quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

REENCANTAMENTO DA CONDIÇÃO HUMANA PELA VIA DA NATUREZA: breves notas acerca da redescoberta do bioma caatinga

REENCANTAMENTO DA CONDIÇÃO HUMANA PELA VIA DA NATUREZA: breves notas acerca da redescoberta do bioma caatinga


Alder Júlio Ferreira Calado

Complexo e vasto é o nosso processo de humanização, a comportar, não apenas uma imensa diversidade de dimensões, como também - e sobre tudo - um permanente esforço de unidade dessas múltiplas e complexas dimensões. Nesse sentido, um dos desafios que se nos interpõem, consiste em articular adequadamente natureza e cultura. No primeiro caso, reconhecendo-nos partícipes componentes da Natureza, cuidamos de cultivar incessantemente nossa condição de animais, em harmonia com os demais animais não-humanos e com as plantas e os minerais. De outra parte, também como seres de Cultura, somos vocacionados a transpor - transpor significa ir além de, mas passando por - nossos traços de mera natureza, buscando atuar como seres de consciência a dialogar com nossa dimensão de natureza.

Nas linhas que seguem, nosso propósito é o de exercitar tal articulação, pela via do encantamento de nossa condição humana, graças à contemplação das maravilhas da mãe-natureza. E o fazemos, recorrendo à vários elementos fornecidos pelo documentário intitulado “a Capadócia nordestina” (cf. https://www.youtube.com/watch?v=_Fco6U3f-FU) que narra registros relevantes de uma das áreas privilegiadas do Semi-árido nordestino, mais precisamente o bioma da Caatinga.

Do mencionado documentário, tomamos a liberdade de realçar os seguintes aspectos, começando por um elemento informativo que avaliamos com certa desconfiança. Trata-se da indiscriminada expansão de parques eólicos por diversas áreas do nordeste. Tal como a panaceia das promessas de “emprego e renda”, despontam como deslumbrantes as promessas de implementação de “energia limpa”. Sob esta justificativa, tem-se usado e abusado, em prejuízo dos biomas e das populações locais. Com efeito, em diversas áreas do nordeste em razão de seu privilegiado potencial eólico, prosperam a todo vapor instalações de parques eólicos, principalmente de iniciativa privada, sem qualquer compromisso com a avaliação necessária de profundos impactos socioambientais causados por tais instalações. Sem diálogo nem debate prévios com as populações diretamente afetadas, eis que prepostos de empresas abordam pessoas prometendo-lhes vantagens (inclusive financeiras: um cheque de alguns milhares de reais, dependendo das condições da área), e fazendo-as assinarem autorização expressa para a instalação em seu território de equipamentos componentes do empreendimento de natureza eólica. Seduzidas por tais abordagens; um número crescente de famílias nordestinas, em situação de penúria,  se vêem assediadas por equipamentos e grupos que alteram significativamente o ritmo e a rotina destas áreas. Tardiamente se arrependem da concessão de autorização, enquanto as empresas celebram seus ganhos inestimáveis. (a este respeito, sem negar aspectos positivos relatados no documentário sobre “a Capadócia Nordestina”, recomendo o vídeo, acessando o seguinte link: https://www.youtube.com/watch?v=myXYwgfh7TM ) Aqui, mercado capitalista e Estado cooperam intimamente, como de costume. Enquanto governo e empresas propagam suas “meritórias” iniciativas, o ambiente e seus moradores amargam sua sorte...        

À parte esta ressalva, retomemos, agora sim, o ensaio de “re”encantamento de nossa condição humana, pela via da mãe natureza, destacando os seguintes traços:



  • A rica diversidade do bioma caatinga, tal como observável no semiárido do Piauí, a começar pelas formações rochosas, paredões estimados em cerca de 380 milhões de anos, verdadeira escultura desenhada pelo vento, expressando uma beleza semelhante à que se encontra em áreas da Capadócia (Turquia).

  • Nesta área correspondente a 2.500 campos de futebol, se acha um tesouro precioso de nossa riqueza paleontológica, a exibir impressões nas rochas de micro-organismos, a ajudarem a entender melhor nossas origens.

  • Outro ponto deslumbrante de se contemplar é a diversidade de nosso bioma.  Como lembrava Roberto Malvezzi (Gogó), em um de seus textos, é tocante contemplar a Caatinga: em tempos de estiagem, tudo nela parece morto, e, no entanto, ao menor contato com a chegada das chuvas, de repente ela se mostra pujante e de uma beleza rara, em sua notável diversidade de flora e fauna. Impossível não nos remetermos a alguns versos de bons repentistas nordestinos (https://www.youtube.com/watch?v=jU4EeuaS7n0)
  • Como não nos encantarmos com a rica paisagem desfrutada, no Piauí, reunindo numa mesma área manifestações de 4 diferentes biomas: o da Caatinga, o da Amazônia, o da Mata Atlântica e o dos Cerrado?
  • E o quê dizer da riqueza de fauna e flora e da beleza de quedas d’água limpídas, em nosso Semi-árido.
Quanto potencial a conferir em nosso semi-árido! Quantos e quantas de nós, nordestinos, temos tanto a conhecer e a desfrutar, em nossa região, e inexplicavelmente dela fazemos pouco caso, preferindo, não raramente, despender nossas parcas economias nas “Disneyslândias” da vida…

João Pessoa, 13 de Dezembro de 2017.  


       

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