APRENDIZADO DAS JORNADAS COMUNITÁRIAS E DA SESSÃO DE
ENCERRAMENTO DA VII SEMANA TEOLÓGICA Pe. JOSÉ COMBLIN
Alder Júlio Fereira Calado
Encerrada,
sábado próximo passado, dia 30/09, a VII Semana Teológica Pe. José Comblin
(VII STPJC), ainda está por ser feita
uma avaliação por parte dos grupos coorganizadores da mesma iniciativa. Aqui
nos permitimos compartilhar alguns pontos mais destacados, recolhidos do denso aprendizado.
Conforme
a programação, a VII STPJC compôs-se de quatro Jornadas Comunitárias (urbanas
e rurais): a realizada em Cabedelo com a CPT (dia 10/09), a do Rangel (dia
03/09), a de Café do Vento (dia 17/09) e a do Alto do Mateus (dia 24/09), além
da Sessão de Encerramento (dia 30/09).
Ao
longo dessas semanas, cuidamos de refletir, em mutirão, a partir do tema geral
da VII STPJC – “Instiuição e Carisma à luz da Tradição de Jesus”, com
rebatimentos em alguns sub-temas, ligados às comemorações dos 500 anos da
Reforma (chamando a atenção aos clamores por reformas profundas e urgentes,
também ao interno da Igreja Católica Romana; a importância do Movimento de
Terapia Comunitária Integrativa; o desafio de se exercitar a mística, em
tempos de crise; o desafio de enfrentarmos, hoje, os caminhos em busca de transformação
social, alternativa ao atual modelo imperante.
Um
dos objetivos mais apreciados, em sucessivas avaliações desta iniciativa, em
edições precedentes, é o de promover ampla participação, desde a construção
temática, de distintas comunidades do campo e da cidade, num permanente
mutirão formativo. É este protagonismo que tem conferido, ano após ano, sabor
especial e frutos memoráveis produzidos pela experiência das Jornadas
Comunitárias. Hora entre comunidades do campo, hora entre comunidades das
periferias urbanas, é confortante experimentar o entusiasmo e a dedicação das
pessoas participantes, sentindo-se protagonistas do processo de construção
dessas STPJC.
Por
meio de uma metodologia fortemente participativa, as Jornadas Comunitárias
tratam de semear experiências de protagonismo dos participantes, que se sentem
estimulados a dar sua contribuição nos debates de cada tema, principalmente
partindo de sua realidade local, conectada com a realidade regional, nacional,
mundial. No caso específico da VII STPJC, os participantes cuidaram de trazer
sua contribuição quanto às tensões observadas entre instituição e carisma,
sempre a partir dos desafios de sua realidade local. Aí vêm a lume relatos de
casos concretos, ilustrativos das tensões entre, por um lado, a figura de um
padre ou de uma coordenação paroquial tendentes a controlar os serviços
realizados na comunidade, e, por outro, a capacidade de pessoas ou de grupos, de
romperem o silêncio, de perderem o medo, de questionarem e até de se oporem
àquela tendencia. Algumas vezes, com sucesso; outras vezes, tendo que suportar
atitudes mais agressivas e até algum tipo de marginalização. Acabam
compreendendo que faz parte da missão profética algum tipo de represália.
Importa assinalar, a este respeito, que quase sempre atitudes corajosas
proféticas de questionamento ao monopólio paroquial partem de pessoas ou de grupos que investem em sua formação contínua.
É o caso dos participantes de uma dessas Jornadas Comunitárias, a primeira,
reazlizada em Cabedelo. Falavam das experiências de uma comunidae de
assentamento rural. Diante da insensibilidade do vigário, a insistir que todos
venham ao templo, e queixando-se da reduzida fraquência, negava-se a celebrar
naquela comunidade, ou memso de visitá-la. A comunidade tratou de celebrar a
Palavra, semanalmente. Quando um padre se apresentava por lá, era bem-vindo e
celebrava-se a Eucaristia, por ele(s) presidida; quando não, cuidavam de
assegurar comunitariamente a Celebração da Palavra. Em outra Jornada
Comunitária, aprendemos mais: as comunidades, na ausência de padre, tomavam a
iniciativa de celebrar a Palavra, e nela, abençoar e partillahr o pão. Também
aqui, fala forte o processo formativo com que aquelas pessoas e comunidades
andam comprometidas. Certa vez, por ocasião de um dos tantos cursos aí
organizados, um deles trazia a história do Concílio Vaticano II e das
Conferências Episcopais, com foco em seus respectivos documentos, um deles,
aquele Compêndio do Concílio Vaticano II, da Editora Vozes. Uma das pessoas
participantes, com o mencionado livro em mãos, confidenciava: “É a primeira
vez que tomo conhecimento disto. Isto não me foi ensinado, antes...”
Nessas
Jornadas Comunitárias, aprendemos dos relatos compartilhados que as
iniciativas mais fecundas e mais eficazes vêm daquelas pessoas e daqueles
grupos que não se limitam a uma oposição verbal, frente à normose reinante,
mas, antes, de tomada de iniciativas inovadoras, em que, agora pelas suas
práticas, são capazes de demonstrar, ainda que molecularmente, que é possível
fazer-se diferente, em vez de se ficar apenas esperando – em vão! – que os “de
cima” mudem de atitude. Outro aprendizado igualmente relevante é que as
comunidades que mais prosperam, no processo organizativo e no processo formativo,
são aquelas que tomam consciência e atitude quanto à distinção entre “Igreja”
e Reino de Deus, e desta compreensão passam a melhor assumir sua vocação
missionária. Tal compreensão não surge por acaso ou espontaneisticamente.
Surge como expressão e resultado do seu
processo formativo. Lá onde se tem investido, durante anos, em encontros de
formação, cursos e seminários, os frutos logo se apresentam.
As
quatro Jornadas Comunitárias, realizadas entre agosto e setembro passados, no
campo e nas periferias urbanas, constittuíram momentos fortes de reflexão em
cima do tema e dos subtemas, desaguaram na Sessão de Encerramento, realizada
no sábado passado, dia 30/09, no auditório da Livraria Paulinas, em João Pessoa.
Após as boas-vindas e a Oração inicial, animada pelo Prof. Vanderlan Paulo de
Oliveira, seguindo parte do roteiro do Ofício das Comunidades, com ampla participação dos presentes,
passou-se à chamada e apresentação das comunidades e pessoas presentes (Leigas,
Leigos, Religiosas, Presbíteros, Diáconos, Bispo emérito). Em seguida, foram
chamados delegados e delegadas de cada Jornada Comunitária, a compartilharem
os principais pontos de reflexão sobre o tema, vivênciados em cada Jornada Comunitária.
Também, foi assegurado ao Pe. Hermínio Canova um breve tempo para apresentar a
página virtual do sítio Teologia Nordeste, com a contribuição de Carmelo.
Seguiram-se
duas preciosas exposições sobre o tema: a primeira, a cargo do Prof. Vanderlan
Paulo de Oliveira, e a de Dom Sebastião Armando Gameleria Soares, Bispo emérito
da Igreja Anglicana. Remetemos os interessados numa consulta dessas exposições
(a serem oportunamente publicadas) ao sítio Teologia Nordeste.
Cuidamos
de resumir, também, aspectos importantes do aprendizado resultante destas duas
exposições. Aprendemos que a tensão
entre tradição e carisma acompanha toda a história do Povo de Deus, desde o
Antigo Testamento. Quantas vezes,
inspirados por Deus, tiveram os profetas de intervir – denunciando os
desmandos e anunciando o Projeto de Deus– ante as sucessivas tentações de
abuso de poder, de opressão e de exploração, cometidas por reis e poderosos
contra a dignidade dos membros do Povo de Deus! Tendência que segue, nos
primeiros séculos do Movimento de Jesus, e vai se agravando, sobretudo, a
partir do século IV, com a impropriamente chamada “cristianização do Império
Romano” : antes, ter-se-ia dado uma paganização/romanização do que se tinha
como Igreja... A partir daí, por meio de um seleto grupo de teólogos
fascinados pelo legado cultual greco-latino (até mais do que a escuta do
Evangelho...), vai-se consolidando, concílio após concílio, este modelo até
hoje hegemônico, não obstante o legado do Concílio Vaticano II, do Pacto das
Catacumbas, de Medellín (1968) e do testemunho profético de Francisco, Bispo
de Roma.
Antes
da Oração final, o Prof. Vanderlan convidou a Profa. Aparecida, do Grupo
Kaiós, um dos grupos coorganizadores da VII STPJC, para fazer uma convocação:
no próximo dia 29 de outubro, dois dias antes da celebração dos 500 anos da
Reforma, vários movimentos e organizações da Igreja Católica Romana, em apoio
ao esforço testemunhado pelo Papa Francisco, de clamar por reformas urgentes na
Igreja, vão celebrar um Ato público, clamando por cinco pontos de reforma:
-
Centralidade do Povo de Deus, na estrutura organizativa da Igreja;
-
Mais Evangelho, menos Direito Canônico;
-
Participação das Mulheres nas instâncias decisórias da Igreja;
-
Reconhecimento do direito, também, das Mulheres que se sintam vocacionadas por
Deus à ordenação ministerial, de serem assim ordenadas;
-
Reconhecimento do direito de Mulheres ou Homens ordenados, de escolherem seu
estado civil,de cumprimento de sua respectiva vocação;
- Empenho pela unidade dos Cristãos,
respeitando a diversidade e a Liberdade do Espírito Santo, sem uniformidade
doutrinária.
Diferentes
grupos e comunidades são convidados a organizarem
uma celebração, nesse sentido. No caso do Grupo Kairós, a celebração ocorrerá,
no dia 29 de outubro, das 9 às 11 horas da manhã (local a confirmar:
possívelmente na Capela Ecumênca da UFPB).
João
Pessoa, 06 de outubro de 2017.
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