sexta-feira, 8 de maio de 2020

Um império em declínio: da arrogante supremacia a ridícula estupidez


Um império em declínio: da arrogante supremacia a ridícula estupidez 
Alder Júlio Ferreira Calado

Diferentemente dos impérios precedentes, os modernos impérios ocidentais - em especial do Império Britânico e dos Estados Unidos -, trazem em comum o espírito destrutivo do capitalismo como sua marca principal. Aqui, nos voltamos de modo específico, ao caso do processo de declínio dos Estados Unidos como principal império ocidental. À semelhança do Império Britânico, os Estados Unidos, desde o processo de industrialização, vem animado pelo Espírito do Capitalismo através da pilhagem territorial dos povos latino-americanos, bem como através da imposição progressiva de controle de acumulação de riquezas, de renda, de patrimônio em mãos de grupos oligárquicos, controlados pelas atuais transnacionais que atuam nos mais diferentes Ramos da economia. Os Estados Unidos não tardariam a transpor a supremacia da Inglaterra, sobretudo a partir da Segunda Guerra Mundial. Para tanto, os Estados Unidos trataram de associar, como estratégia, à pilhagem e à violência, técnicas sofisticadas de espionagem.

Já antes, no século 19 e na primeira metade do século 20, este império não deixava de acumular forças e de despontar, com sua prepotência e a supremacia de armas, pelo mundo afora. Desde a segunda grande Guerra Mundial, não cessam de fincar raízes nos quatro cantos do mundo, impondo pela força das armas, o que pode ser observado pela fixação impositiva de  dezenas ou centenas de bases militares em dezenas de países, espalhados pelos vários continentes. 

Com extrema arrogância, foram impondo sua supremacia pela força das armas, pela imposição de seu poder e pelas vias das ameaças e da propagação do terror, buscando deter a heróica resistência que lhe opuseram vários países por eles invadidos. São amplamente conhecidas e reconhecidas suas incursões, por exemplo, temos países latino-americanos, a começar pelo México, parte de cujo território foi anexada ao território dos Estados Unidos, à custa de Massacres infligidos a povos indígenas e a cidadãos da América Central e Caribe, e da América do Sul. A este respeito, recomendamos - especialmente, como material didático de qualidade, a ser trabalhado pelos movimentos sociais populares, em seu processo formativo - o vídeo “Intervención militar de Estados Unidos en América Latina“ (https://www.youtube.com/watch?v=J64lHO8GUSU). 

O terror espalhado por sucessivos governos estadunidenses foi uma marca tenebrosa na história de muitos desses povos, ora na Guatemala, ora em Cuba, ora na República Dominicana, ora no Haití, ora na Nicarágua, entre outros. Na América na América do Sul os exemplos são igualmente marcantes, haja vista o que sucedeu ao povo chileno, em 1973, resultando na sanguinária ditadura do General Pinochet. De modo semelhante, outros povos desse subcontinente experimentaram e experimentam o peso das Botas dos Estados Unidos. Como esquecer a intromissão aberta do Governo dos Estados Unidos na implementação do golpe de Estado no Brasil, em 1º de abril de 1964, especialmente graças às escandalosas intervenções do seu embaixador de então, Lincoln Gordon? Como esquecer a participação brutal do Departamento de Estado, da CIa de e outros órgãos governamentais, atuando inclusive no treinamento pela famigerada Escola das Américas de dezenas de militares brasileiros e latino-americanos, no sentido da perpetração dos desumanos procedimentos contra a resistência cidadã daqueles povos? Como esquecer o enorme envolvimento que sucessivos governos dos Estados Unidos acumularam pela responsabilidade direta do cometimento de crimes bárbaros, entre os quais a tortura, contra pessoas e grupos brasileiros e latino-americanos?

É vastíssima e longeva a ação Imperial dos Estados Unidos sobre povos e nações em todos os continentes. Por todos eles, sucessivos governos estadunidenses espalharam sementes de exploração, de dominação, de marginalização, sob o peso de seu famigerado potencial bélico, com isto também difundindo a repulsa  e a aversão que alimentaram nesses mesmos países, especialmente por entre as classes populares. 

Tal como os do passado, também os grandes impérios modernos, inclusive e em especial, os Estados Unidos, não se desfazem da noite para o dia, requerendo décadas. Mesmo assim, vêm sendo crescentes os sinais de desagregação ou de desmoronamento dos Estados Unidos como potência monopolizadora das grandes decisões da atualidade. De toda maneira, convém tomarmos em conta as bases relevantes de seu poderio, seja do ponto de vista de sua liderança internacional, seja sobretudo do ponto de vista de seu poderio militar. Não é por acaso que, durante décadas e décadas, dedicam ao seu orçamento bélico quantias astronômicas do seu erário.

O certo é que, desde pelo menos 1823, de quando data a vigência da famigerada Lei Monroe, sucessivos governos não tem perdido tempo em fazerem entender que todo o continente americano constitui extensão ou propriedade dos Estados Unidos, ainda que isto não possa ser declarado na forma da letra, mas um breve histórico do quê, apenas no que diz respeito a América Latina, vem sucedendo desde então. Ainda na segunda metade do século 19, passos decisivo foram dados pelos governantes de então, no sentido de anexar ou incorporar ao território dos Estados Unidos uma parte significativa do México - fala-se que o México foi obrigado a ceder metade do seu território, inclusive o que hoje corresponde ao Texas e a Califórnia. Vai bem mais além sua atroz voracidade. Em anos seguintes, passam a anexar outros territórios da América Central e Caribe. Profundos estragos a soberania de outros países também têm lugar: na ilha de Cuba, então considerada joia da metrópole espanhola, da qual Cuba se livrou, tendo em consequência de enfrentar desde então o domínio dos Estados Unidos, quer de forma direta, quer de forma indireta. Outros países da região tem sorte semelhante: Guatemala, El Salvador, Nicarágua, Panamá - para mencionar os principais. 

O império estadunidense vai também expandir-se pelos países da América do Sul: Colômbia, Peru, Equador, Bolívia, Chile, Argentina, Uruguai, Brasil... Com relação ao que se conhece como o Cone Sul, vale destacar a relevância fundamental da interferência direta dos Estados Unidos, por meio de seus aparelhos de estado, a começar do departamento de estado, na sistemática perseguição, punições de lideranças-chave destes países, principalmente aportando uma logística eficiente a favor e na promoção de instalação de bases militares. A este respeito, importa sublinhar a relevante contribuição do filme "O dia que durou 21 anos ", produzido por Camilo Galli Tavares, trazendo a público documentos e falas abertas de grandes personagens do Governo dos Estados Unidos, em sua intervenção escandalosa, quando do Golpe de Estado de 1964. Lamentável é que apenas uma ínfima parcela dos cidadãos e cidadãs brasileiros e mesmo latino-americanos é que que tenham tomado conhecimento de tão escandalosa e repulsiva intervenção, o que se agrava profundamente, quando se vem a saber que não se tratou, nem se trata, de uma ou duas intervenções de tal gravidade, mas de uma sucessão que já perdura por dois séculos, sem que os Estados Unidos dêem sinal de mudança de sua atitude imperialista, haja vista o que hoje sucede, por exemplo, com a Venezuela, para não se falar em cerca de sessenta anos de bloqueio econômico contra Cuba. Aqui só estamos a contemplar, de passagem, a situação específica da América Latina. Quanto teríamos a dizer das marcas imperialistas dos Estados Unidos pelo mundo afora?!

Como não há império perene - mais cedo, mais tarde, todos acabam ruindo -, de alguns anos para cá importantes acontecimentos e fatos assinalam aspectos da crescente derrocada dos Estados Unidos. Como se trata, em última instância, de um império sustentado pela razão da força, pelo poderio armamentista, usado e abusado, sob um pretexto que nos remete a conhecida máxima latina "Se vis passem para bellum” (se queres a paz, prepara-te para a guerra), isto faz lembrar também que a sobrevivência apenas pela razão da força não é suficiente, como já advertira o último general presidente do período da ditadura militar, no Brasil. O General João Batista de Figueiredo, em vista dos grupos militares mais aterrorizantes, que pretendiam manter a ditadura militar, a qualquer custo, afirmava que nenhuma ditadura consegue sustentar-se apenas pela força das armas.
   Os modernos impérios do britânico e o dos Estados Unidos, tiveram comum fatores determinantes ou condicionantes um conjunto de elementos marcando profundamente sua trajetória. Dentre os fatores de quê Tais impérios se tem alimentado, estão presentes: seu processo de acumulação, gagado a custa de refinados estratégias de exploração, expansionismo, de extermínio de populações autóctones, de falsas justificativas de caráter religioso, refinadas técnicas ideológicas e, principalmente, seu Arsenal ofensivo de múltiplas e Poderosas armamentos letais 

Curioso é observarmos como estes mesmos elementos  que permitiram o seu vasto e duradouro domínio, foram e tem sido os mesmos que também se fazem presentes em seu processo de declínio a razão da força, que foi sua alavanca, volta a estar presente como elementos desceu desmoronamento. isto também sucede, por exemplo, no atual contexto dos Estados Unidos, a medida que, vendo esgotarem-se se usar os sinais ideológicos perdendo força sua estratégia ideológica, o atual governo dos Estados Unidos, tendo a sua frente uma figura especializada em necropolitica, suscita elementos que sinalizam, dia após dia, o seu desmoronamento processual, não apenas perante o mundo ocidental, mas também em âmbito Mundial. Esta tendência se apresenta, por exemplo, por meio da progressiva entrada em cena de um concorrente atípico, a China do século 21. Este concorrente, um misto de estado contando com alguns traços do socialismo a antiga, e, por outro lado, de fortes elementos do Espírito capitalista, presentes em um um amplo conjunto de empresas transnacionais que por lá atuam, ainda que sob certo controle estatal, tem mostrado uma forte concorrência, a ameaçar, crescentemente, o monopólio do domínio capitalista. 

Um elemento surpresa, entretanto, que irrompe a fortalecer esta tendência de declínio do império dos Estados Unidos, por ocasião da irrupção da Covid 19:novo coronavirus. Por conseguinte, vem oferecendo surpreendentes oportunidades de expansão do Estado chinês, a custa da devastação das bases econômicas e estratégicas até então monopolizados pelos Estados Unidos. 

Apenas um pequeno exemplo ilustrativo trazemos a baila, com o propósito de identificar a que ponto chega a fragilização crescente dos Estados unidos, enquanto força monopolizadora dos destinos da humanidade. A ilustração que oferecemos, a este respeito, se faz presente por um simples vídeo, provavelmente produzido na China, em tom satírico e de humor mordaz descrevendo um suposto diálogo entre a China e os Estados Unidos, acerca da origem e evolução da Covid-19. Eis o diálogo abaixo transcrito e traduzido do referido vídeo: 


“Intervención de 
estados Unidos en América Latina :

Sátira 



Veja a seguir a tradução dos diálogos do vídeo: Era uma vez um vírus Dezembro: China - Casos de estranha pneumonia reportados. OMS - Entendido! Janeiro: China – Descobrimos um novo vírus. EUA – E daí? China – É perigoso. EUA – É apenas uma gripe. China – Use uma máscara. EUA – Não use uma máscara. China – Fique em casa. EUA – Isso está violando direitos humanos. China – Construindo hospitais temporários. EUA – É um campo de concentração. China – Construído em dez dias. EUA – Exibicionismo. China – Hora de confinamento. EUA – Que barbaridade. Fevereiro: China – Está sobrecarregando nosso sistema de saúde. EUA – Veja como a China é atrasada. China – O vírus está matando médicos. EUA – Típico terceiro mundo. China – É transmissível pelo ar. EUA – Vai embora magicamente em abril. China – Fiquem todos em casa. EUA – Violação de direitos humanos. Março: China – Nossos números estão agora caindo. EUA – Impossível! Veja a Itália! China – Nós usamos máscaras. EUA – Vocês mentiram para nós. China – Nós tornamos nossos dados públicos. EUA – Vocês mantiveram tudo secreto. China – Seu povo está agora morrendo. EUA – Vocês não nos alertaram. China – Nós dissemos que era perigoso. EUA – Vocês mentiram! Abril: China – Nós dissemos que era transmissível pelo ar. EUA – Vocês deram informações falsas. Por que vocês não nos alertaram? China – Dissemos que era perigoso. EUA – O vírus não é perigoso. Mas milhões de chineses estão mortos. Apesar de o vírus não ser perigoso. Estamos corretos. Embora nos contradigamos. China – Apenas ouça o que você está falando. EUA – É isso mesmo. Vocês mentiram! Não fizemos nada por três meses e porque a OMS concorda com a China estamos cortando os fundos da OMS. China – Vocês estão se ouvindo? EUA – Estamos sempre certos, mesmo que contradigamos a nós mesmos. China – Isso é o que eu mais adoro em vocês americanos. Sua consistência.


Pontos-chave a sublinhar desta reflexão

Regimento o declínio de um império, antigo ou contemporâneo se fazem sempre como um processo. Não costumam irromper abruptamente, vão se instalando processualmente, bem como também de forma processual costuma dar-se o seu declínio.
No que toca, especificamente, aos Estados Unidos, não é de hoje que a imprensa e respeitáveis analistas finalizam Fatos e acontecimentos que permitem que os entendamos como sinais de desagregação ao mesmo tempo, no caso da China, os sinais, principalmente nestas primeiras décadas do Século 21, permitem interpretá-los como indícios de sólido avanço em direção a ocupar um lugar privilegiado, no cenário internacional especialmente, a esfera econômico-financeira. Não se trata, aqui, de insinuar preferência pela substituição de impérios. As lições históricas que deles recolhemos, não nos animam a apostar em que o bem comum da humanidade repouse na força de um império, qualquer que ele seja. 

Neste sentido, uma grande lição a recolher destas considerações críticas sobre a evolução histórica dos Estados Unidos, enquanto atuando como um império, consiste no despertar de nossa consciência comum de cidadãs e cidadãos planetários, no sentido de ousarmos dar passos contínuos em direção a um novo modo de produção, a um novo modo de consumo e a um novo modo de gestão societal alternativos a barbárie capitalista encarnada em uma organização Imperial. Desafiante tarefa para nossas organizações de base, no Brasil e em escala mundial!

João Pessoa, 08 de Maio de 2020 

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