Glória eterna a você, ó Carolina:
Preta, pobre, catadora, Poetisa!
Alder Júlio Ferreira Calado
Um Projeto de Brasil alternativo
Só se torna factível, cavoucando
Nossa história, nossa gente, no comando.
De Colônia escravista e seu arquivo
Tem raiz que, até hoje, mostra ao vivo
Que o contexto dessa saga se enraíza
Inda o lemos, de maneira imprecisa
És por que seu legado nos fascina
Glória eterna a você, ó Carolina:
Preta, pobre, catadora, Poetisa!
Carolina e intérprete do Brasil
Sua obra, seu legado dizem bem:
À elite a imprensa é servil
A favela lhes soa como covil
Apagando-lhe os talentos e arte fina
Mais que nunca, o Brasil assim precisa
De uma gente audaz, não indecisa
Essa Gente, a elite discrimina
Glória eterna a você, ó Carolina:
Preta, pobre, catadora, Poetisa!
Sacramento: foi onde veio ao mundo
Por sua mãe, Dona Cota foi criada
Dura vida ela passa como empregada
Seu sofrer foi constante e bem profundo
Sofrer longo e prazer só um segundo
Sua vida não foi suave brisa
Mesmo Assim, seu legado se eterniza
Seus escritos, porém, são flor divina
Glória eterna a você, ó Carolina:
Preta, pobre, catadora, Poetisa!
Em contexto real, escravagista
Seu avô Benedito, como tantos
Sobrevive da era de dor e pranto
Alforria ganhou, levanta a vista
Aos seus Olhos, direitos mais conquistas
Outra vida pros netos organiza
E pra neta também quer vida lisa
E seu plano prospera, assim culmina
Glória eterna a você, ó Carolina:
Preta, pobre, catadora, Poetisa!
E livrando-se de mais uma armadilha
Se transfere para Franca, próxima aventura
Mas, a vida aí lhes segue dura
De emprego doméstico, agora trilha
Esperança frustrada, Mãe e filha
Dona Cota doente, filha indecisa
Trabalhar e cuidar - não realiza
A mãe volta pro berço, peregrina
Glória eterna a você, ó Carolina:
Preta, pobre, catadora, Poetisa!
Alternando emprego e insegurança
Carolina persiste em seus escritos
38 cadernos, quase um rito
Que ela anota de noite e não se cansa
São poemas, romances, letras mansas
Segue em busca do que mais alto visa,
De jornais segue em busca em pesquisa
Já que a grande São Paulo peregrina
Glória eterna a você, ó Carolina:
Preta, pobre, catadora, Poetisa!
Sua vida afetiva é um fracasso
Várias vezes engravida de covardes
Que a abandonam, ao saberem, cedo ou tarde
Desafios enfrenta - e dos crassos
O trabalho, a morada, filhos de braço
Tudo isso a enfraquece , a escraviza
Vence o medo, e até vida indecisa
Segue atrás dos Jornais, desde a matina
Glória eterna a você, ó Carolina:
Preta, pobre, catadora, Poetisa!
Suas buscas frenéticas finalmente
Logram êxito, a partir de uma visita
Carolina a recebe e não hesita
Jornalista Audálio, tem em mente
Outro tema, mas decide firmemente
Uma longa entrevista realiza
Reportagem extensa não concisa
E bons ventos sussurram à heroína
Glória eterna a você, ó Carolina:
Preta, pobre, catadora, Poetisa!
Os primeiros escritos publicados
Por Jornais e Revistas no País
Suscitaram inveja, ideias vis
Despertaram interesse, a outro lado
Sua fama se fez, ritmo arrojado
E seu “quarto de despejo” se eterniza
Best seller no mundo - sopra a brisa
Consagrados autores descortina
Glória eterna a você, ó Carolina:
Preta, pobre, catadora, Poetisa!
“Opus magnum" é seu quarto de despejo
Traduzida para treze idiomas
Outro pódio também a mesma assoma
Com o “Diário de Bitita” ainda a vejo
Ver cumprido, no além o seu desejo
Todo o povo dos pobres se irmaniza
O sucesso da obra se eterniza
Compromisso de mudança, então, assina
Glória eterna a você, ó Carolina:
Preta, pobre, catadora, Poetisa!
Carolina Maria de Jesus
Flor-de-lis nos porões da humanidade
Persistente mulher: deter quem há de?
Sua história, à sua mãe também induz:
A Maria Carolina de Jesus
Suja saga de luta nos energiza
Superou preconceitos, duras pisas
Obrigado por quanto nos ensina
Glória eterna a você, ó Carolina:
Preta, pobre, catadora, Poetisa!
João Pessoa, 11 de abril de 2023
Que linda homenagem a nossa grande Carolina Maria de Jesus! Me emocionei aqui! Seria lindo musicar! Que tal profe Alder?
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