quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

Por que tanto aprecio o bom Repente?

 Por que tanto aprecio o bom Repente?


Alder Júlio Ferreira Calado


Desde cedo, aprendi a me encantar pelas letras do Povo e Eruditas. Eis porque em meu ser, ele ainda habita. O repente desde sempre me é sem-par, uma arte, entre tantas, exemplar. É uma arte complexa, criativa. Qualidades lhe sobram -  é uma Diva. Pra começo de conversa, é instantânea, de elementos preciosos, coletânea. De interesses diversos, ela nos criva.


Diferente do Cordel - este é escrito -, o Repente se faz por via oral. Repentistas em dupla, afinal, se enfrentam, mostrando cantar bonito, entre ambos, não raro, gerando atrito. Cada qual empenhado em fazer bem, se desdobra, às vezes indo além, em mostrar aos ouvintes o seu melhor. Mal-estar, superando a própria dor, do temário seguindo em seu vaivém.


Mui complexa é a arte do Repente, por diversos fatores, entre os quais: Rima, estrofes, temática e muito mais. O lidar com a métrica, igualmente. Tudo isso, de improviso, sacode a mente. Repentistas, na ora, escutam o mote - que sua mente não canse, e não se esgote. O primeiro da partida, conforme o tema e assim, cada qual seu barco rema. O poeta, então, mostra seu dote.


E no gênero “Desafio”, surgem torcidas, cada qual aplaudindo seu predileto, com ardor, com carinho, com afeto. Dupla troca expressões bem atrevidas, no final se abraçando - segue a vida. 


“Desafio” também se diz “Peleja”. 


A temática é complexa e ardilosa, desde História, Política e Geografia. Pioneiro, o Repente noticia. Natureza, costumes, crenças, rosas. O ouvinte, atento, contempla, goza. Do folclore às guerras e injustiças, denunciam mazelas, coisas omissas. Desmascara uma mídia incapaz, Repentistas ensinam muito mais, nos ajudam a vencer toda cobiça. 


Outro ponto complexo, é a rima: Abbaaccddc. Complicada, nada fácil como se vê. De improviso, rimando, o poeta prima para que mais beleza nele imprima. São diversas as  formas de rimar: paralelas, cruzadas - são um mar! Repentista, têm o dever de rimar bem. Esta regra melhor convém. Um motivo a mais para o encanto! Estou sempre tocado por labor tanto. Eis por que o Repente atração tem. 


Patativa - antes dele, Rogaciano. Lourival, Otacílio e Dimas Batista, são três astros do Repente, grandes artistas. Ivanildo Vila Nova, pernambucano, cearense Geraldo, no mesmo plano. Oliveira de Panelas, outro expoente, nordestinos que orgulham dessa gente. Zé Limeira e Pinto de Monteiro, Severino, Valdir Teles artilheiros, pra lembrar alguns nomes do Repente. 


A Revista PELEJA, da AESA, de Arcoverde, município pernambucano, estreou há 45 anos. Em seu número 6, mantém acesa a memória de um evento que embeleza: transcreveu os anais do Festival. Por dez números, a Revista, afinal, publicando escritos de docentes, a despeito de fatores restringentes. Para aquela região, um bom sinal. 


João Pessoa, 18 de Janeiro de 2024

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