sexta-feira, 28 de novembro de 2025

GT-06 da ANPEd/2025 no Memorial das Ligas e das Lutas Camponesas da Paraíba

 GT-06 da ANPEd/2025 no Memorial das Ligas e das Lutas Camponesas da Paraíba



Alder Júlio Ferreira Calado



Na quinta-feira, 30/10, antes do encerramento da Reunião da ANPED/2025, coordenadores e vários integrantes do Grupo de Trabalho 06 (Educação Popular), inclusive o seu atual Coordenador, Sandro de Castro Pitano, (com quem atuei, em coautoria, em algumas publicações ) da Associação Nacional de Pós-graduação em Educação, por ocasião de sua Reunião Anual realizada em João Pessoa-PB, houveram por bem visitar o emblemático Memorial das Ligas e Lutas Camponesas da Paraíba, situado no Município de Sapé-PB a cerca de 40 Km de João pessoa. Além de integrantes do GT 06 (Educação Popular) também participaram componentes de outros GTs da ANPEd.



Ao felicitar os participantes da ANPEd e de outros Grupos locais - a exemplo de integrantes do Extelar (Grupo de Pesquisa em Extensão Popular da UFPB), inclusive seu Coordenador, Prof. pedro Cruz pela instigante iniciativa tomo a liberdade de rememorar alguns aspectos daquela visita que mais me impactaram. Em ônibus e em alguns automóveis, os visitantes encaminharam-se em direção ao Memorial, no começo da tarde daquele dia 30/10. Acompanhado, na viagem de automóvel por integrantes da Extelar, ao passarmos em frente da Capelinha construída em homenagem a João Pedro Teixeira, no exato lugar onde foi assassinado a mando do famigerado “Grupo da Várzea”, no dia 02/04/1962, tomei a liberdade de convidá-los a prestarmos breve reverência a João Pedro. No Memorial foram todos bem recebidos pelos representantes do Memorial, Alane e Weverton e seus filhos. Após a calorosa acolhida pelos da casa, fomos convidados a tomar uma deliciosa merenda oferecida pelos anfitriões, e compartilhada pelos participantes. 

Em seguida, todos formos convidados a visitar a casa onde moraram João Pedro Teixeira, Elizabeth Teixeira e seus 11 filhos e filhas. Ocasião em que vai brilhar a estrela de Weverton, a expor, de forma competente e didática, apoiando-se nas inúmeras fotos, quadros e documentos expostos pelas paredes da casa, em seus diversos compartimentos.



Competente, oportuna e didática exposição que, de modo circunstanciado, passou em revista múltiplos detalhes históricos do heroico movimento das Ligas Camponesas da Paraíba e da região: seus objetivos, seus princípios, suas lideranças principais, os muitos conflitos e perseguições que tiveram que enfrentar, enfatizando especialmente as figuras de João Pedro Teixeira e Elizabeth Teixeira, além de outras tais como João Alfredo Dias (Nego Fuba), Pedro Inácio de Araújo (mais conhecido como Pedro Fazendeiro, vendedor de tecido) e outros. 



Tratou-se de uma exposição bastante circunstanciada raramente interrompida por alguns pedidos de maior detalhamento, como foram, por exemplo, os que solicitaram circunstâncias mais precisas sobre a presença em Sapé de altas autoridades dos Estados Unidos - com a indisfarçável preocupação de evitar que o Brasil se transformasse em uma nova Cuba -, além de outro pedido acerca da forte solidariedade prestada pelo Governo Cubano à família de João Pedro e Elizabeth Teixeira.


Em Seguida, sob a coordenação do Prof. Severino Silva, da Linha de Pesquisa Educação Popular do PPGE da UFPB, Alder Júlio Ferreira Calado foi convidado a tecer algumas considerações acerca da Educação Popular vivenciada pelas Ligas Camponesas, prometendo fazê-lo em 20/25 minutos. Começou por solicitar às pessoas presentes - uma trintena - que se apresentassem, nome, procedência geográfica, atuação profissional, vínculo com a ANPEd e outras instituições. Constatou-se uma diversidade de procedências geográficas de várias regiões do Brasil, sendo grande parte das pessoas presentes integrantes da ANPEd.


Atendo-se, agora, às Ligas Camponesas do ponto de vista da Educação Popular, começou lembrando que este Movimento Popular teve uma curta duração - de 1954 a 1964, o que muito limitou seu processo organizativo, formativo e de lutas. Tendo surgido no Engenho Galileia, Município de Vitória de Santo Antão-PE, em 1954, logo se estenderia por vários Estados nordestinos - sobretudo na Paraíba - e por outras regiões do Brasil. Em que pese a grande influência da Revolução Cubana de 1959, e a despeito da participação nas Ligas Camponesas de lideranças socialistas (a exemplo de Francisco Julião) e comunistas (a exemplo de militantes do PCB), especialmente na América Latina, as Ligas Camponesas dificilmente podem ser interpretadas como um Movimento Popular propriamente revolucionário, mas antes como pré-Revolucionário, dado o contexto de enorme efervescência sócio-política, eis que, desde a fundação lutavam fundamentalmente por direitos trabalhistas, pelo direito de se organizarem em sindicatos rurais então legalmente proibidos, permitido apenas aos trabalhadores urbanos. Lutavam fundamentalmente contra a cruel exploração praticada pelos latifundiários - contra o “cambão” (obrigando os camponeses a trabalharem alguns dias de graça para seus patrões), o roubo na medida da quantidade de cana por eles cortada, o roubo nas contas dos barracões, obrigando os trabalhadores e suas famílias a se endividarem, comprando neles seus mantimentos, com preços extorsivos, além da humilhação com que tratavam as famílias dos trabalhadores.



No tocante aos aspectos relativos especialmente a Educação Popular, as Ligas Camponesas apresentaram relevantes marcas, em sua trajetória. Uma delas tem a ver com seu profundo compromisso com o “ethos” comunitário, marca especialmente testemunhada pela figura de João Pedro Teixeira. Chama a atenção sua profunda aposta transformadora na Comunidade Camponesa. São inúmeros os testemunhos acerca deste traço de João Pedro: em um contexto de penúria e de escassez de transporte, João Pedro saía frequentemente andando a pé quilômetros, a procura de companheiros e companheiras a convencê-los a se filiarem à Liga de Sapé, como forma de resistência aos ataques corriqueiros dos patrões: destruição de roças pelo gado do patrão, constantes desrespeitos ao mínimo de direitos dos trabalhadores, expulsões arbitrárias de suas casas, entre outros tipos de ataques. É assim que vai crescendo o número de filiados da Liga de Sapé, de modo a tornar-se a maior da Paraíba.



Exercitando este “ethos” comunitário, e ajudado por outras lideranças da Liga de Sapé, João Alfredo Dias (mais conhecido como “Nego Fuba”) e Pedro Inácio de Araújo (mais conhecido como “Pedro fazendeiro”) entre outros e outras, conseguem plantar uma nova consciência entre os camponeses, consolidando sua força organizativa e de resistência aos abusos cometidos pelos latifundiários da região. Tal organização também se fortalecia pelo apoio e solidariedade de lideranças políticas da região, a exemplo do então Deputado Francisco Julião e outros.



Um terceiro aspecto - concernente ao processo formativo - enfrentou mais dificuldades, inclusive pelo curto tempo de sua duração (menos de 10 anos). Mesmo assim tais compromissos (“ethos” comunitários, organizativo, formativo e de lutas) renderam memoráveis conquistas, contando inclusive com a assessoria de advogados sindicais e lideranças políticas do Estado.


Em seguida, o Prof. Severino Silva convidou Alane Silva, anfitriã do Encontro e ex-Presidente do Memorial das Ligas e das Lutas Camponesas da Paraíba, para expor diferentes aspectos da estrutura organizativa e do funcionamento bem como dos principais Projetos vivenciados pelos protagonistas do Memorial. Noticiando a recente eleição da Professora Juliana Teixeira, neta de João Pedro e Elizabeth Teixeira, como a atual Presidente do Memorial das Ligas e das Lutas Camponesas da Paraíba, com muita segurança e fluência, Alane cuida, então, de expor, durante cerca de uma hora, os inícios da fundação do Memorial, ainda na metade da década dos anos 2000, rememorando os principais protagonistas - mulheres e homens - do Memorial, de modo a destacar a participação de figuras tais como da Irmã Marlene Borges, da Irmã Tony, Luizinho (pai de Alane Silva), Pe. Hermínio Canova, Genaro e Gláucia Ieno, Alan, Socorro, João Fragoso, Alder, Iranice, Nazaré, Toninho, entre outras pessoas.


Alane prossegue, discorrendo sobre a formação das primeiras Diretorias e seus componentes, destacando suas iniciativas, seu empenho em conectar-se organicamente com a Comunidade de Antas, especialmente com os acampados (em processo de luta da Fazenda Antas), (só recentemente atendidos em seus pleitos), as reuniões ampliadas da Diretoria do Memorial, a cada mês, seu empenho de contactar os diversos Assentamentos vizinhos ao Memorial, o Centro de Formação Pe. José Comblin, bem como diversas iniciativas, especialmente no campo da Formação em conjunto com várias Escolas da região. Eis um breve resumo da rica exposição feita por Alane atualmente integrando a Turma de Geografia, no âmbito do PPG/UFPB, sendo orientanda da Professora Emília Moreira.


Não obstante a hora avançada, o Prof. Severino Silva abriu espaço para um breve momento de diálogo com as pessoas presentes, acerca das exposição de Alane e de Alder, em blocos de 03/04 pessoas. Relevantes comentários e questionamentos passaram a ser trocados entre as pessoas presentes. Sempre em ambiente de empolgação todos os participantes encerraram o Encontro, com fotos e fraternos abraços.

João Pessoa, 28 de Novembro de 2025

 


quinta-feira, 27 de novembro de 2025

Em destaque, ocorrências mais urgentes No Brasil, na Ameríndia, em nosso mundo

Em destaque, ocorrências mais urgentes 

No Brasil, na Ameríndia, em nosso mundo


Alder Júlio Ferreira Calado 


Sionismo continua massacrando 

Renegando cessar-fogo ao Palestinos 


Europeus ameaçam sequestrar 

Os bilhões que a Rússia tem em crédito 


O Império fustiga Venezuela 

A pretexto de combate de narcotráfico 


Hugo Mota comete o despautério

De fazer G. Derrite Relator


Em projeto enviado por Governo 

De combate às Facções do Narcotráfico 


A Política antidroga da Direita 

Só consiste em matar os periféricos..    


Não contente com o dever de aprovar 

O Congresso executa o Orçamento 


Desde Cunha, o Congresso hipertrofia-se

Usurpando funções de outros Poderes 


No combate aos narcotraficantes

A Polícia executa os periféricos…

   

Cláudio Castro autoriza uma matança 

Desdenhado a polícia Federal 

 

Ao Caribe, o Império trás terror:

Sem julgar, bombardeia embarcações  


Chega a termo o julgamento dos golpistas 

Todos são condenados, justamente  

 

Com cinismo, Donald Trump “justifica”

Sua ausência no G-20 


Acusado de racista a África do Sul

De que os Negros discriminam Povo Branco…

 

Bolsonaro tenta fuga, mas em vão 

A extrema-Direita “pisa na bola”

 

Danifica a própria tornozeleira   

Convocando vigília para tumulto


Banco Master dá golpe de milhões

Envolvendo políticos e banqueiros… 


A Polícia prendeu Daniel Vorcaro 

Quando usava fugir desse País   


Se Vorcaro resolve abrir a boca 

Vai sobrar pra dezenas de Políticos…


Negritude em luta, em Brasília 

As mulheres em marcha por Direitos


De dezenas de milhares a marcha

Combatendo o racismo e a opressão 


STF decreta punição 

A golpistas, à frente Bolsonaro 


Fato inédito, na história do Brasil:

Generais condenados à prisão! 


O Governo sanciona uma conquista:

Põe os pobres no Orçamento;


Banco Master revela as entranhas 

Do pior que produz a burguesia… 


O conluio banqueiros e políticos 

Se apropria das riquezas da Nação  


A política é o campo dos civis 

Não é mesmo terreno de Militares 


Com perfil de tutoras da Nação 

Nossas Forças precisam reformar-se


Paridades de armas é rompida 

Se armados disputam com civis 


Militares já têm sua missão: 

Quem quiser se eleger que deixem as Armas 


Cidadãos conscientes não elegem 

Candidatos que integram nossas Forças 



João Pessoa, 27 de Novembro de 2025  

terça-feira, 18 de novembro de 2025

Voltar a Jesus: Primeiro compromisso das CEBs - parte do roteiro vivenciado, por ocasião do Encontro das CEBs, Diocese de Pesqueira (Serra das Varas, Arcoverde-PE,15 e 16/11/2025)

 Voltar a Jesus: Primeiro compromisso das CEBs - parte do roteiro vivenciado, por ocasião do Encontro das CEBs, Diocese de Pesqueira (Serra das Varas, Arcoverde-PE,15 e 16/11/2025) 


1. Oração e cantos iniciais

2. Apresentação das pessoas participantes

3. As CEBs no atual contexto sócio-eclesial 

4. Problematizando a partir do tema do encontro: “Voltar a Jesus: primeiro compromisso das CEBs”


= Em busca de nossa refontalização na Palavra de Deus 

= Diferentemente dos profetas subordinados aos reis, os Profetas de Israel clamavam pela fidelidade à Aliança de Javé com o seu Povo: 


+ “Detesto, desprezo vossas peregrinações, não posso suportar vossas assembleias, quando me façais subir holocausto; e em vossas oferendas nada há que me agrade; vosso sacrifício de animais cevados, dele viro o rosto; afasto de mim o alarido de teus cânticos, o toque de tuas harpas, não posso nem ouvi-lo. que o direito jorre como água e a justiça seja uma torrente inesquecível” (Am 5, 21-24).


+ “Desatar os laços provenientes da maldade, desamarrar as correias do jugo, dar liberdade aos que estavam curvados, partilhar o teu pão com o faminto. Abrigar os pobres sem moradia. Vestir os que estiverem necessitados de roupa… Então tua luz despontará com a aurora” (Is 58, 6-8). 


+ "Julguem com retidão todos os dias e livrem o oprimido das mãos do opressor" (Jr, 21, 12).


= Jesus como profeta:


+ “Cumpriu-se o tempo, o reino de deus aproximou-se: convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1, 15)


+ Jesus anuncia a que veio: “Jesus leu o trecho que diz: "O Espírito do Senhor está sobre mim, pois me ungiu para evangelizar os pobres. Enviou-me a curar os contritos de coração, apregoar liberdade aos cativos, e dar vista aos cegos, a pôr em liberdade os oprimidos" (Lc 4, 18-19). 


+ “Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos” (Mt 11, 25).


+ “E, outra vez vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus” (Mt 19, 24).


+ “Mas ele, querendo justificar-se, perguntou a Jesus: “E quem é o meu próximo?”

Em resposta, disse Jesus: “Um homem descia de Jerusalém para Jericó, quando caiu nas mãos de assaltantes. Estes lhe tiraram as roupas, espancaram-no e se foram, deixando-o quase morto. Aconteceu estar descendo pela mesma estrada um sacerdote. Quando viu o homem, passou pelo outro lado. E assim também um levita; quando chegou ao lugar e o viu, passou pelo outro lado. Mas um samaritano, estando de viagem, chegou onde se encontrava o homem e, quando o viu, teve piedade dele. Aproximou-se, enfaixou-lhe as feridas, derramando nelas vinho e óleo. Depois colocou-o sobre o seu próprio animal, levou-o para uma hospedaria e cuidou dele. No dia seguinte, deu dois denários ao hospedeiro e lhe disse: ‘Cuide dele. Quando eu voltar lhe pagarei todas as despesas que você tiver’.

Qual destes três você acha que foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?”

“Aquele que teve misericórdia dele”, respondeu o perito na lei” (Lc 10, 27-35).

+ “Ninguém pode servir a dois senhores porque ou há de odiar a um e amar o outro, ou se dedicar a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e ao Dinheiro” (Mt 6, 24).

+ “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! Entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus” (Mt 7:21).

+ “Não foram vocês que Me escolheram, mas fui Eu quem os/as escolhi, para que voĉes vão e deem fruto, e este fruto permaneça” (Jo 15, 16)

= A Boa Nova interpretada pelos Padres da Igreja:

+ João Crisóstomo “Nos dias de hoje, os sacerdotes se acham na dependência da colheita e do comércio… Nós que fomos chamados à intimidade dos céus, que penetramos no verdadeiro sancta sanctorum, entregamos-nos logo as preocupações de comerciantes e donos de lojas. Daí o enorme descuido pelas escrituras, e tibieza de nossas orações e a negligência em tudo o mais, pois não é possível dedicar-se a ambas as coisas com o devido empenho” (extraído do livro “A Profecia na Igreja”, de José Comblin, p. 111).

= Advertência profética de Basílio:

+ “Quem não partilhar dos próprios bens com os pobres equivale a cometer um roubo contra eles e atentar contra a sua própria vida. Lembre-se de que não retemos o que nos pertence, mas o que pertence a ele” (do mesmo livro acima citado, p. 113-114).

+ Gregorio Nanzianceno “lembremo-nos, sobretudo, da definição da perfeição que o senhor dá ao jovem rico, dizendo que dê tudo o que tem aos pobres. Vocês acham que a humanidade para com o próximo não é uma necessidade, mas um ato opcional, que não é uma lei, mas apenas um conselho?” (do mesmo livro, p.116). 

= Os movimentos dos pobres, na Idade Média (os Valdenses, Francisco de Assis, os Cátaros, às Beguinas, entre outros) (Do mesmo livro p.119-164)

= Ensinamentos do Concílio Vaticano II (“A Igreja no Mundo de Hoje sobre os bens comuns e a destinação universal dos bens comuns”, cf. n. 69):

+ Em resumo, O texto afirma que Deus destinou a terra e tudo o que ela contém para o uso de todos os homens e povos. Consequentemente, os bens criados devem chegar equitativamente às mãos de todos, segundo os princípios da justiça e da caridade. 

5. Como lidar com as contradições enfrentadas pelas CEBs, no cotidiano pastoral de nossas comunidades paroquiais? Nossas CEBs vêm atuando, conforme a Tradição de Jesus? (um debate, entre as pessoas participantes, sobre as dificuldades encontradas e como as comunidades tentam superá-las) 

6. Notícias sobre os preparativos para o 16º inter-eclesia das CEBs

7. Celebração final 


Em breve, será compartilhado um relatório circunstanciado sobre este Encontro, incluindo os momentos de leitura e reflexão da recente Exortação Apostólica “Dilexi te”, recém lançada pelo Papa Leão XIV.  


Alder Júlio Ferreir

a Calado   

João Pessoa, 18 de Novembro de 2025

sexta-feira, 7 de novembro de 2025

MIEIB, 39º Encontro Nacional: Conquistas, dilemas e perspectivas

 MIEIB, 39º Encontro Nacional: Conquistas, dilemas e perspectivas


Alder Júlio Ferreira Calado


Respondendo ao generoso convite das organizadoras e organizadores do 39º Encontro Nacional do Movimento Interfóruns de Educação Infantil do Brasil (MIEIB), realizado na UFPB, em João Pessoa de 30 a 31/10/2025, tive a oportunidade de escutar várias integrantes do seu Comitê Diretivo das diversas regiões do Brasil, e de ousar problematizar alguns aspectos dos desafios que me relataram. Neste sentido, nas linhas que seguem, cuido de sintetizar e de compartilhar alguns pontos de minha reflexão, que intitulo: “MIEIB: Conquistas, dilemas e perspectivas”. 


Agradecendo a professora Fabiana, Representante do comitê diretivo do Maranhão que também coordenou os trabalhos desta mesa pelos preciosos elementos de contextualização da trajetória do MIEIB, cuido de destacar diversos elementos, a partir dos quais ouso compartilhar algumas inquietações/provocações.


Contextualização

 

Com base no resumo prestado pela Prof. Fabiana e por algumas outras integrantes do Comitê diretivo do MIEIB melhor nos inteiramos da trajetória e de alguns desafios enfrentados pelo MIEIB, a parti do que me senti motivado a compartilhar, a título de provocação/problematização, alguns aspetos, que cuido de de expor brevemente. E o faço, também inspirando-me em seus principais objetivos e princípios, relembrando especialmente que o foco de nossa breve exposição recai sobre as relações mais orgânicas que o MIEIB é chamado a tecer com os Movimentos Sociais.  


Alguns entraves enfrentados pelo MIEIB 


Como todo Movimento Social, também o MIEIB se sente confrontado com diversos desafios. Um deles tem a ver com a dificuldade de lidar com os dissensos. Embora saibamos que nenhum coletivo está isento de posições divergentes entre os seus integrantes, o fato é que nos sentimos desapontados diante de situações de dissenso. Neste sentido, parafraseando um antigo dito em Latim parece útil recordar algumas evidências esquecidas. Por exemplo, as diferenças, antes de serem tomadas como obstáculos, deveriam ser assumidas como fecunda ocasião de enriquecimento mútuo, até porque são constitutivas do exercício democrático, desde que não se trate de posições antagônicas... Embora não haja receitas, parece uma atitude razoável, no que tange a busca de superação de divergências, a recomendação de que “Nas coisas essenciais, devemos reger-nos pela unidade; nas situações que suscitam dúvidas, devemos exercitar a Liberdade; e em todas as situações, o respeito aos entendimentos diversos.” Quando se tratar de psiçẽs antagônicas convém tomar como baliza os princípios e objetivos do MIEIB.              


“representação” ou “Delegação”?


Por mais que nos sintamos condicionados pelos ares da representatividade, tal orientação não se tem mostrado eficaz um instrumento conceitual fecundo, à medida que, a semelhança do que sucede nas Democracias constata-se um crescente fosso entre ‘representantes” e “representados”, haja vista os constantes clamores das ruas contra os ditos “representantes”. Neste sentido, à carta de alternativa, sentimo-nos remetidos a uma prática inspiradora de certos Movimentos Populares, dos anos 80, que mais apostaram na efetividade da delegação. Quem quer fosse eleito/eleito como “Delegado/Delegada”, a participar de assembleias ou encontros, em outras instâncias, se compromete a votar, não a partir de sua cabeça individual, mas conforme as decisões tomadas pela base. Nas décadas seguintes, enquanto vigorou está prática, os Movimentos Populares seguiram dando frutos promissores, mas infelizmente isto durou pouco…         


A força revolucionária do mecanismo de alternância de cargos e funções 


Outro aprendizado que recolhemos dos Movimentos Populares que se organizavam apostando na construção de uma sociabilidade alternativa ao modo, de consumo e de gestão societal capitalista  consiste na prática do rodízio ou alternância de cargos e funções, isto é, não se permitia que as mesma pessoas se mantivessem por muito tempo como Coordenadoras, mas para assegurar que as pessoas da base tivessem lugar na Coordenação, se exigia que houvesse o rodízio de pessoas da Coordenação (que voltavam a base), dando lugar as pessoas da base na Coordenação. Seguimos considerando revolucionário este procedimento.   


Auto Sustentação ou dependência de outras fontes?


Ouvimos, com atenção, relatos acerca das dificuldades encontradas pelo MIEIB, para assegurar o financiamento de suas atividades organizativas, inclusive seus encontros. Conscientes de que se trata de um entrave presente na maioria dos Movimentos Populares, e sem pretender trazer receita, ouso, mais uma vez, sobre o assunto rememorar como alguns Movimentos Populares ou grupos assemelhados - a exemplo da JOC (Juventude Operária Católica, nos anos 50 60) enfrentavam criativamente este entrave. Convencidos de que sua autonomia organizativa também tinha a ver com sua auto-sustentação - estavam sempre a lembrar o dito popular, segundo o qual “Quem come do meu pirão, prova do meu cinturão” -, cuidavam de financiar, com os seus tostões e recursos (conseguidos, inclusive, mediante a organização de feijoadas rifas e outras iniciativas semelhantes, sua ação programática).         


Traços principais do perfil de nossas crianças 


Outro aspecto a merecer atenção, prende-se a nossa postura de atuar enquanto integrantes do MIEIB, tomando consciência, em primeiro lugar, de quais são os verdadeiros protagonistas do MIEIB, dos quais nossas instâncias organizativas deve atuar, não como os principais protagonistas mas como os promotores e propulsores do protagonismo das crianças do MIEIB. Somos servidores e servidoras de sua causa, as crianças é que são os verdadeiros protagonistas do MIEIB.      


Quem são nossos adversários parceiros e aliados?


O enfrentamento exitoso pelo MIEIB dos embates requer, de nossa parte, ter presentes quais são nossos adversários, nossos parceiros e nossos aliados. Quanto aos primeiros, enfrentamos, especialmente durante as últimas décadas, o ameaçador ascenso, em âmbito internacional na América Latina e no Brasil, das forças de extrema-direita, das quais o Trumpismo, o Sionismo e o Bolsonarismo constituem as forças mais deletérias, de modo a agredirem o Planeta e a ameaçarem os humanos e os demais viventes. Sozinhos, enquanto MIEIB, não temos condição de superar tais forças, cujo enfrentamento exitoso demanda unidade orgânica com os nossos parceiros, principalmente os Movimentos Populares, bem como contar com os nossos aliados.  


Nesta mesma esteira, importa conjugarmos esforços no cumprimento, pelo menos, de três tarefas históricas: no processo organizativo, no compromisso formativo permanente e no contínuo esforço de mobilização ou de lutas. Quanto a tarefa organizativa, parece-útil rememorar aspectos fecundos legados por alguns Movimentos Populares especialmente entre os anos 1950 e 1980, destacando sobretudo sua aposta em se organizarem pela base, em seu método de atuação (direção colegiada, mecanismo do rodízio de coordenadores e coordenadoras, esforço de auto-sustentação econômicas de suas atividades, como condição de manterem sua relativa autonomia, entre outros elementos). 


No que tange a tarefa formativa, importa inicialmente ressaltar seu caráter de continuidade (uma formação descontínua implica graves retrocessos). Além disto, mostra-se fecundo um processo formativo que tome a sério em consideração três dimensões relevantes: manter sempre aceso o horizonte rumo ao qual queremos caminhar (um novo modo de produção, de consumo e de gestão societal, alternativo a barbárie capitalista); o contínuo exercício da memória histórica dos oprimidos, em escalas internacional, latino-americana e brasileira; o compromisso de lutas no cotidiano, sustentado por uma constante leitura crítico-transformadora de nossa realidade bem como por uma inserção irrenunciável, no campo e na cidade, em nossas organizações populares; em consequência destes esforços conjugados, nasce e frutifica o compromisso com as lutas populares do dia-dia. Nunca é demais lembrar que não se trata de receitas, mas de possíveis pistas que nos inspiram certas práticas recolhidas junto a alguns Movimentos Populares, especialmente entre os anos 1950 e 1980 na América Latina e no Brasil, e que podem ser úteis a nossa atual conjuntura. 


João Pessoa, 31 de Outubro de 2025