domingo, 14 de fevereiro de 2021

A ELIZABETH TEIXEIRA

 A ELIZABETH TEIXEIRA

 

Alder Júlio Ferreira Calado

 

 

Nossas lutas por Reforma

Tem mais quinhentos anos

Índios, Negros, Camponeses

Pelejaram contra insanos

Desde os anos de quarenta

Nossa Gente então enfrenta

Do sistema tristes planos

 

 

Num tempo de intensas lutas

Por reformas radicais

Nossas Ligas Camponesas

Nos orgulham muito mais

Esse Movimento forte

Do sistema quer a morte

Pois quer terra, pão e paz.

 

No ano de vinte e cinco

Nasce Elizabeth da Costa

Seu pai, um proprietário

Nesta filha não aposta

Pois queria um filho macho

E seu sonho foi abaixo

A menina, a resposta...

 

 

A menina foi crescendo

Intrigada com a fartura

Contrastando fortemente

De agregados vida dura

A menina, pensativa

Sua consciência ativa

De ver isto, não atura

 

Conhecendo os sentimentos

De sua filha generosa

Seu pai logo a proíbe

Visitar ou ter mais prosa

Junto com as moradoras

Fossem pretas, fossem louras

Ô que vida desditosa!

 

Quanto mais a proibia

Solidária mais ficava

De sua casa ia levando

Roupa, farinha, fava

Acudindo as criancinhas

Que lhe eram tão vizinhas

Seu pai nem adivinhava...

 

A criança revelou-se

Pelo estudo apaixonada

Pretendia ir muito além

De leitura e tabuada

Mas, seu pai não lhe permite

E lhe impõe grande limite

Quer a filha controlada...

 

 

Na bodega, era mais útil

Despachando a freguesia..

Foi aí que se engraçou

De um moço que contraria

Os caprichos do seu pai.

Com João Pedro casar vai

Seu pai os perseguiria...

 

 

Diante das circunstâncias

Que enfrentam com seu tio

Vão morar longe, em Recife

Em lugar mais arredio

E trabalho duro assume

Da dureza tem costume

Vão chegar mais desafios

 

Da luta mais conscientes

Depois desses nove anos

Curtem o sonho de voltar

À terrinha, com mil planos

De criar um sindicato

Que cuidasse, de imediato

Dum sofrer tão desumano...

 

Qiando a Liga foi criada

Como tinha boa escrita

Elizabeth ajudava

Por justiça também grita

Ao lado dos companheiros

Mas também dos seus herdeiros

Bem cuidava, embora aflita

 

Latifúndio a farejar

Quem ousasse dizer NÃO

Aos esquemas de chacina

De penúria, do cambão

Que João Pedro denuncia

E com a vida pagaria

Mulher, filhos sofrerão!

 

Ao martírio de João Pedro

Segue-se o de Elizabeth

Um rosário de problemas

A polícia pinta o sete

Seus filhos, traumatizados

Revolta por todo lado

“Segue a luta” – ela promete!

 

Em memória de João Pedro

E de outros já tombados

Se faziam todo mês

Atos públicos – muitos brados!

Elizabeth presente

Vem o Golpe, de repente

Camponeses são caçados...

 

Foi terrível a violência

Que do Golpe se arrecada:

Prisões, mortes e torturas

Sua família destroçada

Ela tem que se exilar

Ficar longe do seu lar

Quinze anos sem ver nada...

 

Seu exílio – São Rafael

Enfrentou com valentia

Lavadeira, professora

De tudo ela padecia

Mas, enfim, sobreviveu

Reencontra filhos seus

Só depois da Anistia



João Pessoa, 31 de janeiro de 2011.


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