terça-feira, 27 de setembro de 2022

XII SEMANA TEOLÓGICA Pe. JOSÉ COMBLIN: SESSÃO DE ENCERRAMENTO

 XII SEMANA TEOLÓGICA Pe. JOSÉ COMBLIN: SESSÃO DE ENCERRAMENTO


Alder Júlio Ferreira Calado


Após meses de encontros vivenciais da XII Semana Teológica Pe. José Comblin (XII STPJC), eis que teve lugar, anteontem, 25/09/2022, no Mosteiro de São Bento, em João Pessoa, a Sessão de Encerramento desta frutuosa experiência, acerca do que foi seu tema central: “Os pobres e o Pe. José Comblin nos ensinam a caminhar, no caminho de Jesus”, tema já refletido, durante as Jornadas Comunitárias, por meio de temas conexos.


Tendo em vista o tema geral desta XII STPJC, durante as Jornadas Comunitárias, já se havia deliberado sobre o convite ao Diácono Antônio Sebastião, da Arquidiocese de Olinda e Recife, para compartilhar a bela experiência popular e eclesial que anima: a tenda do Encontro, experiência surgida há mais de dois anos, e especial cuidado prestado ao povo da rua, especialmente durante a pandemia da Covid-19. Esta iniciativa, com efeito, tem muito a ver com a caminhada dos pobres e do Pe. José Comblin, que nos ensinam a caminhar com Jesus.


Às 8 horas da manhã começaram a chegar os primeiros participantes, acolhidos por João, em trabalho na portaria, naquele dia. Muita alegria se sentiu também com a chegada dos Diáconos Antônio Sebastião e Genival, vindos de Recife, para contribuírem nesta sessão de encerramento. 


Com a presença e participação de algumas dezenas de pessoas, representantes de Pastorais Sociais, de grupos e movimentos (CPT, CECAE, Centro de Formação JOsé Comblin, Kairós, coletivo feminista, representantes das comunidades de Café do Vento, Religiosos, alguns presbíteros, além dos organizadores e organizadoras da XII STPJC.


Pe. Hermínio Canova que coordenou os trabalhos, expressou as boas-vindas, ao tempo em que convidou os/as participantes a uma Oração inicial, seguindo passos do Ofício Divino das Comunidades. Jéssica e Pe. Hermínio tomaram a iniciativa da abertura deste momento, acompanhados pelos presentes, e com a contribuição do Diácono Genival, ao violão, foram executados cânticos da caminhada, a começar do “nossa alegria é saber que um dia”... Em seguida, foi proclamado o Evangelho do dia (Lc 16: 19-31) por Jéssica, o que foi seguido por algumas reflexões.


Coube ainda, ao Pe. Hermínio informar a programação da Sessão de Encerramento: após a oração, um relato e reflexão feitos por Elinaide  sobre as quatro Jornadas Comunitárias vivenciadas, como parte integrante da XII STPJC, em seguida, caberia a Elenilson Delmiro compartilhar traços significativos do legado do Pe. José Comblin. Em virtude de problema de saúde na família, Elenilson não pôde comparecer, tarefa que foi cumprida em parceria pelo Pe. Hermínio e por Alder Júlio. A partir das 10 horas, teve lugar a exposição feita pelo convidado Diácono Antônio Sebastião, relatando a frutuosa experiência da tenda do encontro, com moradores de rua de Recife. Após a exposição e debate do tema, a Sessão foi encerrada com um fraterno almoço oferecido aos participantes.

A seguir, tratamos de detalhar os principais passos vivenciados, durante esta Sessão.

Encerrada a oração, Pe. Hermínio Canova lembrou o histórico das Semanas Teológicas Pe. José Comblin, ora em sua XII edição, iniciativa de grupos de amigos e amigas de Comblin, em memória de seu legado. Recordou diversos temas trabalhados, ao longo dos 11 anos desde a páscoa de Comblin.

Por sua vez, Elinaide rememorou os trabalhos vivenciados, ao longo do ano, em Café do Vento (Sobrado - PB), enfatizando tratar-se de uma semana que se prolonga por vários meses. Conto-nos, também, que sua trajetória de participação em diversas experiências eclesiais, seja como membro de um grupo de teólogas feministas, seja como participante de coletivos, seja acompanhando a organização das mais recentes edições da STPJC. Fez questão de, ao rememorar a figura de Pe Comblin, evocar uma das pessoas que ele sempre teve como referência: a Irmã Agostinha Vieira de Melo, religiosa beneditina inserida no meio popular, grande biblista e cultivadora de experiências litúrgicas renovadoras. Irmã Agostinha, como poucos, mostrou conhecer profundamente a figura missionária do Pe. Comblin, havendo por bem encerrar sua participação, lendo um belíssimo poema da Irmã Agostinha, intitulado “Apressador de urgências”, texto que pode ser acessado no link da Teologia Nordeste.

O momento seguinte foi dedicado à lembrança de traços significativos de Pe Comblin:

  • Como um teólogo internacionalmente conhecido e admirado pelos seus cerca de 70 livros publicados mais de 400 artigos divulgados por relevantes revistas de Teologia Nacionais e internacionais;

  • Viveu como missionário itinerante, sempre no meio dos pobres, dos quais abraçou, defendeu e promoveu sua causa libertadora;

  • Como missionário itinerante, dedicou sua vida aos pobres, oprimidos e marginalizados de toda a América Latina;

  • Um de seus traços mais relevantes é o de Educador Popular que, sempre como fiel discípulo do Evangelho, empenhou-se em organizar e formar o povo dos pobres, por meio de múltiplas experiências educativas das quais uma dezena só no Nordeste brasileiro, desde a Teologia da Enxada, em 1969;

  • Sua fidelidade à causa libertadora dos pobres sempre com extraordinária liberdade profética, o tornou um verdadeiro revolucionário latino-americano tendo percorrido quase todos os países da América do Sul , grande parte da América Central e toda a América do Norte.


A TENDA DO ENCONTRO


A principal participação temática da XII STPJC coube ao convidado, o diácono Antônio Sebastião, que tratou de relatar sua experiência a um povo de rua, no centro da cidade de Recife. A experiência com os moradores de rua foi iniciada há cerca de 2 anos  e meio, em tempos de pandemia. Recém ordenado diácono permanente, Antônio Sebastião sentiu-se particularmente chamado a trabalhar junto com o povo dos pobres, desde um sinal que recebeu, logo após sua ordenação diaconal. Ao distribuir para os pobres a farta que havia sobrado da sua festa de ordenação diaconal, ele tratou de distribuir essa água em frente ao convento de São Francisco. A partir de então, percebeu a importância de corresponder à sua vocação diaconal, não tanto em paróquias, mas diretamente junto com o povo dos pobres, nas ruas, onde se concentram vítimas da dependência de drogas, pessoas que abandonaram ou foram expulsas de suas casas, pessoas que experimentam dramas psicológicos particulares, além de outras pessoas que, por distintos motivos, entendem optar por morar na rua, a exemplo de algumas pessoas portadoras de diploma universitário.

Em seguida, recorrendo a fartos registros fotográficos, o diácono tratou de relatar este trabalho, especialmente no bairro de Recife de Santo Amaro, mais precisamente, na ponte de Limoeiro, onde se encontra uma quantidade considerável de moradores de rua. Em conversa com os mesmos, ele trata de expressar seu desejo de instalar naquela localidade (na ponte) uma tenda, com o objetivo de assegurar condições mais favoráveis de acolhimento daquelas pessoas, além de melhor escutá-las, de convidá-las também para a oração, bem como de oferecer-lhes quentinhas, água e outras ofertas que o diácono Antônio Sebastião passava a receber de algumas entidades, que se tornaram parceiras fiéis desta experiência da tenda de encontro.

Entre as parcerias, das quais aquela experiência passava a receber quentinhas, merendas, água, além de contribuições para instalação de um ambiente mais propício ao trabalho, destacam-se pessoas generosas, o movimento dos profissionais cristãos (NPC), o próprio MST, que ofereceu, tantas vezes, comidas trazidas dos assentamentos. A partir desta parceria e destas ofertas, a tenda do encontro passa a ter uma presença de serviços fraternos, de modo mais constante, principalmente às sextas-feiras, quando é maior o número das pessoas de rua que se encontram sob a tenda do encontro para uma dinâmica preparada com a animação do diácono e de outras pessoas que vêm reforçar a coordenação desta experiência.

Com relação à dinâmica, o diácono expôs um roteiro, pelo qual os moradores de rua são convidados a tomarem assento debaixo da tenda, e feito um fraterno acolhimento por parte dele, este os convida para alguns informes de interesse daquela comunidade, e para uma oração conjunta, feita respeitosamente em relação a pessoas de outras denominações e mesmo pessoas sem confissão de fé determinada. Várias pessoas são chamadas a darem seu testemunho e como passaram a viver na rua, quais as razões, como enfrentam os desafios do dia a dia, como se organizam para se defenderem dos riscos que a rua também oferece. Ao final do encontro, trata-se de partilhar quentinhas oferecidas pelas entidades parceiras, bem como água para os presentes.

Outro ponto relevante da fala do diácono diz respeito à reflexão teológica que esta experiência lhe tem proporcionado. Trazendo-nos uma série de indicações bíblicas vetero e neo testamentárias, o diácono Antônio Sebastião vai compartilhando com as pessoas presentes a fonte de onde bebe para a sua atuação diaconal. As citações bíblicas, principalmente as retiradas do Evangelho, mostram o essencial que a Boa Nova inspira a todos aqueles e aquelas que decidem entrar para o seguimento de Jesus: o amor ao próximo, principalmente aos pobres, o exercício da solidariedade com os necessitados, tal como bem inspira a parábola do bom samaritano, o serviço gratuito, a compaixão com os que sofrem, o exercício do diálogo, a rede de parcerias entre aqueles que se sentem comprometidos com a solidariedade aos sofridos.

Ao final de sua reflexão, o diácono convidou os participante da sessão de encerramento a compartilharem também seu sentimento àquela experiência. Vários comentários foram compartilhados, inclusive da parte de quem se sentia também chamada a(era uma religiosa franciscana) a entrar naquela experiência, no âmbito de João Pessoa e da região metropolitana. Acerca deste seu propósito, vários comentários dela foram feitos, no sentido de melhor entender e melhor se preparar para uma experiência, aqui nesta região. Outros também ousaram fazer sugestões: a de ampliar o alcance da tenda do encontro, no sentido de se fazer uma coordenação ecumênica, para além da iniciativa católica, de modo a acolher participantes outros, e até de ateus. Neste sentido, foram lembradas figuras missionárias e proféticas, a exemplo do Padre Alfredinho, da Irmã Dorothy, da Irmã Agostinha e de outros de quem e em quem se pode inspirar, nesta direção, de um serviço ecumênico, no atendimento e no exercício da solidariedade unto ao povo dos pobres.

Também o diácono que acompanhava o diácono Antônio Sebastião tratou de oferecer alguns cânticos da caminhada, acompanhando-os ao seu violão.

Ao final da sessão de encerramento, Pe Hermínio voltou a trazer alguns informes, a partir do site Teologia Nordeste, no qual se acham publicados artigos e outros materiais de interesse missionário e de reflexão teológica acerca das experiências feitas no Nordeste, feitas com inspiração em missionários tais como Padre Ibiapina, DOm Helder e Padre Comblin. Ao mesmo tempo, cuidou de informar o compromisso da editora Paulus de publicar a terceira versão completa do livro póstumo, escrito pelo Pe COmblin, intitulado o Espírito Santo e a tradição de Jesus, bem como a publicação do livro, de autoria de Eduardo Hoornaert, Alder Calado e Adauto Guedes, intitulado José Comblin, um guia de leitura, que já foi editado em versão eletrônica, pela editora da Universidade estadual da Paraíba, a qual também se comprometeu a publicar o mesmo livro em versão impressa nos próximos meses. Ainda informou aos presentes da organização da 3a Romaria da Terra, em homenagem ao centenário do padre José Comblin, a completar-se no próximo dia 23 de março de 2023. Romaria que vai acontecer, no Santuário de Santa Fé, onde, ao lado do túmulo do Padre Ibiapina, também se encontra plantado o profeta missionário José Comblin, que fez sua páscoa definitiva em 27 de março de 2011. Pe Hermínio tratou de convidar a todos os presentes a participarem da Romaria, no município de Solânea - PB.

O encontro foi encerrado com uma oração e um cântico, bem como um convite aos presentes para um almoço fraterno.


João Pessoa, 27 de setembro de 2023.


quinta-feira, 22 de setembro de 2022

EXPRESSÃO MICROSCÓPICA DAS INTERVENÇÕES IMPERIALISTAS, NO MUNDO: a invasão de Granada pelos Estados Unidos em 1983

 EXPRESSÃO MICROSCÓPICA DAS INTERVENÇÕES IMPERIALISTAS, NO MUNDO: a invasão de Granada pelos Estados Unidos em 1983


Alder Júlio Ferreira Calado

Gabriel Luar


Passados os dias de uma cobertura midiática excessiva do funeral da Rainha Elizabeth II - expressão de uma demência coletiva dos nossos tempos (importa evocar o alerta paulino, de que “quem está de pé, cuide para não cair”. o processo de humanização não está garantido: há sempre a tensão “homo sapiens/homo demens”) -, eis que nos encontramos, no Brasil, a 10 dias do primeiro turno das eleições presidenciais. Ante as ameaças de continuidade da barbárie, observa-se uma crescente tendência de se decidir este pleito de já no 1º turno. Com efeito, tem sido sem precedentes um cenário de devastação socioambiental, econômica, política, sanitária, educacional, de maus tratos aos povos originários, às comunidades quilombolas e tradicionais, às mulheres, à população LGBTQIA+, sem mencionar o retrocesso cultural, em relação às artes, ao negacionismo, a cultura da mentira erigida em prática diária, o extremo reacionarismo do fundamentalismo religioso, a gritante inversão de valores/ tudo a reclamar um enfrentamento da barbárie, a curto, médio e longo prazos.


Ocupa-nos o interesse em rememorar as sangrentas intervenções feitas pelo Imperialismo contra dezenas de povos, nos diversos continentes. No entanto, aqui tratamos especificamente de rememorar mais um ato de barbárie praticado pelo Imperialismo, desta vez em Granada em 1983.


“Ainda é fecundo o ventre de onde surgiu a besta imunda”, dizia Bertolt Brecht referindo-se ao alcance deletério do nazismo, do qual não se deve separar do capitalismo nem do imperialismo. Com efeito, como descreve Mauro Iasi (cf. https://www.youtube.com/watch?v=xlx2_UhObaw), desde finais do século XIX ao presente, estimam-se em cerca de 240 as intervenções dos Estados Unidos pelo mundo afora. Nem nos lembramos se nesta gigantesca lista está ou não incluída a invasão a Granada, uma minúscula ilha do Caribe, de menos de 400km² e com uma população atual estimada em 110 mil habitantes… Como se percebe, trata-se de um fragmento das devastadoras ações intervencionistas do governo dos Estados Unidos, tantas vezes em associação com o Império Britânico, como é o caso aqui destacada.


Por que, diante de tão importantes e numerosos países espalhados por todo o mundo, o Império Estadunidense haveria de se preocupar com a ilhota perdida no Caribe? Comecemos por fornecer alguns dados histórico-geográficos de Granada. Granada situa-se na região do Caribe, em meio a diversas outras ilhas, das quais se destacam República Dominicana/ Haiti, Cuba, Barbados, Trinidad e Tobago, além de uma série de minúsculas ilhas, inclusive ao redor de Granada.


Muito antes do impropriamente chamado “Descobrimento”, em 1492, tratava-se de uma região habitada por povos nativos, que foram dizimados pelos “descobridores” europeus, com objetivo de tomar-lhes a terra e roubar-lhes as riquezas (recomendamos, a este respeito, a (re)leitura de textos como os de Eduardo Galeano (“As veias abertas da America Latina” por ex) e Enrique Dussel (por ex, “ 1492: O encobrimento do outro”). No caso de Granada, a invasão se deu inicialmente pelos franceses, seguidos dos ingleses. Mesmo após a “independência” de diversos países latino-americanos, entre 1808 e 1830, Granada continuou sendo mantida sob o controle direto ou indireto do Reino Unido da Grã Bretanha. Mesmo assim, graças à resistência de sua gente, seja por meio de greves, seja por meio de sublevações, Granada seguiu buscando sua libertação. Importa sublinhar que esta região do Caribe, a exemplo de outras em nosso continente, é marcada profundamente pelo escravismo colonial. Neste sentido, convém ressaltar a energia revolucionária de seus libertadores, marcada pela mística negra.  


Após uma longa ditadura instalada desde os inícios dos anos 50, estendendo-se por mais de vinte anos, graças à ação militante e educativa de um grupo de jovens revolucionários, no qual se destacava a liderança de Maurice Bishop (1944 - 1983), os granadinos conseguem superar o governo ditatorial e inaugurar um novo período. 


Gigantesco desafio! De fato, três séculos de escravismo foram acumulados, implicando profundas cicatrizes naquela terra e naquela gente, não só de Granada, mas de todo o Caribe e de toda a América Latina. A tal estrutura escravocrata tem-se associado à ação imperialista, sob a forma de múltiplas manifestações econômicas, políticas, culturais… enfrentar esse desafio foi o que se propôs aquela insurreição vitoriosa de 1979. Fato que se dá em meio a um complexo cenário de conflitos, no Caribe e na América Central, onde povos como o da Nicarágua e o de El Salvador também experimentavam situações profundamente desafiadoras, diante da brutalidade imperialista do governo Reagan, a perseguir e buscar abortar processo revolucionários incipientes.


É assim que os revolucionários granadinos, animados por um grupo de jovens talentosos e em parceria com Cuba e com forças revolucionárias da África, da Ásia e da Europa, em um contexto de aliança terceiro mundista, passam a lançar as primeiras sementes de um novo tempo. Com efeito, em um cenário de escandaloso analfabetismo legado pelo imperialismo durante séculos, o governo revolucionário prioriza o enfrentamento do analfabetismo, em parceria com Cuba, tendo logrado em pouco tempo alfabetizar alguns milhares de granadinos. Ao mesmo tempo, no campo da saúde pública, mais uma vez em parceria com Cuba, traça e implementa o frutuoso programa de saúde coletiva. Na área da infraestrutura, inicia-se a construção de importante aeroporto, visando a uma conexão mais efetiva de granada com os povos da região, ao tempo em que o governo tratava de enfrentar a praga do desemprego, cuja taxa alcançava mais de 40%, tendo conseguido, em poucos anos, reduzi-la para cerca de 12%. Para tanto, cuidou de abrir diversas frentes de trabalho, na área de transporte, estradas, agro-indústria de pescado, agricultura e outros setores.


No plano das relações internacionais, foram dados passos relevantes, seja no âmbito diplomático, seja no âmbito da cooperação internacionalista. Diversos governos foram contactados por granada e, corresponderam à altura dos seus desafios, principalmente no tocante aos governos de esquerda da América Latina, da Europa, da então URSS e outros. 


Passados quatro anos e meio do processo revolucionário, o Imperialismo não cessava de semear a Cizânia, de vários formas: 

  • Empreendeu uma campanha midiática infernal contra o governo de Governo de Maurice Bishop

  • Espalhou prepostos para enlamear, localmente, os dirigentes do processo revolucionário, tendo conseguido cooptar uma parcela do próprio grupo dirigente;

  • Financiou grupos locais de ferrenha oposição ao Governo de Granada…


Pretextando ameaças para a região que a Revolução Granadina representaria para outros países da região, supostamente ameaçando a “democracia”, eis que a CIA, a mando do governo Reagan, acaba preparando a invasão de granada, com poderosos armamentos e grupos de elite, de modo a prender e assassinar Maurice Bishop, e a ministra de educação de Granada, Angela Bishop (esposa de Maurice) e outros dirigentes, ocasionando sangrentos confrontos, deixando centenas de assassinatos.   

 

 No próximo ano, a tragédia de Granada completa 40 anos. É mais uma oportunidade de exercitar-nos a memória histórica dos oprimidos, renovando nossos compromissos com os deserdados da Terra. Também em 2023, será uma ocasião para rememorarmos os 50 anos de um documento profético, intitulado “Eu ouvi os clamores do meu povo”, assinado por onze bispos do nordeste e oito superiores religiosos da região. Que a memória histórica siga sendo alimentadora de nossa mística revolucionária. 


João Pessoa, 22 de de setembro de 2022.


quarta-feira, 14 de setembro de 2022

RIQUEZA E PRIVILÉGIOS DA REALEZA OFENDEM A DIGNIDADE DOS DESERDADOS DA TERRA: o caso da família real britânica

 RIQUEZA E PRIVILÉGIOS DA REALEZA OFENDEM A DIGNIDADE DOS DESERDADOS DA TERRA: o caso da família real britânica.


Alder Júlio Ferreira Calado



Há menos de uma semana, aos 96 anos, faleceu a Rainha Elizabeth II, do reino britânico, cujo poderio influi ou alcança uma quinzena de países espalhados pelos diversos continentes (Escócia, Irlanda do Norte, País de Gales, Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Jamaica, Barbados, Belize, Granada, entre outros). Antes mesmo do seu falecimento, a mídia corporativa já prenunciava para breve o seu desfecho, após o qual vem se intensificando, de forma frenética, a cobertura, em notícias, reportagens e comentários que ocupam horas, durante dias e dias…


Ao longo dessa frenética cobertura, promove-se intensa comoção de multidões, a prantearam a passagem da rainha, ao tempo em que se tende a idolatrá-la, bem como a família e a própria instituição da Realeza, vigente não apenas no reino britânico como em vários outros países da Europa.


Em pleno século XXI, depois de mais de dois séculos da Revolução Francesa que extinguiu a monarquia, e após séculos de registros históricos dos crimes e malfeitos dos monarcas, eis que esta instituição não apenas sobrevive, mas empolga multidões pelo mundo afora, a começar pela Europa. Nestas breves linhas, perguntamo-nos sobre o que explica este fenômeno, a quem interessa, que fatores o têm mantido…


Sabemos que o processo de humanização não se faz de modo retilíneo, comporta idas e vindas, altos e baixos, inclusive recusa, dando assim lugar ao seu inverso, o processo de desumanização. Neste sentido, ao lado de tocantes avanços e conquistas civilizacionais, também constatamos espantosos retrocessos, a exemplo de taras assustadoras a impregnarem nosso tecido social, como o obscurantismo, o negacionismo, a idolatria ao deus Mamon. No caso do comportamento idolátrico em torno da família real britânica, a partir do falecimento da rainha Elizabeth, produz-se um cenário profundamente esquizofrênico: de um lado, canalizam-se as energias para o culto à personalidade, e à família real, super exaltando-se seus privilégios como se fossem deuses na terra; por outro lado não se consegue fazer qualquer ligação com as profundas contradições entre suas riquezas e privilégios acumulados, e, do outro lado, o cenário de crise (inflação galopante, crise energética, penúria de parcela da população, especialmente as massas de imigrantes).


Como explicar o endeusamento da Realeza pela “midiocracia” (Enrique Dussel) a hipnotizar multidões de fanáticos, enquanto se omitem numerosos privilégios e riquezas acumuladas pela família real? Com efeito, sua fortuna é estimada em vinte bilhões de dólares, dos quais parte significativa detida apenas pela rainha, resultantes do acúmulo de palácios, castelos (alguns dos quais comportando algumas dezenas de milhares de hectares), avião luxuoso, automóveis de ponta, proventos grandiosos resultantes de impostos, considerável extensão de imóveis rurais e urbanos, luxuosa coleção de quadros raros, uma infinidade de acessórios de beleza (vestidos, jóias, colares, bolsas).


A quem interessar possa, segue o link de acesso a um vídeo que traz uma lista de itens referentes aos bens e riquezas da família real britânica: https://www.youtube.com/watch?v=3RUfzI61CHo 


Enquanto isso, segue a mídia corporativa a noticiar e comentar as minúcias do funeral da Rainha:

  • No luxuoso local onde deverá ser o velório do seu corpo, agiganta-se a fila de súditos, na avidez de chegarem perto do corpo da Rainha;

  • estima-se uma espera de até 24 horas na fila que pode alcançar 10km.


Quando em todo o mundo, inclusive na Inglaterra, crescem as desigualdades sociais, a inflação, o desemprego, o problema das migrações forçadas, entre outros, eis que, incentivadas pela “midiocracia” ocidental, multidões fanatizadas se movem para render loas a Rainha, à família real e, por tabela, ao instituto da realeza…


Voltamos a insistir em algumas indagações: 

  • Como explicar, em pleno século XXI, a adoração que se presta à Realeza, ignorando-se todos os seus graves malfeitos pelo mundo afora, inclusive no Brasil (cumpre não esquecer o apoio do governo inglês ao golpe de 2016)?

  • Como explicar que, ainda hoje, em vários países europeus como Bélgica, Dinamarca, Espanha, Luxemburgo, Noruega, Holanda, Suécia, Vaticano entre outros, ainda estejam em vigor, monarquias, após mais de 200 anos da Revolução Francesa?

  • Como explicar que alguns destes países se erijam em modelos de Democracia?

  • Como não reconhecer que os frutos da realeza negam o mais elementar senso de justiça, dando vazão, inclusive, há movimentos de retrocesso até mesmo nos contextos eleitorais, quando não raramente se prefere a Caquistocracia (o governo dos piores) à Democracia, reconhecendo, contudo, que o gosto pela Caquistocracia não é monopólio das Monarquias.


João Pessoa, 14 de setembro de 2022.



segunda-feira, 12 de setembro de 2022

XII SEMANA TEOLÓGICA PE.JOSÉ COMBLIN, EM CONSTRUÇÃO: A quarta Jornada Comunitária rememora, com Comblin, que “Evangelho não é Religião”

 XII SEMANA TEOLÓGICA PE.JOSÉ COMBLIN, EM CONSTRUÇÃO: A quarta Jornada Comunitária rememora, com Comblin, que “Evangelho não é Religião”


Alder Júlio Ferreira Calado


A menos de quatro semanas da Sessão de Encerramento da XII STPJC, a realizar-se em João Pessoa, no próximo dia 25 de setembro, no Mosteiro de São Bento em João Pessoa, das 8:30 às 11:30, com o tema “Os pobres e o Pe. José Comblin nos ensinam a caminhar no Caminho de Jesus”, teve lugar em Café do Vento, no dia 28/08 p.p. a quarta Jornada Comunitária.


Foi o último encontro de vivência da XII STPJC, na qual rememoramos, com Comblin, que “Evangelho não é Religião”, subtema conexo ao tema central da XII STPJC, acima registrado. Como de hábito, cerca das 8 horas daquele Domingo, começaram a chegar os participantes - mulheres e homens - vindos de Sobrado, São Miguel do Taipu, Santa Rita, João Pessoa e outras comunidades, todos bem acolhidos em torno à mesa de reunião pelo Pe. Hermínio Canova.


Presentes representantes da CPT, do Kairós, do coletivo feminista, e de outros coletivos, foi iniciado o encontro com o momento de espiritualidade, durante o qual foi lida e partilhada a leitura do Evangelho do dia, extraída de Lucas 14,1.7-14. Várias pessoas compartilharam seu sentimento acerca desta passagem, acentuando a importância da humildade e da prontidão a servir os mais necessitados, de tal modo que brilhe em nossos gestos a força da gratuidade.


Em seguida, foi partilhada a leitura do relato do que foi a terceira Jornada Comunitária. Começamos, então, a entrar no subtema desta quarta Jornada Comunitária: “Evangelho não é Religião”, título de uma conferência pronunciada pelo Pe. José Comblin na UCA (Universidad Centro Americana), em San Salvador, El Salvador, por ocasião da comemoração dos trinta anos do martírio de Dom Oscar Romero. Em sua conferência, Pe. José empenhou-se em distinguir (sem separar) entre Evangelho e Religião. Enquanto esta faz parte da condição própria de cada Cultura, comportando virtudes e lacunas, o Evangelho, por sua vez, ao tempo em que opera com abertura a toda contribuição cultural positiva (em função do processo de humanização), age como crítica e como apelo de conversão diante das aberrações que o processo cultural pode implicar, na história humana.


Toda Religião se compõe de elementos tais como: doutrina, templo, culto, e sacerdotes, pendendo, não raramente, a confundir a divindade com seus próprios valores, de modo a, por vezes, inverter completamente os valores do Evangelho. Em nosso contexto atual, por exemplo, assistimos a uma forte tendência de utilização da religião e do próprio Evangelho como instrumento de violência e letalidade, em relação ao que o Evangelho se opõe visceralmente. A este respeito,  cumpre alertar parcela significativa de nossa população do gravíssimo risco que todos corremos de, não bastasse o gravoso equívoco de ter elegido o atual presidente, incorrer na insensatez de reelegê-lo, consolidando assim o apoio à barbárie.

Foram diversas e ricas as contribuições oferecidas pelos presentes, todas atentas ao grave risco de sucumbirmos a uma prática idolátrica ao deus Mamon, em nome do Deus da Vida. 


Considerando a proximidade da Sessão de Encerramento de nossa XII STPJC, dedicamos o final do Encontro para ultimar os preparativos deste Encontro. Rememoramos seu tema central (“Os Pobres e o Pe. José Comblin nos ensinam a caminhar no Caminho de Jesus”), ao tempo em que sublinhamos o local (Moseiro de São Bento em João Pessoa), a data e horário (25/09, de 8:30 às 11:30), bem como as pessoas que vão contribuir, de forma mais direta, na reflexão do tema central. Neste sentido, foi anunciada a resposta positiva do Diácono Antônio, da Arquidiocese de Olinda e Recife, em virtude de sua densa experiência de serviço aos pobres e aos moradores de rua, para brindar com sua reflexão sobre o tema central da XII STJC. O Pe. Hermínio Canova foi indicado para o momento de espiritualidade, de acolhida e de memória das semanas teológicas. Elinaide foi indicada para uma fala relatando a experiência das quatro jornadas comunitárias, enquanto a Elenilson Delmiro dos Santos caberá uma reflexão sobre a figura do Pe. José Comblin e seu aprendizado junto com o povo dos pobres,


O Encontro foi encerrado, como de hábito, com um saboroso almoço preparado por Maria José.




João Pessoa, 12 de setembro de 2022






quinta-feira, 8 de setembro de 2022

INVENTIVIDADE E REBELDIA NO LABOR ARTÍSTICO: Incidência na Educação Física.

INVENTIVIDADE  E  REBELDIA   NO  LABOR  ARTÍSTICO:

Incidência na Educação Física*

Álder Júlio Ferreira Calado


          A despeito de ainda reinar certa insensibilidade, em considerável parcela da população, em relação à força transformadora das Artes, múltiplos são os sinais emblemáticos do potencial criativo e mobilizador das Arte, em suas diferentes manifestações. Com efeito, são copiosos os exemplos da força revolucionária das Artes, ao longo dos séculos e em  todos os espaços. A este respeito, vale a pena conferir a aula proferida pela professora Profª Arlenice Almeida da Silva, acerca da perspectiva Estética trabalhada pelo jovem György Lukács (cf. https://www.youtube.com/watch?v=w17h96CLjqE). Nela, podemos perceber a singularidade do jovem Lukács em sua análise da Estética, das Artes. Para ele, a obra artística comporta certa autonomia, tanto em relação ao seu produtor, quanto a seu receptor…

          Constitui parte integrante do processo de humanização o exercício indispensável das Artes, tanto em sua dimensão produtiva, quanto em sua dimensão receptiva (passiva). Com seres humanos, somos constantemente instados/vocacionados a exercitar, de algum modo, a produção e a fruição das Artes. Ainda que alguns humanos se sintam extraordinariamente tocados por algum tipo de Arte,  em verdade,  todos os humanos nos sentimos, de algum modo motivados a ensaiar, seja como produtor, seja como receptor ou simultaneamente pelas duas vias, algum tipo de manifestação artística, sob pena de não nos tornarmos protagonistas do processo de humanização.

          As Artes, em geral, têm incidência, direta ou indireta, em nossa qualidade de vida, nas diferentes atividades  do quotidiano e em nosso processo formativo contínuo: desde o ambiente familiar, passando pelos espaços escolares, pelo ambiente de trabalho, nas atividades recreativas, na contemplação da Mãe-Natureza...

          Nestas  linhas, sublinhamos particularmente a incidências do labor artístico na Educação Física. Inicialmente, cuidamos de trazer à tona a título de ilustração o potencial humanizador de diferentes Artes, ressaltando especialmente sua força  inventiva e propulsora  de rebeldia. Num segundo momento, ensaiamos realçar sua incidência especificamente na Educação Física.

                     Artes, inventividade, encantamento e rebeldia

          Tendo em vista o público jovem constituir os destinatários especiais desta reflexão, entendemos didático iniciarmos ilustrando vários campos do  dia-a-dia nos quais a Arte se faz presente. De fato, tal é a presença das Artes em nosso quotidiano que nem chegamos a percebê-la suficientemente, em suas mais diferentes manifestações. Da arquitetura à música; da Literatura  à Pintura,  à Escultura, ao Teatro ao Desenho à Fotografia, ao Cinema, à Dança, às mais variadas formas de artesanato (no barros, na palha, no tecido, no ferro, na  madeira,  no vidro, nos materiais reciclados...). Independentemente de nossa eventual insensibilidade, temos  que reconhecer a relevância das Artes em nossa  processo de humanização. Sem as Artes, tendemos ao embrutecimento, à barbárie. Sirvam-nos de exemplo tantas atitudes que observamos em nossa sociedade, recheadas  de insensibilidade e obscurantismo... Basta ver a que nível a Política cultural vem sendo relegada,  após o Golpe de 2016, especialmente, a partir de 2018.

          Estamos, pois, mergulhados no campo da Estética, que, ao lado de tantos outros, é uma das expressões do processo de humanização. Deste, além da Estética (portanto, do campo artístico, fazem parte diferentes   dimensões: Cósmica, social, econômica, política, cultural, a implicarem, por sua vez, distintos saberes e relações do quotidiano, relações sociais de gênero, de etnia, geracionais, de espacialidade, de referência à Mãe-Terra, ao sagrado, etc.  Como antes mencionado, nas linhas que seguem, nos detemos apenas nas relações estéticas, por meio das  Artes.

          As Artes, por conseguintes, constituem o campo da Estítica, por meio do  qual exercitamos a experiência do Belo, seja enquanto apreciadores, seja enquanto produtores. Graças à fluição do Belo, e, portanto, das Artes, recobramos o sentido mais pleno da existência.

          As Artes nos encantam, nos reanimam a existência, ao tempo em que nos propiciam e exercício da  criatividade, das  inventividade. É também por meio das Artes que, à medida que descobrimos coisas novas , novos  horizontes, nos sentimos igualmente interpelados e uma melhor exercício  de nossa visão de mundo, de sociedade e de seres humanos instados a constantes mudanças em busca de plenitude. E daí também resulta um sentimento de rebeldia perante as atrocidades que desfiguram o Belo, contribuindo para um processo de desumanização.

                        A incidência das Artes na Educação Física

          Entre as inúmeras  manifestações das Artes em nossa existência, elas também incidem na concepção e prática da cultura do corpo, também chamada de Educação Física. E isto se dá em vários modos, tanto positivo quanto negativamente. A Educação Física pode ser entendida como uma expressão – dentre outras – do processo de humanização, também inspirado nas Artes, a incidir no exercício bio-Psico-Social, de modo conectado com  outras dimensões.

          É assim que, no plano estritamente biológico, a Educação Física se mostra eficaz  – especialmente quando inspirada pelas Artes - na manutenção e desenvolvimento não apenas da  saúde, como também de todo processo humano.  Há dimensão biológica conecta-se o desenvolvimento psíquico à medida que proporciona condições mais  favoráveis  à manutenção e aprimoramento da saúde mental, o que alude ao conhecido  “Mens Sana in corpore  sano”.

          Tanto a dimensão biológica quanto a dimensão psíquica precisam  não apenas de interagirem entre si , mas também guardam estreita conexão com o social, o mundo circundante, sem o qual se inviabilizam tanto o desenvolvimento biológico quanto psíquico. A dimensão social remete diretamente as condições de sociabilidade em que se vive. Por ex., numa sociedade marcada pelos valores capitalistas, neo-liberais, observa-se a tendência  dominante a uma cisão entre o biológico, o psíquico e o social, de tal modo que o comportamento dominante passa a  ser o de  uma super-estimação do biológico (do corpo desconectado das outras  dimensões), em detrimento da unidade das três  dimensões. Na prática, isto traduz a  ideologia dominante de super exaltação das qualidades   estritamente  biológicas, com pretensão a expressar o Belo, ainda que em duvidosas condições de insanidade psicossocial. 

Torna-se, por conseguinte, desafiador lidar com a cultura do corpo, de modo saudável e estético, exercitando-se estas dimensões para além da concepção mercantilista ou de mero valor de troca. Neste sentido, tão vazia se apresenta a estética do corpo, na concepção mercantilista que tradições teóricas longínquas, a exemplo do que se percebe inclusive no discurso platônico de Timeu, em que se sustenta a relação entre saúde corporal e saúde mental, pode se constatar uma deterioração do processo de humanização.

* Texto produzido em forma de áudio, pelo autor, transcrito a mão por Águeda Ferreira Calado, e digitado por Antônio de Souza Torres. Com os agradecimentos do autor.


João Pessoa, 8 de setembro de 2022.


domingo, 4 de setembro de 2022

O ALCANCE SOCIOECLESIAL DO GRITO DOS EXCLUÍDOS

 O ALCANCE SOCIOECLESIAL DO GRITO DOS EXCLUÍDOS


ALDER JÚLIO FERREIRA CALADO


A despeito do perfil predominantemente conservador do Episcopado Católico Brasileiro, mesmo em tempo do testemunho profético do Papa Francisco, o Grito dos Excluídos e Excluídas segue dando o seu recado profético de denúncia e de anúncio.

Iniciado em meados dos anos 90, como um dos frutos das Semanas Sociais organizadas pela CNBB, ele continua a ser organizado todos os anos, na primeira semana de setembro - especialmente no dia 7 de setembro, data das comemorações da separação política de Portugal, impropriamente chamada de “Independência”...

Desde o seu início, há quase um quarto de século, em parte expressiva dos municípios brasileiros acontece o Dia dos Excluídos e Excluídas, reunindo um considerável número de participantes manifestando-se pelas ruas e pelas praças do País. O “Grito”, normalmente, preparado durante várias semanas, a partir do eixo temático "Brasil: 200 anos de (In)dependência. Para quem?" caminhos vários são tomados, a partir de comissões específicas: articulação, organização política, finanças, segurança, produção e distribuição de materiais, etc.

Em cenários de maior ou menor mobilização, conforme a conjuntura, o Grito ganha as ruas e praças de centenas de municípios, nas diversas regiões do País. Também em João Pessoa e em sua região metropolitana, a exemplo de Santa Rita e Bayeux, bem como no Agreste e no Sertão.

Venho acompanhando, mais de perto, desde os anos 90, as sucessivas edições do Grito, em João Pessoa, inclusive durante o período arquidiocesano de Dom Aldo Pagotto, figura reacionária que desautorizava a realização do Grito, em João Pessoa. Mas, em vão! Eis que com a participação de algumas Pastorais Sociais, em especial, a CPT, e com a significativa contribuição dos movimentos populares e sindicais, o Grito marcha pelas ruas do centro da cidade.

Já estamos nos aproximando de três décadas de realização do Grito dos Excluídos. A despeito da ambivalência do termo (pois, no capitalismo, todos se acham, de algum modo incluídos, ainda que perversamente), em decorrência das Semanas Sociais protagonizadas pela CNBB, seguimos realizando este evento, na primeira semana de setembro, por conta da chamada “Independência”.

Em João Pessoa, o Grito costuma ser realizado pelas Pastorais Sociais em conjunto com vários movimentos populares e sindicais, para tanto realizando diversas reuniões preparatórias, onde a partir do tema do ano se discutem e se deliberam as questões chave, bem como os eixos temáticos a serem organizados. Neste ano, por circunstâncias adversas, os organizadores e organizadoras decidiram realizá-lo excepcionalmente no dia 10, data marcada para manifestações deliberadas desde as manifestações de 11 de agosto. A partir do tema, decidiram organizar quatro eixos temáticos fundamentais: Trabalho, Terra, Moradia, Soberania.

Eis por que, no próximo dia 10/09, todos estão sendo convidados a participarem do Ato unificado “10S + O Grito dos Excluídos e Excluídas”, cuja concentração está marcada para o Ponto Cem Réis, a partir das 8:30.


João Pessoa, 04 de setembro de 2022