quinta-feira, 23 de setembro de 2021

TRAÇOS DA MÃE-ÁFRICA : em busca de nossas raízes (XXIII)

 TRAÇOS DA MÃE-ÁFRICA : em busca de nossas raízes (XXIII)


Alder Júlio Ferreira Calado


O «chifre da África» (também) sob a mira do Império. Etiópia, Somália, Eritréia e Djibouti são países componentes do cobiçado «chifre da África», assim chamado em função do seu desenho cartográfico. De fato, nos últimos meses, esses países têm ocupado algum espaço no noticiário internacional, nesses últimos dias de 2006. O que anda ocorrendo nessa região situada no extremo Leste do continente?

Cumprindo, com a costumeira eficácia, seu papel de aparelho ideológico de Estado, a imprensa difunde com certo estarlhaço a invasão, «por tropas etíopes», de Morgadiscio, capital da Somália. Um elemento de explicação mais plausível vem mais adiante, ao referir-se a notícia às tropas «etíopes» como sendo «apoiadas» pelos Estados Unidos... Ah! Como poderíamos esquecer a participação desse «campeão da Liberdade» dos povos – do Afeganistão, do Iraque, da Palestina, do Irã...?

Não é por acaso esse «apoio». Além de todas as razões «humanitárias», esses países estão situados numa região estrategicamente privilegiada, em relação ao Oriente Médio e à Ásia... A Etiópia ocupa uma área de mais de 1.1245.000 Km2, contando com uma população de mais de 74.778.000 hab., sendo o seu PIB estimado em US$ 64.73 bilhões. Enquanto, por sua vez, a Somália ocupa uma área de aproximadamente 637.657 Km2, contando com uma população de um pouco mais de 8.863.000 hab, e com um PIB estimado em míseros US$ 2.48 bilhões.

O verdadeiro e principal móvel dessa invasão está ligado à ambição expansionista das grandes potência ocidentais - França, mas principalmente Estados Unidos! O «chifre da África» corresponde, com efeito, a um excelente trunfo estratégico, não tendo sido gratuita a instalação em Djibuti de uma base militar norte-amercana, numa região também disputada, por razões semelhantes, pela França (em vista da relativa proximidade com suas ex(?)-colônias, formadas, no caso, pelas ilhas de língua francesa do sudoeste (Madagascar, Ilhas Comores, Reunião, Maurício, Mayotte). 

Não desconsideramos motivos internos do recente conflito, afinal são conhecidas as rivalidades que opõem interesses das populações da região. Mas, seria simplório ignorar o peso decisivo na deflagração desses conflitos por parte das grandes potências ocidentais, notadamente, dos Estados Unidos e seus aliados. 

Em artigo relativamente recente, de autoria de Philippe Leymarie (cf.: artigo intitulado Djibuti, uma base estratégica. In : http://diplo.uol.com.br/2003-02,a563 ) , publicado em Le Monde Diplomatique de janeiro de 2003, o autor citava alguns depoimentos de algumas autoridades locais seduzidas pelos invasores norte-amerivanos. Um deles, o ministro da Cooperação Internacional de Djibuti, Mahmoud Ali Youssouf, declarava textualmente : “Desde 11 de setembro de 2001, imediatamente nos engajamos nessa guerra mundial contra o terrorismo e demos aos norte-americanos tudo o que queriam. Mas, até agora, nada recebemos em troca”


João Pessoa, 31 Dezembro de 2006.


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