terça-feira, 31 de maio de 2022

O IMPÉRIO DO OCIDENTE É SEMPRE CERTO; democrático, verdadeiro, humanitário…



Alder Júlio Ferreira Calado


Ai do mundo, se não fosse o Império 

Guardião dos valores celestiais 

Humildade, família e outros mais

Combatente do mal - sistema sério

Busca a paz, mas a paz de cemitério

Suas línguas, presentes mundo afora

O Inglês, o francês, ontem e agora

Nada impostas, escolhidas de bom grado

Idiomas no mundo espalhados

Livre escolha do mundo que os adora.


Sempre foi bem armado, até os dentes

A concórdia, porém, é sua marca

Em dezenas de povos desembarca

Fascinados, os povos, certamente

Os acolhem em clima “caliente”

Seu saber é por eles acolhido

Qual farol de humanismo é trazido

De invenções científicas pioneiros

Asiáticos, chineses, embusteiros

Todo o mundo o tem qual seu ungido…


Na América Latina é similar 

Ocidente cristão, de fé movido 

Vêm salvar os selvagens, a seu pedido 

Aportando a América vêm por mar 

Suas riquezas a gerir, vêm ensinar

É preciso domar selvageria

Ensinar-lhe doutrina luzidia

Mas, em troca, exigiu suas riquezas

Ouro, prata, minérios, de forma ilesa

Batizando-os à força pra confrarias…


Ocidente continua a salvação

Contra a China e a Rússia, inimigas

Em defesa da Ucrânia assume a briga

Pois a Rússia e aliados são quem são

Fazem a guerra sem motivo. OTAN? Não!

Cem por cento a OTAN amplia espaço

Mas, jamais cometendo erro crasso

Mas somente pra levar Democracia

Para os povos da Ásia tão arredia

Ninguém erra, seguindo bem seus passos


Diferente do que fez com o outro lado

Desprezou os saberes do Oriente

Usurpando por vezes suas gentes

Omitindo seus feitos ordenados

Desdenhando também outros achados

De invenções preciosas tão sadias

Só retém de outros povos regalias…

‘Inda hoje fustiga orientais

Asiáticos e outros povos mais

O Ocidente só assim se mostraria?


Mas é certo que é denso seu legado

No terreno das Artes, da Cultura

Tudo isso por nós apreciado

A Ciência e a Literatura

Sua música se mostra bem madura

E na técnica, é bem reconhecido

Tudo isso nos faz dar-lhe sentido

Mas, sua dívida é enorme com o mundo

Um sem-número de embates bem profundos

Vamos ter um Ocidente convertido?


João Pessoa, 31 de maio de 2022


segunda-feira, 23 de maio de 2022

O PIONEIRISMO DOS ANARQUISTAS, NA EDUCAÇÃO POPULAR, NO BRASIL: apontamentos a partir do artigo de Ivonaldo Leite*


Alder Júlio Ferreira Calado


Lastreado em estudos e pesquisas que ousam enfrentar o ostracismo a que se tem relegado a densa contribuição dos Anarquistas a Educação Popular, no Brasil, o artigo “O insubmisso fio sócio-histórico autogestionário:  o lugar da educação popular libertária na história brasileira” (Revista Espaço Acadêmico: https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/60533/751375154083), de Ivonaldo Leite, vem juntar-se ao esforço de restituir aos Anarquistas brasileiros seu lugar de pioneirismo na Educação Popular no Brasil.


A História também comporta paradoxos. Um deles tem a ver com o injustificado  esquecimento a que foi submetido o denso aporte dos Anarquistas à Educação Popular, no Brasil, de que trata Ivonaldo, em seu instigante artigo, buscando examinar as razões de tal lacuna na História da Educação brasileira, em sua versão hegemônica apontando a hipótese, com base em Bourdieu, para o Campo Científico hegemônico. Este assume o poder de ditar critérios para definir o que é ou não relevante, conforme suas conveniências políticas conjunturais. Isto sucede, aliás, não apenas em relação ao esquecimento do legado anarquista para a Educação Popular no Brasil. Estende-se também para múltiplas tarefas acadêmicas.


Se por um lado é certo que há um reconhecimento razoável do aporte anarquista ao movimento operário brasileiro, por outro lado, também é certo que isso concerne especialmente, à Educação Popular, esta é frequentemente apresentada como tendo surgido apenas nos anos 50 do século passado.


À medida que nos dispomos, como fez Ivonaldo Leite, a rastrear o contexto histórico compreendido entre o final do século XIX e as primeiras décadas do século XX, no que concerne ao campo educativo protagonizado pelos Anarquistas, registramos sua densa contribuição à Educação Popular, no Brasil. Migrantes europeus, os Anarquistas chegaram ao Brasil, no último quartel do século XIX, contratados pelo “Barões do café”, para trabalharem em suas lavouras. Iniciado o embrionário processo industrial, eles passaram a trabalhar nos espaços urbanos. Graças a sua experiência com as ideias libertárias trazidas da Europa, os Anarquistas migrantes vão ter uma forte influência na organização do incipiente operariado brasileiro, especialmente nos Estados mais desenvolvidos com o processo industrial.


Naquela época, os anarquistas protagonizaram diversas frentes de luta, combinando lutas sindicais independentes dos Capitalistas e do Estado; empreenderam diversas frentes de luta no campo da cultura, por meio do teatro libertário, da divulgação de poema e de diferentes meios artísticos; vale ainda destacar seu pioneirismo na comunicação, a propósito do que, fizeram circular, como constata o gráfico elaborado por Ivonaldo Leite, em seu artigo ora comentado, cerca de 500 periódicos entre o período mencionado. Sobre isto, recomendo conferir o referido gráfico, do qual importa realçar, por relevantes e oportunos, alguns dos periódicos mencionados: Jornal “A Lanterna” (São Paulo, 1901-1935); Jornal “O Amigo do Povo” (São Paulo, 1902-1904); Jornal “A Voz do Trabalhador” (Rio de Janeiro, 1908-1915); Jornal “A Plebe” (São Paulo, 1917-1951); Jornal “Tribuna do Povo” (Alagoas, 1916-1917); Jornal “O Sindicalista” (Rio Grande do Sul, 1921-1927); Jornal “A Hora Social” (Pernambuco, 1919-1920); Jornal “Il Diritto” (Paraná, 1897-1899); Jornal “A Nova Era” (Minas Gerais, 1906-1907); Jornal “Voz do Graphico” (Ceará, 1920-1922); Jornal “O Trabalho” (Pará, 1901-1907), etc.


Numa época em que saber ler era "privilégio" de poucos, resulta impactante a iniciativa dos Anarquistas, de aproveitarem a pausa para o almoço dos operários, não hesitando em lerem, em voz alta, para eles panfletos e jornais sobre a realidade que os cercava, contribuindo assim para exercitarem junto a eles sua consciência de classe.


Nessas ocasiões também costumavam ler poemas e trechos de autores de grandes figuras de referência, inclusive no plano internacional. Tais atividades se desenvolviam: “pari-passu”, outras tarefas mais especificamentes educativas, artísticas e culturais. 


Ao longo do período mencionado (final do século XIX e primeiras décadas do século XX), dezenas de unidades escolares (abrangendo a Escola Primária e Secundária e o curso chamado “avançado”), em vários Estados brasileiros: Universidade Popular de Ensino Livre (UPEL, 1904, Rio de Janeiro); Universidade   Popular de Cultura Racionalista  e  Científica (1915, São Paulo); Escola União Operária (1895, Porto Alegre); Escola Libertária Germinal (1903, São Paulo); Escola Sociedade Internacional (1904,,Santos); Escola Noturna (1907, Santos); Escola Eliseu Reclus (1906, Porto Alegre); Escola 1º de Maio (1903; Rio de Janeiro); Escola da Liga da Construção Civil (1920, Niterói); Escola Moderna (1909, São Paulo); Escola Germinal (1906, Fortaleza); Escola Noturna Liga Operária (1911, Sorocaba); Escola Moderna de Petrópolis (1913, Petrópolis).


Isto lhes custou constantes perseguições pelo Estado, que não admitia quaisquer iniciativas sindicais, culturais e educativas que não estivessem sob seu rígido controle. Para Ivonaldo Leite, embasado em outros estudos e pesquisas sobre o tema realizados por alguns autores de referência, a explicação do esquecimento do relevante legado anarquista, a Educação Popular, no Brasil, deve-se à Natureza do Campo Científico hegemônico na Academia Brasileira. 


Importa tomar em conta que toda aquela rede de iniciativa libertária a despeito de ser obra de uma massa de militância perseguida se mostrava de grande potencial transformador, contando inclusive com a fecunda participação de intelectuais libertários, homens e mulheres, dentre os quais José Oiticica e Maria Lacerda de Moura. Os valores principais destes preciosos autores da Educação Popular, se assentavam na aposta de uma Educação Popular laica, emancipadora, feminista, autogestionária e de caráter libertário.


No tocante à participação das mulheres, cumpre ressaltar, entre elas, a figura de Maria Lacerda de Moura, que desenvolveu estudos e escreveu sobre o tema, feminismo, distinguindo, a concepção então dominante de um feminismo que pouco ou nada tinha a ver com seu entendimento de feminismo. 


Ivonaldo Leite, a este respeito, compartilha em seu artigo, uma impactante citação de Maria Lacerda  de Moura, sobre o que esta entende por feminismo: 


A palavra "feminismo", de significação  elástica,  deturpada, corrompida, mal interpretada, já não diz nada das reivindicações feministas. Resvalou para o ridículo, numa  concepção vaga, adaptada incondicionalmente a tudo quanto se refere à mulher. Em qualquer gazela [sic], a cada  passo,  vemos  a expressão "vitórias do feminismo" – referente, às  vezes, a  uma  simples questão  de  modas!  Ocupar  uma posição  de  destaque  em  qualquer repartição pública, cortar os cabelos "à  la  garçonne",  viajar  só, mestudar em academias, publicar um livro de versos,  ser  "diseuse",  divorciar-se três ou quatro vezes [...], atravessar a  nado o Canal  da  Mancha,ser campeã de qualquer esporte – tudo isso consiste "nas  vitórias do feminismo", vitórias que nada significam perante  o  problema  da emancipação  integral  da  mulher (...) Não  posso  aceitar  nem  o feminismo de votos e muito menos o feminismo de caridades. E enquanto isso  a  mulher  se  esquece  de reivindicar o direito de ser dona de seu próprio corpo, o direito da posse de si mesma. [...] Estou com os que sonham  mais  alto,  uma  sociedade onde haja pão para todas as bocas, onde se aproveitem todas as energias humanas, onde se possa cantar um hino à alegria de viver na expansão de  todas  as  forças  interiores,  num sentido  mais  alto  –  para  uma limitação  cada  vez  mais  ampla  da sociedade  sobre  o  indivíduo.  (...) Dêem o nome que quiserem, pouco importa: o que esse feminismo [...] reivindica é o "Direito Humano", o Direito   Individual,   acima de qualquer  outro  direito,  além  dos direitos limitados ao parlamentarismo, além dos direitos de classe (MOURA, 1928, pp. 1 - 4 apud. LEITE, 2022, pp. 103 - 104)

 

Ao fim e ao cabo destas revelações feitas por Ivonaldo Leite e pelos autores em que se baseou, ficamos atômicos ao percebermos que, tanta riqueza pedagógica, na perspectiva da Educação Popular, acabou no ostracismo. O que teria levado estudiosos e pesquisadores da Educação Brasileira, a fazerem “Tabula Rasa” desta densa e vigorosa contribuição legada pelos Anarquistas? Em seu artigo, ele sustenta a hipótese - e o faz, a justo título - de que isto é obra do campo científico hegemônico, na Academia Brasileira. Hipótese que podemos estender ainda para a prevalência de um sentimento de que o sistema educativo é obra exclusiva do Estado, onde se faz presente uma certa aceitação do Estado como tutor da sociedade civil.


De nossa parte, cumpre-nos seguir cavoucando cada vez mais, no sentido de continuarmos a pesquisar sobre este tema desafiante, não apenas em escala brasileira, mas também no âmbito latinoamericano e do caribe. Trata-se de unir forças nesta direção, sem que isto venha a nos fazer ignorar a relevância da Educação Popular no Brasil, a partir da Escola Nova e da Educação Popular tal como apresentada, na Segunda Metade do Século XX.


*Este texto foi gravado em áudio pelo autor (em razão de sua deficiência visual), e transcrito-digitado por Gabriel Luar Calado Bandeira, e Eliana Alda de Freitas Calado, que também o revisou. Com meus agradecimentos.

João Pessoa, 23 de maio de 2022.


terça-feira, 17 de maio de 2022

MARXISTAS E LIBERTÁRIOS JUNTOS, NA LUTA CONTRA O CAPITAL, SÃO MAIS FORTES: Considerações a propósito da conferência proferida por Michael Löwy, por ocasião das comemorações dos 150 anos da AIT



ALDER JÚLIO FERREIRA CALADO


Para além das dissonâncias e das tensões entre Marxistas e Anarquistas, é possível constatar entre essas duas forças revolucionárias, traços e experiências de entendimentos, de convergências e de ações comuns? Em que momentos e circunstâncias é possível comprovar tal cooperação? Foi a partir de questões como estas, que, convidado por coordenadores cariocas da AIT (Associação Internacional dos Trabalhadores, também conhecida como a I Internacional), Michael Löwy refletiu sobre esta questão.


Não são segredo as tensões e conflitos que cercaram Marxistas (desde Marx) e Anarquistas (desde Bakunin), durante um século e meio de convivência. Isto é por demais, e não raramente, superestimado, de parte a parte. Sua proposta, contudo, ousava algo novo: sem negar tais diferenças, tratava de enfatizar múltiplos elementos de convergência, de solidariedade e de ações unitárias.


A irrupção das lutas operárias protagonizadas pelo Socialismo Marxista ou de caráter libertário se darão especialmente a partir da segunda metade do século XIX em plena evolução da Revolução Industrial, seja pela inspiração de figuras tais como Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865), Mikhail Bakunin (1814-1876), Marx, Engels, entre outras.


As ideias de Proudhon gozavam, à época, de entusiástico apoio de operários. Seu pensamento já era partilhado tanto por uma ala reformista, mesmo à direita das ideias de Proudhon, seja por um outro segmento radicalizado, que, posteriormente, passaria a integrar os quadros revolucionários da Comuna de Paris, Mikhail Bakunin se tornaria a figura mais notável dos Anarquistas. Em célebre fuga da prisão (em que havia sido condenado à prisão perpétua, Bakunin comete a aventura de, em um barco, dar quase uma volta ao mundo, tendo passado até pelos Estados Unidos, até chegar à Inglaterra. Em Londres, por volta de 1865, conhece pessoalmente a Marx, cujas ideias respeitava, sem abrir mão de sua posição libertária.


Em sua memorável conferência, Michael Löwy lista e analisa uma série de episódios marcantes envolvendo Marxistas e Anarquistas, em franca cooperação e unidade de ação.


Não é desprezível, por exemplo, a iniciativa de Marx de confiar a Bakunin um exemplar do seu então recém-publicado primeiro volume de O Capital, de modo a atestar a atenção e o respeito intelectual que nutria por Bakunin, a despeito dessas diferenças. Bakunin, por sua vez, em resposta a Marx, fez questão de reconhecer de público a genialidade de Marx, no que tange aos estudos e pesquisas desenvolvidos por Marx, com profunda acuidade, de modo a desmascarar como ninguém antes dele, as estratégias vulpinas do Capital.


A situação de crescente penúria a que o Capital Industrial vinha sujeitando a Classe Trabalhadora na Inglaterra, como a justo título, o denunciara Engels, em 1845, em seu livro extraordinário “A situação da classe trabalhadora, na Inglaterra" - só agudizava a luta de classes para além da Inglaterra. Cabia aos trabalhadores de todo o mundo avançarem em seu combate, buscando sempre conjugar três fatores decisivos e axiais de toda perspectiva marxista e libertária, como costuma sublinhar Michael Löwy: Luta de classes, Internacionalismo e Revolução. Foi assim que se deu um substancioso salto de qualidade, na luta de Trabalhadores e Trabalhadoras: a fundação da Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT, também conhecida como a I Internacional), em 1864. Tratava-se de uma organização plural, composta por diferentes correntes de trabalhadores, em especial por Marxistas e Anarquistas. Encontros que se sucederam à fundação  da AIT, tendo como característica fundamental a pluralidade de correntes, com destaque para Marxistas e Anarquistas. Mantiveram-se também algumas rusgas, alternadas com momentos de cooperação solidária. Em um desses encontros - que se realizou na Suiça (Basiléia), na segunda metade da década de 1860, ficou célebre uma votação em que os Anarquistas foram amplamente favorecidos, suscitando a ira e nova dissidência dos Marxistas. Estes trataram de organizar, em uma de suas seções, do qual resultou a expulsão dos Anarquistas, os quais, não aceitando o fato, decidiram ignorar a expulsão, reivindicando seu direito de protagonizarem a continuidade da AIT.


Não obstante tal dissidência, importa realçar novo encontro de Marxistas e Anarquistas, desta vez, na participação conjunta como Comissários da Comuna de Paris, um processo revolucionário dos mais relevantes da história contemporânea.


Um outro episódio sublinhado na fala de Michael Löwy tem a ver com um documento resultante da fundação, pelos Marxistas alemães, do Partido Social-Democrático Alemão, em que se defendia, contra o entendimento de Marx e Engels, a expressão “Volkstaat” (Estado popular), contundentemente criticada pelos Anarquistas, atribuindo-a injustificadamente a Marx. Tal episódio obrigou a Marx e a Engels a criticarem fortemente os dirigentes do Partido , por conta deste entendimento, pelo qual ele estava sendo injustamente cobrado pelos Anarquistas. Mais uma vez, fica clara a posição de Marx e Engels, quanto à figura do Estado, que, na nova Sociedade, precisa ser extinto.


A “Crítica do Programa de Gotha”, lembra Michael Löwy, constitui um escrito luminoso, de autoria de Marx, datado de 1875, do qual transparecem pontos fulcrais comuns a Marxistas e Libertários, dos quais vale a pena citar esta afirmação primorosa: “A emancipação da classe trabalhadora tem de ser obra dos próprios trabalhadores”. Acerca do Programa de Gotha, entretanto, de autoria de Marx, e diversos pontos conexos, inclusive cartas, há uma contribuição marcante de Michael Lowy, ao prefaciar esta obra, editada pela Boitempo (2012). Importa ainda, a esse respeito, mencionar a relevante contribuição de Michael Lowy e Oliver Besancenot em seu livro Afinidades  revolucionárias:nossas estrelas  vermelhas  e  negras  –  Por  uma solidariedade  entre  marxistas  e  libertários. São Paulo: Editora da UNESP.


Eis, pois, um breve resumo da memorável conferência da qual recolhi pontos que entendi mais relevante. Antes de concluir estas breves linhas, tenho três registros a fazer, por me parecerem pertinentes. Um primeiro registro refere-se a própria figura de Michael Lowy, sublinhando meu reconhecimento e minha gratidão pelo seu denso legado ético-político, tendo tido eu a oportunidade de tê-lo como Orientador (no período de 1987 a 1991, na Universidade de Paris-8), de minha tese sobre a contribuição política das CEBs, no Brasil, especialmente no Nordeste, durante os anos 80, pelo que lhe sou muito grato.


Um segundo registro dirige-se aos jovens do Meio Popular (do campo e da cidade) especialmente no Nordeste brasileiro, que durante décadas, vem constantemente sendo o alvo preferencial de minha interlocução, e destinatário de meus escritos (Cf. textosdealdercalado.blogspot.com), enquanto Sociólogo e Educador Popular. 


Um terceiro registro tem por objetivo lembrar aos mesmos interlocutores e interlocutoras que, como havia antes prometido, este breve texto tem o objetivo de introduzir o instigante artigo de Ivonaldo Leite, acerca da contribuição dos Anarquistas à Educação Popular, no Brasil. Artigo entitulado “O insubmisso fio sócio-histórico autogestionário:  o lugar da educação popular libertária na história brasileirav” (Revista Espaço Acadêmico, n. 234, mai./jun. 2022) do qual passo a me ocupar, nos próximos dias.


João Pessoa, 17 de maio de 2022.


terça-feira, 10 de maio de 2022

A PEDAGOGIA DE PAULO FREIRE E SUAS INTERFACES COM A TERAPIA E A LITERATURA: Breves notas a partir da exposição, seguida de diálogo com seus interlocutores, feita pelo Prof. Marcelo Bezerra de Oliveira.



Alder Júlio Ferreira Calado


Nestes últimos dias de convalescença, após dez dias de experiência hospitalar, tive a oportunidade de “ler” (ouvir) duas preciosas elaborações investigativas com que nos brindaram o professor Ivonaldo Leite, em seu precioso texto sobre a densa contribuição dos anarquistas, no período compreendido entre o último quartel do século XIX e as primeiras décadas do século XX, e de uma exposição valiosa, feita pelo professor Marcelo Bezerra de Oliveira, sobre o tema-objeto do presente texto. Oportunamente voltarei a tecer comentários sobre o texto do professor Ivonaldo Leite.

Neste 4 de maio próximo passado, tive a oportunidade de acompanhar virtualmente a exposição do Prof. Marcelo Bezerra de Oliveira, filósofo também dedicado à teoria do conhecimento de Paulo Freire, atendendo ele a mais um convite do Grupo de filósofos e filósofas Clínicos, do qual ele próprio faz parte, com o objetivo de expor as principais interfaces da Pedagogia radical freireana com a própria Filosofia Clínica, com a Terapia e com a Literatura.

Pressupondo nos seus interlocutores conhecimento prévio sobre dados biobibliográficos sobre Paulo Freire, professor Marcelo já apresenta Paulo Freire em seu trabalho no SESI em Pernambuco (Recife e adjacências), na segunda metade dos anos 50, mais precisamente ao final da década, coincidindo com a gestão de Miguel Arraes, à frente do Governo. Situa-o já como um pedagogo perspicaz, voltado para o acompanhamento e animação dos Círculos de Cultura junto às populações periféricas da área metropolitana de Recife. Já então, transparece seu trabalho brilhante, no âmbito da educação, voltado para o processo de Alfabetização daquelas populações, com características peculiares:

-Inspira-se na Pedagogia radical centrada tanto no inacabamento, quanto nas potencialidades dos Humanos. Uma pedagogia que se alimenta na vocação ontológica dos humanos a “ser mais”;

- É marcada pel concepção, e sobretudo pelo exercício da horizontalidade do trabalho pedagógico, em que educandos se sentem também educadores, e educadores comportando-se também como educandos;

- Trata-se de um trabalho movido pela Dialogicidade, ou seja, a convicção de que todos os que participam desse espaço educativo tenham direito a pronunciarem sua palavra;

- É uma experiência marcada, a cada passo e a cada momento, por um despertar e por um estímulo contínuos, no sentido de que os participantes exercitam a consciência de si e do mundo, não apenas como seres inconclusos, mas também como seres de marcantes potencialidades;

- Nesta experiência, o papel do Educador/Educadora não é o de “facilitar” o processo de aprendizagem, mas o de problematizá-lo perante os Educandos/Educandas;

- Trata-se de uma Pedagogia que antes de se preocupar com a “leitura da palavra”, exercita a “leitura de mundo”.

O Grupo de Filósofos e Filósofas Clínicos, também integrado pelo professor Marcelo, ocupa-se fundamentalmente de exercitar o pensar filosófico aplicado a situações clínicas, em que o Filósofo Clínico dialoga horizontalmente com o partilhante, tendo como objetivo um enfrentamento exitoso de situações existenciais disfuncionais por parte do partilhante. Dá-se aí uma experiência terapêutica, na força libertadora do conhecimento: - como preconizava o grande poeta cubano José Martí, “O conhecimento liberta”.

Meus primeiros contatos com a Filosofia Clínica em situação terapêutica me remeteram a outra bela experiência coletiva: Terapia Comunitária Integrativa (TCI), criada e liderada pelo Psiquiatra e Antropólogo Adalberto Barreto (também cursou Filosofia e Teologia) com sua rede de formadores e formadoras (da qual também fazem parte o Sociólogo Rolando Lazarte, a Enfermeira Maria Oliveira Filha, e a Pedagoga Ana Vigarani, entre tantas outras pessoas). Trabalhando inspirados na Pedagogia de Paulo Freire. A TCI organiza-se ao modo de um movimento tendo no "ethos" comunitário sua força de inspiração, atuando no Brasil e na América Latina, e em alguns países europeus. A quem interessar possa, sugiro o site https://www.adalbertobarretocursos.com/ .

Neste sentido, vale a pena um olhar crítico, para a trágica conjuntura brasileira atual, em que um segmento minoritário de nossa sociedade teima em manter-se refém no obscurantismo, no negacionismo, fazendo vistas grossas a evidências históricas, fazendo-nos retroceder a tempos tenebrosos.

No que diz respeito à Literatura, o professor Marcelo, de há muito, lidando com este campo, explicita com propriedade a força terapêutica do saber literário, um campo marcado pela riqueza da transversalidade com uma infinita gama de campos de saber - populares, artísticos, filosóficos, científicos…

Tanto em sua exposição inicial, como no momento de diálogo com os demais participantes, o professor Marcelo, também se ocupou de explicitar algumas fontes do pensamento freireano, tendo sempre o cuidado de não identificar o pensamento de Freire com qualquer uma das fontes em que bebeu, a medida que, ao longo de sua produção, sempre fez questão de, sem jamais negar nenhuma delas, exercitar sua autonomia frente às mesmas. Dentre as diversas fontes em que se inspirou Paulo Freire, o professor Marcelo destacou a alteridade recolhida do pensamento de Martim Buber "Eu e Tu", enquanto um dos participantes da sessão acrescentou o nome de Emmanuel Lévinas, o Existencialismo, inclusive o de Gabriel Marcel (destacando seu aporte quanto à "A consciência fanatizada”) e seu diálogo com o marxismo, especialmente com Marx. De minha parte - sobre o tema já tive a oportunidade de escrever alguns artigos, inclusive https://revistaconsciencia.com/rastreando-fontes-da-utopia-freireana-marcas-cristas-e-marxianas-do-legado-de-paulo-freire-por-alder-julio-ferreira-calado/ - entendo terem sido o marxismo - Marx, Gramsci, ... -, e a Teologia da Libertação as fontes principais de sua Pedagogia.

Graças ao professor Marcelo Bezerra de Oliveira, inclusive enriquecido pelos instigantes questionamentos compartilhados pelos seus interlocutores (Filósofos/Filósofas Clínicos) bem como por dois textos que ele previamente disponibilizou aos participantes, nos oportunizou uma reflexão crítica de grande atualidade, inspirada nas teses gnosiológicas de Paulo Freire, em suas interconexões com a Filosofia Clínica, a Terapia e a Literatura.


João Pessoa, 10 de maio de 2022.


quinta-feira, 5 de maio de 2022

AO FILÓSOFO DA PRÁXIS RENDO LOA / COMBATENTE MAIOR DO CAPITAL

 AO FILÓSOFO DA PRÁXIS RENDO LOA

COMBATENTE MAIOR DO CAPITAL

Alder Júlio Ferreira Calado 


Em seis décadas e meia, fez legado 

Que o ultrapassa,de longe, em gerações 

A Verdade ele ama, sem senões 

Sua vida dedica, obcecado

Desnudando o fetiche do Mercado

Suas Teses persistem magistrais

E seu Método, fecundo cada vez mais

Gên'ro Humano, com rumo libertário

Que se livre do Monstro, do calvário

Intuir novo mundo, justiça e paz



João Pessoa, 5 de maio de 2022


segunda-feira, 2 de maio de 2022

Há Mais Dores Na Terra Entre Os Mortais  Do que Estrelas Brilhando No Firmamento

 Alder Júlio Ferreira Calado



Nos humanos a dor bate demais 


Alternando, vez por outra, com prazer 


Multiformes, as dores, parecem ser  


Outros seres, porém, padecem mais 


Nossos rios, florestas e animais 


Pavoroso é saber que os seres vivos


Por humanos transformam-se em cativos 


Sofrimento evitável e revoltante 


Essa marcha insana que segue adiante 


Atenção: esta nave não tem crivo 



João Pessoa, 02 de maio de 2022,


Elaborado em 30 de abril de 2022, 17hrs30



domingo, 1 de maio de 2022

SUPERAR O TRABALHO-MERCADORIA / ENFRENTANDO DIA A DIA O CAPITAL!

 SUPERAR O TRABALHO-MERCADORIA

ENFRENTANDO DIA A DIA O CAPITAL!


Alder Júlio Ferreira Calado 


Tenho orgulho de ser Trabalhador! 

A desgraça é ser força de trabalho

Ao vender minha força, pouco valho

O mercado me faz um sofredor

Inflingindo em mim somente dor

Só a luta de muitos gera Esperança

De enfrentar deus-Mamon, que só avança

No Evangelho, tenho força original

Pra enfrentar o deus-Mamon do Capital

Não me esqueço: Só a luta faz mudança!


João Pessoa, 1 de Maio. Leito Hospital Santa Isabel, da rede do SUS