UM ROMANCE HISTÓRICO DE NOTÁVEL ALCANCE FORMATIVO: Apontamentos acerca do livro de autoria de Michael Löwy e de Olivier Besancenot. “O Caderno Azul de Jenny: a visita de Marx à Comuna de Paris. São Paulo, Boitempo, 2021”
Alder Júlio Ferreira Calado
Sigo tendo os jovens (de todas as idades) como os destinatários principais em minhas reflexões compartilhadas. Sem um cotidiano investimento em nosso processo formativo, não temos como enfrentar adequadamente os atuais desafios. Não me refiro aqui à mera escolarização, mas especialmente ao processo formativo protagonizado por nossas organizações de base, em especial os movimentos sociais que lidam com a construção de um projeto societal, alternativo ao atual modo de produção, de consumo e de gestão societal.
Neste sentido importa chamar a atenção para a série de iniciativas da editora Boitempo que, além de uma série de livros de excelente qualidade também oferece uma multiplicidade de vídeos de grande alcance formativo, razão pela qual não me canso de incentivar nossos jovens a se manterem atentos e assíduos a este tesouro formativo. Um exemplo ilustrativo da qualidade dos materiais trabalhados pela Boitempo é a publicação deste livro, cujo lançamento foi registrado, com a participação efusiva da Escola Florestan Fernandes, do MST, em parceria com a Fundação Rosa Luxemburgo e da própria Boitempo (https://blogdaboitempo.com.br/2021/06/17/jenny-e-karl-marx-na-comuna-de-paris/).
Assumindo uma postura de Educadores Populares, os autores do livro, Michael Löwy e Olivier Besancenot, houveram por bem provocar seus leitores e leitoras ao exercício da memória histórica, um dos componentes fundamentais do processo formativo revolucionário (ao lado do horizonte revolucionário e da Práxis).
A riqueza pedagógica do Ato do lançamento do livro foi marcada por distintos momentos. De início, por meio de uma espécie de Jogral, tratou-se de rememorar os traços mais fortes da experiência revolucionária da Comuna de Paris. Em seguida, após breves falas de apresentação dos parceiros daquela iniciativa (Escola Nacional Florestan Fernandes, Fundação Rosa Luxemburgo e Boitempo), coube ao professor Michael Lowy realçar os pontos da Comuna de Paris que entendeu mais relevantes:
Começou por destacar ter-se tratado de um movimento revolucionário feito de baixo para cima, no qual as decisões foram tomadas radicalmente pelas bases de trabalhadores e trabalhadoras;
Enfatizou o caráter internacionalista da Comuna de 1871: com efeito, entre os principais protagonistas da Comuna de Paris, encontravam-se revolucionários e revolucionárias procedentes de vários países (Inglaterra, Alemanha, Rússia, Hungria, Polônia, Espanha…);
Tratou-se de um movimento revolucionário plural, cujos protagonistas estavam ligados a diferentes tendências do Movimento Operário, inclusive Marxistas e Anarquistas;
Contou com uma efetiva participação de mulheres revolucionárias, entre as quais Elisabeth Dmitrief, Louise Michel (figura sobre a qual já tivemos oportunidade de comentar: cf. https://textosdealdercalado.blogspot.com/2020/10/louise-michel-uma-feminista-libertaria.html ).
Ao prosseguir sua exposição didática, no lançamento do livro, Michael Lowy sublinhou aspectos da atualidade da Comuna de Paris, como lição a ser extraída pelos nossos movimentos sociais diante dos graves desafios que enfrentamos. Cada um dos pontos destacados pelo autor merece ser tomado em consideração por nossos movimentos sociais da atualidade;
Seja no que diz respeito a devastação da Mãe-Terra, provocada pela sanha do Capitalismo, em sua fase mais destrutiva;
Seja no tocante ao papel revolucionário das mulheres (tendo feito questão de ressaltar a bravura das Mulheres Indígenas em suas lutas em defesa da Mãe Natureza);
Seja ainda quanto a participação de jovens nos processos de lutas e manifestações contra a barbárie capitalista mundo afora;
Ainda enfatizou - e aqui já em diálogo com os/as participantes - a lição para nós no que diz respeito a necessária unidade das forças progressistas de atuarem contra as graves ameaças neofascistas no Brasil e no mundo.
Vale notar que o livro assume o gênero de ficção, traço genial que os autores adotam, para serem mais acessíveis aos leitores e leitoras e em especial aos jovens em quem demonstram ter grande esperança. A despeito do anunciado recurso fictício do livro, o relato sobre a Comuna de Paris e seus protagonistas mantém sua base factual. O tom fictício se faz presente no que tange à visita de Marx e de sua filha Jenny à Comuna de Paris, durante duas semanas, desde 18 de abril de 1871. Neste caso, os autores do livro recorrem a uma forte imaginária, identificada como “O Caderno Azul de Jenny”, uma espécie de diário no qual se encontram os registros desta visita.
Ao cabo destas notas, importa ressaltar alguns elementos que delas podemos recolher:
O exercício da Memória histórica constitui uma das marcas mais relevantes da própria mística revolucionária;
Em orgânica interconexão com os processos organizativos e de luta, o processo formativo dos militantes revolucionários cuida de haurir do exercício da memória histórica dos oprimidos sua preciosa força mobilizadora;
Importa felicitar os autores do livro pela eficácia de sua ação educativa de grande atualidade: ao destacarem fatos e posturas memoráveis.
João Pessoa, 20 de agosto de 2022.
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