Um dia especial, no cotidiano do Movimento das Comunidades Populares (MCP), no Nordeste
Alder Júlio Ferreira Calado
Atendendo a mais um convite da coordenação do MCP paraibano, tive a alegria de participar de mais um Encontro deste Movimento, realizado em Cabedelo - PB, nos dias 16 e 17 próximo-passados. Tratava-se de um Encontro especial de avaliação e de comemoração dos quatro anos da fecunda experiência, em âmbito nordestino (Alagoas, Pernambuco e Paraíba) do GIC (Grupo de Investimento Coletivo), uma das múltiplas marcas do MCP, iniciativa que, na região Sudeste (especialmente no Rio), já alcança décadas. Por conta de outra agenda já comprometida (Encontro mensal de reflexão e de estudos com o grupo Caminhos de Liberdade, junto à Comunidade do Mutirão, em Bayeux), dele só pude participar no Domingo.
Já tive várias oportunidades, no blog textosdealdercalado.blogspot.com, de compartilhar diversos textos sobre o MCP. O Movimento das Comunidades Populares, nascido em 1969, sucedâneo da JAC (Juventude Agrária Católica), e que, desde então, tem atuado no Brasil sob diferentes denominações conjunturais (MER- Movimento de Evangelização Rural; CSI - Corrente Sindical Independente; MCL - Movimento das Comissões de Lutas; e, desde 2009, MCP – Movimento das Comunidades Populares), organizado em diversas regiões do País, com sede em Feira de Santana-BA, onde teve lugar, no ano passado seu I Congresso Nacional.
O MCP ainda vive sob o calor e entusiasmo do seu recente Congresso realizado em 2024. As principais marcas do MCP são a fidelidade aos interesses da Classe Trabalhadora; a tomada de decisões pela Base; a autonomia - econômica, política, e ideológica, tanto em relação ao Mercado Capitalista, como em relação ao Estado e seus aparelhos. Organiza-se em vários setores - lutas pela Saúde, Moradia, pela Educação, pela Cultura, protagonizadas pelos seus militantes do Campo e das periferias urbanas, nas lutas em defesa e promoção dos Povos Originários, das Comunidades quilombolas, dos Camponeses, dos operários, dos Desempregados e das maiorias oprimidas de nossa sociedade. Diferentemente de outros movimentos populares, o MCP tem optado pela não-filiação a partidos institucionalizados.
As linhas que seguem, têm o propósito de pôr em relevo alguns aspectos das atividades realizadas neste Encontro, em especial no tocante à avaliação da experiência dos quatro anos de funcionamento do GIC – Grupo de Investimento Coletivo. A partir de cinco questões trabalhadas em pequenos grupos. Os participantes debateram e refletiram sobre o funcionamento e os frutos colhidos por esta experiência, bem como acerca dos desafios encontrados e o modo como os diversos grupos do GIC se organizam para superar as deficiências.
Importa assinalar o sentido maior desta experiência, no quadro geral do MCP: ousando uma alternativa à lógica do sistema bancário burguês – enraizada na obtenção de lucros extorsivos -, os membros do MCP apostam na força dos tostões compartilhados investidos no GIC, como forma alternativa de reserva para financiamento de pequenos projetos coletivos ou mesmo de alcance individual. Por exemplo, um desses membros do GIC relatou, com alegria, que dos tostões que ele investira, há alguns anos, chegou a recolher, como resultado, o valor suficiente para adquirir algumas tarefas de terra e vários bodes para criar. Importante, ainda, ressaltar que, no conjunto de questões propostas para reflexão em pequenos grupos, duas delas instigavam os participantes a relatarem os seus esforços de identificar e de corrigir falhas de procedimentos quanto aos objetivos perseguidos pelo GIC, de modo a entendê-lo, não como um fim em si mesmo, mas como um instrumento a serviço do MCP, no que diz respeito ao exercício de sua autonomia econômica, com desdobramentos em suas lutas políticas e culturais.
Ao mesmo tempo, os participantes - mulheres homens e crianças - mostraram-se sensíveis, na metodologia do Encontro, de modo a combinarem tempos de trabalho, de estudos, de reflexão, de convivência e de lazer, razão pela qual também se mostraram bem-sucedidos na escolha do local do Encontro e na repartição das tarefas.
Tal dinâmica permitiu, inclusive, a um grupo de veteranos do Movimento, a realizarem, espontaneamente, uma animada roda de conversas, compartilhando suas memórias mais vivas, nesta trajetória cinquentenária do MCP, reconhecendo conquistas assim como momentos de debilidades, com muita abertura ao exercício da autocrítica.
Impactou- me, em resumo, a persistência dos militantes do MCP, em buscarem caminhos alternativos de superação das mais diversas manifestações mortíferas do atual modo de produção, de consumo e de gestão societal, razão pela qual, sempre abertos a lerem criticamente a realidade e ao diálogo com outras forças populares, mantendo-se fiéis ao seu compromisso com as causas libertárias do Planeta, dos humanos e dos demais viventes.
João Pessoa 19 de Agosto de 2025.
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