COMO ANDA ATUALMENTE
NA IGREJA A PROFECIA?
Alder Júlio Ferreira Calado
Amigas! Amigos!
O fraterno encontro do lançamento do mais recente livro do nosso querido Pe. José Comblin, A Profecia na Igreja (São Paulo: Paulus, 2009), no Centro de Defesa dos Direitos Humanos Dom Oscar Romero, em meio à calorosa acolhida da Comunidade de Tibiri, me inspirou compartilhar com vocês algumas impressões que guardei da leitura deste abençoado e fecundo livro.
Gostaria, pois, de partilhar com vocês os pontos que mais me tocaram do livro. E achei melhor faze-lo em forma de versos de nossa poesia sertaneja.
Para tanto, em recente viagem a Aracaju, aproveitei bem o tempo, na ida e na volta, e tratei de escrever esses versos que seguem.
Participando de um mutirão, como o que o encontro do lançamento do livro nos favorecerá, teremos oportunidade de dizer e de ouvir de tantas pessoas suas impressões acerca do mesmo livro.
Tratei de intitular esses versos “Na Igreja atualmente / Como anda a Profecia?” Nessa troca fraterna, estou desejoso de ouvir os testemunhos de muitos, de muitas de vocês. Permitam, então, que lhes conte em versos o que senti acerca do livro do Pe. José.
João Pessoa, 20 de fevereiro de 2009
(Alder)
NA IGREJA ATUALMENTE
João Pessoa-Aracaju-João Pessoa
2009
Outra vez Pe. José
Ardoroso missionário
Do Evangelho servidor
E dos pobres solidário
Nos convida à conversão
Não deixemos ser em vão
Dos profetas o calvário!
Relembrando pontos vários
É louvável o seu gesto
De nos pôr a refletir
Nesse tempo indigesto
De profetas tão escassos
Em que tantos caem no laço
Do sistema, sem protesto
O propósito é manifesto
“Profecia na Igreja”
Pelo título deste livro
Eu entendo que ele anseja
Despertando leigas e leigos
Pra que sejam dóceis, meigos
Ao que Cristo bem almeja
Como vive nossa Igreja?
Do Evangelho segue o rumo
Ou é cúmplice do poder?
Vocação de leigo assumo?
Ou me calo ante o sistema?
Nosso barco aonde rema?
Qual é mesmo o nosso prumo?
Do bom livro eu resumo
As idéias principais
Onze são os seus capítulos.
Na abertura o Autor faz
Pedagógica introdução
Relembrando de Dom Helder
Palavras tão radicais
“Não permitam que jamais”
- Disse o Dom a Irmão Marcelo -
“Se extinga a profecia!”
Que recado santo e belo
Suas palavras derradeiras!
Desse homem sem fronteiras
Que cumpramos seu anelo”
À bondade agora apelo
Dos leitores bem atentos
Para ver o profetismo
No Antigo Testamento
O primeiro dos assuntos
Que nós curtiremos juntos
Alguns pontos eu comento
Noutros povos tem assento
A figura dos profetas
Não há só na Palestina
Mas, distintas são as metas
Pois, enquanto em Israel
Só a Deus ele fiel
Noutros, rei é quem decreta
Só Deus é quem indica a seta
Moisés bem assim se sente
Escolhido pra missão
Eliseu, de igual corrente
Chama Elias, atrai Amós
Isaías logo após
“Vem e vai dizer à Gente!
Jeremias também sente
Do chamado o desafio
A princípio, desconversa
Revelando-se arredio
Confiou em Deus, porém
Do Senhor se fez refém
Afinal, Deus seduziu-o
Contra a corrente do rio
De opressão e de injustiça
Contra os pobres, deserdados
O profeta vê e atiça
Junto aos pobres, solidário
Denuncia seu calvário
E sua voz não fica omissa
Não se prende a culto, a missa
Qual profeta do Oriente
Defender a Aliança
É tarefa sempre urgente
E do pobre ouve o gemido
Socorrendo o desvalido
E o faz sentir-se Gente
Mas, o livro segue em frente
Vem Jesus como profeta
Ele eleva à perfeição
Seu sentido, então, completa
Jesus cita-os amplamente
Mas se põe à sua frente
Ele alcança toda a meta
Distinções Ele acarreta
Dos profetas de outrora
- Mais em grau que em natureza -
Se vingança antes vigora
Ele ensina a compaixão
Sem deixar de dizer NÃO
À riqueza, a toda hora
Basta remeter agora
A Mateus, em vinte e três
Às seguindas maldições
Ao estilo algo burguês
Farisaico, incoerente
De oprimir a pobre gente
Em grotesca estupidez
Também pobre Ele se fez
Operário, um carpinteiro
Ele próprio anunciando
Ser do Pai o Mensageiro
Pra forjarmos outro mundo
De justiça mais fecundo
Onde os últimos são primeiros
Outro assunto alvissareiro:
Como era a profecia
Lá nos tempos primitivos
Quando ainda não havia
A nociva apartação
= Uns decidem, outros não -
Em cerrada hierarquia?
Do Evangelho se esvazia
Quem sucumbe a rumo tal
O sentido de irmandade
Adquire tom formal
A servir, Jesus nos chama
Preferimos mais a fama
Isso é coisa de Baal...
Paulo apóstolo como tal
Também vem a ser profeta
Em seus textos acentua
De uma forma bem concreta
“Não extingam a profecia”
Era assim que ele dizia
Do cristão seja uma meta
Em Coríntios bem completa
Dos carismas há u´a lista
Em seguida ao de apóstolo
Profecia bem se avista
Isto muito pouco dura
O poder faz ditadura
E os profetas saem de vista
Mesmo assim, há quem insista
Profecia é dom divino
Homem algum pode detê-la
Controlar o seu destino
Matam um, surgem mais duas
Não se ausentarão das ruas
Não descansam repentino
Segue era de confino
A partir do século dois
Quando a instituição
Profecia não propôs
Restringindo ao bispo o mando
Ao profeta escanteando
O silêncio vem depois
Noutra página, nos expôs
Da Patrística três figuras
João, Basílio e mais Gregório
Crivam de palavras duras
Quem os pobres espolia
Recobrando a profecia
Contra os que vivem de usura
O profeta não descura
O que a Bíblia assevera
Primazia é dos pobres
Que padece em meio às feras
Pois Jesus toma seu lado
Defendendo os deserdados
Hoje é assim? Ah, quem nos dera!
Quinto ponto nos espera:
Como era a profecia
No distante medievo?
Quem de tantos ousaria
Enfrentar poder e leis
Duma época que se fez
Do Evangelho arredia?
Algum monge seguiria
A denúncia dos antigos
Se afastando da luxúria
Preferindo o desabrigo
Procuravam no deserto
A Jesus viver aberto
Da pobreza sendo amigos
De Francisco os passos sigo
Deste livro no relato
Convertido a vida nova
Com os pobres mais cordato
Reprovado pelo pai
Decidido agora vai
Assumir o anonimato
O que antes era chato
Ele torna relevante
Do supérfluo já não vive
A Pobreza lhe garante
Tantos ganhos e alegria
Que, profeta, ele iria
De seu tempo estar distante
Da Pobreza vira amante
Nela encontra fundamento
De fazer-se enquanto homem
Ao chamado estando atento
De servir Jesus no pobre
Rejeitando o ouro, o cobre
E a vida de convento
Eis que o dia corre lento
Nessa era medieval
Com Francisco e companheiros
A viver seu ideal
Testemunham a Boa Nova
Denunciam a falsa trova
Do poder imperial
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