Alder Júlio Ferreira Calado
Alegra-nos sobremaneira saber da realização no Mali, mais precisamente, em sua capital Bamako, de 19 a 23 de janeiro de 2006, da mais recente edição do Fórum Social Mundial (FSM). Como é sabido, inicialmente sediado, por mais de uma vez, em Porto Alegre, o FSM cumpre seu papel de Fórum policêntrico de debate e reflexão sobre temas candentes do mundo atual. Razão pela qual, este ano, se realizou, ao mesmo tempo, na Venezuela, no Mali e no Paquistão.
Correspondendo a uma área africana emblemática, pela densidade de sua história cultural, como berço das mais antigas civilizações africanas, o Mali situa-se na parte ocidental do continente, ladeado por países como Mauritânia, Argélia, Senegal, tem uma área de cerca de 1.250 Km2, com uma população de mais de 11 milhões de habitantes.
Cumpre-nos aqui repercutir, especialmente, os temas mais importantes tratados no FSM, no Mali. Nem é preciso lembrar a enorme variedade de temas, questões e problemas que são alvo da programação do FSM: da conjuntura internacional aos desafios das relações interculturais; das relações de gênero e etnia aos impasses ecológicos; da problemática da dívida externa aos conflitos em curso... Também no Mali, foi complexa e ampla a gama de questões tratadas.
Para enforcarmos apenas a parte da vasta programação concernente às 13 principais conferências, poderíamos resumi-las nos seguintes pontos: o desafio da militarização das relações internacionais; o problema da dívida externa; a clamorosa necessidade de reforma da ONU; a unidade dos povos africanos, a partir das diferentes visões sobre os povos e as terras da África; o gravíssimo problema dos migrantes nos países centrais do Capitalismo e o desafio da mídia no mundo atual. Claro que isso é apenas uma pequena amostra.
Para informações sobre tantos outros temas, conferências e debates realizados no FSM, recomendamos a consulta à página forosocialmundial.org.ve (a partir da qual se pode acessar também o FSM do Mali e do Paquistão).
Na coordenação dessas conferências, a participação de excelentes pensadores africanos – mulheres e homens, não apenas como facilitadores do debate, entre os quais Leila Ghanem, Mohamed Said Saadi, Waru Kara, Taroufik Ben Abdallah, mas também como conferencistas, dentre os quais Samir Amin, Demba Moussa Dembélé, entre tantos e tantas. Havia, claro, outros interlocutores de outros continentes. Alguns já com histórias respeitáveis, a exemplo de Ramonet e François Houtart.
Um dos coordenadores desses trabalhos, Demba Moussa Dembélé, do Senegal, é autor de um instigante artigo sobre a questão da dívida externa, denunciando a farsa do prometido cancelamento pelos países do G-7, em 1999, da dívida dos países pobres, num total de 100 bilhões de dólares. Resultado: tantos anos depois, o que sucede é que “less than 30% of that amount hás been cancelled.” (cf. a página http://www.tni.org/africa.docs/moussa.pdf).
Igualmente importante a esse respeito, é denunciar o caráter perverso dessa “dívida”, em relação à qual não se trata de “pedir” cancelamento, trata-se de não reconhecê-la, ou mais precisamente: de reconhecer e cobrar a inversão da relação devedor-credor...
Algo semelhante se dá na questão relativa aos migrantes. Que negócio é esse de aceitar que os capitalistas viajem e vivam onde quiserem, e ditem regras proibindo que os trabalhadores dos países africanos e do Terceiro Mundo viajem e vivam onde decidirem? As transnacionais e as grandes potências têm o desplante de, após explorarem as riquezas dos países da África e de outros continentes, tendo expropriado seus habitantes, erguerem novos muros da vergonha contra os explorados do mundo. Até quando?
João Pessoa, 26 de janeiro de 2006
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