sábado, 8 de setembro de 2018

SUBVERTENDO AS RELAÇÕES MACHISTAS DO MODELO PATRIARCAL: resumo do capítulo 8º- "Amigo da Mulher" -, do livro "Jesus, aproximação histórica", de autoria do teólogo José Antonio Pagola

SUBVERTENDO AS RELAÇÕES MACHISTAS DO MODELO PATRIARCAL: resumo do capítulo 8º- "Amigo da Mulher" -, do livro "Jesus, aproximação histórica", de autoria do teólogo José Antonio Pagola

Alder Júlio Ferreira Calado
 
Milênios se passam, sem que tenham mudanças substantivas as relações sociais de opressão, a que seguem submetidas as mulheres, sob distintas formas. Aqui, ali, algumas conquistas, arrancadas a duras penas. Mesmo assim, isto não tem sido suficiente para fazer face às escabrosas estatísticas, relativas às mais distintas formas de violência contra as mulheres - dos altos índices de feminicídios, estupros, às desigualdades sócio-econômicas e culturais (desemprego, níveis discrepantes salariais pela mesma função exercida por homens e mulheres, postos de chefia, sem contar as múltiplas formas de discriminação, de que são vítimas no dia-a-dia...) E como se dava isto, no tempo de Jesus? Ele próprio como agia, frente a tais desigualdades? É o que nos oferece o teólogo José Antonio Pagola, no capítulo oitavo, do seu livro "Jesus, aproximação histórica", que vai a seguir resumido.

Este capítulo tem como título, "Amigos das Mulheres". O autor começa a situar o lugar social em que as mulheres se sentem inseridas:
- são as principais vítimas do código de pureza então reinante: por conta da menstruação (ou mesmo do parto, onde o sangue flui, interpretado como um elemento de impureza, as mulheres são avaliadas como seres dos quais se deve manter distância, para não se contaminar;
- são tratadas como propriedade dos homens, devendo-se limitar a servir a todas as suas vontades, inclusive as ligadas às relações sexuais;
- seu papel resumia-se em passarem da dominação do pai à dominação do marido;
- eram-lhes proibidos os espaços públicos: não podiam circular sozinhas ou acompanhadas por homens, nem participar de atos públicos, tinham limites até na participação na sinagoga;
- as que ousassem sair deste circuito social, eram postas à margem da sociedade, sendo empurradas para a prostituição ou a situações de profunda humilhação.
 
É nesse contexto, que Jesus aparece como subversivo deste código misógino. Aproxima-se das mulheres. É seguido por um número expressivo delas, em suas caminhadas pelas aldeias da Galileia. Rompe interditos consolidados: conversa com as mulheres, inclusive com aquelas que nem pertenciam ao seu povo (vide exemplo do seu famoso diálogo com a samaritana); mantém laços de profunda amizade, a exemplo das irmãs Marta e Maria; entretém com Maria Madalena uma profunda relação afetiva, a ponto de ter sido considerada "a apóstola dos apóstolos", tendo que enfrentar o ciúme dos apóstolos.

Entre as páginas 265 e 275, situam-se três tópicos:
- "Um olhar diferente", "Espaço de dominação masculina" e "Discípulas de Jesus". No primeiro destes três tópicos, "Um olhar diferente", o autor, sempre bem fundamentado em diferentes fontes evangélicas (e bíblicas, em geral), segue analisando a postura de Jesus, em relação às mulheres, num contexto sócio-histórico extremamente hostil à dignidade das mulheres. É precisamente aí, que o "profeta do Reino de Deus" se põe a testemunhar uma solidariedade explícita às vítimas do patriarcalismo dominante, no que não teme em afrontar corajosamente as regras do jogo daquela sociedade, ao mostrar-se claramente em defesa e na promoção da dignidade daquelas vítimas. E o faz, em sucessivas circunstâncias e por métodos revolucionários;
- quando a norma dominante era a de tomar-se distância das mulheres, por força dos interditos de impureza, Jesus ousava delas aproximar-se, com elas falar, curar as que Lhe suplicavam cura; 
- quando as leis proibiam que as mulheres fossem acompanhas ou acompanhassem grupos de homens, Jesus se mostrava por elas cercado, a contar-lhes histórias, a partir de uma linguagem com a qual elas se mostravam identificadas;
- enquanto os doutores da lei, no afã de transmitir suas normas - em nome de Deus - cuidavam de multiplicar preceitos e preconceitos, Jesus tratava de pronunciar parábolas, a partir da experiência própria das mulheres, como sucede em relação à do fermento na massa, a da alegria do achado da moeda,após a varredura da casa, etc.; 
- aliás, tal pedagogia era amplamente empregada por Jesus, não apenas em relação às mulheres. Ele a usava, também, com os homens, com os agricultores, lembra o autor, dando como exemplo a parábola do semeador e a da recomendação que Jesus lhes fazia, de que, em sua ida ao campo, contemplassem os lírios do campo, que não tecem, e aos quais o Pai veste com roupa de beleza superior à que vestia Salomão; e que contemplassem os pássaros, que não têm celeiro, e aos quais o Pai não deixa faltar alimento.

No tópico seguinte, "Um espaço sem dominação masculina", o autor descreve as condições concretas de dominação patriarcal, a que eram as mulheres submetidas, seja por seus pais, seja por seus maridos, e com o aval do conjunto da sociedade,com poucas exceções. Jesus, por Sua vez, segue rompendo normas, transgredindo práticas estabelecidas, e fazendo-o, por meio de práticas eficazes, que calavam profundamente os mais aferrados àquele sistema dominante. Por exemplo, no caso do episódio da mulher flagrada em adultério, e levada pra Jesus, para que Ele a condenasse publicamente à morte por apedrejamento, Ele não hesita em dizer aos acusadores: "Quem não tiver pecado, atire a primeira pedra", uma forma genial de desmascarar os acusadores, adúlteros e hipócritas...

No terceiro tópico - "Discípulas de Jesus" - , Pagola cuida de trazer à tona vários episódios dos Evangelhos, mostrando o protagonismo de várias mulheres, dentre as quais, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e José, Salomé, Marta e Maria, por quem Jesus mostrava grande afeto, e que acompanharam seu grupo de discípulos e discípulas. No caso de Maria Madalena, com um protagonismo especial, tendo sido a primeira pessoa a quem Jesus se revela como Ressuscitado. Outro ponto forte do discipulado feminino está no fato de que, diferentemente dos discípulos, que fugiram, quando da crucifixão de Jesus, elas firmemente se puseram presentes.

O último tópico deste capítulo versa sobre a especificidade de Maria Madalena, como amiga de Jesus. O autor, com base em diferentes fontes evangélicas, atesta o lugar especial que Maria Madalena teve no conjunto dos seus discípulos e discípulas, apesar de ela ter sofrido muita resistência da parte dos próprio apóstolos, inclusive de Pedro, por estranharem o fato o lugar que Jesus reservava à Maria Madalena. 

Será, que tais formas de opressão, de exploração e de marginalização das mulheres são coisas só do passado? E hoje, a despeito de sua organização em movimento sociais e e suas lutas, que lugar lhes é reservado, em nossa sociedade? E em nossas Igrejas Cristãs, que lugar elas ocupam? 

João Pessoa, 8 de Setembro de 2018.  

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