quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Entre o dito e o (não)feito: em busca de uma (auto)avaliação propositiva

Entre o dito e o (não)feito: em busca de uma (auto)avaliação propositiva

Ao término de certos períodos – por exemplo, ao final de um ano ou de atividades existenciais de nossa movimentada agenda -, resulta oportuno nos darmos ao trabalho de um salutar (auto)reexame. Trata-se, aqui, não de um exercício de (auto)flagelação, mas de uma (auto)avaliação propositiva, que contribua frutuosamente para o nosso processo de humanização. Eis o propósito destas notas, nas quais sou o primeiro a me incluir como alvo destas considerações.
Partindo de situações concretas, no chão do dia-a-dia
Pequenos e grandes sonhos conformam parte relevante de nosso co-existir. Entre a concepção e a efetivação dos mesmos costuma interpor-se uma distância considerável. Em parte, estamos a lidar com um fenômeno do dia-a-dia bastante saudável, quando não extrapolam certos limites, pois se, de um lado, não podemos viver sem sonhos, por outro lado, não resulta saudável investirmos em sonhos demasiado descolados de nossas reais condições de alcançá-los, por extrapolarem em demasia do concreto vivido. É claro que de sonhos e utopias não devemos abrir mão – Eduardo Galeano, por exemplo, dizia que a Utopia serve para seguirmos caminhando, ainda que a linha do horizonte do almejado teime em se afastar, cada vez que damos um passo em sua direção… Mas, como tudo na vida, também aí esbarramos num limite: nossa saúde mental, alimentada por certo nível de razoabilidade. Nesse sentido, vale que nos perguntemos coisas do tipo: de nossa lista de pequenos sonhos (planos, projetos, etc.), que proporção razoável temos sido capazes de materializar? Por exemplo, no caso de planos de leituras, quantas vezes prometemos a nós mesmos, a nós mesmas fazer coisas mil, e, no entanto, (quase) nada acontece? Quantas vezes nos sucede até adquirirmos livros e mais livros, e os enfileiramos, anos a fio, nas prateleiras, tendo-os, quando muito!, mal folheado? Quantas vezes, ao recebermos mensagens com notícias empolgantes de livros, artigos, entrevistas, reportagens, vídeos, etc., que mexem conosco, e chegamos a salvá-los, às centenas, em nossos arquivos, dizendo-nos: “Depois, vou ler. Quando tiver tempo, vou conferir!” E, anos e anos depois, (quase) nada acontece… Quantas vezes – até sem necessidade, mas apenas movidos por um impulso voluntarista -, nos propomos assumir tarefas (pessoais ou grupais), e acabamos deixando-as para lá… Nada demais haveria, se com elas não nos houvéssemos comprometido, expressamente. O problema é que, uma vez tendo assumido tais tarefas, perante o grupo ou a comunidade, estes passam a alimentar, a justo título, uma expectativa a nosso respeito. E, ainda no plano estritamente pessoal, quantas vezes, planejamos algo para uma mudança desejável, e não lhe damos consequência, em prejuízo para nós e para os outros? E assim por diante. Poderíamos multiplicar, à saciedade, questões deste gênero…
Estamos lidando (bem ou mal), como se percebe, com nossos limites, ou, mais precisamente, com a relação entre os nossos limites e as nossas potencialidades. Os limites, como sabemos, fazem parte de nossa condição humana, portanto não nos devem causar estranhamentos: “Homo sum et nihil humani a me alienum puto” (“Sou um ser humano, e nada do que é humano me deve ser estanho”), dizia o Poeta latino Terêncio. Paulo Freire, por sua vez, afirmava que só enfrentamos adequadamente nossos limites, se e quando deles tomamos consciência. Mais do que apenas experimentarmos o mero inacabamento, precisamos dele tomar consciência, como primeiro passo em busca de superação dos mesmos, desde que isto se dê também no plano relacional: sozinhos, isolados, não logramos enfrentar exitosamente nossos limites.
À parte o período de infância e de adolescência, quando parece mais “natural” o mundo de sonhos e fantasias, nas fases subsequentes, somos instados a irmos colocando nossos delírios, sonhos e fantasias em seu devido lugar, isto é, buscando lidar com eles, de modo saudável, o que implica (também) um ensaio de equilibração da relação sentimento-razão. Com efeito, se no caso de um(a) adolescente, é compreensível viver tendo “o céu como limite” – aqui me vem à lembrança um lema característico da moçada de 1968, na França e alhures: “Soyez raisonnable: demandez l´impossible” (“Sejam razoáveis: peçam o impossível”) -, e dando vazão a todo tipo de devaneio, já não se faz, por outro lado, tão inteligível que um adulto siga por essas trilhas, sob pena de ter que se deparar com sucessivas frustrações, por vezes sobrando para além de quem teima seguir delirando, sem controle. Sucede, contudo, que não é bem isto que se dá. Ao contrário: numerosas são as pessoas adultas que teimam em agir como crianças e adolescentes. E contam com fascinantes apelos, principalmente por parte do Mercado capitalista, e seu paraíso consumista: “Sim, você pode!…” E haja as milagrosas receitas propagandísticas de convencimento: facilidades de cartões de crédito, política de empréstimo consignado, distribuição do valor de compra à prestação, por dez, vinte meses, sem mencionar a força persuasiva do agressivo e onipresente “marketing” capitalista…
Reexaminando nossa agenda…
Seguimos conscientes de que (auto)avaliação (ou revisão de vida, autocrítica ou que nome lhe emprestemos) não é, por si mesma, uma panaceia ou um antídoto suficiente contra todos os males. Sondando aspectos do vasto acúmulo da experiência humana, constatamos que se trata de uma via fecunda de acertos de conta consigo mesma, ontem e hoje. Buscamos seguir esta trilha, ao nosso modo, sabendo, por outro lado, que não há tampouco um receituário para se fazer (auto)avaliação. Buscamos ensaiá-la, também, ao nosso modo. Um passo nessa direção, por exemplo, pode ser o exercício de um olhar crítico de nossa própria agenda. Sem pretendermos propriamente uma análise sociológica de nossa agenda, entendemos útil tal iniciativa, em relação à qual algumas perguntas podem ajudar-nos a nos situarmos melhor, considerando que “a cabeça pensa lá onde os pés pisam”: – Ao final deste ano, o quê registra minha agenda? Qual a tendência dominante de seu movimento?
– Que atividades mais frequentes nela se acham registradas?
– Que prioridades mais destacadas daí podem ser deduzidas?
– Quais as parcerias (coletivas e pessoais) priorizadas, em nosso percurso existencial?
– Num exercício de balanço, quais os frutos mais relevantes do nosso agir, tal como refletido por meio de nossas agendas: o balanço aponta para um saldo correspondente aos esforços envidados, ao tempo e energia investidos, para a nossa realização e a dos outros?
Há um adágio italiano emblemático, a este respeito: “Trai il dire e il fare c´è di mezzo il mare” (Entre o dizer e o fazer, há no meio, o mar.”). É possível que este dito nos possa ajudar, neste esforço de revisão. Não são poucas as vezes que prometemos a nós mesmos, a nós mesmas, fazer isto e aquilo, no sentido de darmos passos concretos favoráveis ao nosso processo de humanização, e, ao cabo e ao fim, nos damos conta de que, em parte considerável, foram palavras jogadas ao vento… Por certo também se remete à condição humana. Ontem e hoje, seres humanos foram e seguem sendo limitados. Até aqui nada a contestar, até ao ponto em que, vulpinamente, alargamos de tol sorte seu alcance, ao ponto de transformá-lo em verdadeiro “álibi” a qualquer possibilidade de superação, transformando, assim, condicionamentos nossos em verdadeiros determinismos, sem a menor chance de superação. O problema, então, é que assim acabamos por transformar o que é uma tendência na condição humana em uma fatalidade, ou seja: passamos a, não apenas constatar os riscos, mas a assumi-los como algo inexorável, a que estamos inevitavelmente submetidos, passando assim de uma constatação de tendência a uma cultura (cultivo) da tendência, com a autojustificativa de que, se assim é, só nos resta render-nos a esta tendência e buscar tirar dela vantagem. Copiosos relatos de tal experiência nos induzem a concluir que o adesismo a tal arrazoado não tem resultado, em geral, em ganhos do processo de humanização.
Ensaiando passos de uma agenda propositiva
Bem longe de qualquer ideia de receituário – menos ainda, pretensamente voltado para os outros -, cuido de compartilhar algumas perguntas que, sobre o tema focado, cuido de me fazer, a partir de minha própria experiência existencial. Se as compartilho, é que não descarto sua eventual utilidade para outras pessoas. Faço-me, então, perguntas do tipo:
– Quantas vezes, entendendo a necessidade de mudar (para melhor) algumas coisas de mim, consegui levar adiante meus objetivos?
– A proporção relativa das coisas que consegui mudar em mim, julgo razoável ou muito aquém do que eu imaginava ou do meu potencial?
– Naquilo em que obtive êxito, que passos consegui dar até conseguir o desejado?
– Nas coisas que não consegui mudar em mim, a que devo atribuir o insucesso? Teria sido à desproporção entre o nível de meus limites e a complexidade do objetivo perseguidos?
– Recorrendo à voz de minha consciência e do meu discernimento, que pontos de minha agenda resultaram aquém do que estava ao meu alcance?
– O que terá pesado mais para o insucesso nesses ponto?
– E dos êxitos alcançados fazem parte os pontos de agenda que considero prioritários ou não?
– Observando e escutando relatos de experiências de outras pessoas, próximas ou menos próximas, é possível fazer algum tipo de analogia, em relação a eventuais pontos comuns e atitudes e posturas distintas?
– E examinando, também, figuras históricas de referência, bem como relatos de pessoas anônimas que marcaram pela força de seu testemunho, o que há de comum e de singular?
– O que em mim é possível assumir como aspectos urgentes de mudança, que sinto estarem ao meu alcance?
– Por onde parece melhor começar? Dando que primeiros passos, nessa direção?
São algumas das perguntas que me faço, com o propósito de ir ensaiando passos concretos,ao meu alcance. Quem sabe, ousando ensaiá-los, eu não consiga algo desejável?
João Pessoa, 20 de dezembro de 2016

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

NOTAS EM TORNO DA RELAÇÃO RESULTADO-PROCESSO: implicações ético-políticas das experiências do/no dia-a-dia


Alder Júlio Ferreira Calado

Ainda que por caminhos tortuosos – carregamos, com efeito, um tremendo déficit hisórico-cultural, também neste quesito –, a sociedade brasileira dá sinais de cansaço contra a avassaladora onda de corrupção e copiosos e graves deslizes ético-políticos, em especial no campo da ética pública, sabendo-se, porém, que tal déficit se estende para muito além desta esfera, estando enraizada, de modo capilarizado, em distintas esferas do cotidiano. Um dos fatores aí presentes se acha organicamente vinculado à relação mal resolvida entre resultado e processo, que tomamos como alvo principal destes apontamentos.

Na complexa e extensa mallha de fios do dia-a-dia, é que ficam impressas, indelevelmente, as marcas mais vivas (positivas ou negativas) do nosso processo de humanização. É, com efeito, no chão das relações do cotidiano, que provamos a boa ou a má qualidade de nossas ações, posturas e projetos, nas mais diversas esferas de nossa vida pessoal e coletiva. Uma dessas marcas diz respeito ao modo como lidamos com a relação entre processo e resultado, nas relações subjetivas, nas relações interpessoais, nas relações familiares, nas relações comunitárias, nas relações societais. Neste último caso, aliás, as grandes votações em curso no Congresso (PEC 55, Reforma da Previdência,  “Reforma do Ensino Médio”... são eloquentes...

O objetivo dessas linhas é o de trazer à tona exemplos ilustrativos dessas práticas cotidianas, com o propósito de ajudar a fortalecer nosso processo de humanização, desde as relações do cotidiano. Nesse sentido, aqui cuidamos de problematizar a relação processo-resultado. De que relação estamos mesmo a tratar? Busquemos examinar isto, mais de perto, a seguir.

As relações capitalistas – como as, ou bem mais  do que  outras  sociedades de classes - se mostram marcadas, desde suas entranhas,  pela obsessão de lucro e vantagens auferidos, a ferro e fogo, por pequenas minorias privilegiadas, não importando, ou pouco importando, os meios de consegui-los. “Vencer ou vencer!” – eis o núcleo de sua ética de resultados. A propósito da avidez de lucro, a recente tragédia aérea, ocorrida em Medellín, comporta, em alguma medida, uma motivação similar: a fixação doentia na obtenção de vantagens (obsessão de resultado) não deixa de ter sido um componente tenebroso.

Embora tal estratégia de ação tenha mais diretamente a ver com o modo capitalista de existir, covém não esquecermos que, também do lado de cá, tal ética constitui mais do que um risco iminente: uma prática mais frequente do que se imagina... E, não raro, isto se dá com uma agravante: quando isto se dá, do lado de cá, é frequnte o apelo ao discurso autojustificativo, de modo que nós mesmos e “os nossos” nos tornamos quase imunes a tais práticas... Nâo é bem assim! Seres humanos inconclusos, capitalistas e não-capitalistas, estamos sujeitos aos mesmos vícios e mazelas. O que nos diferencia, de um lado e de outro, é o esforço perseverante na autovigilância e são as circunstâncias concretas, ou mais precisamente, a qualidade de nossa formação de como fomos exercitados a lidar com todo tipo de circunstâncias. A seguir, trataremos de exemplificar isto, de forma didática, trazendo à tona alguns exemplos ilustrativos, desde o chão do cotidiano. Para tanto, selecionamos, por critérios didáticos, várias situações permeadas por diferentes esferas da realidade humana.

No universo das invenções ou descobertas ciêntificas
Desde tenra idade, aprendemos a admirar as maravilhas que são as invenções e descobertas cientifíco-tecnológicas. Nessas ocasiões, quase sempre vem a lume apenas o anúncio dessas invenções e descobertas, exaltando-se, a justo título, seus respectivos autores. Temos, então, a impressão de que tudo aconteceu, de repente, por um feliz acaso, ou por um momento de apenas rara genialidade. Em outras palavras, tudo fica parecendo apenas em seu epcentro, isto é, em seu resultado. Poucos são aqueles e aquelas que se dão ao trabalho de examinarem, mais detidamente, as circunstâncias e os detalhes de cada uma dessas invenções. Só aí, damo-nos conta de que o resultado de cada uma delas esconde mais do que revela. Esconde o quê? Esconde o fato de que, em cada uma delas, para se chegar àquele resultado, seus respectivos inventores tiveram que enfrentar uma sucessão de erros, de falhas ou de malogradas experiências, sem as quais simplesmente não teriam obtido o resultado conhecido. Muito devem aos desacertos, aos tropeços, aos fracassos frequentemente silenciados. O silênciamento do PROCESSO constitui um grave equivoco, à medida que ele é, em  parte considerável, o grande responsável pelo êxito das experiências realizadas, ou seja, pela consecução do resultado.
Ainda neste tópico, convém remeter, de passagem, a outro equivoco frequente, resultante da ambição de gloria indevida. Referimo-nos a uma ampla lista de invenções e descobertas ciêntíficas protagonizadas, às vezes há milênios, por inventores precedentes, integrantes de outros povos, de cujo autoria se apropriaram várias protagonistas da modernidade ocidental. Fato que é amplamente documentado por Eduardo Galeano, em seu livro intitulado “Memória do Fogo” (da Editora “L&MP”, 2005), além de outros autores. Eis mais um exemplo ilustrativo, a alertar quanto aos riscos ético-politicos de não se entender o resultado como culminância do processo. É, com efeito, na recuperação dos fios do processo, ou de sua tecelagem, que vamos descobrir os fios da criatividade que permitiram chegar ao resultado de descobertas e invenções, bem como de outras situações caracteristicas da existência.

No campo dos estudos ou da Educação formal

Também nessas lides, da Educação Infantil à Pós-Graduação, não são menos frequentes os casos de dissonância entre resultado de processo. Um deles incide largamente nos períodos de avaliação escolar. Raríssimos são aqueles e aquelas que se dão ao trabalho de acompanhamento assíduo dos estudos dos seus filhos. E quando acompanham, são em geral as mães. Em outras palavras, pouco ou nada lhes importa o processo de aprendizagem vivenciado pelos seus filhos e filhas. A exemplo da grande maioria, tornam-se reféns da astúcia “de Marketing” cujo interesse único é o de fixar-se no resultado não no processo. É assim que, em vez de acompanharem toda evolução escolar de seus filhos, os pais se contentam apenas conferir o boletim de notas dos filhos. Se estes apresentam notas acima da média, a avaliação se dá como satisfatória, não importando os modos como os alunos tenham conseguido tal resultado – Se por esforço próprio, se for cola se por facilidades dos professores, e etc., etc., Não precisamos de muito eforço para entrever as graves consequenências de tal procedimento, seja  quanto à qualidade dessa apedendizagem, seja quanto ao futuro profissisional desses estudantes, bem como das numerosas vítimas de nossa sociedade, seja quanto ao seu processor de humaniação, nas diferentes esferas de convivência. Aqui, pensamos no senido superdimensionado atribuído aos “cursinhos” (cuja finalidade, salvo exceções, se fixa, não no processo, mas no resultado...

Como se percebe, estamos,  ilustrando apenas a ponta do “iceberg”, inclusive no âmbito do sistema formal de educação. Sobre este, aliás, estamos justamente a enfrentar uma proposta governamental de reforma, de modo bastante atabalhoado, na medida em que se pretende colocar goela abaixo da sociedade alterações de envergadura, no Ensino Médio, sem a devida consulta e sem discussão mais ampla, nem mesmo naqueles setores mais diretamente envolvidos na pretensa reforma. Aí também se mostra a incidencia da mesma lógica procedimental, superestimando-se resultados e desprezando-se o processo.
Inscidência frequente da mesma discrepância se dá no Ensino Superior e na Pós-Graduação. Aqui, a fogueira da vaidade se expressa de modos incontáveis. Um deles ocorre, já no processo de admissão. Nem sempreos processos seletivos se dão de modo ético. Não raro, resultados são proclamados, discrepando dos respectivos resultados, ainda que estes obedeçam ao figurino jurídico, de modo aparecem indiscutíveis. Analisados, com tudo, seus respectivos processos, não são raras lacunas de caráter ético. Oura situação ilustrativa se da nos pouco transparentes críterios de seleção de trabalhos ciêntificos, de formação d ebancas examinadoras, de participação em congressos ciêntificos, etc., etc. Em muitos desses casos, os resultados costumam destoar dos respectivos processos.
Casos semelhantes constituem a regra geral, nos diveros ambientes da Educação formal, abrangendo diferentes momentos de seus espaços – Desde a concepção, passando pelo planejamento, pela execução, pela metodológia até à avaliação. Salvo honrosas exeções, a lógica predominante tem sido a da ampla prevalência do monopolio, do resultado sobre o processo. E, como de hábito, tendo como motivação principal a obtenção de vantagens pessoais ou de pequenos grupos, à custa de prejuízos para amplas parcelas da comunidade escolar.
No ambito político partidário-
Hesitamos em incluir exemplos ou situações deste âmbito, tal a evidência contudente de sucessivos escândalos recentes e menos recentes. Em todo caso, seguem alguns exemplos. A discrepancia enre resultado e processo vem estampada nos processos eleitorais. Aqui, a despeito da verborragia da observância de normas legais, o foco resta quase esclusivamene voltado para o resultado, quase nunca para o processo. O que importa é vencer as eleições, aind que recorrendo-se aos mais vis mecanismos de trapaça e engodo. Aqui, vale tudo: Conchavos de toda ordem com amigos e inimigos; compra dissimulada de votos; ausência de critérios na definição de alianças, mas caramento de programas, ainda que prometendo o inalcançavel, produção de factóides visando desmoralziar os adversários... Definitivamente, resultado e processo se apresentam claramente em ruptura. Vale ganhar, vale o resultado. 

No âmbito das Igrejas Cristãs...

O espaço do Sagrado não apenas vem imune a esses deslizes ético-políticos, como protagoniza, por vezes, cenas emblemáticas de contratestemunho. Quantas falcatruas cometidas “em nome de Deus”! A despeito da força mística do que contém, para o mundo cristão, a Oração do Pai Nosso, na qual se pede “Seja feita a Vossa vontade”, incontáveis vezes, o que se faz, objetivamente, é insistir-se para que se faça a vontade de quem ora... Aí se faz presente, mais uma vez, a dissociação entre resultado e processo.

Enfim...

Exemplos e situações similares poderíamos multiplicar, à saciedade, e nas mais distintos campos da realidade. Que os acima mencionados nos bastem, para suscitarem em nós a necessidade e urgência de reavaliarmos as consequências pernósticas dessa relação mal resolvida, partindo do esforço em examinarmos que condições nos têm levado a tal experiência. Um exercício autoavaliativo ou de autocrítica nos recomenda tal enfrenamento, a partir do nosso processo formativo contínuo, na perspectiva do nosso próprio processo de humanização. Em vão seria a mera constatação, se não acompanhada do nosso compromisso pelssoal e coletivo de trazermos tais dissonâncias entre resultado e processo, para o chão do nosso dia-a-dia.  Que tal assumirmos este compromisso?


João Pessoa, 13 de dezembro de 2016

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

INTERNATIONAL MOVEMENT WE ARE CHURCH(IMWAC) KAIRÓS/ NÓS TAMBÉM SOMOS IGREJA (Brazilian Section of IMWAC) ABOUT US AND OUR ACTIVITIES FOR A CHANGING WORLD (CHURCH AND SOCIETY) SOBRE NÓS E NOSSAS ATIVIDADES EM UM MUNDO (IGREJA E SOCIEDADE) EM MUDANÇA QUEM SOMOS ABOUT US

INTERNATIONAL MOVEMENT WE ARE CHURCH(IMWAC)
KAIRÓS/ NÓS TAMBÉM SOMOS IGREJA (Brazilian Section of IMWAC)

ABOUT US AND OUR ACTIVITIES FOR A CHANGING WORLD (CHURCH AND SOCIETY)
SOBRE NÓS E NOSSAS ATIVIDADES EM UM MUNDO (IGREJA E SOCIEDADE) EM MUDANÇA

QUEM SOMOS
ABOUT US

            Kairós-Nós Também Somos Igreja, secção brasileira do IMWAC, constitui um bem diversificado Grupo de cristãos e cristãs,principalmente do Nordeste do Brasil, que se quer de caráter formativo, informativo, celebrativo e atuante. Com perspectiva ecumênica, há reuniões semanais e atividades regulares desenvolvidas por seus componentes, junto a diferentes movimentos e pastorais sociais, comunidades eclesiais e outras organizações de base de nossa sociedade.
            O Grupo foi iniciado em 1998, em torno de reuniões mensais na casa do teólogo Pe. José Comblin, a quem o grupo tem como principal referência em seu processo formativo sócio-eclesial. Devido ao interesse aí suscitado, e tendo em vista crescentes desafios atuais, o grupo decidiu, há vários anos, encontrar-se semanalmente, tendo como propósitos:
·        discernir, debater e ajudar a enfrentar os velhos e novos desafios, seja no âmbito macro-social, seja ao interno dos caminhos e descaminhos da Igreja Católica e de outras Igrejas Cristãs;
·        fortalecer e tornar mais afetivos e efetivos nossos laços organizativos, numa dimensão comunitária;
·        estudar e refletir sobre livros do teólogo José Comblin, em especial os dedicados à compreensão da missão do Espírito Santo no mundo, na perspectiva da Teologia da Libertação, da qual ele é uma das primeiras referências;
·        debater textos de outros teólogos e teólogas, tais como Hans Küng, Carlos Mesters, Ivone Gebara, Jon Sobrino, Leonardo Boff, Eduardo Hoornaert, Jean-Yves Leloup, Hugo Echegaray, etc.;
·        intercambiar e refletir sobre relatos de nossas experiências de cidadãos e de cristãos junto às pessoas e às comunidades de distintos espaços de que participamos;
·        fazer memória dos acontecimentos, numa perspectiva de mútua ajuda;
·        fazer intercâmbio com pessoas e grupos de outros lugares, regiões e países, notadamente com os grupos de cristãs e cristãos empenhados na luta por mudanças libertárias na sociedade e nas igrejas;
·        organizar periodicamente seminários, colóquios, fóruns de diálogo com outros sujeitos históricos.

SOBRE NOSSAS ATIVIDADES EM BUSCA DE UMA SOCIEDADE E DE UMA IGREJA EM MUDANÇA

I. O que entendemos por uma Igreja em mudança?

            Como filhos e filhas de Abraão, e sobretudo como discípulos e discípulas de Jesus, aprendemos que o Povo de Deus sempre foi e segue sendo um povo de caminheiros, de migrantes, de gente sempre a caminho, peregrinos em busca de um continuo processo de conversão: conversão da morte em vida, das trevas para a luz, da escravidão para a liberdade. Daí soar-nos familiar o que aprendemos da tradição: “Ecclesia semper reformanda”. Não apenas a comunidade eclesial, mas cada uma, cada um de nós é chamado a uma contínua e profunda renovação, não uma reforma superficial.
            Resta a saber: mudar, em que sentido, em que direção? Não se trata de mera adaptação aos valores hegemônicos de nossa época, de modo a tornar-nos agradáveis aos tempos de hoje. Não seria isto, por certo, ser homens e mulheres do nosso tempo! Trata-se, sim, de um incessante esforço de mudança, na perspectiva do Evangelho, no espírito do seguimento de Jesus, cujo apelo implica efetiva solidariedade e compromisso com a causa de libertação dos pobres, marginalizados e esquecidos, de uma clara opção por um estilo sóbrio de vida, fora dos altos padrões de consumo, e de modo a testemunhar amorosidade em relação à natureza, aos humanos e a toda a comunidade de viventes, em especial os mais desprezados: as crianças, as mulheres, os jovens, os povos indígenas, os povos afrodescendentes, os camponeses...
            A Igreja em mudança pela qual nos comprometemos, é a que se põe a serviço da causa libertadora dos pobres e pela dignidade da Mãe-Natureza. Isto requer profundas mudanças do atual paradigma eclesiológico, seja do ponto de vista de suas estruturas, seja sob a ótica de sua organização e de gestão, seja no que se refere ao estilo de vida de seus membros.
Não faz sentido, por exemplo, do ponto de vista evangélico, mantermos o atual modelo piramidal de Igreja, que mais se parece com uma estrutura imperial condenada por Jesus, em Mc 10, 42-45: “Entre vós, não será assim”. Precisamos inspirar-nos na forma de organização das primeiras comunidades cristãs, de feição horizontal, fraterna, solidária, protagonizada pelo povo dos pobres, atuando na liberdade e na autonomia das pequenas comunidades, orgânica e fraternalmente ligadas, por meio de periódicas assembléias, numa dimensão de serviço e não de poder de um sobre os demais.
Na tradição evangélica, em que buscamos inspirar-nos, não faz igualmente sentido uma Igreja organizada à feição de um Estado autoritário, com seus eficientes aparelhos de controle e repressão, hostis ao espírito de colegialidade. Queremos uma Igreja Povo de Deus, conforme o espírito do Concílio Vaticano II, uma Igreja formada por irmãos e irmãs portadores da liberdade do Espírito e dotados da mesma condição de igualdade para todos, para todas, conferida pelo Batismo e pelo discipulado de Jesus, que tendo vindo “para servir, não para ser servido”, também nos propõe, a nós membros de sua Igreja, a fazer o mesmo.

II O que vimos fazendo

            Temos desenvolvido uma agenda bastante diversificada, conforme, aliás, o não menos diversificado perfil do nosso Grupo, do qual fazem parte homens e mulheres, católicos em sua maioria, mas também pessoas de outras igrejas cristãs.
Nosso grupo é ecumênico e eclético. Dele fazem parte pessoas nascidas no Brasil e fora do Brasil; é formado por pessoas de diferentes etnias, gênero e faixas de idade, de distintos níveis de escolaridade e integrantes de diferentes movimentos e pastorais sociais e outras organizações de nossa sociedade.
            A partir desse perfil, podemos distribuir em três itens as atividades que temos desenvolvido: 1) as atividades rotineiras e de caráter intragrupal; 2) iniciativas de diálogo com outros grupos eclesiais e de outras igrejas; 3) atividades junto a movimentos sociais, a pastorais sociais e a outras organizações de base de nossa sociedade.

1) Atividades internas do nosso Grupo – Aqui assinalamos as principais atividades que realizamos em nossos encontros semanais, já há vários anos:
·        informações compartilhadas de intervenções dos membros do Grupo em diferentes atividades junto a movimentos sociais e organizações de base;
·        reflexão sistemática e compartilhada de obras de teólogos e teólogas da Libertação;
·        partilha de situações de vida por parte dos componentes do Grupo;
·        frequentes debates sobre elementos da conjuntura sócio-eclesial (internacional, nacional e local);
·        confraternização e celebrações especiais em algumas datas emblemáticas.

2) Iniciativas de diálogo com outros grupos – Além de nossas atividades rotineiras, também promovemos ocasiões de debate e de diálogo com outros grupos sócio-eclesiais, tais como:
·        seminários de Teologia;
·        sessões de memória de figuras emblemáticas (Dom Oscar Romero; Dom Helder Câmara; Pe. José Comblin);
·        encontros de intercâmbio com outros grupos eclesiais (grupos de Ação Católica, Pastoral de Juventude do Meio Popular, Movimento dos Trabalhadores Cristãos, entre outros).

3) Atividades em diferentes movimentos sociais, pastorais sociais e organizações de base – Parte expressiva do Grupo mantém atividades regulares junto a diferentes sujeitos sociais, tais como:
·        Movimentos Sociais (Movimento das Comunidades Populares – MCP, inclusive com participação em seu Jornal das Comunidades Populares; Assembléia Popular, Sindicato dos Trabalhadores em Extensão Rural, Movimento dos Trabalhadores Cristãos – MTC);
·        Pastorais Sociais e movimentos eclesiais (Comissão de Pastoral da Terra, Pastoral da Juventude do Meio Popular, Pastoral Operária, entre outras).
·        Organizações de base (Associação Brasileira de Terapia Comunitária – ABRATECOM, Grupo de Assistência de Familiares e Amigos de Alcoólicos – ALANON, Cooperativismo inspirado na economia solidária, grupo de pesquisa sobre a América Latina contemporânea), educação popular.

III O que propomos aos demais participantes desse Encontro

            Dentre as principais inquietações e propostas aos demais membros do IMWAC, destacamos:
·        articular mais expressamente, e de maneira regular, nossas análises críticas concernentes à Igreja, de forma historicamente contextualizada, de modo a refletir também as injunções históricas e macro-sociais;
·        exercitar, com incessante autovigilância, o espírito de colegialidade, ampliando a participação de mais pessoas do IMWAC, nos processos decisórios;
·        priorizar nosso olhar analítico (seja em relação à Igreja ou à sociedade) a partir dos excluídos de nossas sociedades (as mulheres, os pobres, os negros, os migrantes, os trabalhadores rurais e urbanos, etc.);
·        ampliar, de modo mais efetivo, nossa ação, investindo mais e melhor no intercâmbio com irmãos e irmãs de outros continentes;
·        priorizar as relações concretas e horizontais, para bem além dos contatos virtuais;
·        atualizar as contribuições da Teologia da Libertação, e suas aplicações no empoderamento de pessoas e comunidades, ecofeminismo, ecologia, relações inter-étnicas, etc.
·        prevenir toda forma de violência pública ou privada, de várias maneiras, dentre elas: a criação de vínculos comunitários e o fortalecimento da auto-estima.
·        defesa irrestrita dos Direitos Humanos.
·         valorizar o diálogo inter-religioso e a prática de uma espiritualidade integrativa e includente, sem fronteiras ideológicas, institucionais ou doutrinárias.
·         valorizar a afetividade e a sexualidade, como dons de Deus, e como formas de felicidade e de comunhão;
·         tornar mais efetivo o uso das línguas (Espanhol e Francês) no IMWAC, incluindo o Português;
·         ampliar o direito de voto para além dos representantes oficiais, ou seja, a todos os membros do IMWAC participantes nas assembléias decisórias;




Outubro de 2012

Kairós-Nós Também Somos Igreja (KNTSI)
João Pessoa, Paraíba, Brasil





INTERNATIONAL MOVEMENT WE ARE CHURCH (IMWAC)
KAIRÓS/NÓS TAMBÉM SOMOS IGREJA - BRASIL

A PROPOS DE NOUS ET NOS ACTIVITÉS CONCERNANT LECHANGEMENT DU MONDE (DANS L´ÉGLISE ET DANS LA SOCIÉTÉ)

Qui sommes-nous?

Kairós/Nós Também Somos Igreja, section Brésilienne d´IMWAC, se compose d´un Groupe assez diversifié de chrétiens et chrétiennes, notamment du Nord-Est du Brésil, engagé en différents buts, au caractère formatif, informatif, célébratif et d´action. Dans une perspective oecuménique, il y a des réunions hebdomadaires, avec un petit rapport  des activités ordinaires menées par ses membres, auprès de différents mouvements sociaux, pastorales sociales, communautés ecclésiales de base, ainsi que d´autres organisations de base de notre société. . 

Le Groupe a surgi, em 1998, à partir des renconcontres mensuelles tenues chez Pe. José Comblin, estimé par le Groupe comme as principale référence, au cours de son processus de formation socio-ecclésiale. Grâce à l´intérêt suscite par telle ambience, et compte tenu de successifs défis actuels, le Groupe a décidé de se reunir chaque sémaine, ayant pour buts:
- de discernir, de réfléchir ensemble et de nous aider à faire face aux défis anciens et nouvaux, soit sur le plan macro-social, soit à l´intérieur de l´Église catholique et d´autres églises chrétiennes, dans leurs cheminements et dans leurs malfaits;
- de rendre plus forts, plus affectueux et plus effectifs nos liens organisatifs, dans une dimension communautaire;
- d´étudier et de réfléchir sur les livres du théologien José Comblin, notamment deux qui sont consacrés à la compréhension de la mission de l´Esprit Saint Dans le monde, Dans la perspective de la Théologie de la libération dont il est une des premières références;
- d´intéragir et de réfléchir sur le partage de nos expériences de citoyens et de chrétiens, vécues auprês des gens et des communautés, dans de différents milieux auxquels on participe;
- faire mémoires des evénéments, dans une perspective d´aide mutuelle;
- d´entamer des liens avec d´autres personnes et groupes d´autres localités, régions et pays, notamment avec les groupes de chrétiens engagés dans les lutes pour de changements libertaires dans les sociétés et dans les églises;
- d´organiser, de temps à autre, des séminaires, des colloques, des fóruns de dialogue avec d´autres sujets historiques.

A PROPOS DE NOS ACTIVITÉS À LA RECHERCHE D´UNE SOCIÉTÉ ET D´UNE ÉGLISE EM MUTATION

I. Quelle est notre compréhension d´une église en mutation?

            En tant que fils et filles d´Abraham, et surtout en tant que disciples de Jésus, on apprend que le Peuple de Dieu a toujours été – et il continue d´être – un peuple de pelerins, de migrants, un peuple toujour en route, à la recherche d´un incessant processus de conversión: conversión de la mort vers la vie, des tenèbres vers la lumiêre, de l´esclavage vers la liberté. Voilà pourquoi il ne nous semble étrange ce que l´on apprend de la tradition: “Ecclesia semper reformanda.” Non seulement la communauté ecclésiale, mais chacun, chacune de nous est appelé(e). sans cesse, à un profond renouvellement, non pas à une réforme superficielle.

            Il reste, quand-même, à savoir: il faut certes changer, mais dans quelle perspective? Il ne s´agit pas d´une adaptation aux valeurs hégémoniques de notre époque, de façon à ce qu´il nous rende agréables au temps contemporain. Cela ne nous ferait pas certainement devenir des hommes et des femmes de ce temps! Il s´agit, plutôt, d´un effort sans cesse de changer, dans la perspective de l´Évangile, dans l´esprit du discipulat de Jésus dont l´appel implique une effective solidarité et engagement dans la cause de libération des pauvres, des marginalisés, des laissés pour compte, et pour un choix vers un mode de vivre plutôt modeste, loin des .actuelles références de consommation, ainsi que de façon à ce qu´on puisse témoigner d´une relation d´amour envers la planète, avec les humains et envers toute la communauté des vivants, spécialement envers les plus susceptibles de violence: les enfants, femmes, les jeunes, les peuples traditionnels (les Indiens, les Afrodescendents, les communautés Quilombolas, les gens de la forêt, les pêcheurs...), les paysans…

            L´Église en mutation dans laquelle on s´engage, c´est celle qui se met au service de la cause libertaire des pauvres et de la dignité de Mère-Nature. Cela demande de profonds changements de l´actuel paradigme ecclésiologique, et du point de vue de ses structures, et de sa perspective d´organisation et de gestion, ainsi que Dans ce qui concerne le mode de vivre de ses membres.

            Il n´est point soutenable, par exemple, du point de vue de l´Évangile, le maintien du modèle piramidal d´Église, semblable plutôt à une structure impériale critiquée par Jésus (cf. Mc 10, 42-45): “Il n´en sera pas de même au milieu de vous.” Il nous faut chercher d´inspiration dans la forme d´organisation des communautés chrétiennes primitives, dans leur façon horizontale, fraternelle, solidaire, protagonisées par le people des pauvres, oeuvrant dans la liberté et l´autonomie des petites communautés, organiquement liées les unes aux autres, fraternellement, grâce à de périodiques assemblées, dans une perspective de service, plutôt que de pouvoir des unes sur les autres.

            Dans la tradition évangélique dans laquelle on cherche à nous inspirer, il ne semble soutenable, non plus, une Église organisée à la façon d´un État, avec ses appareils efficaces de contrôle et de repression, hostiles à l´esprit de collégialité. Nous voulons une Église Peuple de Dieu, conformemente à l´esprit du Concile Vatican II, une Église forme par frêres et soeurs porteurs de la liberté de l´Esprit et munis de la même condition d´égalité parmi Tous, parmi toutes, conférée par le Baptême et par le discipulat de Jésus, qui, étant venu “pour servir, non pas pour être servi”, nous propose aussi à nous, membres de Son Église, à faire de même.

II. Qu´est-ce que l´on est en train de faire?

            Les membres de notre Groupe font face à une agenda fort diversifiée, conformément à leur profil diversifié, composé par des hommes, des femmes catholiques, pour la plupart, mais aussi par des frères et soeurs d´autres églises chrétiennes.
            Notre Groupe se présente, en effet, oecuménique et ecclétique, auquel participent des personnes nées au Brésil et ailleurs, des personnes de différentes ethnies, gendre, âges, scolarité, participant à divers mouvements sociaux et organisations de base de notre société.
            Compte tenu de tel profil, on peut classer dans trois groupes les activités centrales que nous tâchons de mettre em oeuvre: 1) les activités de routine et au caractere intragroupal; 2) des initiatives de dialogue avec d´autres groupes ecclésiales catholiques et d´autres églises; 3) des activités accomplies auprès de mouvements sociaux, pastorales sociales et d´autres organisations de base de notre société.

1) Des activités tenues à l´intérieur du Groupe – Là il s´agit de mettre en relief nos principales activités hebdomadaires, depuis quelques années: 

·  des informations partagées sur la participation des membres du Groupe à différentes activités auprès de mouvements sociaux et d´autres organisations;
·  des réflexions systématiques sur textes divers de la Théologie de la Liberation;
·  socialisation fraternelle de situations de vie par différents membres du Groupe;
·  de fréquents débats sur des éléments du contexte socio-ecclésial (International, nacional et local).
·  des célébrations et confraternisations périodiques, aussi à l´occasion de fêtes populaires.

2) Des iniciatives de dialogue avec d´autres groupes – Outre nos activités de routine, notre Groupe organise des rencontres de dialogue et de débat avec d´autres groupes sócio-ecclésiaux, tels que:
·  des séminaires de théologie;
·  des sessions de mémoire de personnalités emblématiques (Dom Helder Câmara, Dom Oscar Romero, Pe. José Comblin...);
·  des rencontres intéractives avec d´autres groupes ecclésiales (groupes d´Action catholique, Pastorale de la jeunesse du milieu populaire, Mouvement des travailleurs chrétiens, parmi d´autres).

3) Qu´est-ce qu´on propose aux autres participants du Council 50 Meeting?

            D´entre les principales propositions que nous avons à présenter aux participants à cette Rencontre d´IMWAC, il faut souligner les suivantes:

·  articuler, expressément et de façon régulière, nos analyses critiques concernant l´Église, de façon contextualisée, tout en refléchissant aussi les injonctions historiques et macro-sociales;
·  exercer, de façon incessante, l´autovigilance, l´esprit de collégialité, tout en rendant plus extensive, la participation d´un nombre plus grand de participants d´IMWAC au processus de prise de décisions;
·  rendre prioritaire notre regard analytique (soit par rapport à l´Église, soit par rapport à la société), à partir des exclus de nos sociétés (les femmes, les pauvres, les noirs, les immigrants, les travailleurs ruraux et urbains, etc.);
·  rendre plus large, de façon effective, notre action, tout en investissant davange et mieux dans l´intéraction avec des frères et des soeurs d´autres continents;
·  mettre en relief les rapports concrets et horizontaux, bien au-delà des contacts virtuels;
·  rendre actuel l´apport de la Théologie de la Libération, ainsi que sa mise en pratique, en tant qu´une voie permettant aux personnes et aux communautés de devenir protagonistes de nouveaux rapports: soit dans l´ecofémisme, soit dans l´écologie, ainsi que dans les rapports inter-ethniques, etc.;
·  prévenir toute forme de violence, publique ou privée, tout em faisant recours à de différentes inicitives permettant la création de liens communautaires et l´auto-estime;
·  la plus vaste défense des droits de l´homme;
·  mettre en relief le dialogque inter-religieux et la pratique d´une spiritualité intégrative, d´inclusion, sans frontières idéologiques, institutionnelles ou ou doctrinales;
·  rendre davantage expressif l´usage d´autres langues (l´Espagnol et le Français) dans le courrier électronique parmi les membres d´IMWAC, le Portugais y compris;
·  rendre extensif le droit de vote à l´ensemble des participants des assemblées de décision d´IMWAC.

Octobre 2012

Kairós/Nós Também Somos Igreja (KNTSI)

João Pessoa, Paraíba, Brasil



INTERNATIONAL MOVEMENT WE ARE CHURCH(IMWAC)
KAIRÓS/NÓS TAMBÉM SOMOS IGREJA - BRASIL

A PROPOS DE NOUS ET DE NOS ACTIVITÉS CONCERNANT LE CHANGEMENT DU MONDE (DANS L´ÉGLISE ET DANS LA SOCIÉTÉ)

Qui sommes-nous?

Kairós/Nós Também Somos Igreja, section Brésilienne d´IMWAC, se compose d´un Groupe assez diversifié de chrétiens et de chrétiennes, notamment du Nord-Est du Brésil, engagé en différents buts, au caractère formatif, informatif, célébratif et d´action. Dans une perspective oecuménique, il y a des réunions hebdomadaires, avec un petit rapport  des activités ordinaires menées par ses membres, auprès de différents mouvements sociaux, pastorales sociales, communautés ecclésiales de base, ainsi que d´autres organisations de base de notre société. .

Le Groupe a surgi, em 1998, à partir des renconcontres mensuelles tenues chez Pe. José Comblin, estimé par le Groupe comme sa principale référence, au cours de son processus de formation socio-ecclésiale. Grâce à l´intérêt suscité par telle ambience, et compte tenu de successifs défis actuels, le Groupe a décidé de se réunir chaque sémaine, ayant pour buts:
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