O Brasil, Democracia enjaulada
Alder Júlio Ferreira Calado
Em apenas 45 dias desde sua apoteótica investidura no Governo do Brasil, fortemente marcada por uma rica simbologia (haja vista, por exemplo, a entrega da faixa presidencial por uma mulher negra, catadora de resíduos recicláveis), eis que o povo brasileiro, uma semana depois, se sentem duramente atacados pela Intentona de Golpe, no dia 08 de janeiro, ataque e depredação de cada sede dos três Poderes ardilosamente preparados pelas lideranças criminosas da Extrema Direita (articulados pelos bolsonarismo, por militares, por empresários financiadores, entre outros).
Contida essa fúria neofascista, com centenas de prisões e processos instaurados, o povo brasileiro voltaria a ser duramente impactado pela ampla divulgação, no dia 21 de janeiro, de imagens relativas ao genocidio do povo Yanomami, submetido que vinha sendo ao genocidio bolsonarista, com a invasão de sua terras por milhares de garimpeiros, e madeireiros, de líderes do Agronegocio, com a compricidade do Desgoverno Bolsonaro e seus aliados, inclusive figuras das Forças Armadas.
As energias que deveriam mover o novo Governo a pôr em prática, desde os primeiros dias, seu plano de gestão, tiveram que ser desviadas para a contenção da barbárie em curso. Ainda assim, o projeto neofascista continua impedindo a ação governamental tão esperada. Mais um entrave está sendo colocado, neste sentido, desta vez, pelas forças financistas do grande Capital, por meio da excêntrica intrusão que representa a "independência do banco central”, cuja a presidência foi assumida por Roberto Campos Neto, nomeado por Bolsonaro, e cujo cargo deve estender-se até Dezembro de 2024.
Desta perniciosa intromissão direta na gestão de um Governo democraticamente eleito, decorre a sabotagem do Capital financista, de inviabilizar, por meio da fixação pelo Banco Central de uma escandalosa taxa da selic, de 13,75%- algo inexistente em qualquer país do mundo, impedindo com isto qualquer pretensão de investimento e de retomada das atividades econômicas programadas.
Trata-se de uma evidente chantagem da elite financista, com claro objetivo de colocar uma camisa de força no Governo Lula. Esta avaliação não parte apenas de setores da Esquerda.em recente entrevista concedida ao Canal Livre pelo ex Ministro do governo FHC, André Lara Resende (cf. https://www.youtube.com/watch?v=tuPETK1-9kU), um dos principais responsáveis pela elaboração do plano real, que recomendo aos leitores, mostra-se fortemente crítico e contrário à decisão tomada pelo atual Presidente Central.
Outra posição que se manifesta em oposição a mesma decisão, foi exposta pelo Jornalista Luis Nassif ,ao tecer críticas aos entrevistadores e entrevistadoras de Roberto Campos Neto, no Programa Roda Viva:
“No grupo de WhatsApp dos Ministros de Bolsonaro, há menção a afirmações suas de que Bolsonaro venceria as eleições devido às abstenções. Essa conclusão, em sua opinião, inspirou a decisão de utilizar a Polícia Rodoviária Federal para bloquear ônibus com eleitores no nordeste? O “erro” de conta do BC, escondendo o déficit nas contas externas em 2022, teve alguma motivação eleitoral? Porque, dispondo de reservas de 350 bilhões de dólares, o Banco Central permite a volatilidade do câmbio? Porque no início da pandemia, o Banco Central divulgou uma estatística tentando provar que a imunização de rebanho seria melhor para a economia do que a vacinação. Quem encomendou o trabalho? No grupo de WhatsApp dos Ministros de Bolsonaro, há menção a afirmações suas de que Bolsonaro venceria as eleições devido às abstenções. Essa conclusão, em sua opinião, inspirou a decisão de utilizar a Polícia Rodoviária Federal para bloquear ônibus com eleitores no nordeste? O “erro” de conta do BC, escondendo o déficit nas contas externas em 2022, teve alguma motivação eleitoral? Porque, dispondo de reservas de 350 bilhões de dólares, o Banco Central permite a volatilidade do câmbio? Porque o BC deixa o mercado definir a estrutura de taxas de juros longa, essencial para a definição da Selic? O BC procurou estudar, alguma vez, os esquemas de compras de juros futuros, para saber se há movimentos de cartelização? O senhor não considera imoral reuniões fechadas com agentes financeiros, para informá-los sobre as tendências da Selic?”
Nesta mesma toada, desta vez sob a análise crítica de uma figura da esquerda, o historiador e analista político Jones Manoel, vai mais além, ao questionar não apenas a arbitrariedade da fixação da atual taxa SELIC, mas a própria "independência"do banco central, astuciosa estratégia da ditadura rentista, hegemônica no mundo capitalista (cf. https://www.youtube.com/watch?v=HmdZyNBiwM0).
Não é por acaso que, mais de uma vez em textos anteriores, temos recomendados -especialmente aos jovens militantes dos Movimentos Populares- a revisitar os sólidos argumentos suscitando Ladislau Dowbor, seja em seus livros, seja em numerosos e didáticos vídeos, disponibilizados em seu conhecido “site”.
O Rentismo gera a morte
"Intra Cápital, nulla salus "
Alder Júlio Ferreira Calado
No Brasil em qualquer parte
Onde reina a burguesia
A riqueza se extravia
Nada disso ela reparte
Secular, segue essa arte
Pobres gemem sob abalo
Só sua classe vem salvá-los
A sangria é de tal sorte
O rentismo gera a morte
"Intra capital, nulla salus "
“Banco Central independente”
É armadilha bem letal
A serviço do Capital
Quem milita contra a gente
Essa lei é indecente
Nossos bens, jogam no ralo
Nós que vamos desatá-lo
Nossa luta será forte
O rentismo gera a morte
"Intra capital, nulla salus "
Pra salvar Democracia
É urgente retirá-la
Desta jaula e servil vala
Que o burguês tanto aprecia
Lhe impondo mais sangria
Lula diz, sem ter abalos
É preciso considerá-lo
Povo unido é povo forte
O rentismo gera a morte
"Intra capital, nulla salus"
João Pessoa, 17 de fevereiro de 2023.
Poesia é o poeta que no seu poetar mostra a origem da poesia. Assim, Alder Calado, se mostra como aquele que mostra a realidade, muitas vezes difíceis, mas com esperanças. parabéns GRANDE MESTRE...
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