José Comblin como Educador Popular: notas em torno da II Jornada Comunitária da XIII Semana Teológica Pe.José Comblin,realizada no CEDHOR,em Santa Rita-PB.
Neste sábado, dia 15/07, foi vivenciada a Segunda Jornada Comunitária da XIII STPJC. Com a fraterna acolhida da Comunidade Comboniana, mantenedora do Centro de Direitos Humanos Oscar Romero, bem como de vários projetos em defesa dos direitos dos pobres daquela comunidade, e com a participação de membros dos grupos organizadores da XIII STPJC.
Calorosamente acolhidas por Gabriela Brito, Coordenadora do CEDHOR, foram chegando diversas pessoas da comunidade local e de outros lugares:de Café do Vento (Pe.Hermínio Canova), Elenilson, ambos integrantes do grupo José Comblin, de João Pessoa:Tania,da CPT, Elinaide,do Coletivo Femenista; Irmã Rita,da Comunidade Comboniana; Odete, Fátima, Fábio, Lia, Elson da Comunidade local; Pe.Wanderlan (vigário paroquial da Conceição, em João Pessoa), Flávio , Marcelo, integrantes do CECAHE; Salene, Eraldo, Alder, membros do Kairós, além da presença de Vera Lucia.
De início,tivemos o acolhimento feito por Gabriela que, após dar as boas vindas aos participantes e desejando bom êxito nos trabalhos, cuidou de explicar a ação missionária dos Combonianos, em Santa Rita, em especial descrevem os principais projetos em curso, inclusive o CEDHOR .
Pe.Hermínio cuidou de contextualizar os trabalhos da XIII da STJPC, focando suas palavras especialmente no tema geral da XIII STPJC - sublinhando o objetivo de homenagear José Comblin, profeta da liberdade em seu centenário. Coube,em seguida, a Elinaide,fazer uma apresentação de Alder Júlio, como convidado a provocar uma reflexão para o diálogo entre os presentes sobre a dimensão de educador popular presente em todo o legado de Comblin.
Por sua vez, Alder destacou o sentido de sua fala como uma provocação aos presentes,acerca da Pedagogia combliniana, ao mesmo tempo em que advertiu sobre o caráter compósito do legado de José Comblin, que articula bem sua condição de Teólogo a outras tantas dimensões: a de profeta, a de missionário itinerante, a de historiador, a de antropólogo, a de sociólogo a de Educador.
Chamado a fazer uma exposição sobre o tema da segunda jornada
comunitária, Alder Júlio iniciou fazendo algumas observações antes da
abordagem do tema. Mostrou-se sensibilizado por estar de volta àquele espaço
do Centro dos Direitos Humanos Dom Oscar Romero, rememorando-o dia de
sua inauguração, há 20 anos. Neste dia, conduzida pelo Pe.Severino, com a participação do Pe.Vicente e de diversos grupos e lideranças comunitárias, seguiu-se uma procissão até a sede do CEDHOR, que também eu tive a alegria de acompanhar.
Desde então, seja pela coordenação do Padre Severino, seja pela coordenação de irmão Chico, e de outras pessoas, o CEDHOR segue desenvolvendo projetos comunitários em defesa dos direitos das crianças e adolescentes (projeto Legal), de defesa das mulheres vítimas de violência,ou ainda pela-atuação e atendimento jurídico à Comunidade.
Alder desenvolveu em três momentos sua fala. Começou por refletir o sentido da educação popular trabalhado por José Comblin. Trata-se do processo formativo, continuado e protagonizado por educadores e educandos, tendo como objetivo a leitura crítica da realidade e sua transformação. Sua concepção de educação se mostra próxima a de Paulo Freire.
Não por acaso, em meados dos anos 1980, José Comblin convida
Paulo Freire a dialogar com Jovens do Centro de Formação Missionária, em
Serra Redonda – PB, durante vários dias. Educação Popular, na perspectiva de José Comblin, consiste em fomentar de modo contínuo, um processo formativo baseado no compromisso de
educadores e-educandos, buscando aprimorar sua consciência crítico –
transformadora de realidades e das relações sociais e pessoais, a partir de uma busca de desenvolver de forma coerente 5
dimensões fundamentais do processo de humanização: a dimensão afetiva
(sentir), a dimensão cognitiva (pensar), a dimensão volitiva (querer), a
dimensão práxica (agir), a dimensão comunicativa,como também trabalha o Educador Ivandro da Costa Sales .
Buscando contrapor-se a uma tendência esquizofrênica pessoal, social, observável sobretudo na
sociedade capitalista,e demais sociedades de classes, por meio de distintos
aparelhos ideológicos, uma tendência a dicotomizar essas dimensões, de
modo a levar as pessoas a sentirem uma coisa, a pensarem uma segunda, a
quererem uma terceira, a fazerem uma quarta, e falarem uma quinta coisa.
Aí começa também a dimensão metodológica da pedagogia Combliniana: Trata-
se de tornar comunidades e pessoas, que busquem coerência de vida, tendo
como horizonte o Seguimento de Jesus, que se realiza tanto no plano
comunitário como no plano pessoal. Um exemplo ilustrativo dessa perspectiva metodológica podemos observar na formação que Comblin inspirou para o “Curso da Árvore”,
uma proposta formativa vivenciada em meados dos anos 1990, tanto nas
periferias urbanas (Santa Rita, Bayeux, João Pessoa), como junto às
comunidades rurais (Serra redonda,Mogeiro, entre outras), inclusive em
Campina Grande, essa experiência formativa se desenvolveu bastante.
O Primeiro ano deste curso (de duração de 5 anos), era chamado de curso básico.
Vale a pena destacar seus pontos principais. Tinha a duração de um ano, era
oferecido à jovens do meio popular do campo e da cidade, durante um ano em
um final de semana por mês. Os jovens chegavam na sexta feira e o curso
prosseguia até o domingo. Seguia-se uma proposta bem entrosada, tanto do
ponto de vista dos conteúdos propostos, quanto do ponto de vista
metodológico. Eram oferecidos, ao longo do ano, sete temas para estudos:
Igreja – comunidade, o mundo dos pobres, vocação, missão, oração,
ministérios, povo de Deus,cada um trabalhado em um final de semana por
mês, tendo a animação de um educador ou educadora que não agia como
“professor”, mas como animador, sempre insistindo no protagonismo de
todos.
Outra novidade significativa deste curso residia no método de trabalho.
O objetivo era o de articular dinamicamente conteúdos e metodologia, razão
por que, em cada final de semana, para o desenvolvimento de cada tema, eram
vivenciados oito passos: Oração inicial, motivação, troca de-experiência, caixa
de retratos, vida de um santo, documento da igreja, nossa-ação, celebração
final. Importa rememorar que cada um destes passos, tinha como objetivo enfatizar
o tema especifico de cada mês: Por exemplo, no tema comunidade, buscava-
se, desde a motivação, rememorar a importância da comunidade no
seguimento de Jesus, seja do ponto de vista bíblico, seja do ponto de vista da
vida de um santo ou santa, seja ainda do ponto de vista de algum documento
importante da igreja, naquela conjuntura.
O terceiro tópico desenvolvido por Alder tratou de ilustrar os frutos dessa
experiência, a grande maioria das quais persiste nos dias de hoje. Cuidou,
então,de rememorar as experiências: Seminários Rural (no Avarzeado em Pilões
– PB), que funcionou de 1981 a 1982, tendo sido fechado por Roma, no início
do papado de João Paulo II.
O centro de formação missionária, em Serra Redonda deu sequência, e com ganhos significativos, em relação à experiência anterior,
na medida em que o CFM abriu suas portas a jovens de todo o Nordeste,
oferecendo-lhes a oportunidade e as condições de terem uma formação
missionária comprometida com a vida dos camponeses. Pouco depois, graças às demandas, foi fundada também a versão feminina do centro de formação
missionária, desta vez em Mogeiro-PB, em 1987.
Outra experiência relevante, inspirada na pedagogia combliniana, foi a da formação da associação dos missionários e missionárias do campo (AMC), que ainda hoje continua realizando suas assembleias anuais de avaliação e planejamento. Além da AMC, cumpre destacar a AMINE (associação dos missionários e missionárias do Nordeste), que atua principalmente nas periferias urbanas do Nordeste. A Pedagogia combliniana se mostra aberta ao Sopro do espírito, de modo a atender as aspirações mais diversas, inclusive a vocação contemplativa sentida pelos jovens, razão pela qual, em meados dos anos 1990, também se cria a fraternidade do Discípulo Amado, reunindo jovens e adultos (homens e mulheres, construindo um mosteiro de leigos e leigas) chamados a uma vida contemplativa, em uma experiência vivenciada no Sítio Catita, no município de Colônia Leopoldina em Alagoas.
O curso da árvore, como acima lembrado, constituiu mais uma iniciativa pedagógica inspirada por Comblin. Ainda em meados dos anos 1980, por iniciativa de algumas lideranças jovens, a exemplo de Artur Peregrino, foi criado-o movimento de peregrinos e Peregrinas do Nordeste, realizando peregrinações anuais com algumas dezenas de participantes, por diversas regiões do Nordeste, dando sequência-a uma tradição de peregrinos da região, como é o caso de jovens como Valdo e José, membros da fraternidade do Discípulo amado.
Uma das mais fecundas dessas experiências pedagógicas também inspirada em José Comblin, se faz presente ainda hoje, nas Escolas de Formação Missionária, a primeira das quais foi fundada em Juazeiro – BA em 1989, sendo seguida, nos anos posteriores, pelas escolas de Formação Missionária em Santa Fé (Solânea – PB), em Esperantina – PI, em Floresta – PE, em Barra – BA e em São Felix do Araguaia – MT.
Em 1998, hoje completando 25 anos, foi-iniciadoo grupo Kairós: Nós Também Somos Igreja, nascido no contexto de reuniões mensais, na residência do Padre José Comblin, com o objetivo de refletir sobre a conjuntura sócio eclesial. Mais recentemente, graças a iniciativa do Padre Hermínio Canova e outros, vem atuando o grupo José Comblin, com sede no Centro de Formação José Comblin, em Café do Vento, município de Sobrado – PB.
Em sequência à exposição de Alder, abriram-se, sob a coordenação de Elinaide, algumas rodadas de intervenções. A primeira teve como foco a questão sobre a posição de Comblin em relação às mulheres. Concluiu-se que embora o tema feminismo não fosse abordado na obra de Comblin, todos reconhecem sua sensibilidade refinada as lutas das mulheres, de ontem e de hoje, haja vista, por exemplo, o espaço que ele concebe as mulheres do Medievo, (as místicas e sábias da Idade Média), em seu livro “Vocação para a liberdade” (Paulus, 1998), bem como suas profética carta aberta em defesa da presidente Dilma, quando alvo de críticas pela direita eclesiástica, acusando-a de defensora do aborto.
Seguiram-se outras rodadas de questões: alguns enaltecendo a espiritualidade de José Comblin, inclusive observável em seu prefácio ao livro “Oração do Peregrino Russo”, tema de leitura semanal na livraria Paulus, por algumas das pessoas presentes. Outros sublinharam alguns elementos da pedagogia de José Comblin, a exemplo da ênfase que dava à presencialidade no processo formativo. Outros, por sua vez, destacaram a preocupação constante do educador José Comblin com o compromisso pela transformação social, em busca da construção processual de uma nova sociedade.
Já por volta do meio-dia, encerrando os trabalhos, coube ao Padre Hermínio, propor um momento de oração final, após o que todos foram convidados a compartilhar uma merenda suculenta, na sala vizinha ao auditório.
João Pessoa, 19 de julho de 2023
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