segunda-feira, 24 de setembro de 2018

TECENDO FIOS DE NOVA TEIA: notas sobre o IX Encontro Nacional da Raiz Movimento Cidadanista


TECENDO FIOS DE NOVA TEIA: notas sobre o IX Encontro Nacional da Raiz Movimento Cidadanista

Alder Júlio Ferreira Calado

Tive a alegria de participar, como convidado, da IX Teia (assim é que se chamam os encontros nacionais deste movimento), realizada, de 17 a 19/08/2018, em Arcoverde - PE, da recém criada Raiz Movimento Cidadanista (doravante chamarei apenas de Raiz). Trata-se de uma iniciativa de uma organização de base, já presente em vários Estados de todas as regiões do País, surgida em 2015, cujas marcas centrais podem ser resumidas, ao meu ver nas seguintes:

- Forte aposta e empenho na tecedura de relações sociais alternativas ao modelo capitalista vigente;

- Cultivo de uma mística revolucionária alimentada pelo legado dos povos originários, de nossas raízes afro-brasileiras, do compromisso com a promoção da dignidade do Planeta, dos humanos e de toda a comunidade dos viventes;

- Compromisso com o ensaio de novos passos de superação da velha política, por meio da inserção e desenvolvimento de relações, junto as classes populares, com vistas à construção de um novo modo de produção, de um novo modo de consumo e de um novo modo de gestão societal.

Para se apreender melhor o perfil deste novo movimento popular, sugiro acessar sua própria página virtual: http://raiz.org.br/ http://raiz.org.br/pernambuco-1a-teia-regional-do-nordeste

Quanto ao perfil de seus protagonistas, a Raiz compõe-se de membros oriundos das lutas sociais do período precedente ao Golpe de Estado de 1964; de outros militantes – mulheres e homens -, provenientes da luta de resistência contra a ditadura civil-militar; e ainda outros, mais recentes, que seguem participando como militantes de esquerda, nos embates das últimas décadas. Ainda que tendo surgido, como movimento social popular, em 2015, desde então, seus organizadores e organizadoras já tiveram 9 encontros, chamados “Teias, em âmbito nacional”, realizados em diversas regiões do país, inclusive no Nordeste.

Tratamos de explicitar, a seguir, suas principais motivações e bandeiras de lutas. A raiz surge do empenho em manifestar seu compromisso mudancista, a partir do melhor legado protagonizado, em escala mundial, pelos mais diversos povos, inclusive daqueles de quem procedemos, de modo mais direto. Revela-se forte o compromisso de zelar nossas raízes identitárias com os povos originários. Neste sentido manifesta-se como referencial sua adesão ao paradigma do Bem Viver (cf, por exemplo: https://www.youtube.com/watch?v=h4yK2ugTvWQ), expressão das ricas experiências vividas pelos povos Andinos e da própria Amazônia, consistindo fundamentalmente na busca incessante de uma convivência simbiótica com a mãe natureza, com Pachamama. Mais do que uma motivação ou um propósito, a raiz trata de desenvolver, desde o cotidiano de seus militantes, práticas efetivas que apontem nessa direção. Articulada a estas dimensões, a Raiz também centra forças num enfrentamento do Estado, entendendo-o como instrumento auxiliar do Mercado Capitalista, por meio da imposição de políticas econômicas e sociais nocivas ao Planeta, aos humanos e a toda a comunidade dos viventes. Durante a IX Teia, também se tratou esta questão, no quadro geral de suas demais bandeiras prioritárias, que cuidarei de analisar, em seguida.

Compromisso com a dignidade do Planeta, dos humanos, e de toda a comunidade dos viventes

Na IX Teia, bem como nos encontros precedentes (cf. relatos à proposito de seus documentos fundantes e dos encontros precedentes), é tocante a ênfase que se dá ao sentimento de pertença de seus membros a Mãe-Terra, bem como aos povos originários e às comunidades quilombolas, tratados como referência maior e fonte de inspiração de suas lutas, no dia a dia. Percebe-se um empenho marcante de seus membros em se sentirem parte da Mãe Natureza, na defesa e promoção de sua dignidade. Mais que com compromisso internacionalista, a luta pelo Eco socialismo constitui uma de suas principais referências, à medida que se fortalece a convicção do altíssimo poder destrutivo, necrófilo, do modo de produção capitalista, que tudo tenta transformar em mercadoria, pelo que se tem mostrado verdadeira ameaça ao planeta, aos humanos e a toda a comunidade dos viventes.

Experiências articuladas, animadas pelo eixo principal de Luta: ousar passos em direção a uma nova sociedade, alternativa ao modelo capitalista

Na própria programação da IX Teia, percebe-se a inquietação permanente de seus protagonistas – mulheres e homens -, em se manterem atentos ao rumo que perseguem, bem como aos caminhos que levam a este rumo, a ser construído, desde já, a partir das relações do cotidiano e do leque de ações programáticas em curso. Destas, foram compartilhadas principalmente as seguintes:

- Relatos de experiências de convivência alternativa com o Semiárido. Aqui, foram apresentadas e discutidas várias iniciativas moleculares de membros da raiz, em várias regiões do País, especialmente no sertão nordestino. Para tanto, a título de exemplo remetemos a uma série de reportagens protagonizadas por José Artur Padilha  https://www.youtube.com/watch?v=CCb1xR485S8  https://www.youtube.com/watch?v=o39WZlQ0b-w https://www.youtube.com/watch?v=SWpuwVRpTHM

- Também, no cariri cearense, foram relatadas promissoras experiências de permacultura, iniciativas igualmente presentes no protagonismo do Serta (http://www.serta.org.br/inicial/)

- Ainda que de passagem foram igualmente mencionadas iniciativas moleculares, no campo das terapias naturalistas e no das terapias comunitárias integrativas.

Trata-se apenas de algumas ilustrações, de caráter molecular, capazes de acenar para a busca de alternatividade, sempre conscientes, seus protagonistas, de novo, de que são passos embrionários, mas portadores de sementes alternativas ao modelo hegemônico desde que devidamente articuladas a centenas de experiências similares desenvolvidas por outros sujeitos sociais, especialmente outros movimentos sociais populares, animados por projetos de sociedade alternativa ao modo de produção, ao modo de consumo  e ao modo de gestão societal característico do modelo capitalista. Convém, ao final destes registros, lembrar a importância de outros Movimentos Sócias Populares, no campo e na cidade, espalhados pelo Brasil, pelo continente e pelo mundo. Em outras ocasiões, já tivemos oportunidade de nos debruçar sobre alguns deles, à exemplo do MCP – Movimento das Comunidades Populares, que já tem meio século de caminhada (cf. http://textosdealdercalado.blogspot.com/2016/06/movimento-das-comunidades-populares-40.html?q=mcp


João Pessoa 24 de setembro de 2018.

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