HÁ PROFETAS CLAMANDO POR JUSTIÇA
SEGUE VIVA DOS POBRES A ESPERANÇA
Alder Júlio Ferreira Calado
Reunidos estamos pra louvar
Ao Espírito que opera maravilha
Sua Luz em Comblin tão forte brilha
Testemunha fiel e exemplar
Da América Latina fez seu lar
Junto aos pobres se pondo sem tardança
Ao combate profético bem se lança
As centelhas do Reino ele atiça
Há profetas clamando por justiça
Segue viva dos pobres a esperança
Sobre ele olhares mui diversos
Recuperam histórias tão marcantes
De quarenta, cinqüenta anos antes
Retratá-lo também desejo em verso
Dele ainda há muito ponto imerso
Desse sábio “ice-berg” tão discreto
Não se disse metade do alfabeto
Muitas vozes juntando em mutirão
Nosso esforço já não será em vão
De fazer-lhe um retrato mais completo
Recordando seu tempo de estudante
Lá na Bélgica, sua terra de nascença
Lembra mestres de alma livre, densa
Um dos quais de atitude bem marcante
Era um sábio, seguindo sempre avante
Indo às aulas em sua bicicleta
Cujo exemplo de vida tão completa
Em silêncio, aos simples refletia
E José recolheu com alegria
Como aluno do Reino, e bom atleta.
De sua obra tão vasta produzida
Destacar alguns livros vale a pena
Pela forma incisiva, mas serena
Corresponde do autor à própria vida
O primeiro dos livros nos convida
A seguir de Jesus Ressuscitado
Os sinais pra viver sempre ao seu lado
Abraçando também a sua cruz
Do contrário, a folclore se reduz
O propósito de todo batizado
Outros temas se seguem, sem demora
Como a paz, a justiça, a liberdade
Computar tantas obras, quem há-de?
Traduções se sucedem mundo afora
A polêmica se faz também sonora
Quando enfrenta questões essenciais
Ao lembrar: sem justiça não há paz
Inclusive ao interno da Igreja
Mais partilha entre os membros se deseja
“Impossível”, respondem os curiais.
Lá do ITER estórias contam suas
Das conversas com amigos, boa gente
Pe. Nércio era um desses. Renitente...
Contestado, teimoso, não recua
´Inda mais, quando estava em sua “lua”
Com Comblin o debate era “feroz’
Pela carga de humor de sua voz
- “Do que eu penso, você não me demove.
De um a cem, eu discordo noventa e nove”...
- “Um por cento ainda resta para nós...”
De virtudes Comblin é um tratado
Nosso Deus cumulou-o fartamente
É profeta e doutor tão competente
Destemido, sereno, humorado
Muda sempre, mantendo sempre o lado
Dos sinais do Espírito é viva antena
Traduzindo o difícil em coisa amena
Defendendo do pobre a primazia
Que o Supremo Valor nos irradia
“Seu critério nos salva ou nos condena”.
Há profetas clamando por justiça
Segue viva dos pobres a esperança
Quem espera, é verdade, sempre alcança
(A não ser que se aposte em prática omissa
Ou se entregue dos ricos à cobiça)
Profetisas, as temos entre nós
E bem alto ressoa a sua voz
Das instâncias de base vem seu grito
Para além do espaço tão restrito
E do tom punitivo dos reinóis...
Zé faz parte de um grande movimento
Como um rio que corre sob um chão
Ao sistema insistindo em dizer “Não!”
Aos sinais do Espírito estando atento
Solidário dos pobres ao lamento
Empunhando do Reino as bandeiras
Produzindo suas obras tão certeiras
Percorrendo esse vasto continente
E formando uma base consistente
Peregrino incansável, sem fronteiras...
João Pessoa, 22 de março de 2003.
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