sexta-feira, 7 de julho de 2023

CONECTANDO FATOS DE UMA REALIDADE EM MOVIMENTO

 CONECTANDO FATOS DE UMA REALIDADE EM MOVIMENTO 


ALDER JÚLIO FERREIRA CALADO 


Na concepção Marx-Freireana de Educação Popular, o processo formativo da Classe Trabalhadora - mulheres e homens do campo e da cidade que vivem do seu trabalho -, e por ela protagonizado, tem que se dar de modo continuado, antes, durante e depois da educação escolar. São os próprios trabalhadores e trabalhadoras organizados em seus respectivos Movimentos Sociais (Movimentos Populares, lutas sindicais, partidárias, eclesiais e outras organizações de base de nossa sociedade) que são os protagonistas deste processo formativo, com os  quais sigo compartilhando, como alvo prioritário, meus textos.


O processo formativo continuado se dá de forma articulada ao processo organizativo e ao compromisso de lutas pela transformação do modo capitalista de produção e de  organização social, econômica, política e cultural. É, portanto, por meio deste processo formativo, de organização e de luta, que os trabalhadores e trabalhadoras vão se capacitando para fazerem uma leitura crítica de mundo, da realidade em movimento, o que requer que também elas e eles se ponham em movimento, sem o que não tem condições de perceber e superar os mecanismo de exploração, de dominação e de marginalização aos quais a classe dominante os  submete, graças aos seus aparelhos ideológicos (a família, as Igrejas, a própria escola, os meios de comunicação de massa, inclusive as redes sociais) sob o seu controle. 


Somente pondo-se em movimento é que as classes populares conseguem perceber as graves e crescentes contradições pelas quais operam o sistema, de modo a formar um espesso véu a encobrir uma variada gama de truques e táticas de exploração que as transnacionais, as grandes empresas capitalistas, operando nas mais distintas esferas da realidade,com a colaboração do Estado,  aufere lucros exorbitantes, multiplicando assim seu poder,seu patrimônios  suas riquezas à custa do suor, das lágrimas e do sangue dos verdadeiros produtores dessas riquezas - os trabalhadores e trabalhadoras.


Nas linhas que seguem, trataremos de apontar alguns fatos mais relevantes dos últimos dias que, não raramente, aparecem desligados, ou isolados. Trata-se de um procedimento usual a que recorre a mídia corporativa, buscando impedir que os trabalhadores e trabalhadoras percebam o nexo orgânico que os liga. Trazemos a seguir, alguns desses fatos, para em seguida, apontar os laços que os unem.


Entrevista concedida por Lula à rádio gaúcha no dia 29/06/2023, que se pode conferir no link https://www.youtube.com/watch?v=cB6BtQHC0FQ. Nela, o presidente é perguntado sobre como avalia a situação política da Venezuela, ao que o presidente lembra o caráter relativo da democracia, resposta que passa a ser veiculada como um grave equívoco do presidente.


Discurso do presidente Lula, na abertura do Foro de São Paulo no dia 30/06/2023, a conferir no link https://www.gov.br/planalto/pt-br/acompanhe-o-planalto/discursos-e-pronunciamentos/2023/discurso-do-presidente-luiz-inacio-lula-da-silva-na-abertura-da-reuniao-do-foro-de-sao-paulo - O Foro de São Paulo foi criado em 1990, por iniciativa de Lula e de outras lideranças latino americanas, com o objetivo de reunir as principais forças de esquerda latino-americanas, em busca de construir uma unidade no enfrentamento democrático dos principais desafios de nossa america latina e do Caribe. Desde então, a Direita e a ultra Direita não cessam de acusar tal iniciativa como ameaçadora da democracia.


Diversos sinais macroeconômicos bem sucedidos, logrados pelo governo Lula, em seus primeiros seis meses: redução da inflação, alta da bolsa de valores, queda do dólar, redução do desemprego, superávit na balança comercial, promissor encaminhamento de votação pelo Congresso de relevantes pautas econômicas, entre outras.


Cuidamos agora de oferecer uma leitura crítica, a partir dos interesses dos “de baixo” destes fatos acima enunciados, empenhando-nos na costura dos mesmos.


Uma das armas ideológicas de toda classe dominante do mundo - no Brasil não é diferente -  se faz presente pela astúcia de descontextualizar as práticas e discursos do adversário. Trata-se, por exemplo, de pinçar uma frase da fala do adversário, que quase nunca traduz a ideia principal do próprio discurso, atribuindo-lhe a marca principal de sua fala. Eis o que, pela enésima vez, sucedeu recentemente, em relação à fala de Lula, em entrevista à Rádio Gaúcha, no dia 29 próximo findo.


Ao responder a uma pergunta sobre a democracia na Venezuela, Lula afirmou que é relativo o conceito de democracia, após tecer considerações a respeito do jogo democrático, ao qual deve sua vitória como presidente do Brasil pela 3ª vez. 


Constitui um exercício crítico de análise de nossa atual realidade brasileira, latino americana, mundial. O que incomoda tantos setores dominantes do Brasil é a capacidade do Presidente do Brasil, de apontar fatos e acontecimentos que se acham na raiz dos grandes problemas enfrentados pelos trabalhadores e trabalhadoras do Brasil e do mundo: as profundas desigualdades sociais, econômicas, políticas, culturais que prevalecem em nossa sociedade.


Desigualdade de gênero,desigualdades étnicas, desigualdades regionais, desigualdades de oportunidade por trás das quais está uma infame minoria de grupos que não cessam acumular riquezas, terras e rendas à custa da fome, do desemprego, da falta de moradia, de saúde, educação para a imensa maioria da população.

O que também incomoda a classe dominante brasileira é a extraordinária capacidade do Presidente Lula e seu governo, de, a despeito de todas as adversidades herdadas do desgoverno bolsonaro, conseguir avanços significativos, em apenas seis meses. Com efeito, mesmo tendo que governar com uma Frente Ampla bastante heterogênea, eis que já acumula ganhos relativos.


Outro exemplo ilustrativo deste quadro pode ser observado na recente aprovação, na Câmara, da Reforma Tributária, por ampla margem de votos. Também aí, destaca-se o alto desempenho do Lula, em sua capacidade de diálogo com o campo adversário, com exceção do bloco bolsonarista, o qual ontem amargou fragorosa derrota, inclusive ao interno do próprio bloco, com o distanciamento  do Governador de São Paulo Tarcisio de Freitas. Do ponto de vista da Classe Trabalhadora, houve algum ganho, principalmente na votação de tributação zero sobre a cesta básica, ainda que o grande objetivo da Reforma Tributária recaia sobre a questão específica da reforma do Imposto de renda e da taxação do patrimônio, das riquezas e da renda dos setores dominantes, algo que ainda não foi feito.               


Por outro lado, é fundamental que os trabalhadores e trabalhadoras, enquanto classe, tenham consciência dos limites impostos pelo estado capitalista e seus mantenedores. Por mais que reconheçamos alguns ganhos eventualmente conquistados no Governo Lula, bem sabemos que isto está bem longe de nossas aspirações mais profundas: a construção de uma nova sociedade economicamente justa, politicamente participativa e culturalmente diversa, o que é impossível conseguir na ordem capitalista.


Para tanto, cabe aos ”de baixo” seguirem lutando pelas atuais conquistas governamentais, priorizarem sua organização de base, zelando pelo seu processo organizativos autônomo, pelo seu compromisso de formação continuada e de sua incessante mobilização, enquanto classe trabalhadora.


João pessoa 07 de julho de 2023        

   

  




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