quarta-feira, 14 de setembro de 2022

RIQUEZA E PRIVILÉGIOS DA REALEZA OFENDEM A DIGNIDADE DOS DESERDADOS DA TERRA: o caso da família real britânica

 RIQUEZA E PRIVILÉGIOS DA REALEZA OFENDEM A DIGNIDADE DOS DESERDADOS DA TERRA: o caso da família real britânica.


Alder Júlio Ferreira Calado



Há menos de uma semana, aos 96 anos, faleceu a Rainha Elizabeth II, do reino britânico, cujo poderio influi ou alcança uma quinzena de países espalhados pelos diversos continentes (Escócia, Irlanda do Norte, País de Gales, Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Jamaica, Barbados, Belize, Granada, entre outros). Antes mesmo do seu falecimento, a mídia corporativa já prenunciava para breve o seu desfecho, após o qual vem se intensificando, de forma frenética, a cobertura, em notícias, reportagens e comentários que ocupam horas, durante dias e dias…


Ao longo dessa frenética cobertura, promove-se intensa comoção de multidões, a prantearam a passagem da rainha, ao tempo em que se tende a idolatrá-la, bem como a família e a própria instituição da Realeza, vigente não apenas no reino britânico como em vários outros países da Europa.


Em pleno século XXI, depois de mais de dois séculos da Revolução Francesa que extinguiu a monarquia, e após séculos de registros históricos dos crimes e malfeitos dos monarcas, eis que esta instituição não apenas sobrevive, mas empolga multidões pelo mundo afora, a começar pela Europa. Nestas breves linhas, perguntamo-nos sobre o que explica este fenômeno, a quem interessa, que fatores o têm mantido…


Sabemos que o processo de humanização não se faz de modo retilíneo, comporta idas e vindas, altos e baixos, inclusive recusa, dando assim lugar ao seu inverso, o processo de desumanização. Neste sentido, ao lado de tocantes avanços e conquistas civilizacionais, também constatamos espantosos retrocessos, a exemplo de taras assustadoras a impregnarem nosso tecido social, como o obscurantismo, o negacionismo, a idolatria ao deus Mamon. No caso do comportamento idolátrico em torno da família real britânica, a partir do falecimento da rainha Elizabeth, produz-se um cenário profundamente esquizofrênico: de um lado, canalizam-se as energias para o culto à personalidade, e à família real, super exaltando-se seus privilégios como se fossem deuses na terra; por outro lado não se consegue fazer qualquer ligação com as profundas contradições entre suas riquezas e privilégios acumulados, e, do outro lado, o cenário de crise (inflação galopante, crise energética, penúria de parcela da população, especialmente as massas de imigrantes).


Como explicar o endeusamento da Realeza pela “midiocracia” (Enrique Dussel) a hipnotizar multidões de fanáticos, enquanto se omitem numerosos privilégios e riquezas acumuladas pela família real? Com efeito, sua fortuna é estimada em vinte bilhões de dólares, dos quais parte significativa detida apenas pela rainha, resultantes do acúmulo de palácios, castelos (alguns dos quais comportando algumas dezenas de milhares de hectares), avião luxuoso, automóveis de ponta, proventos grandiosos resultantes de impostos, considerável extensão de imóveis rurais e urbanos, luxuosa coleção de quadros raros, uma infinidade de acessórios de beleza (vestidos, jóias, colares, bolsas).


A quem interessar possa, segue o link de acesso a um vídeo que traz uma lista de itens referentes aos bens e riquezas da família real britânica: https://www.youtube.com/watch?v=3RUfzI61CHo 


Enquanto isso, segue a mídia corporativa a noticiar e comentar as minúcias do funeral da Rainha:

  • No luxuoso local onde deverá ser o velório do seu corpo, agiganta-se a fila de súditos, na avidez de chegarem perto do corpo da Rainha;

  • estima-se uma espera de até 24 horas na fila que pode alcançar 10km.


Quando em todo o mundo, inclusive na Inglaterra, crescem as desigualdades sociais, a inflação, o desemprego, o problema das migrações forçadas, entre outros, eis que, incentivadas pela “midiocracia” ocidental, multidões fanatizadas se movem para render loas a Rainha, à família real e, por tabela, ao instituto da realeza…


Voltamos a insistir em algumas indagações: 

  • Como explicar, em pleno século XXI, a adoração que se presta à Realeza, ignorando-se todos os seus graves malfeitos pelo mundo afora, inclusive no Brasil (cumpre não esquecer o apoio do governo inglês ao golpe de 2016)?

  • Como explicar que, ainda hoje, em vários países europeus como Bélgica, Dinamarca, Espanha, Luxemburgo, Noruega, Holanda, Suécia, Vaticano entre outros, ainda estejam em vigor, monarquias, após mais de 200 anos da Revolução Francesa?

  • Como explicar que alguns destes países se erijam em modelos de Democracia?

  • Como não reconhecer que os frutos da realeza negam o mais elementar senso de justiça, dando vazão, inclusive, há movimentos de retrocesso até mesmo nos contextos eleitorais, quando não raramente se prefere a Caquistocracia (o governo dos piores) à Democracia, reconhecendo, contudo, que o gosto pela Caquistocracia não é monopólio das Monarquias.


João Pessoa, 14 de setembro de 2022.



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