quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Por um Brasil, em busca de saída sustentável: perguntas (des)concertantes.

Alder Júlio Ferreira Calado
Aprofundam-se as manifestações de barbárie, pelos quatro cantos do mundo. Também na América Latina e no Brasil. Ampliam-se os registros de agravamento da crise climática, em várias partes, com o aumento do nível do mar, a emissão de carbono, a poluição dos mares, dos rios, do solo, do subsolo, no ar (infelizmente, o caso de Nova Dalhi não é o único…); como desmatamento, com o envenenamento das plantas, dos animais, dos humanos… Na Esfera Econômica, volta a atacar a ferocidade privatista sob a alegação de modernização. Promove-se a escancarada retirada das leis de proteção aos direitos trabalhistas. O mesmo se dá no desmonte das leis previdenciárias. Não bastasse a deficitária fiscalização sócio-ambiental, eis que retira-se ainda mais o pouco de medidas de fiscalização. Inútil, por um lado, quedar-nos impassíveis perante os sinais de barbárie. Inútil, também, pretendermos superá-los a passos de mágica, por mero capricho voluntarista. Se, por um lado, estamos de acordo com o dito, segundo qual os humanos não se põem problemas para os quais já não esbocem elementos de resposta; por outro lado, somos continuamente instados a exercitar buscas de saída sustentável, com discernimento e critérios consistentes. Um destes tem a ver com a consciência de que o que hoje se passa, a despeito das diferenças, é preciso decifrar no contexto da história, de modo a não perdermos de vista tremendos desafios enfrentados por nossos antepassados, e menos ainda as formas como eles foram capazes de supera-los, o que não quer dizer sucumbir ao simplismo de reeditar mecanicamente seus feitos.
O propósito das linhas que seguem, é o de ousar compartilhar questionamentos, num exercício permanente de diálogo com tantas e tantos interlocutores, dentre os quais nos pomos a dialogar com Gustavo Barreto, a partir de seu questionamento: “Eu queria mesmo era saber onde foi que nos perdemos e, principalmente, onde estávamos mesmo?” (cf. http://consciencia.net/onde-foi-que-nos-perdemos/)
É possível obtermos êxito nos enfrentamentos nos desafios presentes, empenhando-nos apenas no conhecimento mais objetivo das forças adversárias, sem que também nos comprometamos a examinar permanentemente a natureza, os frutos e a coerência de nossas ações internas?
A quem acompanha atentamente os acontecimentos sócio históricos das últimas décadas, no Brasil, na América Latina e no mundo, assiste o direito de espanto ante os desdobramentos conjunturais em que ainda nos sentimos mergulhados? A relutância persistente por parte de nossas organizações de base em assumir qualquer responsabilidade nas experiências de retrocesso em curso, em que nos ajuda a trilhar caminhos alternativos? Mais: em que nos garante de recaídas?
Do ponto de vista dos valores que caracterizam as forças sociais de transformação, comprometidas com os interesses e com as lutas das classes populares temos sido vigilantes em sua vivência?
Historicamente chamados a ousar passos em permanente busca de uma sociedade alternativa à barbárie capitalista, temos sido coerentes e eficazes em trilhar horizonte, caminhos e posturas compatíveis?
A busca incessante de tal rumo comporta necessariamente práticas e concepções antagônicas ao modelo hegemônico e, ao mesmo tempo, compromissos concretos condizentes com o caráter do rumo almejados no que toca, por exemplo, ao horizonte almejado bem sabemos que o modelo hegemônico é movido necessariamente pela aliança orgânica entre Mercado e Estado. Até que ponto, a despeito de nossas lutas contra as principais forças do Mercado capitalista temos sucumbido reiteradamente ao fascínio dos espaços governamentais, sabidamente parceiros indissociáveis da implementação das políticas econômicas do Mercado Capitalista.
Ao revisitarmos espectro complexo da esquerda brasileira, nas últimas décadas, constatamos a enorme dificuldade de se tomar distância dos embates protagonizados Pelas nossas organizações de base, quanto a sua participação nos Espaços governamentais. com efeito, bem sabemos que, mesmo dentro de uma correlação de forças desfavorável, conquistas relevantes foram obtidas, durante os governos populares. sabemos, por outro lado, que tais conquistas só foram obtidas Graças a concessões fundamentais feitas aos setores dominantes de nossa sociedade, inclusive tendo que ceder para os mesmos setores dominantes, em especial o rentista, as fatias mais substanciosa do bolo econômico da sociedade brasileira. Eis porque insistimos em perguntar: tendo em vista que, há cerca de meio século, estivemos a apostar em tais estratégias, fundadas em concessões de migalhas das riquezas socialmente produzidas, destinados às classes populares. Que garantias temos de quê as organizações de base de nossa sociedade, em especial os movimentos sociais populares atuando com a busca de construção de um projeto alternativo de sociedade, vamos passar para uma verdadeira priorização de estratégias eficazes contra esta ordem de coisas?
Sem desconhecermos avanços pontuais conseguidos pela Via dos espaços governamentais, não podemos ignorar que os ganhos maiores resultam em direção dos setores dominantes de tal modo a agravarem os níveis das desigualdades sociais, resumidas na constatação de termos ricos cada vez mais ricos à custa de pobres cada vez mais pobres? 
Do ponto de vista econômico, por exemplo, apreciando criticamente a lista de ganhos obtidos pelas classes populares, durante os governos populares, nas primeiras décadas deste século, que resultados substantivos podemos obter? E a que custo? as sucessivas concessões estratégicas, inicialmente tidas como meras táticas conjunturais, a que ponto nos levaram? Será que, não obstante uma lista significativa de ganhos populares, representados pelas políticas compensatórias (aumento real do salário mínimo, Bolsa Família, programa Minha Casa Minha Vida, acesso de jovens das classes populares as universidades e institutos federais, além de tantas outras conquistas semelhantes), lograram manter-se por quanto tempo? De que Valerão às sucessivas táticas eleitorais, de caráter profundamente aliancista, sob alegação da necessária governabilidade?
A despeito de sucessivos e crescentes “acidentes”(?), no transporte do Petróleo, nas grandes barragem de mineração e atividades do gênero, teimamos - mesmo as forças de esquerda - em apostar cegamente num desenvolvimentismo que agride profundamente oceanos, rios, vales, solo, subsolo, flora e fauna, além dos humanos. estamos, ou não, a cometer graves equívocos em seguirmos apostando nesta via? Crescem as evidências da insanidade do Capitalismo no agravamento  das condições de vida do Planeta e dos Humanos, enquanto ainda continuamos apostando cegamente nas riquezas do pré-sal, e da mineração…

João Pessoa, 14/11/2019

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