Eduardo Hoornaert, garimpeiro de saberes raros e preciosos
Alder Júlio Ferreira Calado
Prestes a completar seus 95 anos, em outubro próximo, Eduardo vêm, por décadas, ajudando-nos, por seus artigos, livros e numerosos textos compartilhados em sua página virtual - https://eduardohoornaert.blogspot.com - , como historiador como teólogo e portador de múltiplos saberes, a descobrir tantos tesouros escondidos pelas seculares camadas de cinzas a encobrirem a brasa da Boa Notícia da Tradição de Jesus. Ele o tem feito, de modo heurístico, graças ao seu empenho contínuo em garimpar preciosas pérolas escondidas em diversas experiências vividas pelos protagonistas - mulheres e homens - do movimento de Jesus.
Belga, de nascimento, Eduardo chega ao Brasil, (mais precisamente à Arquidiocese da Paraíba, em 1958), como presbítero e professor de História do Cristianismo e de outros campos de saberes, ele atuou como professor do Seminário de João Pessoa, de Recife, do ITER ( Instituto de Teologia do Recife) no DEPA ( Departamento de Pastoral e Assessoria), no Seminário de Fortaleza, além de docente na UFPE e na UFBA.
A partir dos anos 70, enquanto exímio estudioso da História, foi chamado a compor - com Enrique Dussel, José Oscar Beozzo e outros, a frutuosa Equipe de Coordenação CEHIlA (Comisión de História de las Iglesias Latino-Americanas), da qual resultaram algumas dezenas de livros sobre a história das Igrejas latino-americana e caribenhas, inclusive do Brasil, sempre “a partir do Povo”, no quadro da qual Eduardo coordenou a “CEHILA Popular”, produzindo e divulgando dezenas de folhetos de cordel sobre grandes figuras populares do Cristianismo, atuando pela libertação dos pobres e oprimidos do Brasil.
De dezenas de livros por ele escritos, aqui destacamos alguns: “ Formação do Catolicismo Brasileiro”; “Memória do Povo Cristão”; “História do Cristianismo Latino-Americano”; “Anjos de Canudos”; Origens do Cristianismo”; “Em Busca de Jesus Nazaré” “Helder Câmara uma Vida que se fez dom”. Em nosso Grupo Kairós, temos tido a oportunidade de ler vários de seus livros e artigos. Nas linhas que seguem, cuidamos de pôr em relevo aspectos relevantes de seu mais recente artigo, intitulado “ O Modelo Diocese vai passar?” Neste artigo, Eduardo Hoornaert, percebendo de longa data o crescente distanciamento das Igrejas Cristãs - no caso, a Igreja Católica -, em relação a Tradição de Jesus, trata de destacar o que sucede no plano de sua organização institucional, debruçando-se especialmente na análise de três aspectos. A Paróquia, a Diocese e o Ecumenismo, de modo a realçar os desdobramentos semânticos, em especial da paróquia e da Diocese, propondo em favor da recuperação das fontes neotestamentárias, o caminho do Ecumenismo como escolha consequente ao Movimento de Jesus.
Neste sentido, o autor, ao revisitar fontes neotestamentárias - em especial, a primeira Carta de Pedro, nos rememora o sentido original do termo “Paróquia”, que expressa uma condição de penúria experimentada pelos pobres, pelos migrantes, desprovidos de moradia, a semelhança do que hoje se passa com o povo em situação de rua. Comparado com o termo “Paróquia” de hoje, percebermos algo próximo a uma inversão de sentido: enquanto “Paróquia”, no caso das primeiras comunidades cristãs acenava para uma situação social, hoje o mesmo termo designa uma expressão territorial, relativamente confortável para seus frequentadores correspondendo a uma unidade territorial componente da “ Diocese”, governada pelo Bispo significando outra unidade administrativa, alusiva a estrutura do Império Romano, que se vem mantendo principalmente desde a era constantiniana.
A despeito de sua consolidação multi-secular, o modelo Diocese dá sinais de crescentes lacunas, em face dos atuais desafios do mundo contemporâneo, e sobretudo do sentido correspondente a missão evangelizadora anunciada e testemunhada pelas primeiras comunidades e pelo próprio programa anunciado por jesus de Nazaré e seus discípulos e discípulas de Jesus, bem resumido, por exemplo, na passagem de Lucas 4, 15-18.
Em meio a um turbilhão de retrocessos, dentro e fora das Igrejas cristãs vale a pena prestarmos atenção a diversas vozes proféticas a exemplo de Eduardo Hoornaert, a nos proporem o exercício da memória histórica e das próprias fontes do Movimento de Jesus, como caminho de continuarmos dando razão a nossa esperança. Como acima mencionado, Eduardo Hoornaert propõe, como caminho de superação do modelo Diocese, o da convivência ecumênica. Vale a pena conferir este artigo.
Sempre Firme, mirando no futuro
Com o presente sentindo-se incomodado
Eduardo cavuca, então, o passado
Ancião de saber fértil e maduro
Longa vida e saúde, eu lhe auguro
A Divina Ruah sendo fiel
Esperança mantemos, a granel
Acendendo centelhas de utopia
Com os amigos dialoga e intercambia
A buscar terra nova e novo céu
João Pessoa,15 de agosto de 2025
Eu, simplesmente considero o Eduardo um fenômeno !!Uma tamanha capacidade de bnalise e de criação exegetica historica me deixa sempre surpreso e admirado !! Que bom, Alder Julio, você estar destacando essa figura unica de Eduardo. parabéns sempre !
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