terça-feira, 23 de janeiro de 2018

FRANCISCO EM DIÁLOGO INTERCULTURAL, EM DEFESA DA AMAZÔNIA, DA VIDA E DOS POVOS ORIGINÁRIOS, POR OCASIÃO DE SUA VISITA AO PERU



FRANCISCO EM DIÁLOGO INTERCULTURAL,  EM DEFESA DA AMAZÔNIA, DA VIDA E DOS POVOS ORIGINÁRIOS, POR OCASIÃO DE SUA VISITA AO PERU

Alder Júlio Ferreira Calado

Uma feliz coincidência, para a Igreja na Base: no mesmo mês em que as CEBs celebram, em Londrina – PR, de 23 a 27 deste mês, seu XIV INTERECLESIAL, com o lema: ”Eu vi a opressão do meu povo, no Egito, e desci para libertá-lo” (cf. Ex 3, 7-8), extraído do Livro do Êxodo, eis que neste mesmo mês, o Bispo de Roma retorna à América Latina, para mais uma de suas fecundas viagens missionárias, no caso, ao Chile e ao Peru, onde encerrou no Chile, sua visita apostólica, no dia 18 próximo passado. Veio como peregrino da esperança e da paz, como pastor e profeta, disposto a encorajar esses povos a enfrentarem  realidades traumáticas, gigantescos desafios.

Em meio a velhos e novos desafios históricos, chega Francisco, Bispo de Roma, ao Peru, para dar prosseguimento à sua visita apostólica ao Peru, vindo do Chile, onde, a par de momentos felizes, também teve que experimentar vozes de protesto contra a posição de parte da hierarquia chilena, envolvida em deploráveis escândalos de pedofilia. Situação, diante da qual a posição do Papa foi interpretada como de inquietante dubiedade, quando dele esperava uma posição profética explícita, em solidariedade às vítimas e em crítica aberta aos malfeitos da alta hierarquia... (ver texto de Eduardo Hoornaet http://eduardohoornaert.blogspot.com.br/2018/01/viva-o-chile-iconoclasta.html) Ninguém escapa, completamente imune, a condicionamentos humanos. Numa avaliação global, porém, não se há de negar um saldo altamente positivo, quanto à sua posição pastoral e profética.

Depara-se, como no Chile, com sérios desafios enfrentados, não apenas pelos povos originários, mas também por todos os povos tradicionais de toda a Amazônia, alvo crescente da gula das transnacionais ( com o beneplácito ou a cumplicidade dos Estados da região ), a ameaçarem, sem cessar, a biodiversidade, os territórios e a vida dos povos da região, inclusive suas respectivas culturas. As transnacionais, que operam nos mais diversos ramos da economia, aí comparecem em sua sanha devastadora, concentradas, sobretudo, na exploração das riquezas do subsolo, sempre à custa de territórios devastados, de envenenamento das fontes de água, do subsolo e do solo, devastando as plantações locais, provocando gravíssimos transtornos na vida econômica, política e cultural dos mais diferentes povos da região.
Do ponto de vista econômico, atuam qual Midas dos tempos modernos, em tudo só enxergando ouro e riqueza, a serem explorados à exaustão.
A este respeito vale a pena ouvir/ escutar atentamente os vários depoimentos pronunciados, diante do Papa Francisco, por diversos representantes dos povos originários daquela região, cf.o” link” abaixo:

Como podemos perceber pelos relatos, são profundos e graves os estragos acarretados por grandes empresas de mineração e pela sanha do hidro-agronegócio, bem como as terríveis consequências econômicas, políticas e culturais provocadas pela imposição capitalista/neocolonialista de políticas econômicas necrófilas, ameaçadoras da vida do Planeta, das Gentes da região e de toda a comunidade dos viventes.

Do ponto de vista político, os povos originários se sentem destituídos de protagonismo organizativo, por lhes serem tolhidos os direitos de decidir sobre o que produzir, para que(m) e como produzir, já que os invasores agem estritamente de acordo com a lógica do Mercado capitalista, com a cumplicidade do Estado. As mesmas gentes originárias se vêem roubadas em seus projetos, do que decorrem vários males sociais, inclusive a migração forçada de grande parte de suas populações, fato a implicar grave ameaça à sua identidade.

Isto se dá, mais diretamente, no plano dos valores, em que suas culturas são ignoradas, desprezadas, descartadas, tornando-as gentes proibidas de ser...

Consola-nos, em meio a relatos tão dramáticos, a resposta oferecida pelo Papa Francisco: de denúncia profética, de defesa dos direitos dos ofendidos da Terra. Em sua fala, de cerca de 25 minutos, Francisco sabe bem ressoar os clamores daquelas gentes e daquela terra. Mais do que com meras palavras, empenha-se diretamente na solidariedade efetiva com a causa daquelas gentes. Refere-se a toda a Amazônia, tomando a atípica decisão de ali realizar a primeira reunião preparatória do Sínodo dos Bispos sobre a Amazônia, a realizar-se em 2019. Importa salientar, com todas as letras, a atipicidade da medida, tomada por um papa. Que papa tomaria a iniciativa de convocar um Sínodo sobre a Amazônia? Definitivamente, não é à-toa quando se diz que o Papa Francisco é um sinal de contradição, em nosso tempo.


No segundo dia de sua visita apostólica ao Peru, o Papa Francisco fez questão de visitar Trujillo, uma área profundamente afetada pelo fenômeno climático conhecido como “El Niño”, com vastas parcelas de sua população atingidas pelo fenômeno, população de pescadores, fato de que se valeu, ao comentar o chamado de Jesus a alguns de seus apóstolos, que também eram pescadores. Trata de expressar-lhes sua profunda solidariedade, chamando a atenção para a importância do compromisso comunitário como fator decisivo no enfrentamento também de situações dramáticas.

A passagem do Evangelho comentada referia-se ao episódio das 10 moças convidadas a uma festa de núpcias. Cinco delas tiveram a preocupação de preparar-se bem para festa, enquanto as outras 5 negligenciaram seu dever, na hora de se porem a caminho da festa as moças descuidadas perceberam não haverem óleo suficiente para suas lâmpadas, e foram socorrer-se das que se haviam preparado. Estas lhes respondem que não poderiam dividir seu óleo, sobre pena de ser insuficiente para caminharem, na longa noite. Servindo-se desta passagem, o Papa Francisco se refere à necessidade da vigilância e do cuidado, como condição necessária para o enfrentamento dos desafios da vida, inclusive daquelas populações.

 Francisco encerra sua visita apostólica às gentes peruanas, com a celebração de uma Missa, em Lima, cuja homilia, inspirada no tema das leituras do dia (a da profecia de Jonas e a do Evangelho de Marcos), convida a uma ação cidadã de solidariedade, de protagonismo, de enfrentamento corajoso dos desafios. Diferentemente da primeira atitude de Jonas, frente ao chamado de Deus (de fuga, de omissão), somos chamados a responder, com solicitude, à nossa vocação, inclusive ante desafios assombrosos, como os lançados ao profeta Jonas pela cidade de Nínive. Somos chamado a inspirar-nos na atitude de Jesus que, ao caminhar pelas estradas da galileia, acompanhado por seus discípulos e discípulas, a todos chama a fazer parte do Seu Reino, que ele anuncia e inaugura, sempre incentivando a enfrentar com coragem e esperança, os desafios de ontem e de hoje.  



Importa conferir a homilia completa, acessando-se o seguinte link:


 João Pessoa, 23 de Janeiro de 2018.


sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

FRANCISCO, SINAL DE CONTRADIÇÃO: para as multidões famintas de pão e justiça, peregrino da paz e da esperança; para os “grandes” deste mundo, pedra de tropeço...

FRANCISCO, SINAL DE CONTRADIÇÃO: para as multidões famintas de pão e justiça, peregrino da paz e da esperança; para os “grandes” deste mundo, pedra de tropeço...
 
Álder Júlio Ferreira Calado

Mais uma vez – já com mais de vinte viagens apostólicas pelo mundo, em menos de cinco anos -, se acha o Bispo de Roma em visita missionária à América Latina, desta vez, aos povos do Chile e do Peru. Seria apenas mais uma visita de interesse institucional de um Papa, não fosse o atípico desempenho que o atual Bispo de Roma vem imprimindo no exercício do ministério petrino. De fato, Francisco vem surpreendendo – positivamente, para tantos, e negativamente para outros - , não apenas o mundo católico ou de outras Igrejas cristãs, mas  cidadãos e cidadãs do mundo inteiro, pelos seus gestos, pelos seus pronunciamentos e pelos seus escritos. A principal surpresa prende-se ao fato de tratar-se de um papa, mais do que comprometido com meros interesses de sua Instituição, vem mostrando-se uma liderança mundial, de novo tipo, à medida que, fortemente  inspirado nos valores do Evangelho e na Tradição de Jesus, vem desconcertando frequentemente muita gente, que dele esperava um desempenho em defesa estritamente dos interesses eclesiásticos e do Mercado e seus representantes , enquanto se revela comprometido, antes de tudo, com o reino de Deus e Sua justiça, comprometido, portanto, sobretudo em defender e promover a vida do Planeta e da humanidade em todas as suas manifestações. Isto contraria frontalmente interesses hegemônicos, tanto dentro quanto fora da Igreja Católica. Sua postura profética incomoda os “grandes” deste mundo – Cúria Romana e seus aliados, transnacionais, grandes empresas, agentes estatais, Executivo, Parlamento, em breve a lógica do Capital.

No empenho em acompanhar o Papa Francisco, em sua visita missionária aos povos do Chile e do Peru, cuido de lhes propor ouvir algumas de suas homilias. Ao mesmo tempo, ouso compartilhar algumas linhas, ressoando certos traços iniciais que recolho desta visita.

Com relação às homilias, trata-se de pronunciamentos densos, feitos por alguém cujo compromisso vai muito além do plano institucional. Têm, antes, a ver com seu compromisso de cidadão do Reino de Deus, visceralmente preocupado com a vida do Planeta e dos povos, com a humanidade. Pronunciamentos de um líder internacional, justamente num contexto de extrema escassez ou quase completa ausência de figuras assim.
Trata-se de intervenções de um pastor impregnado do cheiro do rebanho, até no que toca o uso do tempo: em dez minutos, é capaz de resumir sua mensagem. Homilias temperadas de postura poética, a exemplo da que dirigiu aos povos originários do Chile, em Temuco.

 Abaixo, seguem os "links" de acesso a essas homilias:

1. Em Santiago:

 Em sua primeira Missa, na sua visita ao Chile, o Papa Francisco fez uma homilia, que, entre outros aspectos, chama a atenção, para a sintonia e coerência com seu objetivo, expresso desde a saudação dirigida aos povos chileno e peruano, dias antes de sua viagem: ele vem como um  peregrino da paz, empenhado em confirmar seus irmãos na esperança e no empenho pela justiça, porém por meio de sua incessante busca de alcançar o coração das pessoas, delas aproximar-se, olhá-las nos olhos, ver seus rostos. Sugiro escutar a homilia (menos de 10 minutos!, começando pelo minuto 8:47, aproximadamente do vídeo, acessado pelo "link" :

Inspirado na leitura das bem-aventuranças, sem deixar de considerar o conjunto das bem-aventuranças – os pobres, os mansos, os aflitos, os que choram, os que perdoam, os de coração simples, os perseguidos, etc. -, concentra-se na bem-aventurança dos construtores da paz. A partir daí, segue questionando o que é mesmo estar a construir um mundo de paz, e, ao contrário, o que significa também o perigo de falar-se em paz, com belos discursos e promessas, e, NA PRÁTICA,  pouco ou nada se fazer, quando não se faz justamente o contrário do prometido...



2. Homilia na Missa celebrada em Temuco

Terra emblemática na história chilena dos povos originários, em especial o Povo Mapuche, Francisco apresenta-se comovido, a olhos vistos (“Ele parece triste”, comentou-se). Era a expressão viva de quem sofre e se indigna, solidário, impactado pela memória histórica e presente, carregada de opressão e exploração, na carne daquelas gentes, tratadas como as suas gentes. Não é por acaso que faz questão de recorrer ao idioma indígena para expressar sua saudação inicial de solidariedade, de unidade, de esperança. Ancorado, como de hábito, na leitura do Evangelho do dia, extraída do capítulo 17 de João, versando sobre a unidade, cuida de interpretá-la, de modo contextualizado, isto é, a partir da realidade concreta que cerca as gentes desta terra. Trata de distinguir, já de início, unidade de uniformidade. O Evangelho de João chama à unidade, desde o reconhecimento da diversidade, das diferenças culturais e de outra ordem. Clama por unidade que tece os distintos fios existenciais, numa perspectiva de mútuo enriquecimento pessoal e coletivo. Clama por uma unidade que não se confunda com identificação ou assimilação imposta de uma cultura alheia. Clama por uma unidade que não  signifique a imposição por uma cultura pretensamente “superior”, de valores outros que não correspondem aos das gentes, em sua autonomia. Uma unidade que se constrói pelo diálogo entre diferentes. Uma unidade que conduza à paz, fruto da justiça. Uma unidade que não se constrói pelos descaminhos da violência entre as partes.

Recomendo ver/ouvir a homilia completa (cerca de dez minutos), acessando-se o “link”:
  

3. Homilia em Iquique

O mote da homilia, que recomendo ver/ouvir por meio do “link”:
https://www.youtube.com/watch?v=OceEKVJGCc8

 vem, outra vez, do Evangelho de João, desta feita, circunscrito ao primeiro dos sinais – o da transformação de água em vinho, na festa de casamento, em Caná - realizados por Jesus. Francisco, como de hábito, parte da situação concreta dos habitantes da região. Situada na região  norte do Chile, Iquique se apresenta como área de forte imigração de gente – inclusive de membros de povos originários – vinda de vários países limitados com este país. As palavras iniciais de saudação, dirigidas pelo Papa, chamam a atenção pela sensibilidade relativa a esta situação, daí sua saudação calorosa remetendo à condição de acolhimento reinante na região, aos vários grupos de migrantes. Esta condição desafiante não lhes tira o clima de festa e de alegria que buscam experimentar e compartilhar. Aí ele já está a introduzir o tema axial da homilia, desde as intuições inspiradoras da passagem do Evangelho de João: a festa, a alegria, a solidariedade coletiva a pessoas envolvidas em situação desafiadora: no caso, a falta de vinho, numa festa de casamento...
Uma das dez palavras-chave do seu universo vocabular a alegria é retomada, em toda a sua ênfase. Como sói externar – e a encarna de modo convincente -, a alegria constitui uma das marcas mais autênticas dos discípulos e discípulas de Jesus. E a festa é um dos espaços propícios para experimentá-la e compartilhá-la. Clima tão característico daquelas gentes que o ouviam, atentas e solidárias, manifestando-o, inclusive, com fortes aplausos. O relato do milagre das bodas de Caná despontava, como uma luva, como uma ocasião extraordinária para a celebração da alegria, da solidariedade, da partilha. A despeito dos dissabores e das dificuldades do dia-a-dia – ou justamente em busca de superá-los -, é que faz sentido celebrar a festa, celebrar a alegria de que o vinho é expressão emblemática.
Também em meio à festa, podem surgir dificuldades, como a falta de vinho, numa casa de pobres. Têm lugar gestos de solidariedade, como o testemunhado por Maria, mãe de Jesus, que, solidária e confiante, recorre à ajuda do filho. E, de solidariedade em solidariedade, inclusive dos que atendem ao pedido de Maria – “Façam tudo o que Ele lhes pedir” -, e sobretudo, com a ação protagônica de Jesus, acontece o “ milagre “: o vinho volta à cena.
O recado do Papa, ainda que diretamente dirigido àquelas gentes atentas de Iquique, também se dirige ao conjunto dos que se dispõem a participar do Movimento de Jesus: devemos ser sempre portadores da alegria do Evangelho, para além das dificuldades sobrevindas. Na experiência missionária do Papa Francisco, em Santiago, em Temuco e em Iquique, eis o que, em resumo, pudemos recolher, doravante atentos ao que se passará entre o Papa Francisco e as gentes do Peru, em especial, os povos originários.

Olinda, 19 de janeiro de 2018




segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

DE QUE DESAFIOS VEM CERCADA A VIAGEM DO PAPA FRANCISCO AO CHILE E AO PERU?

DE QUE DESAFIOS VEM CERCADA A VIAGEM DO PAPA FRANCISCO AO CHILE E AO PERU?

Alder Júlio Ferreira Calado

Hoje, 15/01/2018, tem início nova peregrinação apostólica do Papa Francisco à América Latina, desta vez, ao Chile (de 15 a 18) e ao Peru (18 a 21). Em menos de cinco anos, desde que assumiu suas funções, o Papa Francisco já fez mais de vinte viagens apostólicas, a países e povos situados nos cinco continentes. Para alguém com 81 anos, isto dá prova da marca missionária do seu ministério, posto a serviço da humanidade, mais do que a serviço de interesses de preservação institucional. O Bispo de Roma, mais do que pregar, vive o que ele chama "uma Igreja em saída missionária". Isto não é pouco, quando examinamos o perfil comum de seus antecessores. Eis por que se trata de alguém apreciado ainda mais pelo mundo secular (não-católicos, não-cristãos, não-crentes...) do que ao interno da própria Igreja Católica. Ainda ontem, recebi um comentário de uma senhora espanhola, residente na França, a expressar sua admiração pelo Papa Francisco (após fazer a leitura de uma homilia sua, que lhe fiz chegar, por "mail". Disse ela: "Si los cristianos supieran escuchar a este papa, el mundo sería otra cosa."  Fez-me remeter a um outro argentino, de Rosário...

Fenômeno raro, estamos, com efeito, diante de um quadro completamente atípico, quando se trata de referências contemporâneas de lideranças mundiais que inspiram o compromisso pela construção de um novo mundo possível e necessário. Ainda ontem, também, numa emissão transmitida pelo canal Rai UNO da Itália no programa intitulado “Cristandade”, um dos entrevistados, um jornalista italiano destilava sua ira contra o compromisso do Papa Francisco de defender os migrantes, os refugiados e os requerentes de asilo, tendo promovido tendo celebrado a missa de ontem na intenção no dia mundial dos migrantes e dos refugiados. O tal jornalista interpretava, irado, o compromisso evangélico do Bispo de Roma como uma mera “retórica caritativa”, ainda que sem citar diretamente o Bispo de Roma. Isto da uma ideia da complexidade do exercício da missão profética, no mundo atual.

Que desafios encontrará Francisco, nestes países-irmãos? Como os haverá de enfrentar? Que tipo de CIdadania inspira o Bispo de Roma, em suas práticas, prédicas e escritos? Quem parece mais disposto a escutá-lo: os "de fora" ou os de dentro dos espaços religiosos? Eis algumas questões sobre as quais rapidamente gostaria de repercutir, nas linhas que seguem.

Dilemas candentes, no Chile e no Peru, em parte, extensivos à América Latina e ao Brasil...

Ao buscar informações sobre os desafios que o Papa Francisco há de enfrentar, nos países a visitar, encontrei também esse debate, disponibilizado no "link":


Observamos a incidência de dilemas comuns aos dois povos a serem visitados, como também outros de caráter mais específico. No caso do Chile, por exemplo, desponta como um tema bastante delicado o relativo aos escândalos (recentes e menos recentes) de pedofiia, a implicar um número considerável de clérigos. Fato que, para além da gravidade local, extrapola, como se sabe,as fronteiras do Chile, do Peru e da América Latina... Tema grave e, ao mesmo tempo delicado, a ser enfrentado por um papa, a não ser de forma genérica. De repente, podemos ser surpreendidos. A este respeito, os Leigos e Leigas do Chile se têm manifestado, com ênfase, em especial sobre o escandaloso caso de Osorno, envolvendo o respectivo bispo diocesano, que se estima haja gozado de muita complacência por parte das autoridades eclesiásticas. (http://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,chile-bispo-e-ordenado-em-meio-a-protestos-sobre-escandalo-sexual,1655314)

Um desafio de grande porte - e comum, não apenas ao Chile e ao Peru,mas à América Latina e ao mundo - tem a ver com os profundos estragos provocados pelas grandes empresas de mineração, tanto aos povos originários, aos povos tradicionais, das águas, das florestas, das montanhas, aos camponeses, como também às condições ambientais. Este desafio, ao que se espera, será, direta ou indiretamente, enfrentado pelo Papa Francisco. Talvez sobre tema sejam ainda maiores as chances de invectivas do Bispo de Roma, do que ao drama das graves formas de violências cometidas contra as mulheres, sobre tudo no Peru.

As próprias condições precárias de vida dos povos originários, seja no Chile, seja no Peru, também não devem ser descartadas dos pronunciamentos do Papa Francisco.

E o que nos leva a apostar nisto? Primeiro, seu desempenho em semelhantes viagens apostólicas, em outros países. Também, em alguns de seus escritos, em especial em sua Encíclica "Laudato sì". Não podemos, ainda, esquecer-nos de sua saudação aos chilenos e peruanos (cf. http://larepublica.pe/sociedad/1168555-papa-francisco-envia-mensaje-a-peruanos-y-hace-mencion-a-relacion-con-chilenos-video), alguns dias antes de sua vinda. Vem como peregrino da paz, semeador da esperança. Vem com o compromisso de fazer suas as dores, as esperanças e as buscas desses povos por uma sociedade justa, na qual floresçam frutos de justiça.

João Pessoa, 15 de janeiro de 2018