domingo, 27 de setembro de 2020

O MOVIMENTO DAS BEGUINAS: Interfaces e ressonâncias em experiências sócio-religiosas femininas do presente

 

O MOVIMENTO DAS BEGUINAS: Interfaces e ressonâncias em experiências sócio-religiosas femininas do presente

RESUMO

O Movimento das Beguinas situa-se num período denso de inventividade cultural protagonizada por figuras e organizações femininas. A partir da Bélgica, e estendendo-se por outros países europeus, o Movimento das Beguinas pontificou durante os últimos séculos da Idade Média, numa Europa marcada pela presença insubmissa e contestatária de mulheres – santas, sábias, guerreiras -, cuja influência se estende para além da Idade Média. Desse movimento é possível, ainda na contemporaneidade, encontrar-se alguns traços de interfaces e ressonâncias? É o que pretende o presente trabalho. São recuperados elementos históricos e características do Movimento das Beguinas, e, em seguida, descritas experiências e práticas de mulheres religiosas, no Nordeste do Brasil, nos anos 70 e 80, e nos Estados Unidos (ainda em curso), apresentando traços que evocam, guardadas os respectivos contextos históricos, elementos presentes em algumas experiências das Beguinas.

Palavras-chave: Beguinas, Idade Média, Experiências religiosas femininas

Introdução

Como em outras incursões precedentes, também nesta, tratamos de revisitar o passado, a partir dos desafios do presente, e de olho no que o passado tem a dizer também ao futuro, como também costuma lembrar Eduardo Galeano. Nosso propósito de reavivar traços do Movimento das Beguinas surge da observação de impetuosas experiências sócio-religiosas protagonizadas, em distintas partes do mundo atual, por mulheres que se organizam em comunidades, em grupos, em movimentos, movidas pela sua fé cristã e pela sua vocação cidadã, numa perspectiva libertária. Referimo-nos a, por exemplo, desde experiências de religiosas inseridas no meio popular, no Nordeste brasileiro, sobretudo nos anos 70 e 80 , ao não menos impetuoso movimento protagonizado pelas Religiosas dos Estados Unidos, organizadas sob a sigla LCWR (Leadership Conference of Women Religious).

Nesse movimento relacional entre passado, presente e futuro, importa assinalar, pelo menos, um aspecto que só reforçou em nós o propósito de ensaiar uma analogia entre o Movimento das Beguinas e algumas experiências sócio-religiosas contemporâneas de missionárias, espalhadas pelo mundo. É bem o que nos ocorre a partir de um ponto extraído de um resumo cronológico feito por Katharina Wieacker, relativo a uma influente Beguina do século XIII, Mechthild von Magdeburg (1207-1282), onde se lê:

1260/1261 En un Sínodo diocesano el clero de Magdeburgo retiró el derecho de autoadministración y autodeterminación en cuestiones eclesiásticas a las beguinas en Magdeburgo y por lo tanto impedió la influencia de los dominicos y las subordinaron al clero parroquial. Era un intento de separar espiritualmente a las beguinas del movimiento de pobreza.

Quem vem acompanhando experiências sócio-religiosas femininas contemporâneas, individuais (as investidas de silenciamento pelo Vaticano em relação, por ex., à religiosa e teóloga ecofeminista Ivone Gebara) e coletivas (sendo a mais recente e impactante a tentativa de enquadramento pelo mesmo Vaticano das atividades missionárias da principal organização das Religiosas dos Estados Unidos, afiliadas à Leadership Conference of Women Religious). há de perceber semelhanças significativas, guardadas as circunstâncias histórico-contextuais, entre tais experiências da atualidade e aquelas protagonizadas pelas Beguinas da Idade Média.
Neste e noutros casos de experiências contemporâneas similares, observam-se, com efeito, traços comuns, tais como: a busca de pronunciar sua palavra, seja diante de uma Igreja controlada exclusivamente por uma pequena cúpula de homens (a hierarquia eclesiástica, a começar pelo Vaticano), seja frente aos poderes civis; traços comuns em relação ao empenho em buscar caminhos de autonomia; sua luta pela construção de outro mundo, possível e necessário, a partir do protagonismo dos “de baixo”, isto é, a partir dos excluídos, seja nas relações de espacialidade, de gênero, de etnia, de geração, etc., seja ao interno dos espaços eclesiásticos, seja no âmbito macro-social, em oposição ao controle das instâncias oficiais, civis ou eclesiásticas.

A observação desses e de outros traços nessas e noutras iniciativas protagonizadas pelas mulheres de hoje, é que nos fez evocar traços vivenciados no e pelo Movimento das Beguinas. Haveria, mesmo, aí algum tipo de afinidade? Que outros traços comuns entre esses movimentos atuais e o das Beguinas é possível assinalar? Eis o que buscamos desenvolver, a seguir, começando por reavivar aspectos históricos do período em foco (séc. XII a séc. XV). Em seguida, cuidamos de recuperar ou de reavivar alguns elementos característicos do Movimento das Beguinas, alguns elementos históricos, principais características, suas figuras proeminentes, sua contribuição, também no âmbito macro-social, para além da esfera estritamente eclesiástica. No tópico seguinte, tratamos de, em meio a uma pluralidade de experiências femininas contemporâneas, animadas pela fé cristã, descrever aspectos emblemáticos de duas experiências densas na contemporaneidade: a das Pequenas Comunidades de Religiosas Inseridas no Meio Popular (PCIs), no Nordeste do Brasil, sobretudo nos anos 70 e 80, e a experiência corrente vivida pelas Religiosas nos Estados Unidos, organizadas na LCWR. Por último, tecemos algumas considerações sobre eventuais afinidades entre as experiências de hoje e as do Movimento das Beguinas, não sem deixar de também reconhecer suas descontinuidades.

1. Baixa Idade Média: uma era grávida de alternatividade

Ainda hoje ressoam, embora em menor grau, traços do injusto rótulo por vezes atribuído à Idade Média como uma era estritamente obscurantista – a famigerada“noite de mil anos”… Pesquisas históricas mais recentes vêm ajudando a desconstruir e a reparar esse viés reducionista. Com efeito, notadamente os últimos séculos da Idade Média – a chamada baixa Idade Média – se apresentam, antes, como um tempo “novidoso”, grávido de alternatividade; comportam traços surpreendentes, no que diz respeito ao multiforme protagonismo e inventividade então testemunhados por diferentes sujeitos (coletivos e individuais), dentre os quais aqui sublinhamos o protagonismo das mulheres orientadas por sua fé libertária.

Um olhar crítico sobre os últimos séculos da Idade Média haverá, por conseguinte, de ensejar impactantes achados, inclusive a experimentados pesquisadores e pesquisadoras. Aqui evocamos aquela imagem bíblica do velho baú, do qual, a cada visita, se recolhem coisas velhas e novas. Isto para quem tem olhos para ver…
Diante de um cenário hegemonizado, durante séculos, pela instituição eclesiástica e seus aterrorizantes aparelhos de opressão e repressão sobre os excluídos desse sistema – os pobres, as mulheres, os grupos, organizações, movimentos e figuras individuais que aspiram à liberdade, que não aceitam um sistema de subordinação nas relações humanas e sociais, no seu empenho em resistirem à bitola ou à régua evocando a imagem do aterrador leito do Procusto eclesiástico, por não corresponderem às medidas de sua régua, tornando-se assim alvo sistemático de suspeição, de perseguições, de condenações sumárias, como sucedeu durante o tenebroso período da Inquisição.
A baixa Idade Média apresenta-se, pois, como um período de grande impulso renovador. Nele podemos perceber a presença de elementos que se antecipam a períodos posteriores. Séculos de reconhecida inventividade, fazendo aparecer fatos e situações que precedem, em séculos, a irrupção da Reforma e de outros traços caracaterísticos da Modernidade.

Assim aconteceu em relação, por exemplo, a diversos movimentos pauperísticos – os Cátaros, os Valdenses, os Franciscanos radicais, os Fraticelli, os Goliardos (alvo predileto de um notável pesquisador da UFPB, o saudoso Prof. Maurice Van Woensel, bem como um tema de a ser abordado, neste evento, pelo historiador Eduardo Hoornaert, que coordena esta Mesa), etc.. Movimentos pauperísticos protagonizados, portanto, por vastas massas do povo dos pobres, animadas por lideranças proféticas a buscarem afirmar sua fé cristã por horizonte e caminhos opostos aos seguidos e impostos pela religião eclesiástica, tão distante do espírito do Evangelho.

À riqueza e ao luxo da alta hierarquia eclesiástica e da nobreza, os movimentos pauperísticos opunham sua vida de simplicidade e de pobreza; aos complicados códigos canônicos, preferiam a transparência do Evangelho; à voracidade e avidez pelo acúmulo de bens materiais, preferiam a partilha fraterna dos bens e de sua própria vida em mutirão; aos lugares de honra e aos privilégios do poder, empenhavam-se no serviço fraterno das pessoas e grupos socialmente marginalizados; em vez de uma organização imperial de feição piramidal, como o Império Romano e outros impérios, lutavam por uma organização horizontal de sua vida social, econômica, política, cultural e religiosa. Sobre tais movimentos há uma relativamente vasta literatura.

Os séculos característicos da baixa Idade Média constituem, com efeito, uma era de precursores e precursoras relevantes, especialmente do ponto de vista de sua criatividade cultural-religiosa, do que pode ser mencionado como um exemplo as interpretações formuladas por Joaquim de Fiore, quanto à idade do Espírito, e que tiveram ampla e duradoura influência entre os movimentos reformadores da época.

No que tange à grade de valores, por exemplo, esses séculos comportam traços marcantes de inovação e de antecipação à Idade Moderna. Como ignorar sua ânsia de liberdade, de autonomia, de protagonismo, de autogestão, de valorização do vernáculo, e sobretudo de afirmação das mulheres como sujeitos históricos? Muito lhe tem a dever a Modernidade, sob distintos aspectos. Muito lhe deve o Movimento de Reforma cujas raízes estão fortemente fincadas nesse período.

2. Que traços mais fortes marcavam o perfil das Beguinas?

Conforme o acima prometido desde o título, aqui tomamos como alvo de nossa reflexão apenas o Movimentos das Beguinas, também desse mesmo período. As Beguinas se apresentam, ao mesmo tempo, como resultado, expressão e protagonistas desse período histórico. Trata-se de um movimento impetuoso que se dá justamente numa atmosfera de adversidades aparentemente intransponíveis para os excluídos de então, ao ponto de se produzir em meio a uma sociedade que tinha ares de misoginia aí reinante. Impacta-nos, com efeito, a extrema capacidade de resistência das mulheres a um contexto tão adverso. Resistência por elas exercitada por diferentes vias, seja pelas veredas de sua inventividade cultural (as sábias), seja pela sua espiritualidade leiga (as místicas), seja pela sua capacidade de resistência material (por seu trabalho manual de auto-manutenção (as militantes, as guerreiras).

Dessas formas de resistência, aqui nos limitamos à que combina o exercício de uma espiritualidade leiga com a sua capacidade de organização autogestionária a serviço dos excluídos daquela época (os pobres, os doentes, as mulheres abandonadas).

As Beguinas constituem uma página relevante da história das experiências religiosas marcadas por uma espiritualidade vivida no feminino, em pequenas comunidades chamadas “Begijnhof”, “Béguinages”, conforme a região de sua atuação (Flandres, Liège, Bruges, Antuérpia, etc.), animadas por mulheres jovens e adultas, celibatárias, viúvas, algumas casadas, que, organizadas sobretudo em meio urbano, combinavam uma vida de oração, de trabalho autogestionário com o serviço aos pobres, doentes e pessoas marginalizadas da época, alimentadas por uma espiritualidade singular, de caráter leigo.
Há referências associando as origens das Beguinas a Lambert le Bègue, figura a quem também se atribui a fundação do Movimento dos Begardos, uma versão masculina de semelhante experiência, formada por pregadores errantes, no século XII, na Bélgica, a denunciarem profeticamente os desmandos do clero, e pregando uma conversão ao Evangelho e ao estilo de vida das comunidades cristãs primitivas. Há, contudo, quem entenda diversamente as origens das Beguinas, a exemplo de Alain de Libera, que situa o início do Movimento das Beguinas, nos arredores de Liège (Bélgica), por volta de 1210.

Segundo este mesmo autor, o Movimento das Beguinas tinha suas singularidades, tais como: não tinha um santo fundador, não buscava autorização da hierarquia eclesiástica, não tinha uma constituição ou regulamento, não fazia votos públicos, “seus votos eram uma declaração de intenção, não um comprometimento irreversível a uma disciplina imposta pela autoridade, e seus membros podiam continuar suas atividades normais no mundo” .

O Movimento das Beguinas respondia a um forte anseio de seus membros: tendo em vista as relações então dominantes, nas esfera sócio-política, no terreno das relações de gênero, nas relações de vida religiosa, em todas sentindo-se sufocada pela dominação masculina, as Beguinas procuravam, explicitamente ou não, um estilo de vida que lhes permitisse uma múltipla autonomia: em relação a um marido, em relação ao patrão, em relação à autoridade oficial, em relação à autoridade eclesiástica, em todas essas esferas, reinando a figura masculina…

Tendo origem na Bélgica, as Beguinas foram expandindo-se pelos Países Baixos, por áreas da Alemanha e da França, preferindo atuar no meio urbano, onde respiravam um ar de relativa liberdade (em comparação com o meio rural daquela época). José Comblin assim a elas assim se refere:

As “beguinas” eram moças que não queriam entrar no mosteiro, queriam dedicar sua vida ao serviço de Deus e do próximo. Até os 30 anos de idade viviam na casa de uma “beguina” mais velha. Ao completarem 30 anos, passavam a viver sozinhas numa casinha. Dedicavam a vida ao trabalho e ao serviço dos pobres, doentes ou anciãos. Realizavam exercícios de piedade em conjunto, mas cada uma tinha sua vida independente. Formavam às vezes ruas inteiras de casinhas semelhantes. Em certas cidades formavam como que uma cidade dentro da cidade (“Begijnhof”, “Béguinage”).

Este mesmo autor aí faz também referência a estimativas quanto ao número de beguinas. Por essa região elas foram espalhando-se, aos milhares, havendo quem estime terem alcançado uma população de 200.000 beguinas, num universo estimado à época em torno de 20 milhões de habitantes.

Eram mulheres que, não preferindo contrair laços institucionais orgânicos com a Igreja institucional, nem professar votos formais e definitivos – algumas o faziam a título particular, sem torná-los públicos – desenvolviam atividades sócio-religiosas, formavam uma espécie de leigas consagradas, como se diz hoje. Combinavam atividades devocionais com trabalhos manuais e sobretudo o cuidado com os pobres e os doentes, os rejeitados daquela sociedade.
Chama a atenção o fato de que, nos primeiros tempos, as Beguinas ressoavam para as forças dominantes apenas como uma experiência beneficente e útil, ao alcance de seus olhos inquisitoriais. À medida, porém, que as Beguinas vão se consolidando organicamente, trabalhando sua identidade de mulheres livres – em relação ao machismo familiar, ao machismo clerical e ao machismo de outras instâncias oficiais -, passaram a sofrer leituras pejorativas até começarem a ser perseguidas pela instituição eclesiástica, ao ponto de, em 1311, terem sido condenadas como hereges, no Concílio de Viena (1311).

Aí tiveram lugar as famosas “Clementinas”, como ficaram conhecidas as condenações feitas pelo Papa Clemente V contra as Beguinas e contra os Begardos, em cima de elementos aludidos em seus dois Decretos “Ad nostrum” e “Cum de quibusdam mulieribus”. Em ambos, o Papa Clemente V buscava lançar suspeitas em relação às Beguinas (donde a expressão “de quibusdam mulieribus” – “sobre certas mulheres”…) e aos Begardos, olhos fitos no conjunto dos movimentos pauperísticos. O Papa Clemente V temia tais movimentos precursores da Reforma, inspirados que eram em figuras proféticas como Joaquim de Fiore, que, em sua teologia, sustentava a famosa interpretação das três idades, na história do Povo de Deus, ao deduzir da sucessão das 42 gerações citadas no relato bíblico da genealogia de Jesus (cf. Mt. 1) três épocas distintas: a idade do Pai, a idade do Filho e a idade do Espírito Santo, correspondendo esta a um tempo de liberdade. Justamente um valor a ser reprimido, ante os olhos dos hierarcas. Não é por acaso que, numa carta enviada ao bispo de Cremona, o Papa Clemente V expunha sua veemente oposição contra “os que desejam introduzir na Igreja um tipo de vida abominável que eles chamam de liberdade do espírito”…

Daí para a oficialização de uma caça às bruxas foi um passo, culminando nos processos mais aviltantes da condição humana, protagonizados pela tenebrosa Inquisição. Inclusive várias figuras beguinas, entre as quais Marguerite de Porète. Além desta, são várias as figuras de Beguinas: desde a precursora Hildegard de Bingen, passando por Matilde de Magdeburgo, por Gertrude de Hefta, Marie d´Oignie, Matilde de Hackeborn, Beatriz de Nazareth, até Hadewijch de Antuérpia e a própria Marguéritte de Porète, de algumas das quais nos ocuparemos, a seguir, de modo a destacar aspectos de seu respectivo legado. (cf. COMBLIN, José. Vocação para a Liberdade. São Paulo: Paulus, 1998: p. 125-129).

Começamos pela figura de Hildegard de Bingen (Alemanha) uma beneditina que viveu entre 1098 e 1179, considerada uma precursora das Beguinas, ao menos no que toca ao reconhecido potencial intelectual, como escritora, como compositora, como filósofa e como mística. Como abadessa beneditina, Hildegard de Bingen foi também fundadora de alguns mosteiros. Como compositora, é de sua autoria um dos mais antigos drama litúrgico, “Ordo Virtutum”, além de mais de 70 poemas e cantos litúrgicos Escritora prolífica, escreveu obras teológicas e textos de temas medicinais e de Botânica. A ela é atribuída um número expressivo de cartas. Fala-se em três centenas! Fato curioso e atual é o anúncio pelo Papa Bento XVI de que, ainda este ano, Santa Hildegard de Bingen será proclamada Doutora da Igreja… (cf. http://en.wikipedia.org/wiki/Hildegard_of_Bingen ).
Notícia que reforça suas multifacetadas potencialidades, que atraíam, em seu tempo, a admiração de papas, de bispos, de príncipes…

Uma segunda figura de beguina – esta já não uma precursora, mas, antes, uma beguina propriamente dita – diz respeito ao nome de Matilde de Magdesburgo. Também alemã, nascida em Magdesburg, que viveu entre 1207 e 1282. Sua biografia resultou fundamentalmente de seu famoso livro A Luz Resplandecente da Divindade , (em alemão, “Das flissende Licht des Gottheit”), cujo manuscrito foi encontrado no século XIV, escrito num Alemão popular da época, e não em Latim, como era o hábito das escritas eclesiásticas. Um escrito que ela vai compondo, a partir de suas visões, que ela começa a registrar, já à altura dos seus 43 anos, por recomendação de seu confessor. Diferentemente do estilo convencional, o seu se acha bastante inspirado no que caracteriza o Cântico dos Cânticos, o que provoca escândalo ao clero e à alta hierarquia de então, não bastasse o fato de tratar-se de uma mulher. (cf. http://www.europsy.org/marc-alain)

Nascida quase meio século depois, merece igualmente destaque a beguina Marguerite de Porète (1260-1310), por seu precioso legado de mística, de perfil profético e de mártir. Sua prematura condenação à fogueira – aos cinquenta anos! – não é algo casual. Um testemunho eloquente de seu perfil místico e profético pode ser encontrado por meio de sua obra Le miroir des âmes simples et annéanties. Um exemplar desta obra secretamente guardado por séculos, foi recentemente (1945), num mosteiro de Monte Cassino.

Hadewijch de Antuérpia, outra beguina que se tornou célebre, sobretudo graças à sua capacidade intelectual. Foi desbravadora no uso vernáculo em que produziu textos de reconhecido valor, tendo sido, não por acaso, considerada uma das fundadoras da língua flamenga, uma das primeiras referência no cultivo da língua. Característica que cultivou conscientemente, ao empreender vários textos no vernáculo, diferentemente da tendência da época, sempre mais aberta ao Latim enquanto língua oficial. Não correspondia ao propósito de Hadewjich, que preferia comunicar-se na língua de sua gente, por meio da qual socializava sua produção.

Não menos importante foi a contribuição – talvez a que mais devamos destacar, dentre todas, ainda que todas devam ser entendidas de modo entrelaçad0 – das Beguinas no campo da experiência mística. Área em que também foram profundamente emblemáticas, sobretudo graças à vivência de uma nova espiritualidade, profundamente marcada por um estilo leigo. Não por acaso, foi no campo dos leigos e das leigas, que mais influência exerceram as Beguinas. Assim a elas se refere uma analista:

Dans la spiritualité féminine, une évolution bien plus étonnante au cours de la seconde moitié du XIIe. siècle permet aux femmes d’échapper à la négation et au silence.Des groupes de béguines se constituent aux Pays-Bas,se consacrant au travail et à la prière ; le phénomène alla de Rhénanie en Italie, avec des formes diverses. La prédication franciscaine s’adressait délibérément aux laïcs,et les femmes font nombre,dans un climat d’exaltation qui va parfois jusqu’au paroxysme. C’est dans ce domain, très largement, que la parole des femmes va désormais se situer.

Forte, também, durante longo período, a influência recíproca entre a mística vivida pelas Beguinas e a exercida pelo dominicano Mestre Eckhart (1269-13), dominicano que ensinou na Universidade de Paris, por dois períodos. Isto se deu seja em razão do perfil de pregador de Mestre Eckhart que se dirigia aos leigos, seja também pelo fato de um enorme contingente de mulheres, em razão das massivas mortes dos homens envolvidos em guerras, em cruzadas, etc.

Este e outros detalhes e circunstâncias é que ajudam a melhor compreender o perfil da proposta do Movimento das Beguinas, em especial seu propósito alternativo, razão por que, como lembra Régine Pernoud, “Le mouvement des béguines séduit parce qu´il propose aux femmes d´exister n´étant ni épouse, ni moniales, affranchie de toute domination masculine”.
Com efeito, há quem sustente que as Beguinas não tinham propriamente uma “Madre Superiora”, preferindo uma “Grande Dame”, eleita para alguns anos. Cada comunidade de Beguina define seu próprio estilo de vida. Cultivavam um especial apreço ao trabalho como um meio de sua emancipação econômica. Cultivam os saberes médicos bem como as artes.
De um número considerável de beguinas que se tornaram mais conhecidas, aqui nos limitamos a apenas esses nomes, com o propósito de destacar-lhes as principais contribuições, tanto as de caráter mais diretamente eclesial, quanto as de um alcance social mais pronunciado.

Comecemos por estas últimas – as de caráter sócio-histórico. O Movimento das Beguinas constitui um marco relevante histórico-social, podendo ser destacados, de passagens, os seguintes pontos, neste âmbito:
– seu aporte inventivo como sujeitos históricos (individuais e coletivos) numa época marcadamente recheada de prevenções de caráter machista;
– seu lugar de protagonistas relevantes nos processos de mudança, no que se refere a sua contribuição no mundo das letras;
– seu respeitável aporte no que tange a suscitação de valores alternativos á grade de valores então hegemônica, seja na esfera social, seja no âmbito econômico, seja na esfera político-cultural: compromisso com a causa libertária dos excluídos, autonomia, liberdade, autogestão, alternatividade quanto ao uso do vernáculo, entre outros valores. No caso específico do âmbito econômico, importa tomar em consideração elementos relevantes ligados à sua automanutenção. Trabalhavam em atividades diversas, tendo suas próprias oficinas de tecelagem; cerâmica, copistas (num tempo em que, não havendo imprensa, tinha-se que copiar os livros)

Não menos relevante foi seu papel instituinte no tocante às suas atividades, do ponto de vista cristão, razão por que aqui destacamos algumas de suas contribuições:
– no questionamento profético (explícito e implícito) em relação ao monopólio teológico-pastoral da alta hierarquia eclesiástica MASCULINA;
– sua escolha estratégica de inserção religiosa fora do controle institucional eclesiástico;
– sua postura de priorização do espírito do Evangelho e do Seguimento de Jesus, à luz de um Francisco de Assis, de uma Clara, etc.;
– sua dedicação à causa libertadora dos excluídos do seu tempo;
– seu estilo “novidoso” de articular espaços de individualidade e espaços comunitários, como sendo ambos fundamentais à formação humana e cristã;
– seu empenho formativo, numa perspectiva de alternatividade, implicando no exercício de uma espiritualidade leiga.
Não é por acaso que a hierarquia eclesiástica vê com desconfiança e desconforto o Movimento das Beguinas, pelo fato de esse movimento aprsentar claros traços de autonomia, seja do ponto de vista social (organização em pequenas comunidades fora do cotrole eclesiástico), seja do ponto de vista econômico (organização pelo trabalho autogestionário), seja do ponto religioso (não pertencer a conventos nem a congregações)

Apesar de, e para além das perseguições, as Beguinas sobrevivem, até hoje, não sem fazerem concessões, passando a serem aceitas como pessoas que cuidavam de asilos de moças pobres. Donde ainda hoje a presença de várias experiências de “Béguinage”, na Bélgica, por exemplo.

3. Experiências sócio-religiosas contemporâneas, protagonizadas por Mulheres

Em todas as épocas, sempre é possível observar-se comportamentos individuais e coletivos de transgressão ao establishment, por mais ocultos e invisibilizados que se pretenda mantê-los. Onde há regras estabelecidas, há também transgressão a essas regras. Onde há dominação, sob diferentes formas, também há resistência, também sob diferentes formas. “Pensamento único” absoluto desponta como algo impossível. Sempre há quem, de algum modo, a ele escape. Assim, no caso da dominação reinante na baixa Idade Média, assim também no caso das formas de resitência opostas pelos movimentos pauperísticos e pelo Movimento das Beguinas. De modo semelhante, nos dias de hoje. Ao “pensamento único” civil-eclesiástico escapam iniciativas libertárias, seja no campo macro-social, seja ao interno dos espaços eclesiásticos.

Na contemporaneidade, há um leque de casos ilustrativos de tal resistência. Também no caso das Mulheres organizadas em grupos e associações de caráter religioso. Incontáveis são as formas de resistência ao monopólio clerical ainda reinante na Igreja Católica. Há relatos de experiências múltiplas, tanto no plano individual quanto na esfera mais coletiva. Desde as formas moleculares de resistência – inclusive aquelas tendo lugar ao interno mesmo de mosteiros e conventos femininos, até as formas de resistência mais visíveis e coletivamente assumidas.

Durante os anos que se seguiram ao Concílio Vaticano II (1962-1965), em especial na América Latina, sob a influência das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e da Teologia da Libertação – duas experiências fortemente latino-americanas -, tiveram lugar relevante experiências significativas de alternatividade ao modelo eclesiológico dominante.

O processo de construção e de acompanhamento da Conferências Episcopais Latino-Americanas de Medellín (1968) e de Puebla (1979) propiciaram uma importante reviravolta de expressivas forças eclesiais, conhecidas ora como “Igreja dos Pobres”, ora como “Igreja na Base”, entre outras. Tratava-se, então, de buscar vivenciar o espírito do Concílio Vaticano II, bem expresso por pontos tais como o esforço de renovação das estruturas eclesiásticas, o protagonismo do Povo de Deus (ao qual deve estar suboridanada a hierarquia – é esse o sentido da Colegialidade!), a abertura da Igreja ao mundo moderno, a outros sujeitos históricos – o diálogo fraterno com os demais cristãos de outras denominações, com os não cristãos (Ecumenismo e diálogo inter-religioso). Abertura da Igreja ao diálogo com as ciências humanas e sociais, a renovação litúrgica, inclusive da adoção do vernáculo, o retorno às fontes de nossa Fé, donde a importância da Sagrada Escritura, bem como outros pontos.

Ocorre que, mesmo ao interno de respeitáveis referêncais da Teologia da Libertação, a percepção das mulheres (na Igreja e na sociedade) era pouco ou nada existente. Nelas até se falava, mas não se trata propriamente de uma palavra de Mulher, sem contar o enorme risco de outros sujeitos pretenderem falar pelas Mulheres, tornando algo dispensável sua própria palavra.

No caso das CEBs e das PCIs (Pequenas Comunidades de Religiosas Inseridas no Meio Popular, isto representou – e segue representando! – um enorme desafio, por diversas razões:

– Se o Concílio Vaticano II apresentava, antes da hierarquia, o Povo de Deus como principal protagonista da caminhada da Igreja, como entender que tão pouca ou nenhuma mudança concreta se tenha passado, a não ser como exceções, em função da boa vontade e do compromisso de algumas figuras de bispos e de padres mais próximos do povo dos pobres?
– Em especial na América Latina, quase todas as experiências pastorais mais representativas do espírito do Vaticano II, de Medellín e de Puebla eram protagonizadas, em grande maioria, pelas mulheres (estas, nas CEBs, chegavam constituir, em diversos casos, em torno de 80% de seus membros), por que então dos processos de decisão elas estão fora?
– Se os novos tempos apontavam para uma presença mais concreta entre os pobres, por força inclusive da evangélica opção pelos pobres, quem eram esses fundamentalmente, senão as mulheres, em sua maioria?
– No n. 30 do Documento de Puebla, estão elencados os traços mais tocantes do rosto dos excluídos da América Latina, dentre os quais: os pobres, os índios, os negros, os camponeses, os operários, os jovens… Aguçando o nosso olhar sobre esse quadro, percebemos que, nesses e noutros segmentos, as mulheres formam a maioria. O compromisso com a causa libertadora dos pobres passa, sobretudo, pelo assumir das lutas libertadoras das mulheres, dentro e fora dos espaços eclesiais.

À medida que uma parte das religiosas e de leigas iam participando dessas trincheiras, ligadas à “Igreja na Base” – nas Comunidades Eclesiais de Base, nas Pequenas Comunidades de Religiosas Inseridas no Meio Popular, no Conselho Indigenista Missionário, na Pastoral da Terra, na Pastoral Operária, na Ação dos Cristãos no Meio Rural, na Ação Católica Operária, na Pastoral de Juventude do Meio Popular, na Pastoral dos Migrantes, na Pastoral da Mulher Marginalizada, na Pastoral dos Pescadores, nos Centros de Defesa dos Direitos Humanos, na Comissão de Justiça e Paz, no Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos, e em outras atividades semelhantes, referenciadas pela Teologia da Libertação -, passavam a compreender, a partir de sua prática, que não podiam silenciar as injustiças, sob pena de cumplicidade, partissem elas das autoridades do mundo civil ou da hierarquia eclesiástica.

Não se tratava apenas de denunciar tais injustiças de que cotidianamente eram – e seguem sendo – as mulheres, dentro e fora da Igreja. Urgia avançar para ousar dar passos concretos na direção de sua superação.

Sempre a partir do denso aprendizado experimentado em sua prática pastoral junto com o povo dos pobres, em especial as mulheres, passaram a entender a necessidade de irem construindo alternativas moleculares a esse modelo. Nesse sentido, passaram a investir mais e melhor em sua formação permanente, assumindo um olhar crítico em relação às instâncias e métodos de formação propostos pela instituição eclesiástica, em seu atual modelo. Ao mesmo tempo, cuidaram de assegurar tal investimento formativo quanto às instâncias civis oficiais.

Outro passo relevante nesse processo de formação contínua foi o de investirem fortemente em sua organização em rede. Já não se querem pessoas conscientes, mas isoladas, nem grupos bem preparados atuando às soltas. Percebem que é de seu esforço organizativo em rede que resultam a força de sua união e de sua capacidade transformadora, tanto dentro quanto fora dos espaços eclesiais.

É assim que passaram a agir, ainda que de forma bem incipiente, nos anos 70 e 80, as religiosas participantes das Pequenas Comunidades de Religiosas Inseridas no Meio Popular. Estas eram formadas por religiosas de diferentes congregações que, ousando romper os muros de suas respectivas instituições, tiveram a coragem de passar a morar na zona rural ou nas periferias urbanas, em meio ao povo dos pobres, passando a assumir um estilo de vida simples, buscando manter-se pelo próprio trabalho. Algumas seguiram aceitando ajuda de suas congregações. Outras ousaram dispensá-la.

Outra característica importante das PCIs era o fato de priorizarem as atividades diretas junto com o povo dos pobres, inclusive aquelas e aqueles que não costumavam frequentar os templos. Embora prestando eventuais serviços à Paróquia, esta não constituía sua prioridade, o que lhes permitia mais liberdade de ação, e menos controle clerical.

Se já era forte a resistência ao espírito do Concílio Vaticano II, por parte das forças conservadoras, tal resistência se fortaleceu de modo crescente, a partir do pontificado do Papa João Paulo II. Com a contribuição efetiva da Cúria Romana, em especial da contribuição do então Cardeal Ratzinger, arquitetou-se um verdadeiro desmonte das forças progressistas da Igreja Católica, do que se chama “Igreja dos Pobres” ou “Igreja na Base”, recorrendo-se a uma série de medidas punitivas, restritivas e de evidente controle de caráter conservador, tais como:

– silenciamento e outras medidas punitivas contra os teólogos da libertação;
– inibição das atribuições das conferências nacionais e continentais de bispos;
– intervenção em organizações autônomas da vida religiosa;
– advertência aos bispos simpáticos da Teologia da Libertação;
– monitoramento, fiscalização, enquadramento ou fechamento de institutos de formação na linha da Teologia da Libertação (o fechamento do ITER, em Recife, foi um caso emblemático);
– política ultra-seletiva de nomeação e transferência de bispos;
– apoio aberto a movimentos reacionários e conservadores (Opus Dei, Legionários de Cristo, etc.);
– reforma do Código de Direito Canônico e superdimensionamento do Catecismo da Igreja Católica.

A despeito de toda essa estratégia de desmonte, cumpre reconhecer, de um lado, os limites daí resultantes para as forças eclesiais identificadas com a “Igreja na Base”, inclusive as PCIs e grupos similares, e, por outro, da capacidade de resistência de outras forças, a exemplo de parte considerável das Religiosas dos Estados Unidos, afiliadas à Conferência da Liderança das Religiosas (LCWR), que reúne milhares de religiosas, atualmente sendo alvo de perseguição pelo Vaticano.

3. Interfaces e ressonâncias do Movimento das Beguinas em experiências sócio-religiosas femininas do presente

Não se poderia esperar – e não o prometemos – a verificação apenas de meras afinidades entre organizações atuando em espaços e tempos remontando a séculos. Cada época comporta características singulares. Ao mesmo tempo, também pode comportar um certo grau de afinidades, de interfaces e de ressonâncias, sob alguma perspectiva.

Quanto às dissemelhanças, além dos respectivos contextos históricos, convém destacar, o perfil mais agressivo das forças hostis de então, sua abrangência aterradora. Mais: não dá para minimizar o poder tenebroso da forte carga de misoginia com a qual as mulheres, em especial o Movimento das Beguinas, tinham que lidar.

Com relação a semelhanças, a interfaces e possíveis ressonâncias de uns sobre os outros sujeitos históricos aqui cotejados, teríamos a destacar os seguintes traços agrupáveis em três eixos: um referente às suas formas de organização; outro mais ligado ao lugar que, em todos, é assegurado ao processo formativo; e um terceiro, mais atinente às suas atividades de visibilização e enfrentamento ante as forças hegemônicas, em cada uma das épocas contempladas.

Com relação ao eixo organizativo, podemos destacar os seguintes pontos comuns tanto ao Movimento das Beguinas quanto a experiências sócio-religiosas femininas do presente;
– opção por critérios próprios de iniciativa relativamente autônoma de organização, de modo a livrar-se das amarras institucionais dominantes;
– preferência por organizar-se em pequenas comunidades no meio popular;
– adoção de um estilo simples de vida, mais próximo do modo de vida dos pobres;
– investimento em sua automanutenção (sempre que possível), por meio de trabalhos manuais e artísticos, evitando assim laços de dependência econômica.
– vivência de critérios horizontais de tomada de decisões, pela via de deliberações colegiadas, em vez de decisões verticalizadas;
– atuação em rede, em vez de limitar-se cada grupo apenas a si mesmo.

Quanto ao eixo formativo, há claros sinais de alternatividade em relação à formação convencional assegurada pelas instâncias eclesiásticas oficiais. Deste eixo vale destacar, por exemplo:
– empreender um processo formativo que parta das experiências concretas da vida cotidiana, em suas mais diferentes dimensões, em vez de superestimar-se ou limitar-se aos conhecimentos acabados, vindos de cima para baixo ou de fora para dentro;
– exercitar uma formação que se aplique a conectar constantemente a Palavra de Deus e a realidade concreta do dia-a-dia;
– superar o hiato formativo convencional entre pensar e agir, buscando conectar, na experiência da vida, as dimensões afetivas, a cognição, a dimensão da vontade e a dimensão da prática;
– priorização do esforço criativo, de mudança contínua, em vez de mera acomodação ao já estabelecido, para o que vão encontrar nas artes um elemento impulsionador extraordinário;
– aplicação ao conhecimento dos instrumentos de dominação das forças adversas: a familiarização tática com estatutos, códigos, linguagens, idiomas, como ferramenta de contraposição e de superação do establishment.

No tocante ao eixo de sua visibilização e mobilização frente às forças adversas, vale destacar, por exemplo:
– profunda inserção no meio dos pobres, não apenas como tática, mas como convicção de que eles constituem seus verdadeiros aliados, inclusive em momentos de tensão;
– notável discernimento quanto aos momentos de avançar e de recuar, a depender da correlação de forças do momento;
– potencialização de suas estratégias por meio de encontros periódicos de avaliação e de planejamento.

João Pessoa, junho de 2012

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