quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

A Direita controla o Parlamento / Arthur Lira aí faz a sua vez

A Direita controla o Parlamento

Arthur Lira aí faz a sua vez


Alder Júlio Ferreira Calado


Os banqueiros, o agro, as “BigTechs”

São os senhores das grandes votações


Para o público submisso à “grande” mídia

O mercado está  livre de corrupção


Transparência é opaca, e mentirosa 

“Retidão” ao Império é palavrão ela atribui 


É urgente desmontar aqueles órgãos

Que se atrevem a julgar com olhos turvos


Descartar os tais “rankings” do Mercado

É tarefa urgente a assumir


Mera tática que ilude os incautos

Propaganda enganosa, a rejeitar


Exitoso nas urnas, saiu Lula 

De Direita, porém, é o Congresso


Governar com Congresso desse tipo

É herança maldita a enfrentar


Sobretudo ante a inércia popular 

O Governo patina em ”frente ampla”


Disto usam e abusam os embusteiros

Do “Centrão”, que é Direita contumaz


Nesse espaço Arthur Lira se dá bem

Suas emendas secretas são letais  


Cerco aperta os mandantes do Golpismo

Bolsonaro generais são intimados


No G-20 não ponho minha esperança 

Mas, aposto no que faz o Sul Global


Teocracia: A pior das tiranias 

Invocar o Divino para oprimir 


Accéder à alem ao pedido de anistia 

Fortalece o golpismo tenebroso 


Isentar as Igrejas de tributos

É negar Laicidade do Estado…


É impor a não-crentes que financiam

Templos, ritos, serviços religiosos 


Sobretudo em tempos de distopia

De pastores que tosquiam seus rebanhos 


Se servindo apenas do vocábulo 

Neofascistas corroem Democracia


Quantos mais se declaram “Democratas”

Mais se empenham em minar suas raízes


São discípulos de Goebbels, em ação

A mentira é sua arma predileta 


Há pastores traindo o Evangelho 

Falam em Deus, mas O negam pela prática


Da sociedade agora é a vez 

De afastar os arautos do Fascismo 


Revoltante é saber quão numerosas 

As pessoas que apoiam o genocidio 


E pior: defendendo o Sionismo 

Como sendo cristãos… Que estupidez! 

    


João Pessoa, 28 de Fevereiro de 2024.


https://www.brasil247.com/economia/entenda-o-que-significa-o-grau-de-investimento-de-um-pais



sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

Escrevendo com testemunho de sua vida de missionário itinerante: Notas sobre o livro de Glaudemir da Silva, intitulado “Contemplando e Anunciando os Sinais do Reino"


Alder Júlio Ferreira Calado


Em tempos distópicos, é-nos vivamente encorajador saborear os relatos compartilhados pelo missionário Glaudemir da Silva, de tantos achados propiciados por seu caminhar pelas estradas do Reinado de Deus e de Jesus de Nazaré, contemplando e anunciando pequenos e grandes sinais manifestos na convivência do povo dos pobres, nas “periferias geográficas e existenciais”, para evocar uma expressão do Papa Francisco. Seu livro é portador de enorme força mobilizadora, a falar com autoridade e de modo convincente, de forma a tomar a sério a recomendação petrina: “Estai pronto a dar razão da vossa esperança“ (1 Pe. 3,15).


Em 18 capítulos em que o livro está dividido, o autor vai descortinando, de maneira didática e estimulante, tantos achados resultantes de sua contemplação e de seu empenho missionário em anunciar o Reino de Deus. Sempre atento às fontes bíblicas e às referências de autores como José Comblin, Glaudemir logra entusiasmar o leitor/a leitora, desde suas primeiras páginas. Por sua vez, como autor do prefácio, o missionário João Batista Magalhães Salles se mostra bastante feliz, ao saborear e ao compartilhar diversas pérolas que recolhe desta tocante leitura, contagiando assim o leitor/a leitora, que também se apressa a experimentar os sabores destes relatos.


Antes de destacar algumas destas pérolas que também recolhi, cuido de fazer uma brevíssima notícia acerca do próprio autor. Sergipano, nascido em Ilha das Flores, em Glaudemir cedo desperta um chamamento especial ao serviço comunitário, quando ainda adolescente, fizera parte da caminhada do Povo de Deus, como membro de uma comunidade eclesial de base, que tem como padroeiro um santo franciscano: Santo Antônio. Daí nasce em Glaudemir a devoção a São Francisco e o desejo de se tornar missionário franciscano, Inicialmente atraído pela vida franciscana, não tardou, sob a influência de Frei Enoque Salvador, a compreender a radicalidade do espírito de Francisco de Assis, tendo optado pela vida missionária itinerante.


Foi no campo da Teologia da Enxada, na convivência com outros jovens nordestinos participantes do Centro de Formação Missionária, em Serra  Redonda - PB, em meados dos anos 80, que começou a experimentar a força da espiritualidade libertadora, característica deste processo, animado pela Equipe de formadores integrada por figuras tais como o Pe. José Comblin, João Batista Magalhães Sales, Raimundo Nonato Queiroz, Alder Júlio Calado, Irmã Zarita, Irmã Agostinha Vieira de Melo, Irmã Maria Emília Ferreira, Irmã Adélia Carvalho e outras.


Em seu processo formativo de missionário itinerante, tem cultivado especialmente uma frutuosa combinação da vida contemplativa (integra a Fraternidade do Discípulo amado, hoje presente em Abreu e Lima - PE, tendo a fraternidade passado algumas décadas recolhida no Sítio Catita, município de Colônia Leopoldina - AL) e da atuação como missionário do campo (integra, desde a fundação, em meados dos anos 90, a Associação dos Missionários e Missionárias do Campo), a percorrer e a animar diversas experiências de formação de jovens cristãos, em diferentes Estados do Nordeste e do Mato Grosso.         


Após sua formação inicial (Teologia da Enxada), concluiu o curso de teologia, na UNICAP-PE, pós graduando-se em curso de especialização em Ciências da Religião, tendo inclusive seguido um curso de iniciação ao ebraico, ao mesmo tempo, voltou-se também ao processo formativo oferecido pela Escola Nacional Florestan Fernandes e a cursos de Educação Popular de orientação freireana, permitindo-lhe atuar como educador popular junto a diversos segmentos populares, dentro e fora da igreja. Desta experiência de Educação Popular se acham impregnadas várias páginas do seu livro. Na companhia de outros missionários e missionárias, Glaudemir segue acompanhando como professor, ora em Floresta - PE, ora em São Félix do Araguaia - MT, as escolas de formação missionária espalhadas pelo nordeste (Juazeiro - BA, Esperantina - PI, Floresta - PE, Barra - BA, São Félix do Araguaia - MT, Solânea - PB). 


Glaudemir nos brinda com dois escritos mais recentes, um dos quais estamos a comentar. Nos primeiros capítulos ele dedica a contextualizar e explicar o sentido bíblico do Reino de Deus, sempre bem fundamentado. Empenha-se, de maneira didática, em apresentar a Boa Nova do Reino de Deus, de modo a tomarem conta de sua atualidade, sua incidência privilegiada na vida do povo dos pobres.


Como muito bem destaca João Batista Magalhães Sales, no prefácio do livro, Glaudemir, em sua itinerância missionária vai recolhendo pérolas preciosas de testemunhos dados por pessoas simples, anônimas, mulheres e homens dos quais uma perspectiva burguesa menos ou nada esperaria. São pessoas portadoras de gestos, de iniciativas de enorme solidariedade, de partilha, de generosidade, de alegria contagiante, mesmo em situações de grande pobreza. Em todos os 18 capítulos, Glaudemir se empenha, graças a sua ação missionária itinerante, em meio ao povo dos pobres, em compartilhar o que vê, o que escuta e o que sente. À semelhança do que A Divina Ruah inspirava em Moisés e Miriam, no antigo Egito, como lemos no capítulo três do Livro de Êxodo, hoje também os novos Moisés e as novas Miriam continuam a resistir e a lutar contra os novos faraós: as multinacionais, os grandes proprietários de terra, o agronegócio, os banqueiros, a mídia hegemônica, as igrejas fundamentalista…  


Temos em mão um livro que não apresenta palavras jogadas ao vento, mas brota de experiências vivas e vivificantes, feitas por alguém que tem dedicado sua vida ao Seguimento de Jesus, em comunhão com os prediletos do Reino. Não é por acaso que, desde o título do livro o autor se mostra fiel ao que ali é proposto. Nesta leitura, não se encontram tantas alusões a Igrejas ou a templos, mas a relatos vividos e colhidos da trajetória existencial e comunitária dos pobres, como expressão da presença revolucionária do Reino de Deus.


Também, nos capítulos finais, o autor, após compartilhar tantas pérolas recolhidas de sua rica experiência de aprendizado no meio dos pobres, desafia  cada leitor, cada leitora a examinar como busca responder à vocação ao chamamento de dar razão a sua esperança, fazendo-nos questionamentos decisivos: “E nós, já descobrimos onde encontrar o Tesouro escondido do Reino? Já temos a coragem de abandonar tudo aquilo que nos impede de segui-lo? O que fazer com o Tesouro que acabamos de encontrar?” (pp. 167). Duas observações finais sobre o livro. O trabalho de Glaudemir é expressão viva de quem leva a sério, na alegria e na esperança, sua missão profética, o Discipulado e a Missão de anunciar e testemunhar, principalmente junto ao povo dos pobres, os prediletos de Jesus, o anúncio e a presença do Reino de Deus. Por outro lado, tal testemunho reforça nossa convicção de que essa trajetória supõe, além da força da Graça, um processo contínuo de formação, pessoal e comunitária. 


Este é um livro para ser lido pessoal e comunitariamente, de modo a suscitar um crescente compromisso com as causas do Reino de Deus e sua justiça. Obrigado, Glaudemir!


P.S. Às pessoas interessadas em adquirir o livro de Glaudemir, informo que podem fazê-lo ao preço de 50 reais. Contato: (81) 9877-97790


João Pessoa, 23 de Fevereiro de 2024                       


quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Israel é a cara do Ocidente Sem o Império, Sionismo não se sustenta

Israel é a cara do Ocidente

Sem o Império, Sionismo não se sustenta


Alder Júlio Ferreira Calado 


São as grandes potências do Ocidente

Que sustentam o terror do Sionismo


Violência, mentira e hipocrisia

São constantes valores de sua ação 


Por um tempo, vigora sua estratégia

Mas qual neve, se derrete sob o sol 


Breno Altman, Said, Robert Fisk

Entre outros, desmontam suas mentiras


Mundo pobre é fiel aos Palestinos

Sionismo e Ocidente sucumbirão!


Ninguém logra enganar o mundo inteiro 

Sionismo não engana mais ninguém


Ele faz terrorismo aos Palestinos

30 mil já tombaram só em Gaza


O Ocidente é cúmplice da barbárie

Quem garante as armas a Israel?


Triste é ver o apoio de cristãos 

A quem faz genocidio, lá em Gaza


Luiz Inácio nada tem a retratar-se

Da denúncia que faz ao Sionismo 


Sionismo hoje faz aos Palestinos

Alguns traços do que fez Adolf Hitler


A História concerne à Humanidade

Não se faz prisioneira de uma classe 


Holoucastro e barbárie que afetou

Comunistas, judeus e outras vítimas


Genocídios, holocaustos são diversos  

Os mais graves, na América e na África


Seis milhões: o total de tantas vítima

Que sofreram os horrores do Nazismo 


Quantas vítimas Indígenas e Africanas?

São dezenas de milhões, em cinco séculos


Intrigantes: Escravismo, grandes guerras 

Constituem uma marca do Ocidente


J. Assange, Jornalista Australiano

Divulgou graves crimes dos States


Desde então perseguido e encarcerado

O Império não perdoa Wikileaks 


Documentos secretos, às centenas 

Davam conta dos crimes do Estado 


“Wikileaks”, expondo as podres vísceras,

São arquivos que provam crimes bárbaros 


Julian Assange faz jus a todo preito

De homenagem, de honra e gratidão 


Liberdade para Assange, e vida longa!

Jornalista exemplar e verdadeiro!


Sobre ele silencia a “grande” mídia

Só divulga o que querem seus patrões  


Coisa igual ou pior, há no Brasil:

Contra a fala de Lula, na Etiópia


Pede paz e condena, na entrevista, 

Genocidio que comete o Sionismo 


Numa frase, alude ao holocausto 

Alertando Sionistas dos seus crimes 


Genocidio perpetua-se, lá em Gaza

Mundo todo condena, Israel teima  


Sionistas reagem contra Lula

Humilhando nosso próprio embaixador


Quando até o Império se lhe opõe

Nossa mídia faz coro com o Sionismo


Vai além: quer que Lula se retrate 

Dando prova de vil submissão


Nossa mídia hegemônica é sionista 

Quer punir, ao contrário, quem pede a paz


Fortes marcas do agir do Ocidente:

Violência, mentira, hipocrisia


Mais um veto de Baden aborta a paz 

Confirmando ser cúmplice do genocídio 


A mídia diz ser contra o genocidio 

Com o governo sionista é solidário 


Sionismo humilha nosso Embaixador

E Pacheco? Repreende Luís Inácio…


De Omar, recebeu críticas severas 

Vistas grossas fazendo ao genocidio…


Omitindo o protesto de Omar 

JN dá voz só a Pacheco 


Cada dia, me indignam mais e mais 

As mentiras da mídia hegemônica


Sem caráter exalta o Sionismo 

Enlameia as figuras mais decentes


Vergonhosa, a atitude dessa mídia: 

Mentirosa, entreguista, aporofóbica 


Salve, Lula, porta-voz do Sul-Global

A verdade, afinal, há de brilhar!     


Mesmo tarde, a mentira se desfaz 

Ante os raios da Justiça e Retidão


 João Pessoa, 21 de Fevereiro de 2024   

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

Tributo à ação pioneira e de parceria dos Teólogos Protestantes da Libertação: apontamentos sobre a Conferência do Nordeste, Recife, 1962.

 Tributo à ação pioneira e de parceria dos Teólogos Protestantes da Libertação: apontamentos sobre a Conferência do Nordeste, Recife, 1962.* 


Alder Júlio Ferreira Calado


“Vocês estão fazendo um piquenique em cima de um vulcão” (Observação feita a um dos participantes por alguém presente no evento)


Mesmo a quem se empenha em acompanhar a trajetória e o engajamento social dos cristãos, na América Latina e no Brasil, resulta deveras impactante rememorar o acontecimento conhecido como “Conferência do Nordeste”, que teve lugar em Recife, de 22 a 29 de julho de 1962. Trata-se de um evento promovido por um conjunto de denominações protestantes históricas (mais de uma dúzia: Igreja Presbiteriana, Igreja Metodista, Igreja Luterana, Igreja Anglicana, Igreja Batista, entre outras), que já vinham ensaiando uma compreensão crítico-transformadora do que se passava no Brasil, em meados dos anos 50. Graças ao empenho profético de lideranças protestantes, a exemplo de figuras tais como Richard Shaull, João Dias de Araújo, Joaquim Beato, Waldo César, Almir dos Santos, entre outros, o movimento Evangélico vinha se mostrando, desde os anos 50, como grande protagonista das lutas populares por Justiça social, no Brasil e na América Latina.


Em virtude desse protagonismo, diversas denominações protestantes, especialmente por meio do seu “Setor de responsabilidade social”, decidiu organizar grandes reuniões periódicas, com objetivo de compreender melhor o que se passava na sociedade brasileira, em busca das transformações necessárias. Em consequência houveram por bem, já em 1955, organizar, em São Paulo, uma primeira reunião de estudos, com a participação de cerca de uma dezena de denominações protestantes. Em 1957, nova reunião de estudos foi convocada, em busca de aprofundar sua compreensão e seu engajamento social. A terceira reunião de estudos ocorreu em 1960, prosseguindo seu esforço de compreensão dos dramas nacionais. A culminância, porém, se deu em 1962, com a realização, em Recife, da “conferência do Nordeste”, da qual participaram mais de 160 pessoas, não apenas lideranças do Protestantismo brasileiro, mas também diversas figuras de intelectuais brasileiros de reconhecida contribuição teórica ao pensamento nacional.

As linhas que seguem, tem o propósito de rememorar traços relevantes deste acontecimento, com o intuito de ressaltar sua densidade histórica, não apenas em relação ao Cristianismo no Brasil, mas também como um relevante marco das ações coletivas da segunda metade do século passado. Começamos por uma breve contextualização sócio-histórica da época, seguida de considerações em torno do Protestantismo no Brasil, naquela oportunidade. Tratamos, em seguida, de sublinhar aspectos temáticos inovadores, destacados em diversas conferências então pronunciadas por autores de destaque, tanto na área do protestantismo quanto na área da intelectualidade brasileira. Fazemos questão de ressaltar sensíveis diferenças, no seio do Protestantismo entre as ações daquela época e as que hoje são protagonizadas pela quase totalidade destas mesmas igrejas, fortemente atraídas pela onda neopentecostal de direita que assola o mundo, o continente e o Brasil.


Que cenário encontramos entre os anos 50 e 60?


Vivíamos os primeiros anos do pós-Guerra, do qual resultaram duas forças hegemônicas e em conflito: por um lado, o bloco capitalista liderado pelos Estados Unidos, ao qual se ligam os países do Ocidente, e, por outro lado, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, em defesa do Socialismo. Instalou-se o tempo mais conhecido como “Guerra Fria”. Na América Latina e no Caribe, contra as profundas e crescentes desigualdades sociais, das quais resultam condições sub-humanas, irrompem numerosos conflitos sociais como expressão das lutas populares por libertação. É assim que, ao longo dos anos 50, teve lugar em Cuba um processo revolucionário, culminando com a derrota de Fulgêncio Batista, ditador apoiado pelos Estados Unidos. Em consequência das medidas tomadas pelo governo revolucionário de Cuba (entre elas, a Reforma Agrária), o Governo dos Estados Unidos não tarda em perseguir a Revolução Cubana cujo Governo se socorre da União Soviética, episódio presente na instalação em Cuba de mísseis soviéticos, em defesa e como prevenção às ameaças dos Estados Unidos, esquentando assim a “Guerra Fria”. 


Especificamente com relação ao Brasil, vivíamos igualmente um período de grande ebulição social e política. Graças à secular opressão que o sistema colonialista/capitalista havia implantado no Brasil, milhares de trabalhadores e trabalhadoras, do campo e da cidade, com importante apoio e participação de estudantes e intelectuais de esquerda, mostravam-se mobilizados e em luta pelas chamadas ‘’Reformas de Base” (Reforma Agrária, Reforma Urbana, Reforma bancária, Reforma da Educação, entre outras), contando também com o apoio do Governo João Goulart. Estas forças sociais pela sua pauta de reivindicações suscitaram crescentes reações das forças então dominantes (latifundiários, banqueiros, grandes empresas, todas contando com o apoio da Igreja Católica e dos Estados Unidos). As forças dominantes, lideradas pelo Governo dos Estados Unidos, temiam que o Brasil viesse a transformar-se em uma nova Cuba, razão por que o Governo dos Estados Unidos tratou de propor ações e medidas assistencialistas, com o objetivo de deter o avanço das forças populares. 


As Ligas Camponesas surgidas no engenho Galiléia, em Vitória de Santo Antão-PE, sob a liderança de figuras como  Francisco Julião, Zezé da Galileia, João Targino em meados dos anos 50, com reivindicações trabalhistas, conseguiram espalhar-se rapidamente pelo Nordeste, inclusive na Paraíba, em que se tornaram célebres lideranças da Liga de Sapé, figuras como a de João Pedro Teixeira, Elizabeth Teixeira (a quem homenageamos pelos seus 99 anos, completados ontem, 13 de fevereiro: “Mulher marcada para viver”) e outras. Eis por que fora escolhida a cidade de Recife, para sediar a quarta Conferência do Nordeste.


Antecedentes internos da Conferência do Nordeste


Em 2023, sob a organização de Edward Guimarães, Emerson Sbardelotti e Marcelo Barros, foi publicado pela Editora Recriar o livro (em 2 volumes)  “50 anos de Teologias da Libertação”, cujo segundo capítulo (volume.1, pp. 89-111) de autoria de Cláudio Oliveira Ribeiro e Paulo Agostinho N. Baptista, rememora e analisa as raízes ecumênicas da Teologia da Libertação, trazendo-nos preciosas informações sobre figuras do Protestantismo. Talvez por conta de sua ênfase na dimensão ecumênica, os autores se mostram bastante generosos em relação aos Teólogos e Teólogas católicos, ao se absterem de explicitar a precedência protestante dessas raízes.


Com efeito, enquanto a vertente católica dava os seus primeiros passos, em meados dos anos 60 (Comblin e Beozzo, por exemplo, fazem menção dos primeiros e sucessivos encontros realizados por Teólogos como Ivan Illich, Comblin, Gustavo Gutierrez, Segundo Galilea, Juan Luis Segundo, Ana Flora Anderson, Gilberto Gorgulho, entre outros, em Petrópolis, em Cuernavaca, Santiago, Montevidéu…), diversos Teólogos protestantes (Richard Shaull, Rubem Alves, Joaquim Beato, João Dias de Araújo, entre outros), alguns deles desde anos 50, já militam nesta seara, seja por iniciativa institucional em perspectiva ecumênica (Graças aos esforços envidados por diversas Igrejas Reformadas, integrantes, desde 1934, da Confederação Evangélica Brasileira, que também animou a União Cristã de estudantes do Brasil, estudantes que animaram, de modo progressista e de esquerda, lutas sociais da época).


Importa, porém, assinalar que tal protagonismo dos Protestantes na elaboração de uma Teologia da Libertação (expressão presente na tese de Rubem Alves, “Rumo a uma Teologia da Libertação”, tendo como Orientador a Richard Shaull em 1969), bem como no empenho hercúleo em exercitar o ecumenismo entre as diversas denominações (somente depois, também com os católicos), não se deu sem conflitos e oposição de algumas lideranças. Cumpre ainda lembrar que a ação pioneira e de parceria ecumênica de teólogos protestantes, iniciada desde os anos 50, prosseguiu e se acentuou com o trabalho conjunto com teólogos e teólogas católicos, parceria da qual a fundação do CEBI (Centro de Estudos Bíblicos) em 1979, constitui um exemplo emblemático, como o é também, em meados dos anos 80, a participação de teólogos protestantes na conhecida Coleção “Teologia e Libertação”, iniciativa desafiadora, de cujo Conselho de Assessoria era integrante o teólogo Júlio de Santa Ana. 


Retomando a rememoração de conflitos internos existentes entre a ala progressista e a ala conservadora dos componentes Coordenação da Confederação Evangélica Brasileira, o impasse foi contornado, por meio da decisão colegiada de distribuir diferentes tarefas entre seus membros, uma das quais - Setor de Responsabilidade Social - foi assumida por lideranças fortemente comprometidas com a causa libertadora dos empobrecidos. 


Foi graças ao Setor de Responsabilidade Social, que se tomou a decisão de promover reuniões de estudos, com o objetivo de se conhecer melhor a formação histórica e social do Brasil, razão pela qual, já em 1955, em São Paulo, se realizou a primeira de 4 reuniões de estudos (a segunda aconteceu em 1957, enquanto a terceira em 1960), culminando com a quarta dessas reuniões de estudos, desta vez de forma bastante ampliada, da qual participaram 167 delegados.


Um dos traços relevantes desses pioneiros da Teologia da Libertação - inclusive em âmbito latino-americano - foi o lugar privilegiado do recurso às Ciências Sociais como instrumento analítico-crítico da realidade social, inclusive, de inspiração marxista, condicionante das ações desenvolvidas pelas igrejas e seus membros. Tratava-se de uma iniciativa protagonizada por teólogos, quase todos protestantes de reconhecida competência teológica e social, tais como Richard Shaull, Julio de Santa Ana, Julio Barreiro, Hugo Assmann, Rubem Alves, entre outros. 


A este propósito, convém reportar-nos não apenas à contribuição específica de Richard, como também de vários outros teólogos, principalmente ligados à Igreja Presbiteriana, como também a diversas outras denominações. Quanto ao primeiro, nunca é demais destacar sua ação profética, desde a Colômbia nos anos 40, e no Brasil, desde a primeira metade dos anos 50, tendo ele se tornado mais conhecido com a publicação de seu livro “Cristianismo e Revolução". Em parceria com outros Teólogos latinos americanos (Luís Odell, Julio Barreiro, Júlio de Santa Ana, entre outros) e brasileiros (Rubens Alves e outros), algumas iniciativas formativas e editoriais mostraram-se preciosas. Uma delas, a fundação de um órgão - ISAL (Iglesia y Sociedad ) - uma delas teve um grande impacto organizativo, tanto do ponto de vista organizativo, quanto do ponto de vista da educação popular, à medida que estimulava a produção e circulação de estudos críticos sobre a realidade social latino-americana, como restou comprovado pelas revistas “Cristianismo y Sociedad”, “Tierra no Eva”, a que deve ser agregado o ingente empenho de Julio Barreiro na especial divulgação em língua Espanhola, dos livros de Paulo Freire.


Enquanto isto, sempre de forma articulada, importa registrar a fecundidade  dos esforços de teólogos brasileiros, como Rubem Alves, Joaquim Beato, João Dias de Araújo, entre outros, apoiados por diversas denominações, de fundarem um Seminário para acolher formandos das mais diversas denominações, demonstrando um zelo especial pela qualidade crítica da formação de suas futuras lideranças. A esta iniciativa, vão se somando outras, inclusive no plano da comunicação social, a exemplo do conhecido CEI (Centro de Evangelização e Informação), depois transformado CEDI (Centro Ecumênico de Documentação e Informações), dentre cujos protagonistas se achavam Jether Ramalho Pereira, Ruben Alves, Waldo Cézar, entre outros.       


           


Breve reflexão sobre a “Conferência do Nordeste”


A Conferência do Nordeste realizou-se em Recife, de 22 a 29 de julho de 1962, sediada no Colégio Agnes Erskine. Mais do que o Recife, o Nordeste era palco de crescente efervescência social e política. O Brasil vivia momentos de tensão: de um lado, o ascenso das lutas populares e sindicais, com o clamor dos trabalhadores pelas chamadas “Reformas de Base”; por outro lado, a reação crescente por parte de um conjunto de forças da classe dominante: os grandes proprietários de terra, os grandes empresários, amplos setores da Igreja Católica e das Igrejas Evangélicas, a reação dos militares em conluio com o governo dos Estados Unidos. Verdadeiro desafio a ser enfrentado pelos organizadores e pelos participantes desta Conferência do Nordeste. Não foi por acaso que, três meses antes deste evento, fora assassinado, em Sapé-PB, em 02 de Abril de 1962, João Pedro Texeira, principal líder da Liga Camponesa de Sapé.     


A semana contou com a colaboração de várias de suas lideranças. Ao sociólogo Waldo César coube a Secretaria executiva do evento, ele mesmo tendo registrado por escrito as exposições e os debates da semana, com a contribuição do Bispo Metodista Almir dos Santos. Feita a abertura da Conferência do Nordeste, no dia 22/07, já no dia 23, intervieram outras figuras-chave, a exemplo do reverendo Joaquim Beato e do reverendo João Dias de Araújo, além da Conferência proferida por Celso Furtado, então Superintendente da SUDENE, a quem coube refletir sobre “O Nordeste e o Processo Revolucionário brasileiro”. Do ponto de vista dos conferencistas protestantes coube ao Revdo Joaquim Beato refletir sobre o tema “Os Profetas em Épocas de Grandes Transformações Sociais e Políticas”, enquanto o Revdo João Dias de Araújo recebeu a incumbência de refletir sobre “A Revolução do Reino de Deus: Cristo e o Processo Revolucionário Brasileiro”.


E assim, ao longo dos outros dias, foram ouvidas diferentes figuras tanto do mundo protestante quanto representantes da sociedade civil, entre os quais, Gilberto Freyre, convém lembrar ainda, a participação de outros intelectuais, como Paul Singer, entre outros.

Enquanto isto, intensificava-se um ambiente socialmente explosivo, por todo o Brasil. Sentia-se um cheiro de Golpe no ar. No ano seguinte, os acontecimentos internacionais também contribuíam para aumentar as tensões internas. As Ligas Camponesas prosperavam e se expandiam por outras regiões do país. Os órgãos sindicais, em especial o CGP emitia sinais de mobilização, enquanto os estudantes se manifestavam mobilizados por todo o Brasil. Nos primeiros meses de 1964, as organizações reacionárias também intensificaram sua mobilização, inclusive por meio das igrejas cristãs reacionárias, manifestando-se principalmente na famigerada “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, culminando com o Golpe de Estado em 1964.


Em consequência, observou-se uma sucessão de prisões, de torturas, de assassinatos, de banimentos e outros atos repressivos que alcançaram as principais lideranças políticas, de movimentos populares, sindicais, partidários e também lideranças de Igrejas, lideranças estudantis. Sobre muitas lideranças das Igrejas promotoras da “Conferência do Nordeste” se abateu forte repressão, alcançando inclusive figuras como Joaquim Beato, João Dias de Araújo, Júlio de Santa Ana, e mais tarde, ainda outros tais como, Zwinglio Mota Dias, Jaime Wright, Waldo César, Jether Pereira Ramalho, entre outros. 


Estes teólogos e outros mais jovens, inclusive teólogas, ainda durante a repressão, juntaram-se a teólogos e teólogas católicos, reforçando os protagonistas católicos da Teologia da Libertação, com os quais participaram de múltiplas iniciativas conjuntas.


Ensinamentos a recolher 

 

Essas breves notas têm o propósito de, ao rememorar fatos ainda pouco conhecidos, seja do lado católico, seja do lado protestante, de incentivar sobretudo jovens do meio popular, especialmente por meio da Educação Popular, a melhor compreenderem nossa realidade, de modo a se sentirem comprometidos com nossos processos de transformação e de construção, desde já, de uma nova sociedade, alternativa, à barbárie capitalista.


* Texto digitado (sendo ditado pelo autor, por conta de sua deficiência visual) por Elizabete Pontes Santos, Heloíse Calado e Gabriel Luar, ao qual coube revisar. Com a expressão de gratidão do autor.  


João Pessoa, 14 de Fevereiro de 2024.