terça-feira, 30 de janeiro de 2024

Obsolescência programada: Uma das mil facetas do Capitalismo

 Obsolescência programada: Uma das mil facetas do Capitalismo


Alder Júlio Ferreira Calado 


O Planeta e a humanidade padecem, de forma crescente, das graves ameaças com que o modo de produção, de consumo e de gestão societal não cessa de brandir contra nós. O Capitalismo, com efeito, constitui o fator máximo de desumanização e de letalidade socioambiental. Não se trata - cumpre alertar, desde já - de “ideia fixa" do autor destas linhas. Há mais de meio século nos dedicamos ininterruptamente, como tantos outros, como aprendiz, como militante e como pesquisador, junto a nossas organizações de base, em especial os Movimentos Sociais Populares, a estudar e buscar entender o modo de produção capitalista, em suas entranhas e em suas “complexas e múltiplas determinações”. Eis por que, tantas vezes cuidamos de retomar criticamente algumas dimensões deste sistema necrófilo.


Justamente por conta desta complexidade e desta amplitude que caracterizam o modo de produção, de consumo e de gestão societal - ou seja, o capitalismo - , cumpre situar a obsolescência programada como uma faceta dinamicamente conectada a centenas de outras que compõem o sistema capitalista. Do ponto de vista de uma militância revolucionária só faz sentido entender melhor e combater a obsolescência programada, se assumirmos também o compromisso de, identificando-a como um fio dinamicamente conectado a tantos outros que compõem a malha do mercado capitalista, nos empenhamos sem cessar em enfrentar e superar suas raízes mais fundas, de modo a irmos construindo um novo modo de produção, alternativo à barbárie capitalista.


A obsolescência programada pode ser entendida como uma entre tantas estratégias destinadas a maximizar o lucro das grandes corporações transnacionais que operam na multiplicidade de setores econômicos, políticos, culturais, educacionais, religiosos, etc, caracteriza-se pela produção de bens de consumo, cujo o tempo de vida útil é premeditadamente reduzido, sendo imediatamente descartados e substituídos por novos produtos, com objetivos de gerar lucro para as grandes corporações. 


Trata-se de uma estratégia organicamente articulada a centenas de outras, com o objetivo de manter e reforçar o processo de mercantilização da vida e das relações entre os humanos e o planeta. Neste modo de produção tudo se transforma em mercadoria, inclusive a natureza, os humanos e demais viventes. O ter passa a ser o grande objetivo do sistema: A acumulação de bens, de patrimônios, de renda, de riquezas, tudo feito à custa das crescente desigualdades que permitem a menos de 1% dos humanos reterem em suas mãos a maior parte das riquezas do Planeta e dos humanos, enquanto na enorme maioria dos países - inclusive em  parte expressiva das grandes potências mundiais  - , a grande massa de empobrecidos vive na extrema penúria.             


É assim que a obsolescência programada se tem notabilizado como uma força propulsora do processo de desumanização, especialmente pela via do consumismo, da obsessão por seguir a moda da vez, basta que pensemos em um extenso elenco de bens e de produtos acumulados em nossa casa… quanta coisa imprestável! Obcecados pela propaganda - marca evidente do Mercado capitalista -, sucumbimos frequentemente ao modismo, a propaganda multiforme da mídia corporativa e das redes sociais. É assim que, não raramente, cedemos à tentação de descartar bens e objetos em pleno funcionamento ou facilmente reparáveis, por outros, conforme a última onda ou a última “geração”… Isto ocorre, por exemplo, celulares, automóveis, roupa, e tantos outros objetos ou produtos descartáveis. Não nos perguntamos, via de regra, pelo alto preço pago pela mãe natureza, fornecedora de tantas matérias primas rapidamente descartadas do nosso consumismo contribuindo gravemente para o acúmulo ilimitado de produtos não reciclados, muitos deles jogados ao mar, ao subsolo ou a outros ambientes, aumentando exponencialmente a degradação de nossa casa comum.


Diante disso, cabe-nos perguntar pelo grau de responsabilidade coletiva e pessoal, ao contribuirmos com o espírito do Capitalismo dentro do qual não há saída libertária para os humanos e para o planeta. Nesse sentido nossas organizações de base - especialmente os Movimentos Populares - são desafiados a enfrentarem, em sua agenda, a fúria deletéria do Capitalismo,  sob todas as suas manifestações, sem que isto nos tolha a incidência de nossa responsabilidade pessoal: em que tenham contribuído, no chão do dia-a-dia, para reduzir os efeitos pernósticos  do consumismo.


João Pessoa, 30 de Janeiro de 2024










Nenhum comentário:

Postar um comentário