TECENDO
FIOS DE NOVA TEIA: notas sobre o IX Encontro Nacional da Raiz Movimento
Cidadanista
Alder Júlio Ferreira Calado
Tive a alegria de participar, como convidado, da IX Teia (assim é que se
chamam os encontros nacionais deste movimento), realizada, de 17 a 19/08/2018,
em Arcoverde - PE, da recém criada Raiz Movimento Cidadanista (doravante
chamarei apenas de Raiz). Trata-se de uma iniciativa de uma organização de
base, já presente em vários Estados de todas as regiões do País, surgida em
2015, cujas marcas centrais podem ser resumidas, ao meu ver nas seguintes:
- Forte aposta e empenho na tecedura de relações sociais alternativas ao
modelo capitalista vigente;
- Cultivo de uma mística revolucionária alimentada pelo legado dos povos
originários, de nossas raízes afro-brasileiras, do compromisso com a promoção
da dignidade do Planeta, dos humanos e de toda a comunidade dos viventes;
- Compromisso com o ensaio de novos passos de superação da velha
política, por meio da inserção e desenvolvimento de relações, junto as classes
populares, com vistas à construção de um novo modo de produção, de um novo modo
de consumo e de um novo modo de gestão societal.
Para se apreender melhor o perfil deste novo movimento popular, sugiro
acessar sua própria página virtual: http://raiz.org.br/
http://raiz.org.br/pernambuco-1a-teia-regional-do-nordeste
Quanto ao perfil de seus protagonistas, a Raiz compõe-se de membros
oriundos das lutas sociais do período precedente ao Golpe de Estado de 1964; de
outros militantes – mulheres e homens -, provenientes da luta de resistência
contra a ditadura civil-militar; e ainda outros, mais recentes, que seguem
participando como militantes de esquerda, nos embates das últimas décadas.
Ainda que tendo surgido, como movimento social popular, em 2015, desde então,
seus organizadores e organizadoras já tiveram 9 encontros, chamados “Teias, em
âmbito nacional”, realizados em diversas regiões do país, inclusive no Nordeste.
Tratamos de explicitar, a seguir, suas principais motivações e bandeiras
de lutas. A raiz surge do empenho em manifestar seu compromisso mudancista, a
partir do melhor legado protagonizado, em escala mundial, pelos mais diversos
povos, inclusive daqueles de quem procedemos, de modo mais direto. Revela-se
forte o compromisso de zelar nossas raízes identitárias com os povos
originários. Neste sentido manifesta-se como referencial sua adesão ao
paradigma do Bem Viver (cf, por exemplo: https://www.youtube.com/watch?v=h4yK2ugTvWQ),
expressão das ricas experiências vividas pelos povos Andinos e da própria
Amazônia, consistindo fundamentalmente na busca incessante de uma convivência
simbiótica com a mãe natureza, com Pachamama. Mais do que uma motivação ou um
propósito, a raiz trata de desenvolver, desde o cotidiano de seus militantes,
práticas efetivas que apontem nessa direção. Articulada a estas dimensões, a Raiz
também centra forças num enfrentamento do Estado, entendendo-o como instrumento
auxiliar do Mercado Capitalista, por meio da imposição de políticas econômicas
e sociais nocivas ao Planeta, aos humanos e a toda a comunidade dos viventes.
Durante a IX Teia, também se tratou esta questão, no quadro geral de suas
demais bandeiras prioritárias, que cuidarei de analisar, em seguida.
Compromisso com a dignidade do Planeta, dos humanos, e de toda a comunidade dos viventes
Na IX Teia, bem como nos encontros precedentes (cf. relatos à proposito
de seus documentos fundantes e dos encontros precedentes), é tocante a ênfase
que se dá ao sentimento de pertença de seus membros a Mãe-Terra, bem como aos
povos originários e às comunidades quilombolas, tratados como referência maior
e fonte de inspiração de suas lutas, no dia a dia. Percebe-se um empenho
marcante de seus membros em se sentirem parte da Mãe Natureza, na defesa e
promoção de sua dignidade. Mais que com compromisso internacionalista, a luta
pelo Eco socialismo constitui uma de suas principais referências, à medida que
se fortalece a convicção do altíssimo poder destrutivo, necrófilo, do modo de
produção capitalista, que tudo tenta transformar em mercadoria, pelo que se tem
mostrado verdadeira ameaça ao planeta, aos humanos e a toda a comunidade dos
viventes.
Experiências
articuladas, animadas pelo eixo principal de Luta: ousar passos em direção a
uma nova sociedade, alternativa ao modelo capitalista
Na própria programação da IX Teia, percebe-se a inquietação permanente
de seus protagonistas – mulheres e homens -, em se manterem atentos ao rumo que
perseguem, bem como aos caminhos que levam a este rumo, a ser construído, desde
já, a partir das relações do cotidiano e do leque de ações programáticas em
curso. Destas, foram compartilhadas principalmente as seguintes:
- Relatos de experiências de convivência alternativa com o Semiárido.
Aqui, foram apresentadas e discutidas várias iniciativas moleculares de membros
da raiz, em várias regiões do País, especialmente no sertão nordestino. Para
tanto, a título de exemplo remetemos a uma série de reportagens protagonizadas
por José Artur Padilha https://www.youtube.com/watch?v=CCb1xR485S8 https://www.youtube.com/watch?v=o39WZlQ0b-w
https://www.youtube.com/watch?v=SWpuwVRpTHM
- Também, no cariri cearense, foram relatadas promissoras experiências
de permacultura, iniciativas igualmente presentes no protagonismo do Serta (http://www.serta.org.br/inicial/)
- Ainda que de passagem foram igualmente mencionadas iniciativas
moleculares, no campo das terapias naturalistas e no das terapias comunitárias integrativas.
Trata-se apenas de algumas ilustrações, de caráter molecular, capazes de
acenar para a busca de alternatividade, sempre conscientes, seus protagonistas,
de novo, de que são passos embrionários, mas portadores de sementes alternativas
ao modelo hegemônico desde que devidamente articuladas a centenas de
experiências similares desenvolvidas por outros sujeitos sociais, especialmente
outros movimentos sociais populares, animados por projetos de sociedade
alternativa ao modo de produção, ao modo de consumo e ao modo de gestão societal característico do
modelo capitalista. Convém, ao final destes registros, lembrar a importância de
outros Movimentos Sócias Populares, no campo e na cidade, espalhados pelo
Brasil, pelo continente e pelo mundo. Em outras ocasiões, já tivemos
oportunidade de nos debruçar sobre alguns deles, à exemplo do MCP – Movimento das
Comunidades Populares, que já tem meio século de caminhada (cf. http://textosdealdercalado.blogspot.com/2016/06/movimento-das-comunidades-populares-40.html?q=mcp
João Pessoa 24 de setembro de 2018.
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