Vincenzo Zambello e sua ação missionária: O alcance de sua produção teológica no meio dos pobres
Alder Júlio Ferreira Calado
O propósito das linhas que seguem, é o de destacar aspectos da ação missionária do presbítero Vincenzo Zambello, ou como no Brasil o chamamos, Pe.Vicente. Missionário cátolico “ Fidei Donum”, nascido na Itália, em 1941, ordenado presbítero em junho de 1965, a poucos meses do encerramento do Concílio Vaticano II, decidiu responder à sua vocação missionária, no Brasil, tendo sempre atuado, cerca de quatro décadas, nas comunidades pobres do Rio de Janeiro, do Nordeste (Paraíba) e na Amazônia (no Pará).
No Rio de Janeiro, inserido em comunidades periféricas, animou, com coragem e profecia, diversos trabalhos de evangelização, na linha da Teologia da Libertação. Na arquidiocese da Paraíba, atuou principalmente junto à Comunidade do Mutirão (também chamada Mário Andreazza), no município de Bayeux, região metropolitana de João Pessoa.
Tendo aí chegado nos inícios dos anos 90, logo foi designado Coordenador da Área Pastoral São João Batista. Sempre acompanhado de lideranças populares e missionárias, animou diversas iniciativas de Educação da Fé, formando diversas comunidades e grupos de evangelização. Uma das marcas do trabalho por ele animados dizia respeito à contínua visitação, casa por casa, aos moradores daquela Área Pastoral.
Nos inícios dos anos 2000, em parceria missionária com Frei Roberto Eufrásio de Oliveira, seu trabalho de Evangelização foi ampliado significativamente: Ambos assumiram conjuntamente a animação pastoral das comunidades do mutirão (Bayeux) e de Várzea Nova (no município vizinho de Santa Rita), tendo animado fecundas experiências missionárias, de formação e de lutas populares, em defesa e promoção dos direitos dos pobres.
Anos depois, Pe. Vicente foi chamado a trabalhar na Amazônia, mais precisamente no Xingu, no Pará na Prelazia do Xingu, da qual era Bispo diocessano Dom Erwin Krautler, tendo animado experiências missionárias em uma região repleta de conflitos e de violência contra povos Indígenas, ribeirinhos, perpetrada por grileiros, madeireiros, garimpeiros, violência da qual resultaram vários mártires dentre as quais Irmã Dorothy Stang e militante cristão conhecido como dema.
Pe. Vicente, ao animar todas essas experiências, sempre buscou alimentar sua fé pela Oração e sempre bebendo na Fonte, ao mesmo tempo que sempre cuidou de estudar e de acompanhar criticamente a realidade social, buscando compartilhar sua meditação e seus estudos teológicos, por meio de livros e outros escritos inclusive de inspiração poética. De sua considerável produção, além de “ Acolhendo a Palavra” e “Germinando Margaridas:Livro de memórias de Margarida Lucena de Oliveira” - para mencionar apenas um dos primeiros e um dos mais recentes - aqui trazemos algumas linhas acerca do seu “ Germogli” ( “Sementes”) ( Edição atualizada em 2023).
Suas valiosas reflexões se acham distribuídas em 21 breves capítulos versando sobre um variado e instigante temário, todo ele tendo como fio condutor a semente. Começa por rememorar a relação entre o silêncio que pairava sobre a Terra e a semente. É digna de nota a sensibilidade do autor pelos povos originários, entre os quais também a semente se faz presente. Sublinha a íntima relação entre a palavra de Deus e a semente, a fecundar os humanos e todos os viventes.
O autor destaca a beleza dos Salmos acerca da semente. Ao percorrer páginas preciosas da Sagrada Escritura apresenta o trabalho dos profetas que ele avalia igualmente como expressão e resultado de uma semente. É assim que o autor segue oferecendo pertinentes reflexões sobre a fecundidade da semente nas mais diversas circunstâncias históricas contemporâneas, especialmente aquelas protagonizadas pelo povo dos pobres, animado por leigas e leigos, religiosos e religiosas e ministros comprometidos com a causa do Reino de Deus, fazendo questão de destacar relevantes períodos recentes e menos recentes da caminhada dos pobres, vocacionados à liberdade.
Por sua atenta revisitação a múltiplos acontecimentos históricos eclesiais, nos quais a semente do seu trabalho libertador, Pe. Vicente nos brinda com suas pertinentes reflexões que nos injetam esperança, a partir do chão do cotidiano. Pe. Vicente se mostra, pela sua trajetória missionária no Brasil, no Quênia e na Itália, um profeta da esperança. Em seu trabalho pastoral também junto aos encarcerados, vejamos o que escreve, no último capítulo do seu livro: “ Cada um de nós é como um jardim. Em um jardim, há diversas sementes e cada semente comporta um grande potencial, e cada semente contém uma flor maravilhosa”. Eis o que sua ação missionária, conduzida pelo Espírito, é capaz de suscitar também entre os encarcerados, encorajando-os à libertação de toda sorte de prisão.
Ao Pe. Vicente, a expressão de nossa gratidão pelo que tem semeado por onde passa, pela força do Espírito.
João Pessoa, 07 de Fevereiro de 2024.
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