terça-feira, 24 de agosto de 2021

TRAÇOS DA MÃE-ÁFRICA: em busca de nossas raízes (XXXII)

TRAÇOS DA MÃE-ÁFRICA:

em busca de nossas raízes (XXXII)


Alder Júlio Ferreira Calado


Patrice Lumumba vive na memória revolucionária dos Povos Africanos, em especial do Povo do Congo. Estamos dando seqüência à matéria anterior sobre o Congo, mais precisamente sobre a grande figura do revolucionário Patrice Lumumba, nascido na Aldeia de Onalowa, em Sankuru, ao Norte da Província de Kasai, em 1925. Diferentemente de outras lideranças do movimento de libertação, que eram membros de grandes tribos que rivalizavam o poder – inclusive Joseph Kasabuvu (que seria eleito presidente) - Lumumba pertencia a uma pequena tribo (Batetela). Enquanto os que se mostravam ciosos da tomada do poder em função de suas respectivas tribos, Lumumba enfatizava a unidade de todas as tribos tendo como meta a liberdade de todos os Congoleses. 

Lumumba passou por uma educação cristã, no seu próprio país, tanto de orientação protestante quanto de tradição católica, pela influência dos missionários. Já adulto, teve oportunidade de fazer uma rápida temporada, um estágio de estudo na Bélgica, ocasião em que tratou de entrar em contato com aliados da causa de libertação.

A vida próxima do seu Povo e seu senso de justiça não tardaram a provocar nele mais do que uma mera inquietação, um compromisso com a causa de libertação do seu Povo. Não se conformava com o tipo de relação de exploração e de dominação ao Estado belga e às multinacionais a que vivia submetida sua Gente. Não hesitou, primeiro, em forjar a unidade interna das diferentes tribos, visando a uma luta de libertação do jugo dos invasores. É assim que, em 1958, funda com outros militantes o Movimento Nacional Congolês, como um relevante instrumento de luta pela independência de sua terra e de sua Gente.

Para tanto, tratou de levantar apoio internacional, numa conjuntura bem complexa, dada a bipolarização então dominante: quem não estava a favor dos países capitalistas, tinha que recorrer ao apoio do bloco soviético. Lumumba e seus camaradas também não tiveram escolha alternativa. Um opção de verdadeiro alinhamento era algo pouco provável, naquela conjuntura.

Outra empreitada quase impossível era manter-se num mundo dominado por uma ONU dependente das grandes potências capitalistas. Mas, Lumumba permanecia firme. Numa de suas falas, deixava bem clara sua aposta: “Um dia, a história terá sua palavra a dizer. Mas, não será a história que se ensina na ONU, em Washington, Paris ou Bruxelas, mas a história que se ensinará nos países libertados do colonialismo e de suas marionetes. A África escreverá sua própria história, uma história feita de glória e de dignidade.”

(Trad. página http://www.sankurufoundation.org/patrice_lumumba.htm)

Por conta desse trabalho, o cerco ia se fechando contra a metrópole belga e as multinacionais, agora acuadas, não apenas pelas lutas internas pela independência, como também desde fora, a partir das forças que se aliaram à mesma causa. De modo que, em 1961, foi dado um importante passo, com a realização das eleições, da qual Patrice Lumumba resultaria eleito Primeiro Ministro, em companhia de Joseph Kasabuvu, eleito presidente, o qual cederia às pressões dos invasores, e terminaria por tramar um golpe para destituir Lumumba de seu cargo. Amplamente apoiado pelas forças colonialistas, ele consegue perseguir ferozmente, torturar e matar Lumumba, poucos meses depois de empossados no governo.

Pelos poucos elementos aqui enunciados, sobre a trajetória política de Patrice Lumumba, alguns pontos podemos destacar como lição de grande atualidade. Destaco apenas um deles: é equivocado tudo apostar na origem de classe. Há trabalhadores pobres que, ao se deixarem seduzir pelo fascínio do poder, facilmente mudam de lado, traindo sua própria classe, como aconteceu ao presidente Joseph Kasabuvu, que, pressionado pelas forças colonialistas, não hesita em entregar o próprio companheiro de governo. O que importa é o compromisso com a causa dos empobrecidos.

João Pessoa, 14 agosto de 2007. 


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