SOS BRASIL - TERRA E GENTES: A AMAZÔNIA EM AGONIA
Alder Júlio Ferreira Calado
A Terra geme em dores de parto.
Talvez, um parto atípico: desta vez, algo parecido com um aborto. Com efeito, diferentemente
das dores maternas em trabalho de parto, prevalece o sentimento de alegria,
pela sofrida espera do rebento, pode estar sendo diferente com os sinais de
parto apresentados pela Mãe-Terra. Profundamente amorosa com todos os seus
filhos e filhas, humanos e não humanos (animais, vegetais e minerais), eis que
um segmento de seus filhos – os humanos -, por escolhas feitas em função de
seus caprichos idolátricos – o deus “mamon” -, se mostra, em sua maioria,
mergulhado numa espécie de síndrome ecocida (ou matricida), assim ameaçando a
vida da própria mãe e dos demais irmãos e irmãs. Profundamente magoada e desapontada,
a Mãe-Terra pode estar entendendo incontornável extrojetar o segmento ecocida,
para salvar seus outros filhos e filhas mortalmente ameaçados, além de si
própria. Nossa “Casa Comum!” se apresenta mortalmente ameaçada, no mundo e no
Brasil. Aqui, os sinais estão sendo ainda mais alarmantes. Em vários biomas,
mas sobretudo a Amazônia arde em chamas, em consequência dos assassinos
mecanismos de acumulação ilimitada de riquezas, seja no campo do agronegócio,
seja no campo das grandes empresas de mineração, contaminadas pela doença do
legendário rei Midas... No caso do
Brasil, resulta intrigante rememorar recorrentes declarações do atual
presidente, desde seu tempo de campanha eleitoral, declarações reiteradas “ad
nauseam”, de que seu governo pretende colocar o Brasil em honroso lugar, no
cenário das nações. Seria este o lugar ao qual se refere?
Já no oitavo mês do (des) governo
Bolsonaro, e a terra e os pobres do Brasil seguem profundamente vitimados por
sua política de morte, claramente a serviço do (des)governo Trump e suas forças
aliadas, lá e cá. Extensa é a lista de infortúnios constantes de sua pauta
necrófila, alcançando mortalmente a pauta socioambiental, as políticas de
desmonte das leis trabalhistas, da terceirização desenfreada, dos cortes dos direitos
previdenciários dos "debaixo", de sucessivos cortes de verbas para a
educação, para a saúde, para as universidades... Não bastasse tal
despautério também se sucedem ataques gratuitos feitos pelo Presidente até
contra países parceiros, como é o caso da Noruega, da Alemanha e da Argentina,
e, mais recentemente da França e tantos outros países do mundo.
Consequência lógica tal sucessão
de malfeitos repercute, inevitavelmente, mundo afora, até por que, no caso da
Amazônia em agonia, o assunto alcança uma escala planetária, em relação à nossa
“Casa comum”. Há poucos dias, um
periódico austríaco estampava em suas páginas: “Brasilien hat einen idioten
Präsident gewählt” (Brasil elegeu um presidente idiota) (cf. https://diepresse.com/home/ausland/aussenpolitik/5672338/Brasilien-hat-einen-Idioten-gewaehlt)
Mais do que deplorável, soa
revoltante estarmos a assistir ao crescente afundamento do nosso país. É
preciso, sim, resistir. Mas, de que resistência se trata? Faz sentido
limitarmo-nos a apenas reagir aos impropérios e perversidades governamentais, somente
por meio de suas asneiras, buscando responder uma por uma, mas, por outro lado
esquecendo-nos também, de que tal forma de reação pode constituir-se em
armadilha, se ficarmos reféns dessas asneiras, praticadas a varejo, sem
buscarmos identificar e combater suas verdadeiras raízes?
As linhas que seguem têm o
propósito de focar uma dessa raízes, e não a menos importante:
O espantoso domínio do monopólio
bancário, organizado em escala mundial. A este respeito, vêm-se pronunciando
alguns analistas de reconhecida credibilidade na área, dentre os quais os
economistas François Morin e o economista brasileiro Ladislau Dowbor, a respeito
dos quais podem ser conferidos alguns links: https://www.youtube.com/watch?v=HdrZ52Cigj4
Já nos temos reiteradamente
reportado ao desafio maior que enfrentamos: o atual modo de produção, combinado
com o modo de consumo em vigor e com o hegemônico modo de gestão societal.
Nunca é demais chamar a atenção a tal realidade. No modo de produção
capitalista vigente, o vemos cada vez mais hegemonizado pelo setor financista,
ao qual se subordinam os demais setores da economia capitalista, em escala
mundial, também entre nós, no Brasil. O atual sistema financeiro, com efeito,
se apresenta cada vez mais como uma espécie de Minotauro dos novos tempos.
Pior: ano a ano, tem agravado suas estratégias de morte sobre o Planeta e sobre
os humanos e toda a comunidade dos viventes.
Duas “pequenas” ilustrações, em
busca de uma compreensão melhor:
- Quem costuma acompanhar, por
exemplo, sessões da Câmara e do Senado, já teve oportunidade de ouvir discursos
inflamados de parlamentares, a denunciarem as esdrúxulas taxas de juros e de
lucro, auferidas no Brasil pelos principais bancos em atuação no País. Não é
por acaso que tais bancos, em tempos de profunda crise ou em tempos de vacas
gordas, não cessam de apresentar escandalosos índices de lucratividade! Faz uns
três anos, o então Presidente do Senado, Senador Renan Calheiros, não media
palavras para denunciar tais escândalos. Sem efeito. O sistema bancário põe-se
acima da Constituição e das leis. Mais: acima dos próprios Estados. Não apenas
no Brasil;
- Outro exemplo ilustrativo vem à
tona, quando buscamos entender – se é que é possível! – a lógica que preside
aos critérios adotados pelo sistema bancário, agindo em cartel – no controle
desmedido do processo de endividamento dos países, mundo afora. Não apenas no
Brasil, mas também em numerosos Estados do mundo, a dívida pública tem-se
tornado, há muito tempo, impagável, até porque os mecanismos que caracterizam,
são de uma perversidade a toda prova. Convém, a este respeito, acompanharmos,
com atenção, as análises profundas conduzidas pela especialista Maria Lúcia Fatorelli,
especialmente por meio do site “Auditoria Cidadã da Dívida” (cf. https://auditoriacidada.org.br/)
Sucede, por outro lado, que não é
de hoje que se dá a percepção dos mecanismos perversos constantes da velha
política internacional de endividamento, implementada pelas gigantescas forças
financistas atuando como um monopólio bancário, em escala mundial. Não
esqueçamos de que nossa própria Constituição de 1988 prevê a autorização de uma
auditoria da dívida. E de lá para cá, a despeito do inexplicável agigantamento
da dívida externa e, hoje, da dívida pública, cujo o esdrúxulo montante obedece
a critérios unilateralmente fixados, não houve qualquer instância estatal que
se dispusesse a pô-la em prática. Não é
difícil daí deduzir com amparo na pertinente análise de Maria Lucia Fatorelli
(cf.: Seu artigo “AUDITORIA DA DÍVIDA: 30 ANOS DE DESCUMPRIMENTO DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL A CONSTITUIÇÃO “CIDADÔ VEM DANDO LUGAR À CONSTITUIÇÃO ‘DO
MERCADO’”
https://auditoriacidada.org.br/conteudo/acd-30-anos-de-descumprimento-da-cf/) acerca
dos injustos critérios e mecanismos componentes de tal extravagante
endividamento.
O enfrentamento exitoso dos
graves desafios atuais passa pelo esforço internacional de conter a voracidade assassina
do capital improdutivo.
Numerosos são os desafios
enfrentados pela humanidade, também pelo Brasil. Abrangem todas as esferas da
realidade, mortalmente alcançadas pela barbárie do Capital improdutivo,
exacerbado cada vez mais pela financeirização da economia. De fato, as
crescentes agressões socioambientais, as dramáticas ameaças à vida do Planeta e
dos humanos não serão superadas, se não enfrentarmos seriamente a sangria sem
limites infligidas pelo monopólio do capital improdutivo.
Mesmo sabendo-se dos laços orgânicos
que caracterizam todos os setores do Capitalismo, não há dúvida que a hegemonia
de suas perversidades recai sobre o capital financeiro. Urge compreendê-lo, em
suas manifestações capciosas. Vejamos algumas de suas manifestações necrófilas.
Comecemos por relembrar as marcas da crise mundial mais recente, cujo ápice se
atingiu nos Estados Unidos, entre 2007/2008. O que teria acontecido com o
famoso Banco Lehman Brothers (banco, de
atuação global, de investimento e provedor de outros serviços financeiros).
Algo muito semelhante do que se passa com os grandes bancos de maior referência
mundial. São cerca de 28, espalhados sobretudo pelos Estados Unidos, pela
Europa, com um ou outro também no Japão e na própria China. No universo de
dezenas de milhares de bancos, estes 28 bancos assumem um controle de reconhecida
hegemonia. E como explicar o fenômeno de seu gigantismo? Como explicar o fato
de que, reunidos, esses 28 bancos acumulam em torno de dois terços das riquezas
públicas? Como explicar que fazendo parte de apenas 1 por cento dos mais ricos
do mundo, eles concentrem mais riquezas do que os 99 por cento restantes?
Ainda no caso do Brasil, tem-se
revelado ainda mais perversa a sanha financista agindo sem controle, haja vista
o cotidiano de suas práticas extorsivas – imposição de taxas de juros
escandalosas, visivelmente injustificadas (chega a ser ridícula sua
justificativa reiterada de que assim sucede no Brasil, em razão do elevado índice
de inadimplência). Quando se confere de perto o que anda acontecendo,
percebe-se que a população mais pobre se tem revelado, salvo casos
minoritários, de uma confiabilidade a toda prova: enquanto os pobres zelam pela
sua honra, os ricos recorrem a seus advogados... Não obstante, é a população
mais pobre que se vê obrigada a pagar duas, três vezes a mais o valor dos
produtos adquiridos. Situação que inspira os poetas populares, em especial os
repentistas, como o repentista Rabelo, a traduzir tal situação pelo mote
genial: “Paguei mais do que devia/Devo mais do que paguei”...
João Pessoa, 23/08/2019.
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