sexta-feira, 7 de novembro de 2025

MIEIB, 39º Encontro Nacional: Conquistas, dilemas e perspectivas

 MIEIB, 39º Encontro Nacional: Conquistas, dilemas e perspectivas


Alder Júlio Ferreira Calado


Respondendo ao generoso convite das organizadoras e organizadores do 39º Encontro Nacional do Movimento Interfóruns de Educação Infantil do Brasil (MIEIB), realizado na UFPB, em João Pessoa de 30 a 31/10/2025, tive a oportunidade de escutar várias integrantes do seu Comitê Diretivo das diversas regiões do Brasil, e de ousar problematizar alguns aspectos dos desafios que me relataram. Neste sentido, nas linhas que seguem, cuido de sintetizar e de compartilhar alguns pontos de minha reflexão, que intitulo: “MIEIB: Conquistas, dilemas e perspectivas”. 


Agradecendo a professora Fabiana, Representante do comitê diretivo do Maranhão que também coordenou os trabalhos desta mesa pelos preciosos elementos de contextualização da trajetória do MIEIB, cuido de destacar diversos elementos, a partir dos quais ouso compartilhar algumas inquietações/provocações.


Contextualização

 

Com base no resumo prestado pela Prof. Fabiana e por algumas outras integrantes do Comitê diretivo do MIEIB melhor nos inteiramos da trajetória e de alguns desafios enfrentados pelo MIEIB, a parti do que me senti motivado a compartilhar, a título de provocação/problematização, alguns aspetos, que cuido de de expor brevemente. E o faço, também inspirando-me em seus principais objetivos e princípios, relembrando especialmente que o foco de nossa breve exposição recai sobre as relações mais orgânicas que o MIEIB é chamado a tecer com os Movimentos Sociais.  


Alguns entraves enfrentados pelo MIEIB 


Como todo Movimento Social, também o MIEIB se sente confrontado com diversos desafios. Um deles tem a ver com a dificuldade de lidar com os dissensos. Embora saibamos que nenhum coletivo está isento de posições divergentes entre os seus integrantes, o fato é que nos sentimos desapontados diante de situações de dissenso. Neste sentido, parafraseando um antigo dito em Latim parece útil recordar algumas evidências esquecidas. Por exemplo, as diferenças, antes de serem tomadas como obstáculos, deveriam ser assumidas como fecunda ocasião de enriquecimento mútuo, até porque são constitutivas do exercício democrático, desde que não se trate de posições antagônicas... Embora não haja receitas, parece uma atitude razoável, no que tange a busca de superação de divergências, a recomendação de que “Nas coisas essenciais, devemos reger-nos pela unidade; nas situações que suscitam dúvidas, devemos exercitar a Liberdade; e em todas as situações, o respeito aos entendimentos diversos.” Quando se tratar de psiçẽs antagônicas convém tomar como baliza os princípios e objetivos do MIEIB.              


“representação” ou “Delegação”?


Por mais que nos sintamos condicionados pelos ares da representatividade, tal orientação não se tem mostrado eficaz um instrumento conceitual fecundo, à medida que, a semelhança do que sucede nas Democracias constata-se um crescente fosso entre ‘representantes” e “representados”, haja vista os constantes clamores das ruas contra os ditos “representantes”. Neste sentido, à carta de alternativa, sentimo-nos remetidos a uma prática inspiradora de certos Movimentos Populares, dos anos 80, que mais apostaram na efetividade da delegação. Quem quer fosse eleito/eleito como “Delegado/Delegada”, a participar de assembleias ou encontros, em outras instâncias, se compromete a votar, não a partir de sua cabeça individual, mas conforme as decisões tomadas pela base. Nas décadas seguintes, enquanto vigorou está prática, os Movimentos Populares seguiram dando frutos promissores, mas infelizmente isto durou pouco…         


A força revolucionária do mecanismo de alternância de cargos e funções 


Outro aprendizado que recolhemos dos Movimentos Populares que se organizavam apostando na construção de uma sociabilidade alternativa ao modo, de consumo e de gestão societal capitalista  consiste na prática do rodízio ou alternância de cargos e funções, isto é, não se permitia que as mesma pessoas se mantivessem por muito tempo como Coordenadoras, mas para assegurar que as pessoas da base tivessem lugar na Coordenação, se exigia que houvesse o rodízio de pessoas da Coordenação (que voltavam a base), dando lugar as pessoas da base na Coordenação. Seguimos considerando revolucionário este procedimento.   


Auto Sustentação ou dependência de outras fontes?


Ouvimos, com atenção, relatos acerca das dificuldades encontradas pelo MIEIB, para assegurar o financiamento de suas atividades organizativas, inclusive seus encontros. Conscientes de que se trata de um entrave presente na maioria dos Movimentos Populares, e sem pretender trazer receita, ouso, mais uma vez, sobre o assunto rememorar como alguns Movimentos Populares ou grupos assemelhados - a exemplo da JOC (Juventude Operária Católica, nos anos 50 60) enfrentavam criativamente este entrave. Convencidos de que sua autonomia organizativa também tinha a ver com sua auto-sustentação - estavam sempre a lembrar o dito popular, segundo o qual “Quem come do meu pirão, prova do meu cinturão” -, cuidavam de financiar, com os seus tostões e recursos (conseguidos, inclusive, mediante a organização de feijoadas rifas e outras iniciativas semelhantes, sua ação programática).         


Traços principais do perfil de nossas crianças 


Outro aspecto a merecer atenção, prende-se a nossa postura de atuar enquanto integrantes do MIEIB, tomando consciência, em primeiro lugar, de quais são os verdadeiros protagonistas do MIEIB, dos quais nossas instâncias organizativas deve atuar, não como os principais protagonistas mas como os promotores e propulsores do protagonismo das crianças do MIEIB. Somos servidores e servidoras de sua causa, as crianças é que são os verdadeiros protagonistas do MIEIB.      


Quem são nossos adversários parceiros e aliados?


O enfrentamento exitoso pelo MIEIB dos embates requer, de nossa parte, ter presentes quais são nossos adversários, nossos parceiros e nossos aliados. Quanto aos primeiros, enfrentamos, especialmente durante as últimas décadas, o ameaçador ascenso, em âmbito internacional na América Latina e no Brasil, das forças de extrema-direita, das quais o Trumpismo, o Sionismo e o Bolsonarismo constituem as forças mais deletérias, de modo a agredirem o Planeta e a ameaçarem os humanos e os demais viventes. Sozinhos, enquanto MIEIB, não temos condição de superar tais forças, cujo enfrentamento exitoso demanda unidade orgânica com os nossos parceiros, principalmente os Movimentos Populares, bem como contar com os nossos aliados.  


Nesta mesma esteira, importa conjugarmos esforços no cumprimento, pelo menos, de três tarefas históricas: no processo organizativo, no compromisso formativo permanente e no contínuo esforço de mobilização ou de lutas. Quanto a tarefa organizativa, parece-útil rememorar aspectos fecundos legados por alguns Movimentos Populares especialmente entre os anos 1950 e 1980, destacando sobretudo sua aposta em se organizarem pela base, em seu método de atuação (direção colegiada, mecanismo do rodízio de coordenadores e coordenadoras, esforço de auto-sustentação econômicas de suas atividades, como condição de manterem sua relativa autonomia, entre outros elementos). 


No que tange a tarefa formativa, importa inicialmente ressaltar seu caráter de continuidade (uma formação descontínua implica graves retrocessos). Além disto, mostra-se fecundo um processo formativo que tome a sério em consideração três dimensões relevantes: manter sempre aceso o horizonte rumo ao qual queremos caminhar (um novo modo de produção, de consumo e de gestão societal, alternativo a barbárie capitalista); o contínuo exercício da memória histórica dos oprimidos, em escalas internacional, latino-americana e brasileira; o compromisso de lutas no cotidiano, sustentado por uma constante leitura crítico-transformadora de nossa realidade bem como por uma inserção irrenunciável, no campo e na cidade, em nossas organizações populares; em consequência destes esforços conjugados, nasce e frutifica o compromisso com as lutas populares do dia-dia. Nunca é demais lembrar que não se trata de receitas, mas de possíveis pistas que nos inspiram certas práticas recolhidas junto a alguns Movimentos Populares, especialmente entre os anos 1950 e 1980 na América Latina e no Brasil, e que podem ser úteis a nossa atual conjuntura. 


João Pessoa, 31 de Outubro de 2025




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