FUNDAMENTOS E APORTES DA TEOLOGIA DA ENXADA: esboço organizativo, proposta formativa e
ação mobilizadora
Alder Júlio Ferreira Calado
No rol dos acontecimentos sócio-eclesiais cinquentenários, neste 2019, inclui-se
a caminhada da Teologia da Enxada. Mais que uma expressão conceitual do
vocabulário teológico recente, a Teologia da Enxada constitui uma densa
caminhada experiencial e reflexiva, protagonizada por cristãos leigos e leigas
nordestinos, comprometidos com a causa libertadora dos empobrecidos, à luz dos
valores do Reino de Deus e Sua Justiça.
A caminhada experiencial da Teologia da Enxada brota de uma confluência
de fatores e circunstâncias sócio-eclesiais dos quais ousamos destacar:
O contexto de fermentação característico do final dos anos 1960 na América
Latina e no Brasil. A crescente mobilização popular, em grande medida,
potenciada pelo acontecimentos Medellín (1968) Puebla (1979), que desencadeiam
um fortalecimento e expansão de pequenas comunidades (CEBs), a irrupção de
pequenos grupos de Religiosas que se vão enraizando nas periferias urbanas e na
zona rural, por meio de iniciativas de caráter organizativo (pequenos grupos,
círculos bíblicos, apoio sindical, iniciativas de aprendizado profissional, de
combate ao desemprego e ao custo de vida; iniciativas de caráter formativo, por
meio das Pastorais Sociais, que vão ajudando a despertar, cada vez mais, a
consciência crítica dos participantes, entre outras;
uma crescente associação nos trabalhos então desenvolvidos entre a
reflexão crítica de temas sócio eclesiais candentes (Igreja-Povo de Deus,
desenvolvimento de uma leitura crítica da Sagrada Escritura, em especial dos
Evangelhos, para uma maior clareza da figura de Jesus de Nazaré; com base nos
textos do Concílio Vaticano II e, sobretudo, das Conferências de Medellín e
Puebla, em nítida associação com o que se passava no mundo dos pobres (povos
indígenas, camponeses, operários, desempregados, etc.); iniciativas tais como
Encontros de Irmãos (Olinda e Recife), Irmãos em Ação (Agreste pernambucano),
Igreja Viva (Agreste paraibano), entre outras;
Importantes subsídios e textos de Teologia disponibilizados por agentes
de pastoral a um número crescente de Leigas e Leigos, o que permitia o encontro
com novas correntes de teologia, afinadas com a temática do Concílio (Revista
Concílium), de Medellín e de Puebla, etc. Importa destacar, com ênfase, a enorme
contribuição prestada ao processo formativo da “Igreja na Base”, pela Comisión de
Historia de la Iglesia Latinoamericana, CEHILA, coordenada por figuras tais
como Enrique Dussel, José Oscar Beozzo, Eduardo Hoornaert (Brasil, CEHILA –
popular). Tanto a CEHILA quanto a CEHILA popular tem um papel de excelência no desenvolvimento
da consciência crítica da história das igrejas latino-americanas e do Caribe,
inclusive, do Brasil.
Tais circunstância sócio-eclesiais se acham, por certo, nas origens da
Teologia da Enxada. Disto podem ser bons exemplos ilustrativos os cantos mais
entoados, a esta época, dentre os quais: “Deixa a tua Terra, e vai”, “Da Cepa
brotou a Rama”, “Dizei aos cativos: saí”, “Antes que te formasse”, “Os discípulos
de Emaús”, “Seduziste-me, senhor”, “Desde o raiar”, “Pelos Caminhos da América”,
“Dança aí Negro Nagô”, “Virá o dia, virá o dia”, Eu vim para que todos tenham
vida”, "Igreja é Povo que se organiza"; "Eu sou feliz é na
Comunidade"; "Com a vida cara, a gente fica sem dormir",
"Prova de Amor maior não há", “Eu acredito que o mundo será melhor,
quando o menor que padece acreditar no menor”, entre outros.
Íntima associação entre os temas trabalhados, os cantos de animação, as
novas iniciativas litúrgicas ensaiadas (de caráter mais participativa e
popular) e, por último mas não menos importantes, a metodologia adotada, sobre
a qual convém destacar alguns dos seus pontos principais.
Ao longo desses cinquenta anos de sua trajetória, diversos são os
ângulos sob os quais nos sentimos motivados a revisitá-la: sua proposta discipular-missionária,
de seguidora da Tradição de Jesus; sua contribuição no plano organizativo, seu
investimento no processo formativo contínuo de seus membros; a diversidade de
experiências discipular-missionárias assumidas pelos seus protagonistas
ocorre-nos aqui destacar.
A Tradição de Jesus e Seu Movimento como fontes maiores de inspiração da
Teologia da Enxada no modo inovador de atuar.
1. No
campo da organização
Nas linhas que seguem, pretendemos refletir sobre o título acima, orientando-nos
por questões tais como: em que sentido nos propomos a tratar da Teologia da
Enxada? Em que contexto sócio-eclesial desponta? Quem são seus principais
protagonistas, no processo de fundação? Que objetivos perseguem? Quais suas
propostas axiais, do ponto de vista da organização, do processo formativo e de
suas atividades básicas? Em que fonte(s) bebem seus fundadores? Como se
comportam diante das adversidades enfrentadas, dentro e fora dos espaços
eclesiais? Que passos organizativos tem priorizado? Quais traços principais
marcam sua proposta de formação? Que atividades mais frequentes tem realizado?
A expressão Teologia da Enxada comporta distintas significações. De
início, remete ao universo rural ("Enxada"). Associa-se a jovens
camponeses em processo de formação, num Seminário católico. O Seminário
Regional do Nordeste II, associado ao Instituto de Teologia do Recife (ITER),
constitui uma experiência de formação de presbíteros, num contexto de (pós
Concílio Vaticano II, mais precisamente a partir da presença de Dom Helder
Câmara, recém-nomeado Arcebispo da Arquidiocese de Olinda e Recife. Rodeado de
uma equipe de assessores e assessoras de reconhecida qualificação teológica, o
SeERENE II aparece como uma possibilidade de se oferecer uma formação
presbiteral em sintonia com as conclusões do recém-findo Concílio Vaticano II,
realizado entre 1962 e 1965. Contando com assessores e professores tais como
Pe. Marcelo Carvalheira, Pe. José Comblin, Pe. Eduardo Hoornaert, Pe. Zildo
Rocha, Pe. René Guerre, entre outros, buscava-se tocar um plano de formação
presbiteral, em sintonia com as conclusões do Vaticano II. Nesta época, foi
escolhido o Pe. José Comblin como Diretor de Estudos. Da turma de estudantes componente
daquele Seminário (maior) também faziam parte jovens seminaristas tais como
João Batista Magalhães, Raimundo Nonato Queiroz, João Firmino, José Diácono,
Ivan Targino e outros. Em sua maioria, tratava-se de jovens vindos de família
camponesa ou de famíilias pobres habitando as periferias urbanas, que, embora
reconhecendo a qualidade dos estudos ali realizados, se sentiam relativamente
perdidos, com relação a um propósito que os marcava: o de servirem como
missionários, como discípulos de Jesus, comprometidos com a causa dos pobres,
camponeses e operários, razão por que sentiam estar faltando algo de
importante, naquela proposta de formação. Agindo em grupo, tomam a iniciativa
de compartilhar seu sentimento comum ao então Diretor de Estudos, Pe. José
Comblin, que, para surpresa deles, se sensibiliza com suas inquietações e se compromete
a levar refletir melhor sobre tal desafio.
Comblin, que já vinha atuando há vários anos como Assistente de JOC,
também não se encontrava só. Tinha alguns colegas igualmente sensíveis a este
apelo. E assim, via surgindo um novo clima de abertura e de flexibilização, compartilhado
também por Dom Helder. Surge, então, a ideia de ousar uma experiência alternativa
de formação. Em vez de jovens como aqueles ficarem naquele espaço de seminário,
buscariam uma formação em lugar mais próximo da gente a quem gostariam de
dedicar sua formação: os camponeses. Daí nascem as propostas de criação
de dois núcleos "rur-banos" de formação, um em Tacaimbó - PE e outro
em Salgado de São Félix - PB, já no final dos anos 60. O que aí se inicia,
desenvolve-se e cria raízes. Menos de dez anos após, é o próprio Comblin quem
relata o plano de formação aí em curso, num livro de referência, "Teologia
da Enxada", publicado pela Vozes, em 1977.
2. Esboço
de um plano de formação e de atividades missionárias.
Como acima mencionado, aquele grupo de jovens seminaristas do Seminário
Regional Nordeste II, associado ao ITER, do qual Pe. José Comblin era o Diretor
de Estudos, não se sentia contente com a formação aí recebida. Sem
deixarem de reconhecer a qualidade dos estudos oferecidos - que se destacavam,
inclusive, no cenário do País -, sentiam falta de uma proximidade maior com o
povo dos pobres, de onde haviam vindo e com os quais pretendiam se comprometer,
como discípulos-missionários a serviço do Reino de Deus. Uma vez obtida a
concordância e o apoio de formadores como o próprio Pe. José Comblin, que
traços mais fortes entendiam dever estar presentes em seu processo formativo?
Vejamos alguns pontos que aí se ressaltavam:
Uma maior interação entre o horizonte discipular-missionário almejado e
os caminhos correspondentes. Isto se traduzia por meio de sua escolha formativa
fundada sobre a coerência entre os estudos temáticos que deveriam refletir os
compromissos com a causa libertária do povo dos pobres (camponeses, povo negro,
povos indígenas, operários, etc.), por um lado; e, por outro, uma metodologia
de vida, de trabalho e de estudos correspondentes ao horizonte temático. O
método passa a ser um item substantivo, ao lado dos temas priorizados naquele
processo formativo. Na prática, isto implicava:
- Estilo de vida, em primeiro lugar, isto é, manter um estilo de vida
próximo da gente a que queriam dedicar seu trabalho missionário. Viver, não
apenas perto do povo, mas com ele interagir, compartilhar inquietações e estilo
de vida e de trabalho, sem prejuízo do necessário aprofundamento da reflexão
crítica e teórica, processo que seria igualmente acompanhado de perto pela
Equipe de formadores, da qual faziam parte, além do Pe. José Comblin, também
figuras tais como: Pe. René Guerre, Pe. José Servat, Ir. Maria Emília Ferreira,
Ir. Zarita, Ir. Agostinha Vieira de Melo, Pe. Jorge Raimundo, João Batista
Magalhães Raimundo Nonato (estes últimos, após o término de sua formação
missionária inicial).
O que se poderia encontrar de novo, na experiência formativa destes
jovens vocacionados, em seu dia-a-dia? O lugar geográfico (os Núcleos de
Tacaimbó e de Salgado de São Félix) constitui um primeiro traço desta novidade
formativa. Aqueles jovens vocacionados sentiam-se, agora, rodeados de sua
gente, num convívio frutuoso, num aprender-compartilhar incessante, numa
convivência enriquecedora, para ambos os lados. Respiravam os ares do campo, da
Mãe-Natureza, experimentavam mais de perto a beleza de um alvorecer, de um por
de sol; podiam contemplar as estrelas; ou ouvir o cantar dos pássaros;
encantar-se com a chegada das chuvas naquela paisagem ressequida. A alegria e o
entusiasmo dos camponeses, a caminho da roça. Ali, podiam testemunhar de perto
o estilo de vida das famílias, como se processava a educação dos filhos; como
se dava a distribuição das tarefas entre os membros da família; como se davam
as relações de trabalho, as atividades devocionais, a reverência aos santos, as
festas de padroeiro. Em breve: podiam imergir no universo cultural daquela
gente, sua gente, com ela aprendendo, compartilhando e refletindo diferentes aspectos
da vida, no chão do dia a dia. Aquela terra, aquela gente constituíam parte
ativa de sua formação. Por outro lado, também repartiam o tempo, de modo a
terem condições de se dedicarem aos trabalhos manuais (ao trabalho na roça,
inclusive). Tempo para os estudos, orientados pela Equipe de formadores. O que
estudavam no Seminário ali se fazia presente, mas com uma grande diferença:
tudo partia da vida daquela gente. Do grito e do sofrer: das alegrias e das
festas; do conviver no trabalho e no lazer daquela gente - daí brotavam os
temas de seus estudos: os Evangelhos, a Sagrada Escritura, as primeiras
comunidades, a oração, a partilha, a solidariedade, o encanto com a Natureza,
pecado, graça, sacramentos, Igreja, comunidade, Povo de Deus, Salvação,
Libertação - o dia-a-dia daquela gente constituía permanente fonte de
inspiração para seus estudos teológicos, pra sua oração, para seus trabalhos
para sua convivência com as comunidades. A começar das palavras-chave que
selecionavam, com a orientação de seus formadores, sempre associadas às atividades
concretas de sua gente.
Este jeito de se organizarem e de cuidar de sua formação, estendeu-se,
em seu primeiro período, até o final dos anos 70, durante os quais o Pe. José
Combilin, uma vez expulso do Brasil, em 1972 (foi expulso pela Ditadura
Civil-Militar brasileira), e passando a residir no Chile, mais precisamente em Talca,
animando trabalhos semelhantes, não perdeu o contato com esses núcleos nem com
os membros da Equipe de formação. Sempre arrumavam um jeito de se encontrarem,
na fronteira com o Brasil (Uruguai, Argentina...), de modo a compartilharem
informações e orientações de formação, tanto em Talca como no Nordeste do
Brasil (Pernambuco e Paraíba, principalmente).
Com a conquista da anistia aos exilados, começa uma nova fase. A partir
de um encontro realizado em Itamaracá – PE, entre membros da Equipe de Formação
e parte do formando, já vivendo um outro momento de sua formação, agora mais
como formadores -, surge o plano de criação de um seminário rural, em terras da
Arquidiocese da Paraíba, mais precisamente em Pilões, num sítio chamado
Avarzeado. Com o apoio do Arcebispo da Paraíba, Dom José Maria Pires, e de
alguns bispos do Nordeste, mas sobretudo graças ao protagonismo dos
participantes daquele encontro, lançam-se as bases desta nova experiência, e o
Seminário Rural inicia suas atividades, no início de 1981, com a participação
de uma turma composta por doze jovens. Estes jovens camponeses do Nordeste e
outras regiões passavam a vivenciar uma experiência inovadora de formação
presbiteral, baseada numa distribuição atípica de atividades, com tempo para os
estudos, tempo para o trabalho na roça, tempo para oração, tempo para o acompanhamento
missionário das comunidades vizinhas àquele sítio. Objetivo era o de formar
jovens vocacionados ao Presbiterado, a partir de uma experiência formativa
junto ao seu povo, o povo camponês. Roma, porém, não aprovaria tal experiência
como apropriada para a formação de presbíteros, deixando a entender que aquela
experiência não atendia os requisitos eclesiásticos para a formação de padres.
E mandaria fechar o Seminário Rural.
O que, num primeiro momento, repercutiu como um revés, acabou transformando-se
numa bênção: no ano seguinte, 1983, já em Serra Redonda - PB, foi iniciado o
Centro de Formação Missionária, que daria sequência, mas em novo estilo, ao
processo de formação, já não de jovens destinados ao Presbiterado, mas para jovens
vocacionados à Missão junto ao povo do campo e das periferias urbanas.
O processo formativo que aí teve lugar, constava de uma experiência de 6
anos, sendo 2 anos de formação no CFM, mais 2 anos junto a famílias ou
comunidades da redondeza (sempre acompanhados por membros da equipe de
formação), e os 2 últimos anos de volta às suas comunidades de origem, com a
tarefa missionária de fundar e animar novas comunidades, nutridas com esses
valores.
Com o passar do tempo, foram surgindo novas demandas ou novos formatos
de formação, de modo a contemplar uma variedade de vocações: havia os que
manifestavam a vontade de serem missionários casados (daí a criação da
Associação dos Missionários e Missionárias do Campo); havia a demanda de um novo
CFM voltado para as vocações missionárias femininas (demanda atendida, a partir
de 1986–87, na cidade de Mogeiros); outros e outras sentiam-se vocacionado mais
diretamente a uma vida contemplativa (daí a criação da fraternidade do
discípulo amado), no Sítio Catita, município de colônia Leopoldina – AL;
também, houve quem se sentisse chamado-chamada à uma vida de Peregrinação;
outros/outras sentiram-se movidos a um trabalho missionários nas periferias
urbanas do Nordeste (daí, a criação da AMINE – Associação dos missionários e
missionárias do Nordeste); uma outra experiência mais diretamente ligada ao
processo formativo de leigas e leigos, com fecunda metodologia de trabalho (tarefa
cumprida pela Associação Árvore); a frutuosa e continuada experiência das
escolas de formação missionária (em Juazeiro - BA; em Mogeiro – PB; em
Esperantina – PI; em Floresta – PE; em Barra – BA...). Por inspiração destas e
na caminhada junto a estes mesmos protagonistas, outras experiências brotaram e
continuam vivas, tais como a experiência formativa das comunidades em torno de
café do vento (Sobrado – PB), o grupo Kairós (Criado em 1998, em torno do Pe.
José Comblin, e que se reúne semanalmente, para estudar a obra do Pe. José e de
outros teólogos e teólogas tais como Gustavo Gutiérrez, Leonardo Boff,
Jean-Yves Leloup, Eduardo Hoornaert, Ivone Gebara, Sebastião Armando, Hans Küng,
José Antonio Pagola, Luís Carlos Araújo, Marcelo Barros, Teresa Forcades, entre
outros e outras).
Revisitando tais experiências de
organização e de formação contínua acompanhadas sempre de inúmeras iniciativas
e atividades, junto às comunidades do campo e da cidade, principalmente no
nordeste do Brasil, encontramos fortes sinais que nelas/delas recolhemos, e que
se apoiam em valores da Tradição de Jesus, dentre os quais:
-Compromisso perseverante
coma causa do povo dos pobres, à luz dos
valores do Reino de Deus e sua justiça;
- Enraizamento comunitários no
campo e nas periferias urbanas;
- Primazia pela causa do Reino
de Deus, sempre colocado como horizonte inegociável nas lides com as Igrejas
Cristãs e suas respectivas hierarquias;
- Contínua disponibilidade para
ouvir o que o Espírito tem a dizer ao povo dos pobres em sua luta por justiça,
paz, solidariedade e partilha;
- Empenho continuado em
resistir às amarras do sistema dominante, em busca e à caminho de uma
sociabilidade alternativa ao sistema hegemônico, tratando de, enquanto se busca
essa nova sociabilidade, já ir-se semeando sementes de alternatividade...
João Pessoa, 16 de janeiro de
2019.
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