"A TERRA É MINHA CASA E A HUMANIDADE MINHA FAMÍLIA": anotações
em torno da visita apostólica do Papa Francisco à Bulgária e à Macedônia do
Norte
Alder Júlio Ferreira Calado
Foi encerrada, ontem, mais uma
marcante e frutuosa viagem apostólica do Papa Francisco, mundo a fora, desta
vez visitando a Bulgária (de 05/05 a 06/05), e à Macedônia do Norte (anteontem,
06/05), dois países europeus periféricos, situados entre os mais pobres daquele
continente. Uma trintena de viagens apostólicas do Bispo de Roma, alcançando
todos os continentes - eis algo extraordinário, especialmente tomando-se em
conta o fato de que Francisco alcança esta marca, em apenas seis anos de
pontificado, e com seus bem vividos 82 anos. Atribui-se a Khalil Gibran a
autoria do título deste relato, mas ousamos dizer que tem muito a ver com o
Papa Francisco que se tem revelado um incansável profeta itinerante de nossos
dias. Disto da testemunho, inclusive, o título que escolheu para sua percuciente
encíclica social Laudato
si'- Sulla cura della casa comune.
Visita
apostólica à Bulgária
Em seus dois dias de visita à Bulgária, o Papa Francisco, desde o
momento das boas-vindas, expressas pelo Presidente da República da Bulgária,
nos remete ao objetivo axial de suas viagens apostólicas, inclusive nestas à
Bulgária e, depois, à Macedônia do Norte. Em suas palavras de saudação ao Bispo
de Roma, o Presidente da Bulgária Rumen Radev, lembra o mote que Francisco
adota para esta visita: "Pacem in Terris", numa feliz alusão a uma
das marcas proféticas de seu antecessor, Papa João XXIII, figura apreciada pelo
povo búlgaro, e não por acaso. O bom Papa João, antes de ser eleito papa,
passou cerca de dez anos, vivendo na Bulgária, como delegado apostólico, uma
convivência de um denso testemunho ecumênico, a que o Presidente da Bulgária fez
questão de se referir, e de forma bem acentuada, à medida que, ao saudar o Papa
Francisco, rememorava a multissecular história do Cristianismo naquela terra
eslava. Na ocasião, sublinhou especialmente o papel missionário dos santos
Cirilo e Metódio, na semeadoura da fé cristã entre os povos eslavos, razão por
que ambos os santos são venerados como copadroeiros da Europa, ao lado de São
Bento (padroeiro da Europa Ocidental). Mas, a ênfase mais retumbante da
saudação de boas-vindas dirigidas ao Papa pelo Presidente da República da
Bulgária, foi posta na defesa e promoção de uma cultura de paz,
caracterizada pelo compromisso comum das autoridades búlgaras e do Papa, de
engajamento como construtores de pontes, e não de muros: "Muros é fácil
levantar. Difícil é construir pontes! Dizia. Nesse sentido, assinalou, com
entusiasmo, alguns traços da cultura de paz, presentes na Bulgária, lembrando
que apenas a alguns metros daquele local, encontravam-se convivendo em harmonia
e concórdia um templo ortodoxo, uma mesquita, um templo católico e uma
sinagoga. E, mais forte ainda, foi sua referência ao povo búlgaro, no tocante
ao desafio dos migrantes, em que a aposta vinha sendo no sentido de promover o
respeito e o acolhimento, criando condições de entendimento pacífico de
múltiplas culturas, diversas línguas, variedade de grupos de várias
procedências, línguas e culturas.
Por seu turno, em resposta à saudação feita pelo Presidente da Bulgária,
o Papa Francisco, após destacar aspectos vários da história do povo búlgaro -
dos primeiros centros de irradiação da fé cristã; o pioneirismo profético-pastoral
de figuras como o dos santos Cirilo e Metódio; o espírito ecumênico
testemunhado pelo povo búlgaro, entre outros -, sublinha o espírito de
acolhimento do povo búlgaro aos migrantes, até porque, nas últimas décadas,
constata-se um declínio da população búlgara, indicando-o também como
emigrante, além do testemunho ecumênico presente naquela terra.
Em seguida, o Papa Francisco se dirige a um outro local próximo
daquela praça, para encontrar-se com o Patriarca Neófito, da Igreja Ortodoxa
daquele país. Neste encontro, o foco das inquietações do Papa Francisco,
expresso em suas abençoadas palavras, foi posto na defesa e promoção do
ecumenismo, prática testemunhada, décadas atrás, pelo bom Papa João, de tal modo
que costumava dizer que não importando onde se encontrasse, sentia-se sempre
disposto a acolher irmãos e irmãs da Bulgária, independentemente de sua
identidade confessional pois havia tido uma marcante experiência de convivência
ecumênica. Mas, de que ecumenismo se trata? O Papa Francisco destacou, em sua
fala, três fortes dimensões do ecumenismo de base, que aprecia vivenciar: um ecumenismo
do sangue, um ecumenismo do pobre e um ecumenismo da missão, conforme se pode
ver/ouvir por meio do seguinte link: https://www.youtube.com/watch?v=zTj51KosD2A&t=181s
Com efeito, por ocasião do encontro com o Patriarca Neófito, o
Papa Francisco, compartilhava o sentido que atribui ao Ecumenismo de base, por
meio de três dimensões. No Ecumenismo de sangue, ele se sente remetido ao
sangue dos mártires da Bulgária. Em diferentes momentos da história do
Cristianismo naquela terra, uma das mais antigas a receber as sementes da Evangelização,
não poucos cristãos tiveram que testemunhar com o próprio sangue, sua fé.
Sangue que, ao inundar aquela terra, irrigou e fez florescer missionários e
missionárias, a seguirem anunciando e testemunhando o Evangelho. Com relação ao
Ecumenismo do pobre, Francisco se referia ao cultivo da presença de Jesus nos
pobres e sofredores, em quem somos chamados a reconhecer o próprio Jesus, que
veio para servir e dar sua vida em favor de muitos. No que toca ao Ecumenismo
da Missão, sublinhou a necessidade de todos estarmos vigilantes e atentos ao
chamamento do Senhor, para sermos suas testemunhas, nos diferentes lugares, nas
distintas periferias do mundo.
Outro compromisso
cumprido, ainda no domingo, pelo Papa Francisco, foi a celebração eucarística.
Convém lembrar que os católicos constituem talvez menos de 1% da população
búlgara: menos de 70 mil católicos para uma população total de cerca de 7
milhões de habitantes. Mas, são animadores os testemunhos ouvidos, da parte
deste pequeno segmento. O próprio ambiente de vasta diversidade religiosa
(ortodoxos, muçulmanos, católicos, protestantes, judeus) representa um saudável
aprendizado de convivência respeitosa, no país. A liturgia eucarística foi
celebrada com intensa animação dos participantes. A homilia feita pelo Bispo de
Roma mantém suas características já conhecidas: profundamente enraizada no
Evangelho, ricamente pedagógica, concisa. O Bispo de Roma mostra-se sempre
muito feliz em ressaltar as palavras-chave contidas na passagem evangélica. O
tema do dia sublinhava a pedagogia de Jesus, em seu trato com Pedro, a quem
Jesus convida para ser pescador de homens. Para tanto, dirige perguntas
espinhosas a Pedro: "Pedro, você me ama?" Jesus, não satisfeito com a
resposta positiva de Pedro, volta a fazer-lhe a mesma pergunta, outras duas
vezes, de modo a inquietar Pedro: "Mestre, Você sabe tudo, você sabe que
eu O amo". Só então, Jesus o chama para apascentar as ovelhas do Reino de
Deus. Não bastassem as fragilidades de Pedro, inclusive por havê-lo renegado,
por ocasião de sua paixão, Jesus destacar a importância da missão que propunha
a Pedro: a de apascentar o rebanho que lhe foi confiado. E apascentar, no
sentido próprio aplicado por Jesus, isto é, devendo o pastor impregnar-se do cheiro
das ovelhas. É a disponibilidade, é a disposição para servir as pessoas
mais necessitadas. Em sua homilia, passa, então, o Bispo de Roma a destacar
três palavra-chave, recolhidas desta passagem evangélica: "Deus chama,
Deus surpreende, Deus ama". É Jesus quem toma a iniciativa de chamar seus
discípulos e discípulas, propondo-lhes o seguimento do Projeto de Deus que Ele
mesmo veio anunciar e inaugurar. Quem chama, também assegura as condições da
missão, vela e zela pelos seguidores do Reino de Deus e sua justiça, como o fez
Pedro, a enfrentar sérios desafios no cumprimento de sua missão. Além de
chamar, Jesus também surpreende aqueles e aquelas que se dispuseram a segui-Lo.
Em tantas ocasiões, tantas tarefas que lhes pareciam impossíveis, Jesus mostra
caminhos surpreendentes de superação. Igualmente, Jesus mostra seu amor
àqueles e àquelas que decidem segui-Lo. Estes e estas não são jamais
deixados à deriva. Sentem que contam com o amor de Deus, inclusive nas horas
mais desesperadoras. Eles e elas provam o amor de Jesus, na caminhada. Também o
mesmo acontece aos discípulos e discípulas de hoje.
Na segunda-feira, dia
6, o Papa continua cumprindo sua agenda de um profeta itinerante. Vai ao
encontro das crianças, com quem conversa, e a quem lembra as marcas de quem se
torna discípulo ou discípula de Jesus, isto é, toma consciência de qual é sua
carteira de identidade, por meio das marcas mais relevantes: Deus é nosso Pai,
e todos somos irmãos e irmãs, independentemente de tantas características -
econômicas, políticas, culturais. Somos todos irmãos, filhos e filhas de um Pai
amoroso. E somos chamados a pôr em prática Sua Lei, que é a Lei do Amor.
Outro compromisso
denso cumprido pelo Bispo de Roma deu-se no Encontro pela Paz. Irmanando-se aos
vários delegados ou representantes de outras confissões cristãs (Ortodoxos,
Católicos, Reformados), membros representantes do Islã e do Judaísmo, resultou
deveras tocante a forma como se realizou o encontro.
Encontro ecumênico
pela paz:
Um dos momentos mais significativos da visita do Papa
Francisco à terra e à gente da Bulgária se deu por ocasião do Encontro pela
Paz, por diversas boas razões. Esta sua 29a. visita apostólica pelo mundo, como
verdadeiro peregrino da paz, alcança, nesta oportunidade, o ápice de seu
objetivo: reunir diferentes segmentos da sociedade, pela via da esfera da fé,
da esperança e da ação, em sua reconhecida diversidade de expressões
(ortodoxos, católicos, reformados, muçulmanos, judeus...) em busca de caminhos
e ações concretas em vista da paz mundial. Muito fecunda revelou-se a escolha
feita pelos organizadores do evento do "formato" do Encontro,
envolvendo ações protagonizadas pelos mais distintos segmentos religiosos ali
reunidos. A começar do belíssimo coral de crianças a entoar calorosamente a conhecida
canção "We are the world" (cf. https://www.youtube.com/watch?v=WGgaD_k_EwI)
fazia-se evidenciada a verdadeira bandeira
daquele evento. Mais: felicíssima também foi a iniciativa de se fazer a leitura/oração
do Canto das Criaturas, conhecido como um lema de alcance universal, da lavra
de Francisco de Assis. Canto recitado com notável respeito dos presentes. Um
tocante louvor aos mais distintos elementos da Mãe-Natureza e de todas as criaturas.
Pela sua força poética e mística, vale a pena rememorar alguns trechos desta
magnífica obra de Francisco de Assis:
“Louvado sejas, ó meu Senhor, com todas as tuas criaturas,
especialmente o meu senhor irmão Sol,
o qual faz o dia e por ele nos alumias.
E ele é belo e radiante, com grande esplendor:
de ti, Altíssimo, nos dá ele a imagem.
Louvado sejas, ó meu Senhor, pela irmã Lua e as Estrelas:
no céu as acendeste, claras, e preciosas e belas.
Louvado sejas, ó meu Senhor, pelo irmão Vento
e pelo Ar, e Nuvens, e Sereno, e todo o tempo,
por quem dás às tuas criaturas o sustento.
Louvado sejas, ó meu Senhor, pela irmã Água,
que é tão útil e humilde, e preciosa e casta.
Louvado sejas, ó meu Senhor, pelo irmão Fogo,
pelo qual alumias a noite:
e ele é belo, e jucundo, e robusto e forte.
Louvado sejas, ó meu Senhor, pela nossa irmã a mãe Terra,
que nos sustenta e governa, e produz variados frutos,
com flores coloridas, e verduras.”
Sempre tomando-se em
consideração as características de cada segmento religioso ali reunido, Foram
também recitadas expressivas leituras extraídas de salmos, como o Salmo 122 do
qual destacamos o seguinte trecho: “Haja paz dentro dos teus muros e
segurança nas tuas cidadelas! "
Em favor de meus irmãos e amigos, direi: "Paz seja com você! Em favor da casa do Senhor, nosso Deus, buscarei o seu bem.”, de amplo conhecimento e apreciação pelos segmentos presentes. Foram, igualmente, recolhidos tocantes testemunhos expressos por representantes de cada setor religioso, dentre os participantes do mesmo evento. Vale assinalar, nesta ocasião, o protagonismo dos jovens e das crianças, ao longo deste Encontro. Também foram ouvidas as breves e profundas palavras do Bispo de Roma. Todas podem ser conferidas no "link" seguintes; (cf. https://www.youtube.com/watch?v=WGgaD_k_EwI)
Em favor de meus irmãos e amigos, direi: "Paz seja com você! Em favor da casa do Senhor, nosso Deus, buscarei o seu bem.”, de amplo conhecimento e apreciação pelos segmentos presentes. Foram, igualmente, recolhidos tocantes testemunhos expressos por representantes de cada setor religioso, dentre os participantes do mesmo evento. Vale assinalar, nesta ocasião, o protagonismo dos jovens e das crianças, ao longo deste Encontro. Também foram ouvidas as breves e profundas palavras do Bispo de Roma. Todas podem ser conferidas no "link" seguintes; (cf. https://www.youtube.com/watch?v=WGgaD_k_EwI)
Ao sublinharmos a
relevância e a fecundidade deste momento, sentimo-nos tomados pela feliz
lembrança da força revolucionária das ações moleculares ou da "correntezas
subterrâneas". Justamente num momento de expansão das forças de morte, a
clamarem por mais guerras e conflitos, que ameaçam os humanos e agridem o
Planeta e toda a comunidade de viventes - que nos baste ilustrar esse panorama necrófilo
com o que se vem passando em nosso país, com o atual desgoverno, a serviço das
forças mais portadoras de ações obscurantistas e de morte. Vale a pena
seguirmos firmes, a apostar na força revolucionária de acontecimentos como
este. Não é à-toa que a figura do Bispo de Roma segue sendo cada vez mais apreciada
(mas também odiada pelas forças obscurantistas) como uma liderança mundial de
novo tipo. Não como uma manifestação na aposta em um novo guru, mas, ao
contrário, por indicar pistas concretas de que um novo mundo é possível,
necessário e urgente.
Visita apostólica à Macedônia do
Norte
O Bispo de Roma
dedica todo o último dia de sua visita apostólica à terra e à gente da Macedôni
a do Norte,
considerada um dos países mais pobres da Europa, como aliás também a Bulgária.
A Macedônia do Norte, ex-integrante da antiga Iugoslávia, tornou-se
independente em 1991. Hoje, conta com uma população de pouco mais 2 milhões de
habitantes, cuja composição é marcada pela diversidade de culturas, de nações e
de religiões. Situa-se na região dos Bálcãs ocidentais, atuando como uma ponte
entre a Europa e o Oriente Médio, donde recebe levas de migrantes, não obstante
seus poucos recursos econômicos. A exemplo da Bulgária, a Macedônia do Norte
(assim chamada, para distinguir-se da Macedônia Grega) também possui fundas
raízes cristãs.: mamais que milenar é sua história de implantação da fé cristã.
Ao mesmo tempo, também é palco de convivência com gente de outros credos:
muçulmanos, judeus, além de ortodoxos, católicos e reformados. Tem uma história
de convivência multiétnica, multicultural, uma riqueza para o mútuo aprendizado
do incessante exercício do diálogo multicultural. Como lembrou o Papa, em sua
saudação inicial: tal qualidade transpõe os limites da tolerância, alcançando o
exercício do respeito pela diversidade cultural. Mais uma vez, Francisco nos remete a uma
figura geométrica – o poliedro – que prefere tanto à pirâmide quanto a círculos
fechados. O poliedro representa mais propriamente a convivência com a
diversidade, sem prejuízo de nenhum interlocutor e para o bem de todos.
Ainda em sus palavras
iniciais, dirigidas ao povo da Macedônia, inclusive às autoridades presentes,
além de refrescar positiva e criticamente a memória histórica, na perspectiva
dos valores do Reino de Deus, o Papa Francisco também enfatiza sabedoria de se aprender a conviver, com
respeito mútuo, com as diferenças, como uma riqueza a ser compartilhada. Ao
mesmo tempo, como na Bulgária e praticamente em todas as demais visitas apostólicas
precedentes, centra suas atenções e o seu cuidado principalmente no
reconhecimento dos d, promoção e defesa dos direitos dos pobres, em especial
dos migrantes. Mas, não apenas destes. Também, faz questão de lembrar as
condições de vida e de trabalho, dos jovens, a penúria de tantos anciãos e
anciãs, vivendo em situações de precariedade, bem como das crianças muitas
vezes destituídas do direito de viverem como crianças – “infância roubada”...
Com relação especificamente aos jovens, importa fazer a seguinte observação.
Um
dos momentos mais relevantes da visita do Papa Francisco à Macedônia do Norte
se deu em seu encontro com os jovens. Um sinal forte pelo qual isto pode ser
afirmado, reside na postura de intenso entusiasmo de que o Bispo de Roma esteve
tomado, durante todo o encontro com os jovens. Sua fala vinah carregada de uma
força especial, capaz de contagiar seus ouvintes - jovens ou não. Vale a pena
conferir sons e imagens deste momento (cf. o "link":
E o que disse Francisco
aos jovens da Macedônia? Em síntese, cuidemos de destacar seus pontos mais
fortes.;
- "Sonhar nunca
é demais!" A partir deste mote, Francisco se dirige aos jovens como um
verdadeiro pedagogo, a serviço da causa do Evangelho. Tal sua postura
pedagógica, que, em não poucos momentos, nos remetia a figuras como Paulo Freire,
José Comblin, Dom Hélder, por exemplo. Ai de quem não ousa sonhar, e assim se
vai tornando presa fácil da resignação, da tristeza, do desânimo. Quem não
sonha corre o seriorisco de sucumbir à paralisia;
- ainda quando o
sonho possa induzir a equívocos, mesmo assim, preferível incorrer em alguns
equívocos a conformar-se quieto, de braços cruzados, à sombra de uma falsa
segurança.
- os sonhos são
movidos pela esperança, que dá sentido ao viver, ao con-viver.
- o exercício do
sonho e da esperança constitui um antídoto à onda do consumismo, das novas
ondas e modas das redes sociais e outras ferramentas de comunicação que, ao
promoverem contatos, renunciam a uma vida de comunidcação, em comunidade;
- a vida em
comunidade é a melhor forma de se exercitar os sonhos e as verdadeiras
esperanças;
- o isolamento não
favorece os bons sonhos, antes os sufoca;
- os sonhos mais
fecundos nascem de um saudável enraizamento na história do seu povo, de sua
gente: a memória fertiliza a esperança, à medida que não se limita ao passado, impulsiona
a novos horizontes;
- tal exercício
da memória histórica deve fazer-se também os os mais velhos, com os avós e os
anciãos, portadores de memória, sendo eles elas a raiz histórica na qual os
jovens devem ter plantada sua história, como uma árvore que só pode dar frutos,
a partir de sua conexão com as raízes;
- volta a trazer o
exemplo de uma cidadã macedônia, Madre Teresa de Calcutá que, como jovem, ousou
sonhar alto, sonhar servir à humanidade, desde a Índia, priorizando os trabalhos
com os mais necessitados;
- insiste em que os
jovens também ousem sonhar alto, para o que ainda como grande pedagogo - os
remete aos artesãos de seu país, com tradição de talhar as pedras, isto é, com
tal inspiração, sejam também capazes de sonhar coisas novas...
Não cessamos de
ressaltar o vigor e a criatividade do atual Bispo de Roma, aos seus abençoados
82 anos, e dispondo de apenas um pulmão. Como explicar tal vitalidade, tal
vigor, tal jovialidade? Pois bem, já no avião, de volta ao Vaticano, um
jornalista - dentre alguns que lhe fizeram pergunta sobre o balanço de sua
recém-finda visita apostólica, limitou-se a fazer apenas uma pergunta:
"Como explicar tal vitalidade da parte do Papa, numa visita a dois países,
com tantas atividades, e sem apresentar sinais de cansaço: Francisco responde
que não sabe explicar, e tudo atribui a um dom de Deus. Apenas diz que, quando
está em viagem, não se cansa, cansa-se depois... Cuida de entregar-se
totalmente àquela missão.
Outro compromisso
cumprido pelo Papa Francisco, na Macedônia do Norte, teve a ver particularmente
com a comunidade católica local, por meio da celebração da Missa, na praça
central da capital. Em sua homilia, ao comentar a passagem do evangelho
correspondente à leitura do dia (sobre o pão da vida, que é Jesus), realçou,
com sua habitual pedagogia, as diferentes formas com que a fome se manifesta,
na atualidade e também naquela terra. Lembrou as diversas formas de fome e de
sede sentidas por nossas gentes:
0 diante de um
noticiário recheado de mentiras e de propagandas consumistas, o Papa chamava a
atenção da fome de verdade, de justiça de solidariedade, de partilha, isto é,
dos valores fundamentais do Reino de Deus, pregado e vivido por Jesus.
Em seu último
compromisso na Macedônia, fez questão de visitar o Memorial dedicado a Madre
Teresa de Calcutá, originária daquela terra, que teve a ousadia de radicalizar
o Evangelho, indo anunciar e testemunhar, junto aos pobres da Índia, a Boa Nova
do Reino de Deus.
Que aspectos mais fortes sublinhamos,
como lições a recolher desta experiência missionária do Bispo de Roma?
Das anotações acima
registradas, acerca de mais uma visita apostólica cumprida pelo Papa Francisco.
Pomo-nos a destacar o seguinte. Chama-nos a atenção, em primeiro lugar, a fidelidade
do Bispo de Roma ao espírito do Evangelho, da Boa Nova anunciada e inaugurada
por Jesus. E aqui, não se trata de recorrer a passagens isoladas do seu
pontificado (palavra usada aqui no sentido do ofício de quem se põe a caminho
de construir pontes de diálogo entre os povos)
É, portanto, marcante
e animadora sua coerência entre gestos, palavras e escritos, em seus sete anos
de papado. Outra marca sua: sua posição de profeta itinerante, a percorrer o
mundo, em missão de verdadeira paz, fundada na justiça. Salta, igualmente, aos
olhos seu compromisso profético-pastoral com a causa libertadora dos pobres e
desvalidos: os últimos, os deserdados, os que não contam para a cultura
mercantilista dominante. Neste sentido, resulta relevante perguntar-nos, a este
propósito: que povos e que países tem priorizado, em suas visitas apostólicas?
Quem são, como grupos e pessoas, seus alvos preferidos? Qual tem sido seu estilo
de pôr-se em diálogo com as gentes visitadas? Qual tem sido sua aposta
decisiva: encontrar-se com os grandes deste mundo ou encontrar-se com as
expressões mais reconhecidas das periferias geográficas e existenciais? A
serviço de quê, e a serviço de quem, organiza sua agenda cotidiana, de caráter
profético-pastoral? O que tem tomado como o centro de sus maiores inquietações:
a autopreservação institucional ou as grandes prioridades?
João Pessoa, 08 de
maio de 2019
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