terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

Movimento Raiz Cidadanista, em seu percurso programático: Notas sobre a Teia de Arcoverde-PE

 Alder Júlio Ferreira Calado 


Como anunciada, teve lugar, em Arcoverde-PE, no dia 14 de janeiro próximo-findo, mais uma Teia - termo com que a Raiz designa seus Encontros nacionais e regionais -, desta feita de âmbito regional, para dar sequência a sua agenda programática. Deste Encontro, sob a coordenação de Wellington Santana, integrante da Coordenação nacional da Raiz, participaram membros vindos de diversos municípios nordestino, de Pernambuco e da Paraíba, com o objetivo de debaterem e de indicarem pistas acerca de três questões que compuseram a pauta do encontro:

  • Em que conjuntura internacional e nacional, estamos navegando?

  • Qual a posição dos participantes sobre a questão partidária, sobre o caráter de Movimento ou de Partido e Movimento-Partido a ser priorizada pela Raiz?

  • Qual tem sido a prática cotidiana dos membros da Raiz, em sua ação de militantes?


Roda de conversa sobre nossa percepção crítica dos desafios da atual conjuntura


Após uma primeira intervenção de Wellington, de boas-vindas e de rememoração dos objetivos desta Teia, seguiu-se também uma rodada de apresentação, após o que foi solicitado a cada participante expressar sua leitura crítica da atual realidade. Tratamos, em seguida, de realçar pontos que julgamos mais tocantes de análise do nosso atual quadro conjuntural.


Menos de uma semana após os acontecimentos tenebrosos do dia 8 de Janeiro em Brasília, trazendo a tona toda a violência golpista - felizmente contida e frustrada-, marca inconfundível da barbárie do Desgoverno Bolsonaro, passou-se a conectar criticamente tais acontecimentos ao que sucede no plano da atual Geopolítica, da economia e da grade de valores em vigência, no plano internacional.


Nas falas compartilhadas, foi acentuada a conexão entre as práticas neofascistas presentes no Brasil e o que se passa de modo semelhante em outros países (Hungria, Polônia, Inglaterra, França, Espanha...), de modo a nos prevenir da necessidade de termos sempre presentes as características comuns e singulares que o nazifascismo nos traz, fazendo-nos lembrar o alerta de Bertolt Brecht, de que continua fecundo o ventre da besta.


Outro ponto, vindo a tona, disse respeito ao contexto da guerra entre a Rússia e a OTAN, travada em solo Ucraniano, de modo a nos alertar contra a tendência ocidental hegemônica, via OTAN/EUA, de atribuir exclusivamente à Rússia a responsabilidade pelo conflito, tentando passar a versão de que o conflito tenha iniciado em 24 de fevereiro o ano passado. Foi também alvo das falas, no contexto da geopolítica e da economia, o desenrolar das estratégias ligadas a nova rota da seda protagonizada pela China e seus aliados, inclusive na América Latina.


Trabalhar a Raiz como Movimento, como Partido, como Movimento-Partido?


Tendo a Raiz surgido de uma dissidência da Rede - portanto, como Partido - não soa estranha a tendência, sustentada por parte de seus integrantes, de voltar a constituir-se em Partido, iniciativa malograda, em seus primeiros passos. Ainda assim, parte dos integrantes da Raiz tem insistido, inclusive, na possibilidade de se fazer aliança com algum partido, a exemplo do PSOL, com o propósito de organizar candidaturas coletivas. Outra parcela dos integrantes da Raiz, por sua vez, insiste na defesa de a Raiz permanecer como um Movimento Popular, com o propósito de ajudar a fortalecer a sociedade civil, argumentando inclusive a fragilidade partidária institucional, no que tange ao compromisso com as transformações necessárias. 


Há, ainda, os que, ao interno da Raiz, apostam em uma combinação Movimento-Partido, de modo a desenvolver parceria com alguns partidos, no sentido de potencializar suas iniciativas não institucionais. 


Práticas militantes em nosso cotidiano


A terceira rodada de conversas se deu em torno do que e como, no Nordeste, especialmente em Pernambuco e na Paraíba, os militantes da Raiz vêm desenvolvendo sua ação transformadora. Ouvimos relatos palpitantes, dos quais tratamos de resumir alguns que nos pareceram mais importantes.


Na região conhecida como do Moxotó-Pajeú, em torno do Sertão de Arcoverde- PE, algumas iniciativas se mostraram bastante promissoras. Uma delas tem a ver com a experiência de convivência com o semi-árido nordestino, a exemplo das iniciativas protagonizadas pelo grupo liderado por José Artur, no município de Afogados da Ingazeira, em uma área que apresenta um trabalho exemplar, em termos de agroecologia e de convivência com o semi-árido. A Raiz já conhece tal experiência relatada pelo próprio José Artur, em outras Teias, também por meio de vídeos.


Nesta mesma toada, vem atuando em diversas comunidades de trabalhadores e trabalhadoras do campo, sertanejos, recorrendo inclusive a iniciativa de produção organicamente ligada a vocação dessa microrregião do Moxotó. Ao mesmo tempo, foram relatadas experiências promissoras no campo da cultura sertaneja e no campo da Educação Popular, bem como na área da Comunicação, em que se acha em curso o projeto de instalação de uma rádio comunitária, com vistas ao atendimento da população situada entre os municípios de Sertânia, Buíque, e Arcoverde.


No terreno específico da Educação Popular, seja em Pernambuco, seja na Paraíba e em outros Estados nordestinos, diversas iniciativas vêm sendo desenvolvidas, de modo a assegurar uma agenda contínua de formação, envolvendo a questão de Gênero, da diversidade humana, do espectro etnico (relacionado com os povos originários, as comunidades quilombolas, ciganas…). Não menos importantes vêm sendo vivenciados os trabalhos de formação política, especialmente junto aos militantes de movimentos populares, como acontece, por exemplo, no município de João Pessoa, de Sobrado, de Sapé (estes, na Paraíba), bem como em Recife e Arcoverde (em Pernambuco).


Os trabalhos desta Teia contaram com uma boa animação dos participantes, inclusive no intervalo para o almoço, tendo sido encerrados, já passando das 18 horas, com muita disposição dos presentes para o enfrentamento de velhos e novos desafios.


Desde então, fatos impactantes, sobretudo no cenário nacional, têm despertado nossa atenção para a profundidade e a urgência e um enfrentamento exitoso dos desafios atuais, dentre os quais merecem especial destaque: 


  • Menos de duas semanas após o 8 de Janeiro, eis que somos confrontados com as imagens do genocídio dos Yanomami, marca inconfundível da barbárie bolsonarista, que infelizmente se estende por diversos outros povos originários e pelas comunidades quilombolas;

  • Segue sendo urgente a definição do papel dos militares, de modo a superar sua inaceitável tutela sobre a sociedade civíl;

  • Os rastros do neofascismo também se fazem presentes no campo econômico, no qual se revela inaceitável a condução do Banco Central, nas mãos de um bolsonarista, não bastasse a bizarra condição de “independência” legalmente atribuída ao seu dirigente de plantão.

 

Arcoverde/João Pessoa, 07 de fevereiro de 2023.       

Nenhum comentário:

Postar um comentário