sábado, 25 de novembro de 2023

A MENTIRA COMO ARMA DE DOMINAÇÃO: A VERGONHOSA COBERTURA DO MASSACRE EM GAZA PELA MÍDIA HEGEMÔNICA

 A MENTIRA COMO ARMA DE DOMINAÇÃO: A VERGONHOSA COBERTURA DO MASSACRE EM GAZA PELA MÍDIA HEGEMÔNICA


Alder Júlio Ferreira Calado


Todo ser  humano, dado o seu inacabamento, é suscetível à mentira, embora sempre vocacionado à verdade. Reconhecimento feito inclusive por textos sagrados, a exemplo da tradição judaica e cristã: ”Omnis Homo Mendax” (Sl 116, 11) - expressão de circunstância  perturbadora. Se tal constatação, de um lado,  nos parece uma postura salutar de autocrítica reconhecedora de nossos limites, por outro lado, grave equívoco cometemos em banalizar este traço limitativo, por não nos comprometermos com uma incessante busca de superação desta marca.


O êxito ou malogro desta busca depende de nossa resposta ao chamamento ao nosso compromisso com a verdade. Depende também de como organizamos as relações sociais - econômica, políticas, culturais e outras -, desde que orientadas para um processo de humanização do um ser humano como um todo e de todos os seres humanos, ou sucumbimos à tentação desumanizante, como ocorre nas sociedades de classes especialmente no modo de produção capitalista. 


O atual cenário de  cobertura dos conflitos entre Israel e Palestina, tal como feita pela mídia hegemônica (CNN, Rede Globo e Mídia Digital de extrema-Direita), ilustra bem o profundo grau de parcialidade e comprometimento com o Estado Sionista de Israel, marcado pela sucessão de massacres, de limpeza étnica, de supremacia racial, de apartheid e de colonialismo cometidos contra o povo palestino (já se fala em mais de 15 mil mortos, dentre as quais em torno de 7000 crianças, e cerca de 33 mil feridos). Nas linhas que seguem, cuidamos de examinar a natureza e a extensão da estratégia hegemônica diuturnamente usada e abusada pelos meios de comunicação dominantes, de modo a tornar reféns enormes parcelas de nossa sociedade, fazendo-as introjetar e assimilar, como se verdades fossem, as notícias circuladas pela imprensa, pela televisão, pelo rádio, e pela mídia digital de extrema-direita.


Em toda sociedade de classes, o pensamento que prevalece é ditado pela classe dominante


O pensamento único constitui a grande meta de toda sociedade de classes, máxime nas sociedades capitalistas, hoje amplamente dominantes. Toda sua organização econômica, política e cultural se acha sob o rígido controle de uma ínfima minoria (correspondente a cerca 1% da população mundial), em mãos da qual se encontram concentradas as riquezas, as terras, a renda, as poderosas redes de comunicação de massa. É graças a este acúmulo de poderes nas mãos dos grandes conglomerados transnacionais, a operarem em todas as atividades econômicas, políticas, culturais, educacionais, religiosas, no próprio mundo das artes, etc., mundo afora, que acabam determinando a hegemonia das ideias, dos valores, das crenças, das modas, do próprio estilo de vida dominante. Poderio tão forte, que impacta até as relações do Sagrado, como temos observado, também no Brasil com o que se passa nas Igrejas cristãs, em sua grande maioria.

Os crescentes escândalos sexuais e financeiros não deixam de ser expressão e resultado dessa tenebrosa teia de relações.


Expressão igualmente da predominância, em larga escala, de um cristianismo sionista, em franca contradição com os valores do Reino de Deus anunciado, inaugurado e testemunhado por Jesus de Nazaré. A este propósito, recomendamos fortemente que acompanhem a recentíssima entrevista concedida pela teóloga Nancy Cardoso (cf. https://www.youtube.com/live/OoB_jMpgv6g?si=KubDDw09uE2GYLFp)


Experiente e com amplo reconhecimento, a teóloga biblista Nancy Cardoso que viveu longos anos na Palestina, cuida, nesta entrevista, de apontar os principais entraves a uma compreensão crítica acerca dos conflitos Israel x Palestina, que têm a ver com uma espécie de tapa-olho. Tal compreensão decorre, segundo a teóloga, de uma incapacidade ou de uma indisposição dos cristãos sionistas, de fazerem uma leitura crítica, com base em uma perspectiva histórica e geopolítica, sobre o que anda acontecendo entre Israel e Palestina desde as primeira décadas do século passado, principalmente após a primeira e a segunda grandes guerras, após cada uma delas, tendo como consequência a distribuição pela força entre a França e a Grã Bretanha, a Síria, o Líbano e a Palestina de modo a tudo reduzirem a uma mera questão religiosa, ocultando assim os fatores geopolíticos e econômicos aí presentes, o que se agrava por uma leitura fundamentalista da Bíblia. No que tange ao componente religioso, ela nos instiga a exercitar a leitura popular da Bíblia, como um procedimento de exercício da crítica com que devemos visitar e revisitar os textos sagrados, tendo, aliás, chamado a atenção para o alerta feito pelo Profeta Amós (Am 7,9). Ela acentua o significado de um Deus que opta sempre pelos mais vulneráveis: os pobres são sempre seus preferidos, a exemplo do contexto assinalado pelo Livro do Êxodo, em que Deus assume a causa libertadora dos oprimidos, garantindo-lhe uma terra, mas não na condição de novos opressores.



“Quem come do meu pirão prova do meu cinturão”  


A sabedoria popular segue sendo, para além de seus limites, uma fonte de bom senso, como se mostra o dito popular acima mencionado. É, com efeito, que sucede também ao controle dos meios de comunicação de massa pelo Capital, em suas diversas manifestações, em especial sob o controle maior do mundo financista. Afinal, por quem são financiados jornais, televisão, rádio, mídia digital de extrema-direita? Como ocultar que cada programa televisivo, em especial as grandes agências noticiosas são controladas, em escala mundial, nacional e local, por esses grandes conglomerados transnacionais? Como ignorar que a imprensa hegemônica, a exemplo de o Estadão, O Globo, A Folha de São Paulo, são mantidos por grupos familiares aristocráticos, representantes da Casa Grande? São estes veículos que, dia a dia, bombardeiam os leitores e leitoras com notícias, reportagens e coberturas feitas no interesse direto dos centros do Império.


É triste tomar conhecimento das relações senhoriais a que são submetidos, salvo raras exceções, seus jornalistas, frequentemente constrangidos a fazerem passar fatos e versões do agrado de seus empregadores. A este propósito, vale a pena conferir recente denúncia coletiva feita por jornalistas ao Ministério Público: (conferir https://www.brasil247.com/midia/jornalistas-do-estadao-pedem-socorro-contra-o-assedio-moral-que-sofrem-de-andreza-matais )


Algumas pistas alternativas


Diante destes fatos e versões que utilizam cotidianamente a mentira como arma de dominação, consola-nos saber que tal situação não é insuperável. Na verdade, diversos são os veículos noticiosos e de análises que temos à nossa disposição. Trata-se de uma lista de canais, de blogs e de sites que nos ajudam e nos permitem uma leitura crítica desta realidade, em busca de sua transformação. 


Ainda a propósito do bombardeio diário sobre milhares de Palestinos (crianças, mulheres, pessoas idosas, etc.), sobre o qual a mídia hegemônica se limita a acusar o Hamas, fechando os olhos aos crimes de guerra também cometidos - e em dose exponencial - pelo Estado Sionista de Israel, o poderoso “Lobby” de judeus sionistas se atreve, sem cessar, a controlar não apenas a mídia coorperativa, mas também as diversas instâncias governamentais dos países, inclusive do Brasil, chegando a perseguir até judeus que ousem denunciar o massacre cometido pelo Estado Sionista de Israel. É o que sucede, por exemplo, ao jornalista judeu Breno Altman, que vem sendo penalizado judicialmente, como no caso da recente sentença liminar proferida por um juíz de primeira instância.


A exemplo da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), também nos associamos às manifestações de solidariedade a Breno Altman e a outros perseguidos por sua coragem de denunciarem os crimes contra a humanidade que vêm sendo cometidos pelo Estado Sionista de Israel. Recomendamos vivamente o acompanhamento de entrevistas, palestras e análises produzidas pelo jornalismo crítico alternativo aos porta-vozes do imperialismo. Entre estes espaços críticos, sugerimos acessar: Opera Mundi, Brasil 247, Brasil de Fato, ICL, José Arbex, Rogério Anitablian, José Reinaldo Carvalho, Ualid Rabah, Valter Pomar, Nathalia Urbano, Jones Manoel, Mainara Nafe, Nancy Cardoso, para citar apenas estes nomes. A este propósito, recomendamos conferir a mais recente exposição sobre os conflitos Israel X Palestina, feita por Valter Pomar, dentro da programação organizada pela Fundação Perseu Abramo: https://www.youtube.com/watch?v=RORQs547r8Q&t=1s


Finalmente, foram acordados alguns dias de trégua para a liberação de reféns em Gaza e de prisioneiros em Israel. Ainda que insuficiente, temos um alívio, mas o que importa mesmo é lutar por um cessar fogo.


João Pessoa, 25 de Novembro de 2023.


           



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