tendência a uma endogenia (só ver a partir do olhar dos nossos parceiros).

* Na avaliação e reavaliação dos nossos valores

É a mesma mística revolucionária a inspirar os critérios de avaliação de nossos valores. Para tanto, vale a pena resumirmos os princípios axiais que nos inspiram. Partimos da consciência de sermos seres inacabados, limitados, e por isso mesmo, necessitando superação de nossos limites. Sem o reconhecimento desta condição, não apenas não logramos avançar em nosso processo de humanização, no horizonte do qual resplandece o processo revolucionário como também estaremos fadados a reeditar nossos vícios. Entendemos que, justamente por termos consciência de nossos limites, é que somos chamados a supera-los progressivamente no processo relacional, isto é por meio da convivência, por meio da partilha comunitária. Ao mesmo tempo, entendemos que a superação de nossos limites se dá por múltiplas vias, inclusive pela nossa disposição de aprender com os nossos erros e os erros alheios. A superação dos nossos limites também se da, graças à nossa consciência da relatividade que caracteriza o coexistir, seja nas conquistas, seja nas derrotas: "tudo é relativo".

Tais princípios não caem do céu, são fruto do nosso estado de busca, ou seja, de um longo e permanente processo de formação, distinto (embora não separado) do que se vive nos espaços escolares. Trata-se de uma formação que nos ajuda a despertar, não apenas nossos limites, mas também nossas potencialidades criativas, artísticas, intelectuais, éticas... Um processo formativo que nos ajuda permanentemente a observar os sinais da vida e dos tempos, interpreta-los e toma-los a sério. Um processo formativo que nos ajuda a entender a intima associação entre passado-presente-futuro, donde a importância de exercitarmos, não apenas a memória histórica, não apenas em sua dimensão retrospectiva, como também em sua dimensão presente e prospectiva, observando seus nexos orgânicos, razão pela qual resulta fundamental trabalhar a esperança que representa o horizonte revolucionário com o qual nos declaramos comprometidos, já desde aqui e agora.

João Pessoa, 27 de dezembro de 2017.
- - - - - -  - - - -  - - - - - - - -  











segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

UM PAÍS É SOBERANO SE SEU POVO FOR TAMBÉM


  Alder Júlio Ferreira Calado 



Se de classes é o sistema
É inútil pretender
Que o conjunto do seu Povo
Tenha próprio seu querer
Pois só uma parte tem
Respeitados os seus planos
Um país é soberano
Se seu Povo for também!



Se uma parte só controla
O conjunto das riquezas
E se esta mantém presa
A senzala quilombola
Já a esta não convém
Segurar mais o piano
Um país é soberano
Se seu Povo for também!



No Brasil, a coisa feia
Um país rico, potente
Com minérios, água doce
Tanta terra e tanta Gente
Que dormindo está, porém
E assim, lucram tiranos
E poderes desumanos
Um país é soberano
Se seu Povo for também!



Mais que nunca, é preciso
Discernir o adversário
As empresas gigantescas
A fazer do povo otário
Grandes bancos... Há também
Latifúndio desumano
Um país é soberano
Se seu Povo for também!



Toda multinacional
As potências do G-7
E seus órgãos serviçais
Fazem a gente marionete
Inimigos são também
Governantes com seus planos
Um país é soberano
Se seu Povo for também!



Um cuidado especial
P´ra listar nossos amigos
Sem comprar gato por lebre
Pois nem sempre os que eu “irrigo”
Defendendo o povo vêm
Eis por que eu não me engano:
Um país é soberano
Se seu Povo for também!



Na América do Sul
Ele está principalmente
Lá na brava Venezuela
Equador, Brasil da gente
Descobriu-se, ´inda recém
Na pré-sal – nem faz um ano
Um país é soberano
Se seu Povo for também!



Em razão da descoberta
Que em Santos já se fez
O império dá sinal
Da cobiça do burguês
E, rugindo, já nos vem
Em navio americano
Um país é soberano
Se seu Povo for também!



Como fica a Petrobrás
Que se diz tão brasileira?
Sendo o Estado minoria
Decisão é de empreieiras
E o Governo diz: Amém!
P´ra Nação é novo dano
Um país é soberano
Se seu Povo for também!



Propaganda mente à bessa
Pois, na mídia, a Petrobrás
“É do povo brasileiro”...
Logo, a máscara se desfaz
Se mais crítico for alguém
Descobrindo o ledo engano
Um país é soberano
Se seu Povo for também!

 

Vamos ver somente um caso
Do petróleo mundial
Na América, no Brasil
O petróleo vira um mal
Todo o mundo está refém
Dessas multis, de seus planos
Um país é soberano
Se seu Povo for também!



É verdade que o petróleo
Na atual economia
Tem papel fundamental
Eis um leque que arrepia
Na indústria se mantém
De navio, aeroplano
Um país é soberano
Se seu Povo for também!



O petróleo está no plástico
Nos insumos, no asfalto
Quê dizer da gosolina?
Seu emprego é muito alto
A cobiça vai além
Entra o povo pelo cano
Um país é soberano
Se seu Povo for também!



As reservas de petróleo
Escasseiam em todo o mundo
Mas, é nos países “pobres”
Que o volume é mais profundo
No Iraque, Irã, Bahrein
Nos países muçulmanos
Um país é soberano
Se seu Povo for também!



O petróleo é só um
De uma lista de problemas:
Etanol, monocultura...
“Agrobusiness” é dilema!
Dele a fome é o que nos vem
E p´ra Terra, tantos danos
Um país é soberano
Se seu Povo for também!



A saída é você
Despertar da letargia
E juntar-se aos movimentos
Que constroem nossa Utopia
Do sistema indo além
Investindo em novo plano
Um país é soberano
Se seu Povo for também!




(Cordel iniciado numa fila de banco e concluído no trecho João Pessoa-Recife, 21/08/2008)

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

POR UN NUEVO LAICADO, HACIA A UN NUEVO CONCILIO: ensayando pasos, a nuestro alcance



POR UN NUEVO LAICADO, HACIA A UN NUEVO CONCILIO: ensayando pasos, a nuestro alcance

   Alder Júlio Ferreira Calado

   Oportuna y relevante, la iniciativa de la Iglesia Católica en Brasil, de consagrar 2018 como el Año del Laicado, recién iniciado. Se trata de uno de los desafíos eclesiales de los más complejos y urgentes a ser adecuadamente enfrentados, en el marco general de las profundas reformas estructurales, cada vez más reclamadas por parcelas expresivas de miembros de la Iglesia Católica, incentivados, además, por la acción renovadora a la que se viene dedicando el Obispo de Roma, por sus gestos, escritos y pronunciamientos. El Concilio Vaticano II, en sus Constituciones, Decretos y Declaraciones, ya había tocado en esta cuestión, aunque muy levemente. No es casual que en la Constitución Lumen Gentium la organización eclesial comienza por el capítulo dedicado, no a la jerarquía (como solía suceder, en concilios anteriores), sino por el "Pueblo de Dios". A partir de ahí, va destacando los diversos segmentos componentes del pueblo de Deu, en la Iglesia Católica, y sus respectivas funciones y áreas de actuación. No se trata, por tanto, de una novedad, para nuestros días, a no ser en lo que se refiere a su debida implementación, considerando el hecho de que, cincuenta años pasados, parece que las estructuras eclesiásticas, o no han cambiado casi nada, o han sufrido poca alteración desde entonces.

   Por otra parte, teniendo en cuenta que el Vaticano II sólo afloró tales desafíos, esto debe ser entendido como un punto de partida, y no como un objetivo satisfactorio ya alcanzado. Desde la época del Vaticano II (1962-1965), hasta nuestro días, mucha cosa ha cambiado, no sólo en lo referente a la coyuntura socio-histórica internacional, sino también en lo que se refiere a la comprensión de la misión de la Iglesia como expresión y resultado de valiosas investigaciones teológicas, desarrolladas desde entonces. Aquí vale destacar, no sólo las investigaciones en el campo de la Teología de la Liberación, sino también las investigaciones resultantes en el campo de la Teología Feminista, cuyos protagonistas, sobre todo mujeres, tal vez sean los que más avanzaron en el esfuerzo de verdadera renovación eclesial.


   Las líneas que siguen, brotan de las inquietudes de un cristiano católico, de contribuir, modestamente que sea, junto a las comunidades y grupos jóvenes cristianos, en la reflexión crítica sobre los actuales desafíos, al interior de la Iglesia Católica.

    Cuidamos, entonces, de enunciar desafíos urgentes a ser enfrentados, especialmente por las Laicas y Laicos, en el sentido de impulsar, desde abajo, profundos cambios en el proceso organizativo de la Iglesia Católica. De estos desafíos, destacamos sólo dos: el de reunir condiciones para la creación de una Conferencia Nacional de Laicas y Laicos, así como dar los primeros pasos hacia la construcción procesual de un nuevo Concilio, a ser organizado, esta vez, por todos los segmentos componentes de la Iglesia Católica.

1.Rememorando criterios organizativos de la Tradición de Jesús, a la luz de textos neotestamentarios y de las comunidades cristianas de los primeros siglos.

   Cuando revisitamos  los textos neotestamentarios -los Evangelios, en especial-, tenemos dificultad de justificar, de modo fundamentado en estudios históricos críticos exegéticos contemporáneos, la estructura organizativa en vigor, en la Iglesia Católica (no solamente, por cierto), bajo varios aspectos. Por ejemplo, como se halla institucionalmente organizada la Iglesia Católica -de forma piramidal-, sentimos extrema dificultad para entender la conformidad de este modelo con los criterios organizativos que presidían el estilo organizativo de las primeras comunidades, donde prevalecían claras relaciones horizontales, entre sus componentes. No se observa, por ejemplo, una línea divisoria entre clero y laicos. ¡Había, sí, funciones diferenciadas - pero complementarias! -, según los carismas de los miembros de las comunidades, con explícito propósito de servir mejor al bien común, y no de instrumento de poder de una casta sobre el conjunto de los demás miembros. La clara línea divisoria clero / laicos es, como se sabe, una construcción posterior, establecida, mantenida y ampliada en función de un proyecto de poder de una casta sobre el conjunto de los demás sujetos eclesiales. El mismo Jesús no se presenta como un sacerdote convencional, sino como un laico (es decir, como un "laikós" (miembro del Laós, es decir, miembro del Pueblo de Dios). Jesús era también percibido mucho más como un liderazgo laico, tuvo incluso que encarar enfrentamientos con los sacerdotes, y no fueron pocos o sin importancia ... Conflictos, incluso, que acabaron resultando en su condenación a la muerte de cruz, por los grandes de su tiempo, incluso por la casta sacerdotal. Aúnque teniendo conciencia de que también la vida organizativa comporta cambios, a lo largo de siglos, no es fácil justificar, con sólidos fundamentos, de qué modo las estructuras de poder evolucionaron de la forma como hoy se presentan ... Destaquemos, de paso, algunos puntos a este respecto, por medio de algunos cuestionamientos:

       ¿Qué criterios fundamentales ayudaban a asegurar la horizontalidad reinante entre los miembros de las primeras comunidades cristianas, respetando la diversidad de carismas y funciones, en razón del bien común de las propias comunidades? Es digno de conferir tales prácticas, en los relatos evangélicos así como en los Hechos de los Apóstoles y en las cartas paulinas ... - Otro aspecto, que salta a la vista (de quien tiene ojos para ver!) Es la cantidad de mujeres discípulas de Jesús y presentes en las cartas paulinas, algunas de ellas como organizadoras y animadoras de comunidades. ¿Por qué esos "detalles" pasaron (y aún pasan) distantes de las vistas de teólogos? Y porque tuvimos que esperar durante siglos la contribución específica de teólogas para darnos cuenta del sesgo androcéntrico de los exegetas oficiales? (...) Es notoria la posición discriminada ocupada por las mujeres, en varias sociedades (y aún hoy), incluso en el tiempo de Jesús, en que no se podía ni siquiera dirigir la palabra a las mujeres. Pero, ¿qué hizo Jesús? ¿Qué nos dicen, acerca de esto, varios relatos evangélicos? En los Evangelios, por ejemplo, cómo subestimar el papel de María Magdalena, entre los apóstoles de Jesús? ¿Por que, entonces, conformarnos con el lugar aún hoy destinado a las mujeres, en las estructuras organizativas de la (s) Iglesia (s)? ¿Cómo explicar que cuando se trata de recurrir a ellas para asegurar el cotidiano de las actividades eclesiales, lo hacemos sin problemas, mientras a ellas se les niega el derecho de tomar decisiones, al lado de los hombres, en la vida eclesial? En esta línea de comprensión, ¿qué efectos profundos ha tenido, a lo largo de siglos, una cerca equiparación entre Reino de Dios e Iglesia? ¿É cierto afirmar, aún hoy, que tenemos claridad acerca de la necesidad y urgencia de distinguir (aunque sin separar) entre el Reino de Dios, que Jesús vino a anunciar e inaugurar, cuya referencia es la humanidad, y, por otra parte, Iglesia, que suele ser entendida y ejercitada en una dimensión auto-referenciada, como suele alertar el Papa Francisco? Y, a lo largo de siglos -principalmente a partir de la era constantiniana-, qué estrategias fueron utilizadas por la jerarquía, tanto de carácter teológico, litúrgico, disciplinar ..., para distanciarse del conjunto de los demás miembros de la Iglesia, buscando monopolizar las decisiones, siempre de acuerdo con sus intereses de casta, no siempre con amparo en los textos fundantes?

2. Contribuciones del Concilio Vaticano II a cerca del reconocimiento de los Laicos y Laicas como sujetos eclesiales.
El Concilio Vaticano II (1962-1965) constituyó un reconocido esfuerzo de renovación pastoral de la Iglesia Católica Romana. De hecho, varias cuestiones de cáracter renovador allí tuvieron lugar. Esto puede ser atestiguado por varios de sus dieciséis documentos, a partir de sus cuatro Constituciones. Muchos lo evalúan como una primavera para la Iglesia, teniendo en cuenta algunos avances logrados. Avances que pueden ser evocados mediante algunas de sus palavbras-llave: "Refontización", "Pueblo de Dios", "Aggiornamento", "Colegialidad", "Diálogo", "Autonomía de las realidades terrestres", "Ecumenismo", "Misión" ... Hubo, en efecto, un soplo renovador, buscando incluso dialogar con la modernidad . Aunque, con énfasis menor, allí se observó incluso un pequeño ensayo de atención a la causa de los pobres (cf Lumen Gentium, n.8), aunque este aspecto se ha profundizado sólo a partir de la Conferencia Episcopal Latinoamericana de Medellín. Sinembargo, tres años antes  de Medellín, al final del Concilio Vaticano II,  más precisamente el 16 noviembre de 1965, hubo la realización, en Roma, del Pacto de las Catacumbas, celebración protagonizada por cuarenta obispos, en la Catacumba de Santa Domitila, cerca  de Roma, ocasión en la que los participantes firman un documento, expresando su compromiso  con la causa de los pobres, por la vía de su propia conversión a un estilo de vida parecido al de los pobres. Sin embargo, tales iniciativas y decisiones no prosperaron, en el universo eclesiástico, en razón de la fuerza reaccionaria organizada, sobretodo en el período post-conciliar  (instalada todavía durante la realización del Concilio), que fue progresivamente ganando fuerza, en las instancias decisorias de la Iglesia, acabando por interrumpir tal proceso, durante décadas, siendo apenas recientemente retomado por la figura profética del actual Obispo de Roma. El Papa Francisco, en efecto, en sus escritos y pronunciamientos, ha buscado impulsar importantes reformas interrumpidas. Una de ellas es la búsqueda de retomar lo que en la Lumen Gentium se dice acerca del pueblo de Dios como protagonista del proceso de reorganización de las estructuras eclesiales, lo que renueva la esperanza de reconocimiento del papel del Laicado como uno de los sujetos eclesiales, en los procesos de toma de decisión. No obstante la impetuosa irrupción de Medellín, por la vía de la opción por los pobres, es un hecho que, una década después Medellín, comenzó un largo período de impasses y retrocesos, gracias a la estrategia asumida por los pontificados de Juan Pablo II y de Benedicto XVI, durante el cual la llamada Iglesia en la Base sufrió tremendos actos de castigo y bloqueo, lo que significó un duro golpe también para el protagonismo de los Laicos y las Laicas.

A mediados de los años 90, a escala mundial, y desde Austria, se crearon grupos y movimientos de laicos y laicas (también de otros segmentos eclesiales, como los de las Religiosas de los Estados Unidos (CLWR) y algunas asociaciones de Presbíteros, en el marco de la celebración de los 500 años de la Reforma luterana, promovieron manifestaciones en cerca de veinte países, en distintos continentes, para clamar por urgentes reformas de las comunidades y en el solidaridad al obispos de Roma, entre los principales puntos reclamados en estas manifestaciones, constaban: "Más Evangelio, menos Derecho Canónico", participación democrática de todos los segmentos eclesiales en las decisiones, reconocimiento del derecho de las mujeres, en la toma de decisiones en las instancias eclesiales, al lado de los hombres, reconocimiento de la legitimidad de las mujeres vocacionadas a los diversos servicios y ministerios eclesiales (ordenados y no ordenados); libertad de elección, por parte de los ministros ordenados, en cuanto a su estado civil, en el ejercicio de su ministerio; Ecumenismo por la base, antes que sobre formulaciones doctrinales... Sobre tales manifestaciones, ya tuvimos oportunidad de pronunciarnos (ver, por ejemplo, Textos De Alder Calado).

3. En busca de condiciones favorables, para la creación de una Conferencia Nacional de Laicos y Laicas.


En consecuencia del criterio de horizontalidad, que buscamos restablecer, como un criterio evangélico de nuestra igualidad fraterna, tan bien expresada por nuestra condición de Bautizados ("sacerdote, profeta y rey") o en cumplimiento de la saludable diversidad de carismas - sin una necesaria vinculación pero antes con base en la primacía del servir y no del mandar, algo tan claro en la lista de carismas expresados ​​en 1 Cor 7, por ej. Y, en lo que se refiere al servir, esto queda aún más explícito, en Mc 10, 42-45. El mundo se organiza así - unos tiranizando a los demás -, pero entre ustedes, no sea así - he aquí el núcleo de la Buena Nueva de Jesús. Se trata de un paradigma inspirando nuestras prácticas y concepciones en todas las esferas de la vida cristiana. ¿Por qué en la esfera organizativa de la Iglesia, debería ser diferente? ¿Dónde se encuentra soporte definitivo y constante, para ver que los diversos segmentos de la Iglesia Católica deben organizarse piramidalmente, como viene sucediendo? Si nuestra Institución se compone de segmentos de ordenados, de Religiosos y Religiosas y de Laicas y Laicos, lo que nos impide, desde el punto de vista del Evangelio, de los textos neotestamentarios y de la Tradición de Jesús, de organizarnos horizontalmente, como hermanos y hermanas , según los carismas recibidos por cada segmento, dando una rica diversidad de carismas, en la unidad del Espíritu Santo, y al servicio del Pueblo de Dios? Es claro que esto no se hace, a corto plazo, gracias a un supuesto golpe de voluntarismo, pero de forma procesal. No menos es cierto que si, en lugar de la Tradición de Jesús, tomamos como base exclusiva el Código de Derecho Canónico, esto se vuelve casi inviable, ya que el Código de Derecho Canónico refleja la lógica característica de una Iglesia organizada como una pirámide: El Papa, la Curia, las diócesis, las parroquias ... y cada una de estas instancias se rige por prepuestos sólo del segmento ordenado, sin la participación en las decisiones de los demás segmentos, en particular sin la participación de las Laicas y los Laicos, que curiosamente constituyen inmensa mayoría del Pueblo de Dios. ¿Cómo, entonces, justificar tal privilegio del segmento ordenado, con base en los textos neotestamentarios, en el núcleo del Evangelio, en la Tradición de Jesús? No se trata de negar o de subestimar los carismas de los componentes de un segmento - en el caso el de los ordenados, todos hombres! pero de asegurar a todos los segmentos componentes de la Iglesia Católica el reconocimiento de todos cuentan con la inspiración y asistencia del Espíritu Santo, también en cuanto al proceso de toma de decisiones. ¿En qué esto hiere el espíritu del Evangelio? ¿En qué se aleja de la Tradición de Jesús? En verdad, lo que se aparta de la Tradición de Jesús, es la forma de organización en vigor.

A este respecto, ha sido muy cara al actual Obispo de Roma la intuición de que no es la pirámide, sino el poliedro, lo que debería caracterizar la forma de organización eclesial. Mientras que la pirámide se organiza sobre capas superpuestas, el poliedro permite la sana convivencia de la diversidad, representada por las tantas superficies de esta figura geométrica, al mismo tiempo que toda esa rica diversidad se halla conectada, unida en el propio poliedro, tomado como un todo .

Como se ha señalado anteriormente, el Concilio Vaticano II ha dado pasos importantes, aunque insuficientes, teniendo en cuenta la realidad de hoy, más de cincuenta años después, el conocimiento del papel del Laicado en la Iglesia. De esto dan testimonio algunos de sus documentos, en especial la Constitución Lumen Gentium, el Decreto Apostolicam Actuositatem y el Decreto Ad Gentes. En la Lumen Gentium, y más específicamente en el capítulo relativo al pueblo de Dios, los laicos figuran como uno de los tres principales segmentos componentes de la Iglesia. Con relación específicamente al Laicado, los Laicos y las Laicas se definen como parte integrante de los sujetos eclesiales, en función de su vocación apostólica y misionera, la llamada del propio Espíritu Santo, en diálogo con los demás segmentos, cada uno en su especificidad, pero a todos juntos cabiendo responsabilidades por el apostolado y por la misión. Los Laicos y las Laicas aparecen igualmente en el Decreto Apostolicam Actuositatem, en la que figuran como protagonistas que contribuyen tanto en el terreno de la Iglesia, como en el terreno del mundo, dada su triple vocación de "sacerdote, profeta y rey", por todos recibida con ocasión del bautismo. En el Decreto Ad Gentes, los Laicos y las Laicas se definen como copartícipes de la acción misionera en el mundo, para ello debendo contar con formación específica, reconocimiento explícito de su papel en la acción misionera, así como el reconocimiento de agentes misioneros tan importantes como los demás segmentos. Al revisar atentamente estos y otros documentos del Concilio Vaticano II y del Magisterio Eclesial, al mismo tiempo que constatamos el reconocimiento explícito de la misión de los Laicos y Laicos como componentes de un segmento de la Iglesia, también observamos que el asiento más fuerte recae en el papel de los Laicos y Laicas de actuar en el mundo secular, aunque también se reconozca su misión "ad intra". De ahí también se perciba una velada subordinación de su actuación a las decisiones especialmente del Clero, más particularmente del segmento episcopal. Desde entoces, hemos observado cambios significativos en los diversos segmentos, incluso por fuerza de una mejor comprensión de los textos fundantes del Cristianismo y de la Tradición de Jesús, gracias también al avance de investigaciones teológicas, en este horizonte. Por otro lado, el segmento específico del Laicado ha presentado sensibles avances, en la comprensión y en la búsqueda generosa de responder, cada vez mejor a los llamados del espíritu santo, frente a los actuales desafíos de la Iglesia y del mundo. En este sentido, descubren que, si hasta aquí, su misión ha sido más centrada en el horizonte secular (viene así sucediendo desde la Acción Católica Especializada - Jac, Jec, Jic, Joc y Juc), hoy los desafíos eclesiales parecen, cada vez más, a necesitar de la conjugación más orgánica de los Laicos y Laicas, tanto en su actuación en el mundo, como en el interior de la Iglesia. No se trata de ninguna pretensión de disputa de poder (aquí parece bien entendido el mensaje explicitado, en Mc 10, 42-45) pero de su contribución específica, junto con los demás segmentos de la Iglesia, en el proceso de reformas urgentes de las estructuras eclesiásticas. Es así que se hace conveniente la profundización de la reflexión en torno a la oportunidad y la relevancia del laicado, a ejemplo de lo que ya sucede en relación a los obispos ya los religiosos y religiosas, si se constituye también como una conferencia nacional de laicos y laicas, el objetivo de participar, junto con los demás segmentos, de los procesos decisorios, en las diversas instancias eclesiales. De ahí la necesidad de crear las condiciones necesarias a tal iniciativa, a corto y medio plazos.

4. Pasos hacia un nuevo Concilio.

Como institución de santos y pecadores, la Iglesia está llamada a convertirse, incesantemente. Debe estar siempre dispuesta a renovar: "Ecclesia semper reformanda est." En su recorrido histórico, esto suele darse por medio de sínodos y concilios. "Sínodo", por cierto, ya desde su etimología, es una hermosa invitación a un continuo caminar juntos. En ese sentido, la Iglesia es llamada a ser, toda ella, sinodal, conciliar. Por eso mismo, tuvo que realizar, a lo largo de su caminar, más de veinte concilios, siendo el más reciente de ellos el Concilio Vaticano II, realizado casi un siglo después del Concilio Vaticano I, que se hizo conocido, entre otros elementos, por se ha pretendido definir la supuesta infalibilidad del Papa, razón por la que, a justo título, el Concilio Vaticano II buscó ser un concilio pastoral, no tanto un concilio definidor de doctrinas. Muchas fueron, en efecto, las ganancias del Vaticano II, que intentamos destacar. Al lado, sin embargo, de reconocidos beneficios, también hay que percibir sus límites. El Concilio Vaticano II reunió en torno a los 2.500 obispos, llegados a Roma, de todos los continentes, con la misión de repensar el caminar, y, en el caso de los concilios, pastoral de la Iglesia, decidiendo formas de renovación, especialmente de carácter pastoral. De otra parte, para darnos cuenta de algunos de sus límites, siguen algunos cuestionamientos: - Aunque consiga reunir a todos los obispos católicos del mundo entero, se trata, al fin y al cabo, de un único segmento eclesial. ¿Hasta qué punto este criterio es suficiente para la toma de grandes decisiones de la Iglesia, sin la participación también de los demás segmentos, con derecho a voz y voto?

- Siendo la Iglesia compuesta por tres segmentos de sus miembros, y siendo sólo un único a tomar las decisiones, y considerando que el segmento episcopal, no sólo no se hace acompañar de otros dos componentes del mismo segmento -los presbíteros y los diáconos-, como también el componente episcopal está formado sólo de hombres, donde quedan las mujeres?

- El sentido de "Colegialidad", presente en el Decreto Christus Dominus (n. 4), que trata del ministerio de los Obispos, ¿por qué no puede contemplar también los demás segmentos?

- Al enfrentar los grandes desafíos de hoy, en la Iglesia y fuera de ella, quien mejor da cuenta de hacerlos: sólo el segmento episcopal o también los demás segmentos, teniendo a su favor la densa experiencia de Laicos y Laicas, en las más diversas esferas de la realidad, dada su condición de ciudadanos y ciudadanas del Reino de Dios, comprometidos con la superación de los desafíos, no sólo fuera de los espacios eclesiales, sino también los desafíos internos a la Iglesia?

En el campo de la Doctrina Social de la Iglesia, por ejemplo, una de las críticas que, a veces, se plantean, es que, en materia de realidad social, en su complejidad y amplitud, quien, por su propia formación, se encuentra mejor habilitado para analizar : el Papa, los Obispos o los Laicos y Laicos?

Las indagaciones pueden multiplicarse. Nos limitamos a estas pocas, a título de aperitivo. A la par de esto, importa, también, atreverse algunos pasos en esa dirección, a corto y mediano plazos. Sabemos que el clamor por la realización de un nuevo Concilio no viene de hoy. Ya en los años 1990, se oían voces proféticas, en esta dirección. Recuerdo, por ejemplo, del entusiasmo de Mons. Antônio Batista Fragoso, Obispo de Crateús, a movilizarse y animar a otros también a hacerlo. Todavía no se pensaba, sin embargo, qué tipo de Concilio, pero ya era un grito a ser oído ...

De todos modos, los concilios empiezan siempre de una primera iniciativa, antes incluso de la convocatoria. Algunos, en ese sentido, ya se ensayan, molecularmente. Uno de ellos es el tentado por algunos grupos y movimientos de católicos y católicos, comprometidos en promover el Fódo del Pueblo de Dios, cuya segunda edición está prevista para realizarse en Aparecida, en Brasil, en noviembre de 2018. Otros pasos se van dibujando , mundo a fuera. Son pequeños afluentes que van acumulando agua, hasta tomar fuerza suficiente para desaguar en un gran río ...

5. Consideraciones sinópticas

Como se ha dicho, el propósito de estos apuntes es menos de carácter académico, y más una iniciativa de un cristiano católico, en busca de contribuir, modestamente que sea, con la reflexión sobre los actuales desafíos eclesiales, principalmente junto a las comunidades y grupos de jóvenes. Los avances logrados por el Concilio Vaticano II, aunque hubieran sido implementados, ya no atienden satisfactoriamente a las necesidades del nuevo contexto socioeclesial. Si, al tiempo del Vaticano II, ya no se accetaba una organización eclesial centrada sólo en el segmento clerical o jerárquico, en los días actuales esto se convierte en motivo de un clamor generalizado por cambio, para distribuir más equitativamente las responsabilidades y decisiones por entre los diversos sujetos eclesiales - segmento clerical, segmento religioso y segmento laico. Ya no se concibe que sólo los obispos monopolizen las decisiones del conjunto de los miembros de la Iglesia. Ante tantos desafíos, muchos de los cuales respectan a los laicos, ya no tiene sentido que las decisiones sean tomadas sólo por un segmento, tanto más que se trata sólo de hombres, cuando la enorme mayoría de los miembros de la Iglesia está formada por los Laicos y las Laicas , siendo éstas la mayor parte. De ahí la necesidad de hacer esfuerzos para una justa división de responsabilidades, por ejemplo, de la creación, a medio plazo, de una Conferencia Nacional de Laicos y Laicos.
Además de la escala nacional, también hay que dar los primeros pasos hacia crear condiciones favorables hacia la convocatoria de un nuevo Concilio, a ser organizado bajo nuevos criterios, con amplia participación de delegaciones de los tres segmentos eclesiales, para buscar deliberar sobre medidas capaces de enfrentar viejos y nuevos desafíos, tales como rediseñar / contextualizar el ministerio petrino (el Papado),
superar el carácter burocrático de las estructuras eclesiásticas, a ejemplo de la Curia Romana; redimensionar las responsabilidades pastorales de los obispos, para afrontar la creciente tendencia administrativa; revisar criterios de elección y transferencia de obispos; invertir los laicos y las laicas de responsabilidades, no sólo seculares, sino también al interno de la Iglesia, conforme a sus dones y carismas; sobre todo reavivar el compromiso de la Iglesia con la causa libertaria del pueblo de los pobres.

João Pessoa, 12 de diciembre de 2017.