terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

QUEM DESPREZA O PASSADO, COMPROMETE O FUTURO - cavoucando memórias de rebeldia

QUEM DESPREZA O PASSADO, COMPROMETE O FUTURO - cavoucando memórias de rebeldia
Alder Júlio Ferreira Calado
No precioso baú de memórias da humanidade, em todos os tempos e lugares, constatamos uma vasta, antiga e copiosa gama de escritos, de máximas, de pronunciamentos, feitos por poetas, filósofos, artistas, expoentes da sabedoria popular, cientistas - homens e mulheres -, reconhecendo a relevância da unidade que liga passado, presente e futuro. Cada uma dessas dimensões temporais deve estar associada dinamicamente as demais, de modo a entender o tempo, mais como um “continuum” do quê como momentos estanques, dicotomizado. Acerca desta temática, a literatura pertinente apresenta tantas figuras bem representativas que se tem pronunciado sobre a relevância do reconhecimento da interação orgânica existente entre passado, presente e futuro. Pensemos, por exemplo, em Eduardo Galeano, para quem o passado tem muito a dizer ao futuro. Tal posição tem sido, ao longo dos tempos, reverberada mediante as mais diversas linguagens artísticas. 
Em verdade, um gesto convincente de unidade entre passado presente e futuro, vem expresso, com efeito, em diferentes formas artísticas. A fotografia constitui uma dessas formas. Quantos álbuns se apresentam de enorme pertinência, por constatarem a evolução histórica de uma cidade, determinada manifestação artística ou literária! Quantos escritores e escritoras se valem da fotografia, para explicitar, com acuidade e beleza, o espectro da evolução, seja de uma paisagem urbana, seja de uma evolução em âmbito de família, de comunidade, de sociedade. De fato, belos trabalhos há, que conseguem registrar toda uma longa evolução urbanística, com admiráveis detalhes arquitetônicos. 
No campo da literatura, não é em vão que muitos autores e autoras de romances, ensaios,novelas, séries, etc., têm-se valido desta arte com retumbante sucesso. E o que dizer da música? Como não lembrar, por exemplo, “Caminhando e Cantando”, ou “Apesar de Você”? Poderíamos multiplicar exemplos ilustrativos de formas artísticas, por meio das quais conseguimos rememorar, com alta margem de precisão, toda uma longa evolução de costumes, ideias de objetos culturais, por meio das mais distintas linguagens artísticas. 
Nas linhas que seguem, nosso intento é de revisitar um passado relativamente recente Da sociedade brasileira, por meio de filmes atinentes ao período que se estende de 1964, ano do famigerado golpe de estado, a meados dos anos 80, com o arrefecimento das forças da ditadura empresarial-militar que se abateu, por 21 longos anos, sobre a sociedade brasileira.
Em um contexto de ampla vigência do paradigma da pós-verdade, marcado por suas esdrúxulas estratégias de dominação, de exploração, e de discriminação, crescem as barbaridades e as ameaças à vida dos humanos e dos demais seres do planeta. Nas mais distintas esferas de nossa atual realidade, pontificam as marcas da barbárie, compostas fundamentalmente por ingredientes, tais como: a institucionalização da mentira, do obscurantismo, da  imbecilização de crescentes parcelas da população, agravadas pelas profundas desigualdades sociais, fruto da extrema concentração, em mãos de uma ínfima minoria, das riquezas do conjunto da humanidade. A propósito das diabólicas estratégias utilizadas massivamente pelos arautos da pós-verdade vale enfatizar o papel cumprido pelos mais próximos assessores de Trump, segundo os quais não se deve subestimar o poder da mentira e da ignorância... O Brasil tem se revelado o exemplo mais ilustrativo das manifestações dessas barbáries. 
Diante desse quadro tenebroso, cumpre-nos perguntar: como chegamos a esta quadra? Que condições favoreceram este desfecho? Sem perder de vista a relevância dos fatores externos - a extrema concentração de renda, de patrimônio, e de riquezas, características do atual modo de produção, em sua fase/face mais perversa (a da financeirização) -, nas linhas que seguem propomos destacar fatores internos deste estado de coisas. Mais precisamente, limitamo-nos a sublinhar o desprezo da memória histórica, em relação a um passado ainda recente. Com efeito, ignorar o passado enseja, quase sempre, trágicas reincidências. Em busca de reavivar nossa memória histórica recente (e menos recente), cuidamos de fazê-lo recorrendo à revisitação de uma dezena de filmes e documentários relativos ao período da ditadura empresarial-militar (1964-1985).
       O apelo às artes continua sendo um campo inspirador, também por se tratar de um meio fértil a mexer com nossa imaginação, em busca de uma interpretação adequada de nossa realidade. Os filmes e documentários, dos quais nos servimos, a seguir, constituem uma ilustração fecunda, no sentido de nos ajudarem a reavivar nossa memória, acerca de fatos, acontecimentos e situações presentes em nossa história recente, da qual importa ter em conta aspectos relevantes, que se acham na raiz de outros fatos e acontecimentos, característicos do momento atual.
Um primeiro filme que trazemos a tona é o bem conhecido "Cabra Marcado para Morrer", de Eduardo Coutinho, que tem chamado atenção de diversas gerações de militantes. Como se sabe, o filme/documentário faz memória da feroz perseguição de que foram vítimas as principais lideranças das ligas camponesas, em especial de João Pedro Teixeira e de sua esposa Elizabeth Teixeira, além de outros tantos militantes das ligas camponesas. Após o Golpe de estado de 1964, instalou-se uma feroz perseguição aos camponeses, em especial as lideranças das ligas camponesas, de tal sorte que forças militares e policiais não tardaram em invadir o famoso Engenho Galiléia, berço da primeira liga camponesa, em solo Pernambucano, mais precisamente no município de Vitória de Santo Antão. Os perseguidores, movidos pelo ódio contra organizações populares camponesas e operárias e estudantis, empenhavam-se em farejar passos de quaisquer militantes opositores aos protagonistas daquele famigerado Golpe de primeiro de abril de 1964 beneficiando-se de ampla informação acerca destas e outras organizações populares, os cúmplices do regime trataram de rastrear sinais de presença de lideranças camponesas, no nordeste e de localizarem o engenho Galiléia. Os perseguidores pretendiam aí localizar supostos arsenais escondidos, sob o controle de lideranças das ligas camponesas, em especial os protagonistas da liga camponesa do Engenho Galiléia e lá, trataram de prender e torturar os que aí encontraram. O filme/documentário, a princípio, havia iniciado a rodar, meses antes do golpe, e teve de ser interrompido durante vários anos, até que em início dos anos 80, ainda sob a direção de Eduardo Coutinho, voltou a ser alvo de filmagem, no mesmo local. Na ocasião, a própria Elizabeth Teixeira, viúva de João Pedro Teixeira, sofrera anos de exílio, numa cidadezinha do Rio Grande do Norte (São Rafael). Após Anistia, volta a encontrar seus filhos e outros familiares, pois a perseguição que foi movida contra ela implicou, não apenas sua separação dos demais filhos, como também ensejou, por várias razões, uma distribuição involuntária de seus filhos ainda crianças, que passaram - alguns deles - a ser criados por pessoas completamente contrárias aos ideais defendidos corajosamente pelo seu pai e pela sua mãe. A família de João Pedro Teixeira e de Elizabeth Teixeira sofreu, em consequência da militância de seus pais, pesadíssimos traumas, tendo sido fracionada durante os anos de exílio. De volta aos familiares, foi feito por Eduardo Coutinho o convite a Elizabeth Teixeira, de atuar na retomada daquela filmagem, convite aceito e comprido por Elizabeth Teixeira.
O documentário foca a fúria demoníaca das forças de repressão contra as principais lideranças das ligas camponesas, heróico movimento social popular que pontificou no Brasil, especialmente no nordeste, entre 1954 e 1964. A desumana perseguição movida contra os trabalhadores e trabalhadoras do campo, mobilizados em busca de reconhecimento público de seus direitos trabalhistas e sindicais, levou-os a enfrentarem a fúria dos latifundiários da região, em conluio com os aparelhos repressivos do estado brasileiro. Antes mesmo do estabelecimento do golpe de estado, no Brasil, em 1º de abril de 1964 as oligarquias rurais da região se serviam do aparelho repressivo do Estado, em especial por meio da cumplicidade policial militar, para abortarem o sonho de uma reforma agrária no Brasil, pleiteada por décadas, aspiração legítima e reconhecida até nos países capitalistas centrais. A Fúria latifundiária, em conchavo com as forças policiais, em âmbito Estadual, não toleravam que os trabalhadores e trabalhadoras rurais tivessem legalmente reconhecidos seus direitos trabalhistas mais elementares, como o direito à sindicalização, conquista já então reconhecido em relação aos trabalhadores e trabalhadoras urbanos. Ainda em 1962, após vários assassinatos cometidos por estas forças oligárquicas contra lideranças das ligas camponesas, também na Paraíba, não pouparam a liderança de João Pedro Teixeira, presidente da liga camponesa de Sapé, e, após ameaças sucessivas a esta liderança, acabaram cometendo o bárbaro assassinato contra João Pedro Teixeira, em 2 de abril de 1962.
A instauração do golpe de estado, que inaugurava a longa e Tenebrosa ditadura Empresarial militar, no Brasil, tem início uma sucessão de prisões, perseguições, torturas, assassinatos, destituições de direitos civis e políticos, fulminando as lideranças da liga camponesa de Sapé. Trata-se de uma Saga camponesa que não deve ser esquecida, sob pena de trágicas reincidências. 
Revisitar o filme "Cabra Marcado Para Morrer" significa, portanto, reavivar a memória de um tempo sombrio, cujos traços ainda permanecem ameaçadores, haja vista o número altíssimo de assassinatos de lideranças e de trabalhadores e trabalhadoras do campo na atualidade. Identificar e analisar perfis das classes dominantes e dirigentes, bem como dos setores agrários mais violentos, e suas respectivas estratégias - a serem confrontados com as estratégias de resistência opostas pelos trabalhadores e trabalhadoras do Campo - constituem caminho imprescindível para conjurar as reincidências que hoje se expandem, no atual quadro nazi-fascista que reina no (des)governo Bolsonaro. Subestimar ou esquecer tais cenários significaria um sinal de omissão e de cumplicidade, a ser evitado pelas forças sociais de transformação. 
O filme Queimada ("Burn") constitui outro exemplo ilustrativo a ser revisitado pelas forças comprometidas com uma sociedade alternativa a barbárie capitalista. Trata-se de um longa-metragem que, proibido de ser projetado nos primeiros tempos da ditadura Empresarial militar no Brasil, a ele recorriam militantes dos anos 70 como um instrumento eficaz, no aprendizado das lições históricas a serem tomadas e levadas a sério, por aquelas gerações. O filme reporta-se aos conflitos característicos das áreas de "Plantation", a partir de uma aproximação com o que se passará na Revolução de Haiti, para o quê se tomou como espaço geográfico e social uma fictícia ilha do Caribe. Os habitantes resistindo ao sistema colonial português, por meio de suas lideranças, especialmente a de Santiago, são duramente reprimidos. Mas, com o surgimento de uma nova liderança - José Dolores - as lutas são retomadas. Sucede, porém, que, de olho em tirar proveito desta situação revoltosa, aparece um militar inglês, “Sr. Walker” que se aproxima de José Dolores, fingindo-se de aliado. Graças a militância de José Dolores, e sua ampla receptividade por parte da população nativa, o movimento vai se fortalecendo, até ao ponto de conseguir expulsar os portugueses. Eis que, a figura do “Sr. Walker” volta a cena, a denunciar seu plano “maquiavélico”, de afastar-se de José Dolores, que ele passa a acusar  de traidor da Pátria, abrindo assim caminho para a invasão dos ingleses. 
Lições amargas recolhidas pelas lideranças nativas, a começar por José Dolores. Não desistindo da luta, José Dolores retoma, em novo estilo, a dianteira da resistência. Em suas diversas intervenções político-pedagógicas, em meio à sua gente, ele costumava afirmar: “é melhor saber para onde ir sem saber como, do que saber como e não saber para onde ir”.


Tomando em consideração, daqui para frente, os filmes e documentários que se reportam mas diretamente sobre as organizações de resistência ao golpe de estado de 1964 e a ditadura empresarial-militar, no Brasil, trazemos à tona o filme "Pra Frente, Brasil ". trata-se de um enredo que apresenta o cenário festivo do Brasil, entre 1969 e 1970, relativo a torcida fanática da seleção brasileira, Especialmente quando da Conquista do tricampeonato mundial de futebol, uma das músicas características deste período tinha por título exatamente "pra frente, Brasil", portanto nome que inspirou o título do filme. É neste clima de massivo “frenesi”, um trabalhador de classe média, funcionário de uma empresa, quando ao regressar de uma viagem de trabalho, aceita o convite de um cidadão, que lhe oferece carona, tendo em vista Um Destino comum , pois ambos se dirigiam ao mesmo bairro. Eis que, uma blitz, no meio do caminho, ensejou a suspeição do motorista do carro, acusado de pertencer a uma daquelas organizações de resistência armada, sem que o passageiro convidado, que só conhecerá aquele motorista casualmente, nada soubesse, acabando, por isto, por ser acusado, também ele, como “sócio” daquele suspeito. A partir daí, sua vida e a sua família não tem mais sossego. Ao ser conduzido a um órgão de repressão, é longamente inquirido, em tom acusatório. Como não respondia ao que lhe era interrogado - pois nada sabia a respeito daquela suposta trama -, este cidadão, um engenheiro de classe média, que se dizia apolítico, passou a ser longamente torturado, sem que nada pudesse responder, conforme o desejo de seus torturadores. Quanto mais dizia não pertencer a qualquer grupo e manifestar-se uma pessoa apolítica, tanto mais recebia todo tipo de tortura, onde ponto de encarar corajosamente seus torturadores e dizer-lhe que poderiam até matá-lo, mas ele nada mais lhes tinha a dizer. Com efeito, durante dias, foi torturado até a morte, sem que sua esposa e seu irmão, que tanto o vinham procurando em hospitais e delegacias, nada descobrissem a seu respeito. Seu irmão, também colega da mesma firma, descobre algo de estranho na movimentação da empresa da qual ambos (ele e o irmão) eram funcionários, após muita pesquisa, acabou descobrindo que o chefe, o dono daquela empresa, colaborava financeiramente com o grupo de torturadores, ligados aos órgãos de repressão da ditadura militar. Descobriu que seu chefe colaborava periodicamente, juntamente com outros grandes empresários, para a manutenção daquele serviço sujo. Mais: além da colaboração financeira de grandes empresários, estes também eram convidados a participarem de sessões periódicas, nas quais ouviam palestra de representantes dos Estados Unidos, acerca de como os grupos torturadores tinham que proceder. Aquele irmão, a partir daí, tendo sido também despedido daquela firma, passa a dedicar a sua vida a desmascarar os subterrâneos daquele sistema de tortura. Aqueles cidadãos, que não tinham qualquer ligação com grupos políticos, muito menos com organizações armadas de resistência à ditadura empresarial-militar, são exemplos de pessoas inocentes que sofreram na pele, injustamente, os horrores daquele regime. O filme "Pra frente Brasil" constitui relevante espaço de aprendizado sobre os porões da ditadura, que tinha um leque de serviços oficiais e oficiosos, para assegurar os horrores daquele regime.
Outro filme que bem nos ajuda a refrescar a memória sobre aquele período de chumbo, é o intitulado “Hércules 56". Trata-se de um documentário que narra vários episódios envolvendo organizações armadas de resistência à ditadura militar. Narra, também, várias ações, tais como assaltos a bancos (expropriações), com o objetivo de angariar recursos para o financiamento de suas ações de combate à ditadura, bem como narra episódios de assaltos a quartéis, dos quais retiravam armas, com o mesmo objetivo. Narra, ainda, o episódio do sequestro do embaixador dos Estados unidos, Charles Elbrick, como meio de libertação de 15 militantes prisioneiros da ditadura, que estavam sendo mantidos prisioneiros, sob sistemática tortura. O título do filme - "Hércules 56" - faz referência ao avião que transportou para o México os 15 prisioneiros constantes da lista fornecida pelos sequestradores, como condição de libertação com vida do embaixador dos Estados Unidos.
O filme “Lamarca" também trata de contar a chaga deste capitão do exército. Discordante do regime então implantado, tratou de colaborar com as organizações de resistência, para o quê teve que desertar. Ao fazê-lo, conseguiu sair do quartel com um caminhão carregado de fuzis, sob alegação feita ao guarda de controle daquela movimentação de que estava indo para um treinamento militar. O capitão Lamarca, a partir daí, cai na clandestinidade, e passa a comandar a organização chamada VPR (Vanguarda Popular Revolucionária). Após sucessivas e crescentes perseguições, sob o comando do terrificante Delegado Fleury, enfrenta uma série de cercos, dos quais consegue sair. Enquanto isto, figuras importantes daquela organização eram constantemente aprisionadas, infligindo duras baixas a VPR. Sem contar com o consenso de seus camaradas de organização, enquanto Comandante da VPR, Lamarca opta por iniciar uma ação armada no campo, seguindo a orientação de outras organizações, a exemplo do PC do B, no sentido de tentar o cerco da cidade pelo campo, inspiração de táticas maoístas. Vai instalar no sertão baiano um núcleo de iniciação desta resistência junto com um pequeno grupo de militantes. Com o crescente Cerco que se vai fazendo, em todo o país, Lamarca e seus companheiros acabam sendo descobertos e duramente perseguidos até à morte. Em meio a estas situações, o filme/documentário também apresenta várias reflexões, por parte de Lamarca, acerca de sua indignação e revolta contra aquele regime, ao tempo em que se mantém fiel à causa libertadora de sua gente, por meio de uma estratégia com a qual se pode ou não concordar, mas compreensível dentro daquele contexto específico.
Outro documentário marcante contempla a figura de Carlos Marighella, dirigente da Ação Libertadora Nacional (ALN), protagonista de várias ações de resistência à ditadura civil-militar. O documentário rememora, por meio de depoimentos de diversas pessoas que o conheceram mais de perto, traços relevantes de sua trajetória de militante, de modo a enfatizar várias qualidades suas, dentre as quais: sua paixão pelas classes populares, seu preparo intelectual, seus predicados de dirigente dentro do partido - o PCB - do qual se tornou, junto com outros camaradas, dissidente, mas sempre, merecendo o respeito de todos. Na indicação dos nomes dos prisioneiros a comporem a lista dos que deveriam ser libertados em troca do embaixador dos Estados Unidos, Gregório Bezerra figurava em primeiro lugar. Sabe-se que, pertencendo aos quadros do PCB, contrário à opção pela resistência armada à ditadura civil-militar, Gregório Bezerra no entanto, ultrapassava todas as barreiras, razão porque foi contactado por Marighella, antigo companheiro de partido e de cela, com o objetivo de convencer a Gregório da importância de sua aceitação de ser incluído naquela lista. Isto revela a grandeza também de Marighella.
"O que é isso, companheiro?", eis outro filme, baseado no livro do mesmo título, escrito por Fernando Gabeira, um dos participantes do sequestro do embaixador dos Estados Unidos. O filme narra a indignação e a revolta de jovens estudantes, inconformados com o fechamento de todos os espaços de liberdade, principalmente após a decretação do famigerado Ato Institucional número 5, de 13 de dezembro de 1968, o que passou a ser chamado de "o golpe dentro do golpe". Destituídos de todos os espaços de liberdade, de associação, do direito de ir e vir, de reuniões e situações semelhantes, vão surgindo, no Brasil, várias organizações, com o objetivo de opor àquele regime uma resistência, também pela via das Armas. Dezenas de organizações foram, então, criadas. Dentre elas, algumas se destacaram com mais ênfase: ALN, AP, MR -8, CPR, VAR - Palmares,  PCBR, PC do B, entre outras. 
Uma dessas dissidências - a dissidência Guanabara -, juntamente com dirigentes do MR-8, atraíram vários jovens, contra aquela ditadura. Sem muita experiência de ações, nesta área, houveram por bem convidar pessoas experientes, pertencentes a uma outra corrente, no caso, dirigentes da ALN, mais precisamente Joaquim Câmara Ferreira e Virgílio Gomes da Silva. Seu plano, que vem a ser concretizado, consistia em ações de expropriação, com o propósito de levantar recursos financeiros de sustentação destas organizações, cuja principal ação foi a da realização do sequestro do embaixador Elbrick, dos Estados Unidos, obrigando a ditadura militar a liberar 15 dos prisioneiros, vítimas de tortura nos porões da própria ditadura, além de tê-la obrigado a publicar, nos principais meios de comunicação, O Manifesto, assinado pelos organizadores daquele ato, explicando à população brasileira as razões de seu gesto.
Outro documentário relevante, a rememorar ações semelhantes, foi o intitulado "Soldados do Araguaia". Relata, sobretudo a partir dos antigos moradores da região conhecida como Bico do Papagaio, situada nas fronteiras entre o Pará, Maranhão e Goiás (hoje parte do Estado do Tocantins). Trata-se de vários e vários depoimentos de pessoas simples da região, a contar a relação de amizade e de respeito construída com aqueles jovens que se inseriram naquela região, passando a ser chamados de "paulistas", grupo composto por estudantes militantes experientes, exemplo do velho militante comunista João Amazonas, bem como de outros militantes - homens e mulheres - que também atuaram como médicos, enfermeiros e enfermeiras, farmacêuticos, comerciantes, etc. Interagindo fraternalmente com os moradores daquela região, em sua enorme maioria de camponeses, os depoimentos colhidos conferem uma amigável relação entre os "paulistas" e os moradores da região, atuando como beneficiários, em especial, de serviços ali não existentes, tais como os serviços relativos aos cuidados da saúde. Os depoentes testemunham ações ignóbeis praticadas pelo exército brasileiro, infiltrando-se na região e penalizando duramente seus moradores, chegando mesmo a torturar vários deles, com o objetivo de extrair informações sobre as lideranças daquele Movimento. 

Inspirado em um dos mais famosos livros de Frei Betto, foi feito, com o mesmo nome, o filme "Batismo de sangue". Documentário de grande relevância, sobretudo por apresentar o protagonismo de parte da Igreja Católica no Brasil, no processo de resistência à ditadura empresarial militar. O documentário foca especialmente o envolvimento de Frades Dominicanos, entre os quais Frei Tito Alencar, Frei Fernando, Frei Betto, Frei Ivo, entre outros, em ações de solidariedade a grupos de resistência à ditadura militar, inclusive, da qual Carlos Marighella apresenta-se como sua maior referência.

Quando da deflagração do golpe de estado, parcelas significativas da sociedade brasileira, inclusive segmentos da igreja católica, estiveram no apoio ao golpe militar de 1964. À medida, porém, que o poder instalado pela força começava a mostrar suas garras contra o Congresso Nacional, as lideranças políticas de oposição, a Perseguição que se seguiu aos movimentos populares, operários, camponeses, estudantis, os segmentos progressistas da igreja católica, também por meio da CNBB, passaram a opor-se àquele regime ditatorial. É a partir de então que tem início uma feroz perseguição também a figuras de militantes católicos, inclusive padres e religiosos, entre os quais se encontravam alguns dominicanos. Com o advento do AI-5, a solidariedade com as vítimas se dava por meio do acompanhamento até a fronteira entre Brasil e Uruguai, de lideranças de organizações perseguidas.

Com o gigantesco trauma que que se seguiu, no Brasil e no Cone Sul, pelo infortúnio de longas ditaduras civis-militares, cresceu o interesse de grupos de pesquisa e de pesquisadores e pesquisadoras individuais - é, por exemplo, o caso do pesquisador René Dreifuss (“1964: a conquista do Estado”) -, preciosas informações vieram a ser reunidas, de modo impactante. Daí resultam várias iniciativas, como a da organização da Comissão da Verdade, em diferentes âmbitos, bem como também de documentários de grande relevância, a exemplo "O dia que durou 21 anos". Trata-se de um documentário amplamente bem fundamentado, trazendo inclusive depoimentos originais, em falas de autoridades estadunidenses, especialmente o do então Embaixador Lindon Gordon, a revelarem detalhes escandalosos de instâncias governamentais dos Estados Unidos, profundamente envolvidas na Trama do Golpe civil-militar de 1964.
Quem ainda tinha dúvidas acerca do vergonhoso apoio dos Estados Unidos a ditaduras militares, instaladas na América Latina, inclusive no Cone Sul, supera todos os questionamentos, tal a contundência dos registros e dos documentos apresentados. Durante os últimos governos petistas, por exemplo, também foram registrados, inclusive por via do famoso Wikileaks, cenas de espionagem patrocinadas por recentes governos estadunidenses, não poupando sequer a própria presidente de então, Dilma Rousseff. Ao mesmo tempo, cumpre observar, com mais atenção, registros semelhantes, atinentes à cobiça de grandes empresas de petróleo, acumpliciadas pelo Governo daquele país, acerca das recentes descobertas de jazidas petrolíferas, no Brasil, em especial as do pré-sal. Mais do que isso, a intrusão dos governos dos Estados Unidos em assuntos internos ao Brasil e a países latino-americanos, de certa maneira, nunca deixou de acontecer. Mais recentemente, tivemos notícias da enorme influência de instâncias governamentais dos Estados Unidos até mesmo na criação do estranho Movimento Brasil Livre, protagonista do chamamento à rua de milhares de pessoas, em junho de 2013, bem como de notícias acerca de sua influência na instauração do processo de impeachment, sofrido pela presidente Dilma Rousseff.
Subestimar estas informações ou desprezar nosso passado (recente e menos recente) tem o significado de mostrar nossa apatia, indiferença ou mesmo cumplicidade aos tempos tenebrosos pelos quais está passando a sociedade brasileira. E o que dizer dos íntimos laços que unem o atual desgoverno e suas tenebrosas instâncias ao atual presidente dos Estados Unidos?

João Pessoa, 25 de fevereiro de 2020 

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

MÍDIA CORPORATIVA, PARCEIRA DA ELITE ENTREGUISTA: monopólio, mentira e parcialidade Alder Júlio Ferreira Calado Ao tecermos críticas à mídia corporativa, não devemos ignorar o fato de que, mesmo sendo parte integrante do sistema capitalista, comporta também exceções, devidas sobretudo a alguns de seus profissionais. Um desses casos de vê com a postura profissional da jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha de São Paulo, ao denunciar as fake news disparadas por gente próxima do então candidato Jair Bolsonaro. Mas, isto é exceção. O posicionamento da mídia corporativa - rádio, televisão, jornal redes sociais - acerca da recente mobilização da FUP ( Federação Única dos Petroleiro), a qual se vem associando outras entidades representativas dos Trabalhadores e Trabalhadoras na área do petróleo, no Brasil, constitui apenas mais um exemplo de como se comporta a mídia corporativa, umbilicalmente associada e a serviço dos interesses da Elite entreguista, presente no atual desgoverno, bem como nas grandes corporações transnacionais do capital nacional e internacional, em especial, as que atuam na área do petróleo. Faz 18 dias que os Petroleiros se acham mobilizados desde a inviabilização pela atual direção entreguista da Petrobras, das negociações entre os trabalhadores e a empresa, quando ainda se punham a mesa de negociações, em sessão abruptamente suspensa - e de maneira unilateral - pelos dirigentes da Petrobras, fugindo assim ao diálogo entre as partes, impondo aos trabalhadores Petroleiros uma imperiosa reação. Após a abrupta interrupção, pela direção da Petrobras, das negociações então em curso, os trabalhadores não tiveram outra opção senão a de permanecerem na sala de negociação, em claro testemunho de seu desejo de continuidade das negociações. Tal posição dos dirigentes dos Petroleiros foi em seguida, reconhecida como legítima por um juiz a quem os patrões da Petrobras recorreram. Não havendo continuidade de negociação, o conjunto da categoria, apoiado por tantas outras entidades, vem se mobilizando, desde então, em busca de que a direção da Petrobras volte as negociações e reconheça o justo pleito dos Trabalhadores que, aliás, não se batem apenas por interesses exclusivamente seus - no caso, protestarem contra demissão gratuita de cerca de 1000 Trabalhadores -, mas também de, como cidadãos para defenderem a Petrobras hoje, mais do que nunca, ameaçada de dilapidação, a serviço de grandes empresas petrolíferas internacionais, configurando uma posição claramente entreguista e antipatriótica dos desmontes das riquezas do Brasil - no caso, os ricos recursos petrolíferos do pré-sal - aos grandes grupos internacionais que atuam na mesma área. Só muito recentemente, porém, é que a mídia corporativa, que esteve, durante semanas, a silenciar este fato, toma finalmente a decisão de notícia-lo, mas apenas na versão que interessa exclusivamente aos seus patrões ou aos seus parceiros de uma elite entreguista. Durante essas mobilizações pelo País, desencadeadas pela ruptura unilateral pelo diálogo de negociação, os petroleiros tiveram uma iniciativa deveras criativa e pedagógica: a de, em uma de suas manifestações de protesto na Bahia de venderem botijões de gás de cozinha ao preço de 35 reais contra o preço fixado pela petrobras - de 70 reais ou mais, demonstrando assim os critérios injustos da política de preços de combustíveis seguido pela Petrobras a partir do desgoverno Temer e do atual desde a nomeação de Pedro Parente, que alterou profundamente a política de preços vigente, a décadas. Fato também não noticiado pela mídia corporativa, refém que é da elite entreguista que a financia e à qual serve. Após a descoberta do Pré-sal brasileiro vêm recrudescendo de modo crescente os ataques feitos pelas grandes corporações petroleiras internacionais, notadamente as originárias nos Estados Unidos, dando sequência mais agressiva a persecução de seus interesses empresariais.Para tanto, como em tantos outros casos contam a cumplicidade do Governo Estadunidense. Assim como em relação a Venezuela, cresce a cobiça pelo controle da produção de petróleo produzida no Brasil. Daí as constantes investidas imperialistas, feitas de estratégias as mais diversas (desde as famigeradas “FakeNews” passando pela espionagem ao controle dos governos de plantão transformados em meros títeres. Neste circuito de pilhagem, qual o papel reservado, tradicionalmente, e hoje mais do que nunca, à mídia corporativa? Tornou-se célebre a afirmação - com a qual não concordamos - de que a mídia constitui o “Quarto Poder”. Ao reconhecer o papel eficaz que a mídia corporativa exerce, a serviço dos interesses do Capitalismo, em especial a do setor financista, importa reconhecê-lo sobretudo, como um parceiro do grande capital, razão porque assume servilmente os papéis mais sujos que a lógica da barbárie capitalista lhe impõe. Com efeito, a mídia corporativa, regiamente financiada pela Elite entreguista, trata de “cumprir bem” o seu papel. Pior é quem tenta fazê-lo de um jornalismo ético e imparcial. Que imparcialidade??? Que tal refrescar algumas destas “imparcialidades”? Limitemo-nos de passagem, a alguns exemplos ilustrativos: as numerosas mensagens (ilegalmente interceptadas) divulgadas pelo site “The Intercept”, acerca dos numerosos atos de parcialidade e de partidarismo cometidos pelo ex-juiz Moro e seus parceiros do Ministério Público Federal. Que tal, ainda, refrescar nossa memória do papel desta mesma mídia corporativa, quanto a sua pretensa imparcialidade no noticiário e na divulgação das recentes reformas (na verdade, verdadeiros desmontes): a PEC do teto, a “reforma” trabalhista, a reforma da previdência, só para mencionar algumas? E assim prossegue o 10 governo bolsonaro, apoiado por um leque dê forças retrógrada e obscura artistas, agindo contraditoriamente em nome do Brasil, segue a protagonizar o mais calamitoso desmonte das políticas sociais, construídas durante décadas a mídia comercial, por seu turno, cuida de promover o essencial destas "reformas", ainda que, aqui e ali, trate de emitir declarações ou comentários críticos parêntese de boca para fora) contra os "excessos" do do Presidente da República, ao tempo em que não hesitar hein sacramentar as mais perversas propostas formuladas pelo Ministro Paulo Guedes principal protagonista do desmonte Neo ultraneoliberal, escancara as portas do Brasil para o grande capital nacional e internacional, sempre sobre a máscara de que isto interessa ao Brasil além da mídia corporativa, produz, no Congresso Nacional, mediante seus respectivos presidente , principalmente o da câmara, uma intrigante contradição: de um lado apoiam nitidamente reformas propostas por Paulo Guedes, enquanto de outro lado, fingem estar em desacordo com com os costumeiros excessos do Presidente da República. A grande mídia comercial, por sua vez, só tem a expressar louvores ao presidente da Câmara Rodrigo Maia, por "blindar "pretensamente as investidas agressivas do atual presidente da república. Pronunciou, no senado federal, na tarde de ontem, a Senadora Zenaide Maia, representante do Rio Grande do Norte, mostrou-se bastante lúcida em apontar os grandes crimes de lesa-pátria, que vem sendo abertamente cometidos pelo atual desgoverno e seus apoiadores. referia-se, fundamentalmente, há uma sucessão de privatizações claramente destinadas a favorecer grandes grupos econômicos estrangeiros, em detrimento da soberania nacional. Para tanto, cobrava a responsabilidade de outras instâncias que cercam o governo federal, inclusive lembrando o papel constitucional das Forças Armadas, parte das quais compõe o atual desgoverno. Permitimo-nos fornecer o seguinte link, por meio do qual se pode ter acesso ao referido pronunciamento (cf. https://www12.senado.leg.br/multimidia/evento/94977?h=15:03:14) Que passos empreender, na direção da superação de tais impasses? Com relação ao papel da mídia corporativa, convém ter presente que este foi, é e continuará sendo desempenhado pelos grandes meios de comunicação de massa: caixa de ressonância dos interesses hegemônicos das classes dominantes e dirigentes, isto é, das “elites do atraso” no modo de produção capitalista. Não se deve cogitar para a mídia corporativa o desempenho de outro papel, uma vez que ela é parte umbilicalmente integrante deste mesmo sistema. Por outro lado, passos de resistência devem ser empreendidos pelos que são vítimas contundentes dos desmandos desferidos pelo atual modo de produção, ao qual serve o atual desgoverno, sempre contando com seus aparelhos de Estado. Uma dessas possibilidades de resistência tem a ver com com o encontro, intitulado "economia de Francisco", promovido pelo Papa Francisco, a ter lugar em Assis, de 26 a 28 de Março. Do corrente ano a agenda anunciada para aquele encontro comportará também a necessidade e a urgência da democratização dos meios de comunicação social, em especial aqueles que atuam em sede de monopólio, como é bem o caso do Brasil. Este é um primeiro passo, que deve ser seguido por tantos outros, dos quais destacamos mais 3: a urgência, por parte dos movimentos sociais populares seus parceiros e aliados de voltarem a investir permanentemente no processo organizativo e formativo de suas bases, permitindo aquisição e o exercício constante de sua consciência de classe isto já é um grande passo, é eficaz para um enfrentamento exitoso, por exemplo, das estratégias aplicadas pelas forças dominantes da atualidade, em especial as "Fake News” e outras estratégias de manipulação das consciências de imensas parcelas de nossa população, destituídas das mínimas oportunidades de formação de sua consciência crítica, como a denúncia recentemente feita, na pesquisa organizada pelo PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), no caso do Brasil, 65% dos Estudantes não conseguem fazer a diferença entre um fato e uma versão. Neste sentido, é digna de registro a iniciativa de alguns jornalistas (mulheres e homens) de criarem espaços autônomos de mídia alternativa, após de já não aguentarem o controle ideológico exercido pelos seus patrões (Globo, Folha de São Paulo e outros grandes veículos do gênero). Referimo-nos a jornalistas tais como Florestan Fernandes Júnior, Leonardo Attuch(TV 247), Breno Altman (Ópera Mundi), Gisele Federicce (TV 247), Marcelo Auler(TV 247), Renato Rovai (Revista Fórum). Outro passo não menos importante tem a ver com o compromisso, também por parte de nossas organizações de base, em especial os movimentos sociais populares, retomarem permanentemente, e em novo estilo, seu compromisso de Formação, organização e mobilização das forças populares, capazes de enfrentar o desafio da barbárie capitalista, em busca da construção processual de um novo modo de produção um novo modo de consumo um novo modo de gestão societal, alternativo a barbárie capitalista, reinante também em nosso país. João Pessoa, 19 de fevereiro de 2020

MÍDIA CORPORATIVA, PARCEIRA DA ELITE ENTREGUISTA: monopólio, mentira e parcialidade

Alder Júlio Ferreira Calado 

Ao tecermos críticas à mídia corporativa, não devemos ignorar o fato de que, mesmo sendo parte integrante do sistema capitalista, comporta também exceções, devidas sobretudo a alguns de seus profissionais. Um desses casos de vê com a postura profissional da jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha de São Paulo, ao denunciar as fake news disparadas por gente próxima do então candidato Jair Bolsonaro.  Mas, isto é exceção.
O posicionamento da mídia corporativa - rádio, televisão, jornal redes sociais - acerca da recente mobilização da FUP ( Federação Única dos Petroleiro), a qual se vem associando outras entidades representativas dos Trabalhadores e Trabalhadoras na área do petróleo, no Brasil, constitui apenas mais um exemplo de como se comporta a mídia corporativa, umbilicalmente associada e a serviço dos interesses da Elite entreguista, presente no atual desgoverno, bem como nas grandes corporações transnacionais do capital nacional e internacional, em especial, as que atuam na área do petróleo. Faz 18 dias que os Petroleiros se acham mobilizados desde a inviabilização pela atual direção entreguista da Petrobras, das negociações entre os trabalhadores e a empresa, quando ainda se punham a mesa de negociações, em sessão abruptamente suspensa - e de maneira unilateral - pelos dirigentes da Petrobras, fugindo assim ao diálogo entre as partes, impondo aos trabalhadores Petroleiros uma imperiosa reação. Após a abrupta interrupção, pela direção da Petrobras, das negociações então em curso, os trabalhadores não tiveram outra opção senão a de permanecerem na sala de negociação, em claro testemunho de seu desejo de continuidade das negociações. Tal posição dos dirigentes dos Petroleiros foi em seguida, reconhecida como legítima por um juiz a quem os patrões da Petrobras recorreram. Não havendo continuidade de negociação, o conjunto da categoria, apoiado por tantas outras entidades, vem se mobilizando, desde então, em busca de que a direção da Petrobras volte as negociações e reconheça o justo pleito dos Trabalhadores que, aliás, não se batem apenas por interesses exclusivamente seus - no caso, protestarem contra demissão gratuita de cerca de 1000 Trabalhadores -, mas também de, como cidadãos para defenderem a Petrobras hoje, mais do que nunca, ameaçada de dilapidação, a serviço de grandes empresas petrolíferas internacionais, configurando uma posição claramente entreguista e antipatriótica dos desmontes das riquezas do Brasil - no caso, os ricos recursos petrolíferos do pré-sal - aos grandes grupos internacionais que atuam na mesma área. 

Só muito recentemente, porém, é que a mídia corporativa, que esteve, durante semanas,  a silenciar este fato, toma finalmente a decisão de notícia-lo, mas apenas na versão que interessa exclusivamente aos seus patrões ou aos seus parceiros de uma elite entreguista. 

Durante essas mobilizações pelo País, desencadeadas pela ruptura unilateral pelo diálogo de negociação, os petroleiros tiveram uma iniciativa deveras criativa e pedagógica: a de, em uma de suas manifestações de protesto na Bahia de venderem botijões de gás de cozinha ao preço de 35 reais contra o preço fixado pela petrobras - de 70 reais ou mais, demonstrando assim os critérios injustos da política de preços de combustíveis seguido pela Petrobras a partir do desgoverno Temer e do atual desde a nomeação de Pedro Parente, que alterou profundamente a política de preços vigente, a décadas. Fato também não noticiado pela mídia corporativa, refém que é da elite entreguista que a financia e à qual serve. 

Após a descoberta do Pré-sal brasileiro vêm recrudescendo de modo crescente os ataques feitos pelas grandes corporações petroleiras internacionais, notadamente as originárias nos Estados Unidos, dando sequência mais agressiva a persecução  de seus interesses empresariais.Para tanto, como em tantos outros casos contam a cumplicidade do Governo Estadunidense. Assim como em relação a Venezuela, cresce a cobiça pelo controle da produção de petróleo produzida no Brasil. Daí as constantes investidas imperialistas, feitas de estratégias as mais diversas (desde as famigeradas “FakeNews” passando pela espionagem ao controle dos governos de plantão transformados em meros títeres. 

Neste circuito de pilhagem, qual o papel reservado, tradicionalmente, e hoje mais do que nunca, à mídia corporativa? 

Tornou-se célebre a afirmação - com a qual não concordamos - de que a mídia constitui o “Quarto Poder”. Ao reconhecer o papel eficaz que a mídia corporativa exerce, a serviço dos interesses do Capitalismo, em especial a do setor financista, importa reconhecê-lo sobretudo,  como um parceiro do grande capital, razão porque assume servilmente os papéis mais sujos que a lógica da barbárie capitalista lhe impõe. Com efeito, a mídia corporativa, regiamente financiada pela Elite entreguista, trata de “cumprir bem” o seu papel. Pior é quem tenta fazê-lo de um jornalismo ético e imparcial. Que imparcialidade??? Que tal refrescar algumas destas “imparcialidades”? Limitemo-nos de passagem, a alguns exemplos ilustrativos: as numerosas mensagens (ilegalmente interceptadas) divulgadas pelo site “The Intercept”, acerca dos numerosos atos de parcialidade e de partidarismo cometidos pelo ex-juiz Moro e seus parceiros do Ministério Público Federal. Que tal, ainda, refrescar nossa memória do papel desta mesma mídia corporativa, quanto a sua pretensa imparcialidade no noticiário e na divulgação das recentes reformas (na verdade, verdadeiros desmontes): a PEC do teto, a “reforma” trabalhista, a reforma da previdência, só para mencionar algumas? 

E assim prossegue o 10 governo bolsonaro, apoiado por um leque dê forças retrógrada e obscura artistas, agindo contraditoriamente em nome do Brasil, segue a protagonizar o mais calamitoso desmonte das políticas sociais, construídas durante décadas a mídia comercial, por seu turno, cuida de promover o essencial destas "reformas", ainda que, aqui e ali, trate de emitir declarações ou comentários críticos parêntese de boca para fora) contra os "excessos" do do Presidente da República, ao tempo em que não hesitar hein sacramentar as mais perversas propostas formuladas pelo Ministro Paulo Guedes principal protagonista do desmonte Neo ultraneoliberal, escancara as portas do Brasil para o grande capital nacional e internacional, sempre sobre a máscara de que isto interessa ao Brasil além da mídia corporativa, produz, no Congresso Nacional, mediante seus respectivos presidente , principalmente o da câmara, uma intrigante contradição: de um lado apoiam nitidamente reformas propostas por Paulo Guedes, enquanto de outro lado, fingem estar em desacordo com com os costumeiros excessos do Presidente da República. A grande mídia comercial, por sua vez, só tem a expressar louvores ao presidente da Câmara Rodrigo Maia, por "blindar "pretensamente as investidas agressivas do atual presidente da república. 

Pronunciou, no senado federal, na tarde de ontem, a Senadora Zenaide Maia, representante do Rio Grande do Norte, mostrou-se bastante lúcida em apontar os grandes crimes de lesa-pátria, que vem sendo abertamente cometidos pelo atual desgoverno e seus apoiadores. referia-se, fundamentalmente, há uma sucessão de privatizações claramente destinadas a favorecer grandes grupos econômicos estrangeiros, em detrimento da soberania nacional. Para tanto, cobrava a responsabilidade de outras instâncias que cercam o governo federal, inclusive lembrando o papel constitucional das Forças Armadas, parte das quais compõe o atual desgoverno. Permitimo-nos fornecer o seguinte link, por meio do qual se pode ter acesso ao referido pronunciamento (cf. https://www12.senado.leg.br/multimidia/evento/94977?h=15:03:14

Que passos empreender, na direção da superação de tais impasses? 

Com relação ao papel da mídia corporativa, convém ter presente que este foi, é e continuará sendo desempenhado pelos grandes meios de comunicação de massa: caixa de ressonância dos interesses hegemônicos das classes dominantes e dirigentes, isto é, das “elites do atraso” no modo de produção capitalista. Não se deve cogitar para a mídia corporativa o desempenho de outro papel, uma vez que ela é parte umbilicalmente integrante deste mesmo sistema. Por outro lado, passos de resistência devem ser empreendidos pelos que são vítimas contundentes dos desmandos desferidos pelo atual modo de produção, ao qual serve o atual desgoverno, sempre contando com seus aparelhos de Estado. Uma dessas possibilidades de resistência tem a ver com com o encontro, intitulado "economia de Francisco", promovido pelo Papa Francisco, a ter lugar em Assis, de 26 a 28 de Março. Do corrente ano a agenda anunciada para aquele encontro comportará também a necessidade e a urgência da democratização dos meios de comunicação social, em especial aqueles que atuam em sede de monopólio, como é bem o caso do Brasil.

Este é um primeiro passo, que deve ser seguido por tantos outros, dos quais destacamos mais 3: a urgência, por parte dos movimentos sociais populares seus parceiros e aliados de voltarem a investir permanentemente no processo organizativo e formativo de suas bases, permitindo aquisição e o exercício constante de sua consciência de classe isto já é um grande passo, é eficaz para um enfrentamento exitoso, por exemplo, das estratégias aplicadas pelas forças dominantes da atualidade, em especial as "Fake News” e outras estratégias de manipulação das consciências de imensas parcelas de nossa população, destituídas das mínimas oportunidades de formação de sua consciência crítica, como a denúncia recentemente feita, na pesquisa organizada pelo PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), no caso do Brasil, 65% dos Estudantes não conseguem fazer a diferença entre um fato e uma versão. 

Neste sentido, é digna de registro a iniciativa de alguns jornalistas (mulheres e homens) de criarem espaços autônomos de mídia alternativa, após de já não aguentarem o controle ideológico exercido pelos seus patrões (Globo, Folha de São Paulo e outros grandes veículos do gênero). Referimo-nos a jornalistas tais como Mauro Lopes (TV 247), Florestan Fernandes Júnior, Rogério Anitablian, Leandro Demori (Intercept), Leonardo Attuch (TV 247), Breno Altman (Ópera Mundi), Gisele Federicce (TV 247), Marcelo Auler(TV 247), Renato Rovai (Revista Fórum), Dafne Ashton (TV 247), Tânia Maria de Oliveira (TV 247), Gustavo Conde (TV 247), entre outros e outras . 

Outro passo não menos importante tem a ver com o compromisso, também por parte de nossas organizações de base, em especial os movimentos sociais populares, retomarem permanentemente, e em novo estilo, seu compromisso de Formação, organização e mobilização das forças populares, capazes de enfrentar o desafio da barbárie capitalista, em busca da construção processual de um novo modo de produção um novo modo de consumo um novo modo de gestão societal, alternativo a barbárie capitalista, reinante também em nosso país. 

João Pessoa, 19 de fevereiro de 2020

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

A CAMINHO DE ASSIS, NAS TRILHAS DE FRANCISCO: por uma economia a serviço da humanidade, em harmonia com o planeta


A CAMINHO DE ASSIS, NAS TRILHAS DE FRANCISCO: por uma economia a serviço da humanidade, em harmonia com o planeta

 Alder Júlio Ferreira calado 

Francisco, o atual Bispo de Roma, completará, no próximo dia 13 de Março, 7 anos, desde assunção de suas funções. Eis que, de lá para cá, protagonizando verdadeira reviravolta, no exercício do ministério petrino, comum pastor e missionário Itinerante, a serviço do Reino de Deus e sua justiça. Diversas são as marcas que, neste ainda breve período, ele tem deixado, tanto ao interno da Igreja Católica Romana, quanto à vista de pessoas e grupos de outras confissões religiosas e  de tantas outras comunidades ou pessoas que não professam qualquer credo. Durante esses 7 anos de um pontificado itinerante, eis que Francisco tem percorrido os cinco continentes, por meio de suas viagens apostólicas, alcançando um total de 33 visitas apostólicas, à terra e às gentes de todos os continentes. Durante este período, também revelou-se como um mensageiro de justiça e de paz, por meio de escritos emblemáticos, tais como, por exemplo: “Evangelii Gaudum” (A alegria do Evangelho”, “Laudato Sí” (Louvado Seja, Meu Senhor), “Amoris Laetitia” (Alegria do Amor), “Christus Vivit” (Acerca do Sínodo sobre os Jovens), “Querida Amazônia”. Tem-se revelado um artífice extraordinário na tecedura de relações de unidade na diversidade entre cristãos e não-cristãos, a começar pelo seu reconhecido empenho na busca de unidade entre católicos ortodoxos e católicos romanos, entre reformados e católicos, sem esquecermos seu precioso trabalho a serviço da causa libertadora do povo dos pobres. Digna de nota também é sua iniciativa de enfrentamento do desafio das Profundas e crescentes desigualdades sociais, para o quê não tem medido esforços de convocar representantes dos movimentos sociais de todo o mundo, para encontros especiais, realizados ora em Roma, ora em Santa Cruz de La Sierra (Bolívia), já o tendo feito várias vezes. Igualmente digna de reconhecimento e de admiração tem sido sua participação nas jornadas da Juventude, pelo mundo. Mais recentemente, tem se empenhado na convocação de sínodos de bispos, sempre com o propósito de assegurar um amplo programa de universalização de políticas sociais, de modo a garantir uma vida digna ao conjunto dos humanos, em harmonia com o Planeta. A este respeito, lembra o economista Ladislau Dowbor, segundo qual pesquisas recentes dão conta de que o total de riquezas detidas por um ínfimo percentual de bilionários, fosse dividido pelo conjunto dos habitantes do mundo, por certo resultaria uma renda per capita ou familiar bastante expressiva. Ladislau Dowbor também lembra que se o PIB Mundial, correspondendo a 86 trilhões de dólares, fosse dividido pelo total de habitantes da terra, resultaria em uma renda per capita de 15000 Dólares.Igualmente tocante é acrescentar, da parte deste mesmo economista, que algo similar aconteceria em relação a divisão do PIB do Brasil, correspondendo a 6 trilhões e 500 bilhões, uma vez dividido pelo número de habitantes do Brasil, também resultaria em uma renda per capita correspondendo a 15000 reais. Daí nossa convicção de que já não é razoável aceitar a fome, a penúria, a miséria, o desemprego alarmante e outras mazelas sociais , afetarem enormes parcelas da população mundial, incluindo a do Brasil, quando se sabemos  que há sim, recursos suficientes para garantir uma vida digna ao conjunto dos humanos, em respeito também a dignidade do planeta.
Neste sentido, um outro caminho, há de  ser pensado no Encontro "Economia de Francisco",  com a participação de convidados e convidadas de várias partes do mundo, ora tratando de enfrentar os desafios mais emblemáticos a impactarem jovens de todo mundo (sínodo sobre os jovens), ora convocando bispos, representantes de povos originários e tradicionais da Amazônia, além de especialistas sensíveis a causa da vida socioambiental. Não bastassem tais iniciativas, eis que, ainda no primeiro semestre deste ano, estão agendados dois compromissos de grande relevância: o primeiro, a realizar-se de 26 a 28 de Março próximo, e o segundo a ter lugar em Roma, em maio vindouro. Enquanto o primeiro trata de encontrar novos caminhos em direção a uma economia a serviço da humanidade, em harmonia com o planeta, a segunda cuida do desafio de uma educação voltada mais profundamente para os compromissos com a justiça e a paz. 
Nas linhas que seguem, limitamo-nos a fornecer Uma Breve notícia, seguida de algumas considerações, acerca do Encontro denominado "Economia de Francisco ", já ultimando seus preparativos, mostrando Ampla receptividade e expectativa, pelas gentes de todo o mundo, em especial pelos jovens.
O principal objetivo deste Encontro pode ser resumido na busca comum de identificar e de analisar criticamente os principais fatores dos graves impasses econômicos que vem infelicitando o atual cenário Mundial, afetando imensas parcelas de nossa população, bem como propor novos caminhos, novos paradigmas de uma economia a serviço da humanidade e do planeta. 
Nesse sentido, o Papa Francisco está a convidar personagens de reconhecida contribuição na área econômica, inclusive figuras homenageadas com o prêmio Nobel, personalidades de vários países, tais como: Amartya Sen, Muhammad Yunus, Vandana Shiva, Jeffrey Sachs e Ladislau Dowbor. Além desses convidados, o encontro está aberto a um acompanhamento de jovens vindos de vários países, em busca de manifestar seu apoio e seu empenho em participar, ao seu modo, da busca de uma economia a serviço dos humanos e dos demais viventes do planeta. A este respeito, recomendamos o acesso ao link http://francescoeconomy.org
Com efeito, a economia que vem sendo hegemônica tem resultado em trágicas consequências, afetando fortemente parcelas e mesas da população mundial, cada vez mais empobrecidas e mergulhados na penúria, enquanto uma ínfima minoria de figuras bilionárias concentra renda e riquezas enormes e crescentes, em suas mãos. As desigualdades sociais não cessam de alcançar patamares extremos, Graças há uma impiedosa concentração de riquezas e patrimônios em mãos de muito poucos. Estima-se que 206 bilionários brasileiros figuram na lista dos mais ricos do mundo, concentrando em suas mãos riquezas correspondentes a maioria da população. Trata-se, em geral, de agentes financistas, cujas riquezas provém de sucessivas aplicações financeiras , completamente parasitárias, inclusive em paraísos fiscais, em detrimento das atividades produtivas, incapazes de gerar empregos, de pagar impostos, produtos destinados às necessidades de consumo das mais diversas áreas, úteis aos mais diversos segmentos da população. 
Democratizar a economia consiste em um dos primeiros e urgentes objetivos. Já não se tolera que parcelas imensas da humanidade continuem a ter ameaçada sua sobrevivência, quando se constata uma acumulação sem precedentes de capitais fictícios, por parte de uma pequena minoria de financistas parasitários. Os estados nacionais, componentes do sistema capitalista, hoje controlado pelo seu segmento mais parasitário - o segmento financista - já não se mostram mais capazes de controlar as perversidades da acumulação protagonizada pelos grandes financistas, em escala internacional. De supostos controladores das decisões econômicas, os estados nacionais se mostram, cada vez mais, subordinados as estratégias financistas, que se revelam impotentes em relação ao controle minimamente público, visto que as decisões de políticas econômicas se acham concentradas no poder das corporações financeiras.
Outra grande preocupação, por parte dos organizadores do Encontro em questão: a necessidade e a urgência de uma tomada de decisão mais democrática, isto é, requerendo uma ampla participação das populações do mundo acerca deste tipo de economia, e em busca de uma economia viável, mas que seja socialmente justa e ambientalmente sustentável. Tal urgência de participação popular no repensar o espectro geral da economia em vigor, se faz ainda mais premente quando prepostos, agentes ou representantes do próprio mundo financista emitem declarações de reconhecimento (insuspeito, portanto!) de que já não é mais razoável a continuidade desse tipo de economia. Declaração recente, firmada por figuras diretamente ligadas aos mais altos postos do setor financista, atestam seu reconhecimento da necessidade de mudança deste tipo de economia. Bem antes deles, tornou-se célebre o economista Joseph Stiglitz, do Banco Mundial, trazendo uma posição bastante crítica do modo de funcionamento da economia em vigência. o próprio Joseph Stiglitz é um dos convidados a participarem das reflexões críticas sobre a atual economia, quando do encontro da "Economia de Francisco". 
Democratizar, portanto, a economia e organizar ampla participação popular, em busca da superação da extrema concentração de renda e de riquezas, bem como do chamamento à ampla participação popular constituem objetivos do Encontro "Economia de Francisco", aos quais outros devem ser acrescentados, a exemplo da urgência de formulação e implementação de políticas sociais de acesso universal gratuito. Com efeito, a renda e as riquezas acumuladas pelo setor financista são largamente parasitárias, à medida que fundadas, em larga escala, em capital fictício, em fetiche. Isto implica, por exemplo, na necessidade de taxação dos fluxos financeiros, isto é, por meio de uma simbólica taxação das riquezas depositadas nos paraísos fiscais, redundaria em uma soma capaz de superar diversos problemas estruturais, sofridos por amplas parcelas de nossa população. Estima-se que, nos paraísos fiscais, circulam em torno de vinte trilhões de dólares, e, no entanto, uma simples decisão resultante da Conferência ambiental em Paris, em 2015, de acordo com a qual os países ricos devem contribuir com cem bilhões de dólares, a serem investidos no combate à emissão de CO2 e outros gases poluentes ao ambiente, não tem prosperado...
Em Assis, também se debaterá sobre a possibilidade de se assegurar uma renda básica ao conjunto dos cidadãos e cidadãs do mundo, também do Brasil Outro. que anima uma forte mobilização dos jovens e dos adultos , inconformados e comprometidos com a construção de caminhos alternativos aos oferecidos pela atual barbárie do capital financeiro pela falta a ser trabalhada em Assis, no debate sobre “a Economia de Francisco”, ainda terá lugar a proposta de que todo o serviço financeiro, em escala mundial, seja igualmente democratizado, isto é, submetido a um controle público, uma vez que se trata de recursos correspondentes ao bem comum da humanidade. Para tanto, resta fundamental interferir democraticamente no controle ou no monopólio da mídia corporativa ou comercial, que detém odioso monopólio informativo, havendo casos, como no Brasil, em que uma meia dúzia de famílias detém o controle geral da informação, desta forma atuando antes como um partido político a serviço das forças econômicas que a financiam do que um assumir verdadeiro de sua responsabilidade e de seu compromisso com a verdade jornalística. 
Igualmente digno de nota é o item referente à necessidade de se discutir e de deliberar sobre uma proposta educativa que viabilize, de forma didática, ampla discussão sobre a economia. Deste modo, a “Economia de Francisco” se mostra verdadeiramente comprometida com os processos democráticos de decisão, incluindo o debate público sobre a economia, uma vez que a economia dominante, acaba sendo acessível a um pequeno círculo de especialistas, pois se usa e se abusa de um jargão, de um “economês” acessível a um pequeno grupo de privilegiados, ficando longe e fora do alcance do grande público. Neste sentido, é de justiça destacar figuras como o economista Ladislau Dowbor, do qual fornecemos links de alguns de seus vídeos, nos quais, bem como em seus numerosos textos acadêmicos, inclusive em seu mais recente ensaio, trata de utilizar um linguajar simples, profundo, claro e objetivo, acessível ao comum dos mortais (confira sua página acima mencionada).
Eis aqui apenas algumas pinceladas do programa ou da pauta a ser trabalhada em Assis, de 26 a 28 de Março deste ano, no grande Encontro sobre a “Economia de Francisco”, sobre a qual fornecemos também a lista de temas a serem debatidos, ao longo desses dias:
1 – Democracia econômica
2 – Democracia participativa
3 – Taxação dos fluxos financeiros
4 – Renda básica universal
5 – Políticas sociais de acesso universal, público e gratuito
6 – Desenvolvimento local integrado
7 – Sistemas financeiros como serviço público
8 – Economia do conhecimento
9 – Democratização dos meios de comunicação
10 – Pedagogia da economia

Não é à toa o crescente interesse despertado pelo encontro da “Economia de Francisco” sobre um crescente número de jovens, boa parte já tendo formalizado sua inscrição, e outros tantos ainda tentando fazê-la. Todos a Assis, nas trilhas de Francisco, por uma economia a serviço da humanidade e do planeta! 

João Pessoa, 17 de fevereiro de 2020 

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

AMAZÔNIA, DA MERCANTILIZAÇÃO DA VIDA RUMO AO BEM VIVER: Uma primeira leitura da Exortação Apostólica pós-Sinodal “Querida Amazônia” do Papa Francisco


AMAZÔNIA, DA MERCANTILIZAÇÃO DA VIDA RUMO AO BEM VIVER: Uma primeira leitura da Exortação Apostólica pós-Sinodal “Querida Amazônia” do Papa Francisco

Alder Júlio Ferreira Calado

Foi lançada, anteontem (12.02.2020), a exortação Apostólica, da lavra do Papa Francisco, acerca do denso trabalho escrito pelos participantes do Sínodo sobre a Amazônia, realizado, em Roma, em outubro passado.
Após acompanharmos as discussões em torno do tema-alvo daquele Sínodo, e após cuidadosa leitura, tanto do Documento final sobre o Sínodo da Amazônia, quanto da mencionada Exortação, sentimo-nos encorajados a compartilhar algumas ideias, resultantes de uma primeira leitura da exortação, oferecida pelo Papa Francisco.

Uma compreensão mais objetiva da exortação apostólica do Papa Francisco requer uma leitura do documento final do sínodo sobre a Amazônia, ao qual se refere a própria exortação apostólica " querida Amazônia "daí parecer nos de bom alvitre resumirmos, em poucas linhas, o cerne do documento final do sínodo sobre a Amazônia. 

Trata-se de um denso texto, resultante de 21 dias de trabalho intensivo, precedidos de diversos meses e até anos de interação e de discussões e reflexões sobre a questão, protagonizados por centenas de pessoas - o mesmo documento fala na participação que envolveu em torno de 87 mil pessoas, dos mais distintos países nos quais Amazônia está compreendida. No caso do sínodo propriamente dito, algumas dezenas de participantes, chegando a cerca de 200 em seu Total, compostos de bispos, de religiosas e religiosos, de leigas e leigos, de representantes dos povos indígenas da região, além de representantes ou especialistas do mundo Acadêmico. 

O documento final do sínodo sobre a Amazônia vem redigido em 122 parágrafos, contidos em 32 páginas. Compreende uma diversidade temática, toda ela referente a região Amazônica, comportando análises, dados e reflexões atinentes, ao território e as gentes diversas que povoam essa região. São discutidos aspectos históricos e geográficos, econômicos, demográficos, políticos, culturais, além de aspectos eclesiais. O documento situa, de maneira detalhada, toda a região Amazônica, em sua complexa geografia, atendo-se a aspectos econômicos, tais como as formas de vida e de trabalho apresentadas por aquelas gentes, as formas de como aquelas populações se organizam para retirarem daquela terra e daquelas águas e das florestas seu sustento. Descreve, ademais, o variado cenário de povos, habitando aquela vasta região. São cerca de 33 milhões de habitantes, comportando os nove países em que se acha situada a vasta região amazônica: Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia e Venezuela, República da Guiana, Suriname e Guiana Francesa diversificada também é a população que nela vive e trabalha, da qual em torno de dois milhões e meio de habitantes indígenas e populações ribeirinhas; camponeses, povos tradicionais, comunidades afrodescendentes e outros tantos habitantes das águas e das florestas características daquela vasta região. O documento ainda descreve uma considerável diversidade de atividades econômicas ali em curso, tais como: extrativismo mineral ilegal, extração ilegal de madeira, expansão desmedida da área de monocultivo, expansão da pecuária extensiva, a serviço do agronegócio, construção de hidrelétricas altamente nocivas tanto as populações locais quanto ao meio ambiente, expansão e utilização indevidas de rodovias, hidrovias infelicitando a vida e as atividades culturais das populações tradicionais.

Também trata o documento de caracterizar as práticas culturais próprias das populações tradicionais da região e de modo a descrever a admirável simbiose entre esses povos e a mãe natureza. Descreve, ainda, os descaminhos ameaçadores trazidos pelos interesses de grupos invasores da região, seja a mando do agronegócio, seja com um a serviço das corporações transnacionais atuando na área de garimpos ilegais e do extrativismo mineral e madeireiro. Um quadro explosivo, em decorrência dos crescentes conflitos de interesses que ali tem lugar, interesses umbilicalmente ligados a um modelo de sociedade gerador de barbárie, pois necessariamente semeador de um modelo de mercantilização da vida, em todas as suas manifestações. Este modelo tem nome: chama-se capitalismo, que atravessa sua fase mais desumanizadora, a do controle financista e seus paraísos fiscais. A este respeito, dentre vários especialistas internacionais e nacionais, vale a pena ver/ouvir/ler as análises percucientes do economista Ladislau Dowber. Neste complexo quadro conflituoso, resta patente a extrema desigualdade de forças: de um lado uma enorme população desprotegida, desamparada pelo Estado, a enfrentar poderosos grupos econômicos e seus aliados no campo político e no campo paramilitar. 

O documento final do sínodo dos bispos alcança um alto grau de denúncia de fragorosas injustiças sociais ali reinantes, bem como o alto grau de destruição resultante das forças invasoras a serviço do grande capital nacional e internacional. 

Eis algumas leves pinceladas acerca do documento final do sínodo dos bispos, feitas com o propósito de permitir maior clareza em relação a exortação apostólica pós-sinodal do Papa Francisco, lançada anteontem, no Vaticano, constitui alvo maior das linhas que seguem. Não obstante uma simples pincelada sobre o documento final do sínodo dos bispos, vale a pena uma cuidadosa leitura integral do mesmo texto, dada sua relevância e considerando sua forte atualidade a quem interessar possa, recomendamos fortemente uma leitura cuidadosa do documento final, por meio do link que segue: http://www.sinodoamazonico.va/content/sinodoamazonico/pt/documentos/documento-final-do-sinodo-para-a-amazonia.html 

Quanto a exorta apostólica "querida Amazônia", que vem versada em 111 parágrafo, comporta 4 capítulos, além de uma introdução e da conclusão (cf. http://www.vatican.va/content/francesco/pt/apost_exhortations/documents/papa-francesco_esortazione-ap_20200202_querida-amazonia.html) os quatro capítulos se referem aos quatro sonhos que o Papa Francisco descreve, com uma percepção e intuição suas acerca do documento final do sínodo sobre a Amazônia. São quatro os sonhos: o sonho social, o sonho cultural, o sonho Ecológico e o sonho eclesial. Nas linhas que seguem, sublinharemos, com mais ênfase, os três primeiros sonhos, por dizerem mais diretamente e de modo mais profético os pontos axiais do documento alvo da exortação.
O primeiro sonho que inspira o Bispo de Roma a contemplar Amazônia e suas gentes é de natureza social, isto é, tem em vista realçar as condições de vida e de trabalho dos habitantes daquela região, a começar pelos mais vulneráveis: os povos originários, as comunidades tradicionais, que vivem em uma situação de constante ameaça por parte de políticas econômicas que interessam ao grande capital nacional e internacional. A partir daí, o Papa Francisco passa a descrever e analisar as relações sociais fundamentais que marcam Amazônia e suas gentes. Enfatiza que a Ecologia com que trabalha, tem um caráter integral, isto é, não toma em conta apenas o ambiente natural, também analisa as gentes que integram aquele mesmo ambiente. Nesse sentido, o Papa relembra, com base no documento final sobre o sínodo da Amazônia, bem como em depoimentos colhidos de pessoas integrantes daquelas comunidades amazônicas, situações de exploração e domínio ali existentes. Enfatiza, por exemplo, as graves invasões praticadas nos territórios indígenas e de outros povos tradicionais daquela região, em busca de apropriar-se das riquezas naturais, sempre com fundamentos recolhidos de pessoas que vivem e sofrem tal situação: “«São muitas as árvores onde morou a tortura e vastas as florestas compradas entre mil mortes»[3]. «Os madeireiros têm parlamentares e nossa Amazónia não tem quem a defenda (…) Mandam em exílio os papagaios e os macacos (…) Já não será igual a colheita da castanha»” (n.9). Assim acontece, por exemplo, em relação a devastadora exploração da Floresta, a procura de madeiras preciosas, minérios valiosos, abundantes na região, e ainda com o propósito de estender a área agricultável, em benefício da criação de gado e de monoculturas, do interesse do agronegócio, do interesse das empresas de mineração, de outros agentes econômicos, a serviço do Capital nacional e internacional. Ao mesmo tempo, trata o Papa Francisco de denunciar a cumplicidade de governantes de agentes políticos, de instituições que, em vez de defenderem o bem comum, se prestam aos interesses mais perversos das grandes empresas nacionais e transnacionais.

Mais adiante, o Papa Francisco também denuncia situações de perseguição, de escravização, tráfico de pessoas, favorecendo movimento migratórios forçados, que correspondem a verdadeiras expulsões de parcelas expressivas das populações tradicionais rumo às periferias urbanas, onde passam a levar uma vida de enorme exploração, dominação e marginalização.

Vale a pena observar como o Papa Francisco, ao tempo em que emite proféticas denúncias contra esse sistema de morte, ou seja, um sistema de mercantilização da vida, também faz questão de sublinhar aspectos fundamentais, característicos do paradigma do Bem Viver, posto em prática pelos povos originários e por outras populações tradicionais da mesma região. O Papa Francisco sublinha, com bastante ênfase, o estilo de vida daquelas populações, caracterizado por um estilo Modesto, simples, em perfeita harmonia com o ambiente, tão bem cuidado e velado pelos respectivos habitantes 

A exuberante diversidade Amazônica também inspirou o Papa Francisco, quanto ao seu sonho cultural. Com efeito, admira-se de uma pluriforme manifestação socioambiental, o Papa Francisco começa por sublinhar o que ele chama de " poliedro amazônico ", trazendo à tona, mais uma vez, a figura geométrica do poliedro como característica de uma interculturalidade, de uma esplêndida diversidade costurada por um fio de unidade: a unidade na diversidade. esta espantosa diversidade tão presente na terra e nas gentes da Amazônia manifesta-se, com efeito, por meio de uma harmoniosa convivência entre a natureza e os humanos, ambiência cultivada por valores bem característicos do paradigma do viver, tão caro aos nossos povos originários da Amazônia, mas também de outras regiões esta admirável simbiose entre os habitantes da Amazônia e seus respectivos territórios, marcados pelas águas vivas pelas matas e florestas faz acompanhar de uma grade de valores da qual a mentalidade capitalista se mantém a uma distância astronômica enquanto, por exemplo, a grade de valores de uma sociedade orientada pela mercantilização da vida, em que tudo vira mercadoria, na cultura amazônica, por outro lado, respirasse outra grade de valores, da qual fazem parte um estilo de moderação, de sobriedade, de simplicidade, de harmonia com com os demais seres daquela região, bem como com todo o espectro da natureza envolvente. Mais do que envolvente, os povos aí aí, presentes, impregnados daquele ambiente, razão porque não reina uma mentalidade Consumista, de acumulação, mas de partilha, de solidariedade de profundos laços comunitários, sem que a individualidade seja negativamente impactada, ao contrário, se faça marcada por um contínuo esforço pessoal sempre voltado para tornar mais enriquecida a comunidade respectiva.

O terceiro sonho do Papa Francisco vem acompanhado do adjetivo ecológico. Intimamente conectado aos sonhos precedentes, o sonho ecológico ressalta a necessidade e urgência de que os humanos reconheçam a relevância do bioma amazonas para todo o mundo. Não se trata de considerar os desafios observáveis na região amazônica, como sendo um desafio apenas local ou regional. Exorta os destinatários da “Querida Amazônia” a se empenharem, em escala mundial, em um enfrentamento articulado dos desafios apresentados pelo bioma amazonas. Neste sentido, diferentemente da pequenez de alguns governantes nacionais, em especial o Governo do Brasil, teimando em superestimar uma pertença exclusivista (inclusive como se toda Amazônia pertencesse ao Brasil...) o Papa Francisco alarga este horizonte, sem deixar de reconhecer a responsabilidade maior dos governos nacionais de zelar pela integridade ecológica da região, estimula em direção a uma corresponsabilidade no cuidado com este precioso tesouro. 

Tocando diferentes aspectos de sua proposta de uma Ecologia integral, o Papa Francisco discorre sobre distintos pontos conectados ao Bioma amazonas, chamando atenção para problemas e desafios especiais enfrentados pelos seus habitantes. 

Com relação ao sonho eclesial, o documento, ainda que não correspondendo, sob alguns aspectos, a várias expectativas de parcelas significativas de cristãos e católicos progressistas, não fecha de todo o caminho em direção à urgentes mudanças estruturais apresentadas, há décadas pela Igreja Católica Romana.

Seja como for, mais do que uma simples leitura individual, a proposta do Papa Francisco é digna de uma reflexão comunitária, seja no campo das Igrejas Cristãs, seja no campo das distintas organizações de base de nossas sociedades.

João Pessoa, 14 de fevereiro de 2020.