segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

Sem memória, repetimos nossos erros: Lições da intentona fascista de 8 de Janeiro

Sem memória, repetimos nossos erros: Lições da intentona fascista de 8 de Janeiro


Alder Júlio Ferreira Calado


A intentona golpista precede, de muito, o 8 de Janeiro de 23. Antecede até o Desgoverno Bolsonaro. No limite, remonta ao golpe “republicano” de 1889, impropriamente conhecido como “Proclamação da República”. Tem a ver com a nossa história colonialista/escravista. O Espírito da Casa Grande se faz presente, desde então, no chão de nossa história de violência, de mentiras e resistência. É este espírito senhorial que anima a classe dominante do Brasil.


As Forças Armadas constituem um de seus protagonistas ou, de modo mais preciso, um setor aliado e permanentemente a serviço dos dominadores. Ao longo de tantas décadas se comportam como tutoras da Nação, por vezes até como se dela fossem proprietárias, ainda que, se comportem amiúde como serviçais da classe dominante nacional e do Imperialismo.         


É trágico constatar que, mais de um século depois, este vício segue impune, daí, sucessivos golpes militares ao longo de nossa história. Impunidade que, não alterada, tende a novas conspirações ameaçadoras dos valores democráticos e republicanos. A ditadura civil militar, de 1964-1985, se impõe como um exemplo ilustrativo de que, sem enfrentarmos este desafio, será palco de novas intentonas, como a de 8 de janeiro de 23.


Toda uma sucessão de ocorrências se faz presente, desde o golpe que resultou na destituição da presidenta Dilma, produto de uma tenebrosa combinação de fatores, a partir do ascenso da onda neofascista, em escala mundial, sendo as mais recentes tragédias palestina e argentina, expressões mais sombrias desses mesmos desdobramentos.


Nestas brevíssimas linhas, nosso propósito se limita a registrar sinais de barbárie presentes da tentativa frustrada de golpe, ocorrido no Brasil, em 8 de janeiro de 2023, em busca de extrair algumas lições desta atroz efeméride. Uma primeira tem a ver com a necessidade de aprendermos incessantemente a fazer uma avaliação consistente dos acontecimentos, sempre em perspectiva histórica. Isto nos faz lembrar que ocorrências impactantes não se dão ao acaso: requerem de nós identificar suas raízes, recentes e menos recentes. Mergulhados que vivemos em uma dinâmica refém da ótica eleitoral, isto tende a passar despercebido, do que podem resultar tantas outras experiências amargas.


Outro ensinamento a destacar, tem a ver com certo alheamento por parte de nossa sociedade civil, em especial dos movimentos populares, que parecem, salve exceções, dormitar acriticamente, ao sabor dos ventos da conjuntura, com pouco ou nenhum empenho em atuarem como protagonistas das profundas mudanças desejadas. Da atual estrutura partidária convencional, pouco se pode esperar. Algo semelhante também se passa em relação ao mundo sindical. Mesmo assim, é com essas forças que podemos contar para a construção processual de um novo modo de produção, de consumo, e de gestão societal.


Não menos importante, também nesses momentos de impasse, é o reconhecimento da força transformadora dos movimentos populares que atuam comprometidos com o projeto de sociedade alternativo à barbárie capitalista. Nesse sentido, a educação popular, entendida como expressão do processo de humanização, e desde que protagonizada, em todos os seus momentos (desde a concepção, planejamento, metodologia, a execução, a avaliação…), irrompe como um caminho de enormes potencialidades, inclusive para o exercício contínuo da memória histórica dos oprimidos, tendo claro o horizonte em direção ao qual se comprometem a marchar, com crítica e autocrítica, desde o chão do presente por meio da práxis transformadora.


João Pessoa, 8 de janeiro de 2024

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