sexta-feira, 21 de abril de 2023

Armas letais da Extrema Direita: ódio, mentira, violência e medo

Armas letais da Extrema Direita: ódio, mentira, violência e medo


Alder Júlio Ferreira Calado


Na primeira metade dos anos 80, ainda em uma época de ascenso da Teologia da Libertação, dentre suas figuras mais destacadas, estava o teólogo Franz Hinkelammert, autor de “As Armas Ideológicas da Morte” (Paulinas, 1983), no qual analisa a sociedade capitalista como arma ideológica de morte, à medida que seu modus operandi se revela eficaz, na subjetivação da mercadoria e na coisificação dos humanos, com isto alcançando enorme potencial de letalidade, a serviço do deus dinheiro. Hoje, podemos perceber a força ainda maior de seu poder deletério, resultante da financeirização da economia e seus efeitos diretos e indiretos sobre o Planeta e da Humanidade.

Um acompanhamento crítico do cotidiano da mídia empresarial e das redes sociais bolsonaristas permite-nos identificar as armas fundamentais da extrema-direita, em sua incessante atuação, no Brasil e no mundo. Quem se dá ao trabalho de observação do dia-a-dia dos principais órgãos da mídia comercial, consegue verificar, seja pelo noticiário, seja em outras emissões televisivas, radiofônicas e impressos, as estratégias principais utilizadas, como expressão da hegemonia burguesa protagonizada pelos seus principais meios de comunicação social. 

Nas linhas que seguem, cuidamos de destacar a relevância político-ideológica de 4 estratégias bem articuladas, presentes no cotidiano de nossos principais meios de comunicação social. A despeito de, por razão didática, tratarmos em sequência dessas armas ideológicas, insistimos na necessidade da percepção de sua orgânica interconexão.

O ódio, força maligna pela qual nós humanos nos sentimos por vezes afetados, é alçado a uma condição estratégica de dominação, na sociabilidade do Capitalismo, em sua fase/face atual, razão por que se transforma em necropolítica. No Brasil e no mundo, com efeito, graças ao ascenso e práticas nazifascistas, das quais o Bolsonarismo se tem mostrado emblemático, o discurso de ódio ocupa um lugar de destaque no cotidiano da mídia empresarial e das redes sociais hegemonizadas pelo discurso de ódio, bem como revelando-se também em assombrosas manifestações ecocidas, racistas, misóginas, homofóbicas, organicamente articuladas pelas relações de classe .

Quem se dá ao trabalho espinhoso de conferir, no dia-a-dia, a programação jornalística da mídia empresarial (Sistema Globo, Band News, CNN, Estadão, Folha, Jovem Pan, entre outras) constata o pandemônio ideológico a bombardear 24 horas por dia, as mentes e corações dos seus leitores/ouvintes/telespectadores, de modo a confirmar a atualidade do manifesto do Partido Comunista, de que em toda sociedade de classes, “a ideologia dominante é a ideologia da classe dominante”. Isto me faz lembrar de um Congresso de Comunicação, realizado na primeira metade dos anos 80, em que um dos expositores afirmava: "Deem-me a rede Globo e farei a Revolução”... Hoje, o desafio é bem mais grave: ao sistema Globo temos que acrescentar, além dos jornais, das rádios e dos canais televisivos (que se multiplicaram), também a mídia digital da extrema-direita. Tem sido longa e frequente a lista de ocorrências graves, com feridos e mortos acontecidas no Brasil, inclusive com o incentivo nas redes sociais bolsonaristas com resultados fúnebres para nossa sociedade, não poupando sequer as crianças e as escolas. Os embates político-ideológicos, no dia-a-dia do congresso e das demais Casas Legislativas, têm sido encarniçados, com a predominância, na câmara e no senado, por parte das bancadas da ultra Direita, tornando tóxico e insuportável o discurso de ódio, ultrapassando todos os limites.


Dada a ampla predominância, nas redes sociais e na mídia empresarial, constata-se seu efeito devastador sobre enorme parcela da população, mesmo diante do governo Lula, sustentado por uma aliança vasta de Partidos.


Outro componente de forte teor deletério é o uso abusivamente reiterado da mentira como estratégia de dominação, organicamente conectada às demais armas ideológicas, aqui destacadas. Fiéis discípulos de Goebbels, ideólogo-mor do nazismo, para quem a mentira repetida com muita frequência, ganha ares de verdade, e dando sequência e fôlego nazifascista, em diferentes países ocidentais, graças ao protagonismo dos “Engenheiros do caos", a exemplo do ideólogo Steve Bannon, a Extrema Direita têm recorrido, com sucesso, às mais avançadas tecnologias digitais, com o exclusivo intuito de propagar absurdos, graves mentiras, “Narrativas", desinformação que, uma vez circulando amplamente, em escala exponencial é dada a forma acrítica, característica de enormes parcelas da população, acabam recebidas, como se verdades fossem.

Ainda que largamente contida pela resistência democrática,durante e após Segunda Guerra Mundial, a semente do Nazifascismo segue encontrando adeptos, mundo afora, inclusive no Brasil, especialmente nos períodos de crises mais agudas do capitalismo, em cujo seio costuma prosperar a ideologia nazifascista. Sobretudo com o golpe contra a Presidente Dilma Rousseff, em 2016, a ideologia nazifascista, em sua versão bolsonarista, tem-se agigantado sobremaneira, resultante de uma confluência de forças de extrema Direita, representadas pela ingerência do Império Americano do "Modus Operandi" da tarefa lava-jatista (liderada pelo ex-Juiz Sérgio Moro e seus acólitos), pelo, “Partido Militar”, pelo seguimento parlamentar mais extremado e pela ampla cobertura e apoio da mídia empresarial, com a participação do Poder Judiciário.


Não lhe bastassem, o ódio e a mentira, a Extrema Direita, sempre que lhe convém, não hesita em recorrer à violência, pois quando sua vontade imperial se esvazia da razão, sobra-lhe o uso da violência, tal como na famosa fábula de Esopo, "O lobo e o cordeiro", cuja moral é assinalada por La Fontaine: “La raison du plus fort est toujours la meilleure" (A razão do mais forte é sempre a melhor)...

A eficácia das armas do Capital somente se dá graças ao recurso pelas classes dominantes à imposição do medo aos dominados. Como toda dominação é uma relação social entre A ( o polo denominador ) e B (o pólo dominado), a dominação só se completa com a aceitação passiva de B. Caso B, movido pela sua consciência crítica, sua organização e sua resistência, ouse enfrentar A, a dominação tende a não se realizar.


Neste sentido, qualquer que seja o nível de dominação cabe apenas aos “debaixo” exercitarem sua consciência de classe e, de forma organizada, enfrentarem exitosamente toda relação de dominação.


João Pessoa, 21 de Abril de 2023

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