segunda-feira, 26 de junho de 2023

TRAÇOS DA MÃE ÁFRICA: Em busca de nossas raízes (II)

 TRAÇOS DA MÃE ÁFRICA: Em busca de nossas raízes (II)



Ao ousar propor uma série de breves matérias sobre a África, estou consciente de que qualquer incursão por uma realidade tão extensa quanto complexa como a empreendida por quem deseje conhecer o Continente Africano, sua terra, suas Gentes, vai implicar imprecisões de vária ordem.

A título de ilustração didática, limito-me a um só exemplo: o da população. Por razões distintas, os dados demográficos disponíveis sobre o continente africano têm variado consideravelmente. Se, de um lado, fontes menos recentes (Le petit Robert 2, 1990) falavam em 513.000.000 hab., fontes mais recentes, por sua vez, estimam a população africana em “quase 800 milhões de habitante, nesse limiar do século XXI”: geomundo.fre.home.sapo.pt/geo.pt/paises_populacao.africana.htm. Outras ainda estimam para além de 800 milhões de habitantes. Assumo, portanto, os riscos de imprecisão, até porque o propósito maior é de fornecer informações aproximativas.

No caso dos dados demográficos, o que importa mesmo sublinhar é o vertiginoso crescimento da população africana, que a cada vinte e cinco anos consegue dobrar o número de seus habitantes, espalhados pelos seus mais de cinquenta países, entre os quais figuram: Nigéria (130 milhões de hab.), Egito (71 milhões), Etiópia (68), Congo (55), África do Sul (44), Tanzânia (37), Sudão (37), Argélia (32), Marrocos (31), Quênia (31), Uganda (25), Gana (20), Moçambique (20), Costa do Marfim (17),  Madagascar (16), Camarões (16), Burkina Faso (13), Zimbábue (11), Mali (11), Malawi (11), Níger (11), Angola (11), Senegal (11), Zâmbia (10), Tunísia (10), além de outros com população abaixo de 10 milhões  de habitantes (entre os quais Guiné, Somália, Benin, Líbia, Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Principe, estes últimos com apenas algo em torno de 400 mil e 170 mil habitantes, respectivamente). Quem se interessar em localizar um mapa didático, disponibilizado via Internet, que permite focar dados estatísticos de cada país africano, pode acessar o site catolicanet.com.br/africa/

Um população dessa magnitude, a despeito das riquezas de seu território, não conta, porém, com uma qualidade de vida que faça justiça à enorme maioria de seus habitantes. Por razões históricas (o colonialismo, o capitalismo…) e por outras também histórico-geográficas, mas de caráter interno, um enorme contingente da população africana vive em condições extremamente precárias, do que é indicativo sua expectativa média de vida - em torno de 45 anos!, enquanto, neste item, a média da população mundial alcança algo superior aos 60 anos.

A dimensão de um complexo mosaico que se observa na terra e nas Gentes da África não se restringe aos aspectos demográficos. Panorama semelhante também se observa no plano cultural, incluindo religiões e línguas. Acostumados que estamos à realidade brasileira, tendo o Português como língua comum (ainda que imposta: não escolhemos livremente, enquanto Povo, falar Português…), em quase todo o território nacional (não esqueçamos de que, entre nós, nem todos os povos indígenas se comunicam em Portugês), não deixa de ser uma surpresa impactante saber que, na áfrica, estima-se que se falem em torno de oitocentas diferentes línguas. Segundo um estudioso da África, “Salvo algumas línguas faladas por alguns milhões de pessoas, (...) a maioria dos idiomas africanos são falados por grupos relativamente pequenos”. E acrescenta: “A única língua indígena usada como idioma oficial em qualquer estado africano independente é o suaili, uma língua franca de influência árabe adotada pela Tanzânia e falada em grande parte da África Oriental” (Victor C. Ferkiss. África. Um Continente à procura de seu destino. Rio: a.g.r. Dória, 1966, p.15).

Esse traço nos ajuda a relativizar a carga do legado colonialista, do qual também nós somos herdeiros, e em razão do qual, por exemplo, somos propensos a acreditar que pelo fato de uma língua imposta ser tomada como oficial, seja ela também o instrumento de comunicação dos povos invadidos. Não é bem assim. Diante de qualquer opressão, sempre podemos esboçar um gesto de recuperação de nossa identidade.


20 de fevereiro de 2004


Nenhum comentário:

Postar um comentário