sexta-feira, 23 de agosto de 2019

SOS BRASIL - TERRA E GENTES: A AMAZÔNIA EM AGONIA


SOS BRASIL - TERRA E GENTES: A AMAZÔNIA EM AGONIA

Alder Júlio Ferreira Calado

A Terra geme em dores de parto. Talvez, um parto atípico: desta vez, algo parecido com um aborto. Com efeito, diferentemente das dores maternas em trabalho de parto, prevalece o sentimento de alegria, pela sofrida espera do rebento, pode estar sendo diferente com os sinais de parto apresentados pela Mãe-Terra. Profundamente amorosa com todos os seus filhos e filhas, humanos e não humanos (animais, vegetais e minerais), eis que um segmento de seus filhos – os humanos -, por escolhas feitas em função de seus caprichos idolátricos – o deus “mamon” -, se mostra, em sua maioria, mergulhado numa espécie de síndrome ecocida (ou matricida), assim ameaçando a vida da própria mãe e dos demais irmãos e irmãs. Profundamente magoada e desapontada, a Mãe-Terra pode estar entendendo incontornável extrojetar o segmento ecocida, para salvar seus outros filhos e filhas mortalmente ameaçados, além de si própria. Nossa “Casa Comum!” se apresenta mortalmente ameaçada, no mundo e no Brasil. Aqui, os sinais estão sendo ainda mais alarmantes. Em vários biomas, mas sobretudo a Amazônia arde em chamas, em consequência dos assassinos mecanismos de acumulação ilimitada de riquezas, seja no campo do agronegócio, seja no campo das grandes empresas de mineração, contaminadas pela doença do legendário rei Midas...  No caso do Brasil, resulta intrigante rememorar recorrentes declarações do atual presidente, desde seu tempo de campanha eleitoral, declarações reiteradas “ad nauseam”, de que seu governo pretende colocar o Brasil em honroso lugar, no cenário das nações. Seria este o lugar ao qual se refere?

Já no oitavo mês do (des) governo Bolsonaro, e a terra e os pobres do Brasil seguem profundamente vitimados por sua política de morte, claramente a serviço do (des)governo Trump e suas forças aliadas, lá e cá. Extensa é a lista de infortúnios constantes de sua pauta necrófila, alcançando mortalmente a pauta socioambiental, as políticas de desmonte das leis trabalhistas, da terceirização desenfreada, dos cortes dos direitos previdenciários dos "debaixo", de sucessivos cortes de verbas para a educação, para a saúde, para as universidades...  Não bastasse tal despautério também se sucedem ataques gratuitos feitos pelo Presidente até contra países parceiros, como é o caso da Noruega, da Alemanha e da Argentina, e, mais recentemente da França e tantos outros países do mundo.

Consequência lógica tal sucessão de malfeitos repercute, inevitavelmente, mundo afora, até por que, no caso da Amazônia em agonia, o assunto alcança uma escala planetária, em relação à nossa “Casa comum”.  Há poucos dias, um periódico austríaco estampava em suas páginas: “Brasilien hat einen idioten Präsident gewählt” (Brasil elegeu um presidente idiota) (cf. https://diepresse.com/home/ausland/aussenpolitik/5672338/Brasilien-hat-einen-Idioten-gewaehlt)

Mais do que deplorável, soa revoltante estarmos a assistir ao crescente afundamento do nosso país. É preciso, sim, resistir. Mas, de que resistência se trata? Faz sentido limitarmo-nos a apenas reagir aos impropérios e perversidades governamentais, somente por meio de suas asneiras, buscando responder uma por uma, mas, por outro lado esquecendo-nos também, de que tal forma de reação pode constituir-se em armadilha, se ficarmos reféns dessas asneiras, praticadas a varejo, sem buscarmos identificar e combater suas verdadeiras raízes?

As linhas que seguem têm o propósito de focar uma dessa raízes, e não a menos importante:
O espantoso domínio do monopólio bancário, organizado em escala mundial. A este respeito, vêm-se pronunciando alguns analistas de reconhecida credibilidade na área, dentre os quais os economistas François Morin e o economista brasileiro Ladislau Dowbor, a respeito dos quais podem ser conferidos alguns links: https://www.youtube.com/watch?v=HdrZ52Cigj4

Já nos temos reiteradamente reportado ao desafio maior que enfrentamos: o atual modo de produção, combinado com o modo de consumo em vigor e com o hegemônico modo de gestão societal. Nunca é demais chamar a atenção a tal realidade. No modo de produção capitalista vigente, o vemos cada vez mais hegemonizado pelo setor financista, ao qual se subordinam os demais setores da economia capitalista, em escala mundial, também entre nós, no Brasil. O atual sistema financeiro, com efeito, se apresenta cada vez mais como uma espécie de Minotauro dos novos tempos. Pior: ano a ano, tem agravado suas estratégias de morte sobre o Planeta e sobre os humanos e toda a comunidade dos viventes.
Duas “pequenas” ilustrações, em busca de uma compreensão melhor:
- Quem costuma acompanhar, por exemplo, sessões da Câmara e do Senado, já teve oportunidade de ouvir discursos inflamados de parlamentares, a denunciarem as esdrúxulas taxas de juros e de lucro, auferidas no Brasil pelos principais bancos em atuação no País. Não é por acaso que tais bancos, em tempos de profunda crise ou em tempos de vacas gordas, não cessam de apresentar escandalosos índices de lucratividade! Faz uns três anos, o então Presidente do Senado, Senador Renan Calheiros, não media palavras para denunciar tais escândalos. Sem efeito. O sistema bancário põe-se acima da Constituição e das leis. Mais: acima dos próprios Estados. Não apenas no Brasil;
- Outro exemplo ilustrativo vem à tona, quando buscamos entender – se é que é possível! – a lógica que preside aos critérios adotados pelo sistema bancário, agindo em cartel – no controle desmedido do processo de endividamento dos países, mundo afora. Não apenas no Brasil, mas também em numerosos Estados do mundo, a dívida pública tem-se tornado, há muito tempo, impagável, até porque os mecanismos que caracterizam, são de uma perversidade a toda prova. Convém, a este respeito, acompanharmos, com atenção, as análises profundas conduzidas pela especialista Maria Lúcia Fatorelli, especialmente por meio do site “Auditoria Cidadã da Dívida” (cf. https://auditoriacidada.org.br/)

Sucede, por outro lado, que não é de hoje que se dá a percepção dos mecanismos perversos constantes da velha política internacional de endividamento, implementada pelas gigantescas forças financistas atuando como um monopólio bancário, em escala mundial. Não esqueçamos de que nossa própria Constituição de 1988 prevê a autorização de uma auditoria da dívida. E de lá para cá, a despeito do inexplicável agigantamento da dívida externa e, hoje, da dívida pública, cujo o esdrúxulo montante obedece a critérios unilateralmente fixados, não houve qualquer instância estatal que se dispusesse a pô-la em prática.  Não é difícil daí deduzir com amparo na pertinente análise de Maria Lucia Fatorelli (cf.: Seu artigo “AUDITORIA DA DÍVIDA: 30 ANOS DE DESCUMPRIMENTO DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL A CONSTITUIÇÃO “CIDADÔ VEM DANDO LUGAR À CONSTITUIÇÃO ‘DO MERCADO’”
https://auditoriacidada.org.br/conteudo/acd-30-anos-de-descumprimento-da-cf/) acerca dos injustos critérios e mecanismos componentes de tal extravagante endividamento.

O enfrentamento exitoso dos graves desafios atuais passa pelo esforço internacional de conter a voracidade assassina do capital improdutivo.

Numerosos são os desafios enfrentados pela humanidade, também pelo Brasil. Abrangem todas as esferas da realidade, mortalmente alcançadas pela barbárie do Capital improdutivo, exacerbado cada vez mais pela financeirização da economia. De fato, as crescentes agressões socioambientais, as dramáticas ameaças à vida do Planeta e dos humanos não serão superadas, se não enfrentarmos seriamente a sangria sem limites infligidas pelo monopólio do capital improdutivo.

Mesmo sabendo-se dos laços orgânicos que caracterizam todos os setores do Capitalismo, não há dúvida que a hegemonia de suas perversidades recai sobre o capital financeiro. Urge compreendê-lo, em suas manifestações capciosas. Vejamos algumas de suas manifestações necrófilas. Comecemos por relembrar as marcas da crise mundial mais recente, cujo ápice se atingiu nos Estados Unidos, entre 2007/2008. O que teria acontecido com o famoso Banco Lehman Brothers  (banco, de atuação global, de investimento e provedor de outros serviços financeiros). Algo muito semelhante do que se passa com os grandes bancos de maior referência mundial. São cerca de 28, espalhados sobretudo pelos Estados Unidos, pela Europa, com um ou outro também no Japão e na própria China. No universo de dezenas de milhares de bancos, estes 28 bancos assumem um controle de reconhecida hegemonia. E como explicar o fenômeno de seu gigantismo? Como explicar o fato de que, reunidos, esses 28 bancos acumulam em torno de dois terços das riquezas públicas? Como explicar que fazendo parte de apenas 1 por cento dos mais ricos do mundo, eles concentrem mais riquezas do que os 99 por cento restantes?
Ainda no caso do Brasil, tem-se revelado ainda mais perversa a sanha financista agindo sem controle, haja vista o cotidiano de suas práticas extorsivas – imposição de taxas de juros escandalosas, visivelmente injustificadas (chega a ser ridícula sua justificativa reiterada de que assim sucede no Brasil, em razão do elevado índice de inadimplência). Quando se confere de perto o que anda acontecendo, percebe-se que a população mais pobre se tem revelado, salvo casos minoritários, de uma confiabilidade a toda prova: enquanto os pobres zelam pela sua honra, os ricos recorrem a seus advogados... Não obstante, é a população mais pobre que se vê obrigada a pagar duas, três vezes a mais o valor dos produtos adquiridos. Situação que inspira os poetas populares, em especial os repentistas, como o repentista Rabelo, a traduzir tal situação pelo mote genial: “Paguei mais do que devia/Devo mais do que paguei”...

João Pessoa, 23/08/2019.

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