Elementos para uma compreensão dos conflitos Israel x Palestina
Alder Júlio Ferreira Calado
Desde sábado, dia 07/10/2023, o mundo vem experimentando um sentimento de indignação ante as cenas de chacina em massa perpetrada, por um lado, por militantes do Hamas contra centenas de Israelenses, civis e militares, ataques seguidos por uma gigantesca contra-ofensiva de terrorismo de Estado, protagonizada pelos dirigentes do estado de Israel contra a população palestina, confinada na Faixa de Gaza, como um campo de concentração, tendo que suportar, além de dias seguidas de bombardeios aéreos, o corte de energia, de luz de água, de suplementos e de assistência humanitária. Ataques que prosseguem, com a grave ameaça de incursão pelo exército Israelense pelos escombros causados pelos bombardeios de quatro dias seguidos, na Faixa de Gaza. Ao denunciarmos esses atos terroristas - partam de quem partirem - até para combatermos tais atos pela raiz, somos instados a buscar entender seu processo, desde suas Raízes mais profundas.
Um primeiro elemento a se levar em consideração, é a própria natureza histórica do fato: mais um capítulo de um confronto que já dura, no mínimo, 75 anos. Se, em condições habituais, é preciso considerar a hegemonia midiática imperialista na divulgação das ocorrências, com muito mais razão é necessário avaliar seu alcance exponencial, em tempos de guerra, durante os quais a verdade costuma ser a primeira vítima. Quem tem acompanhado, pelos meios midiáticos (CNN, Globo News e semelhantes), percebe o direcionamento ideológico da cobertura desses fatos. Chama a atenção, por exemplo, que a cobertura e os comentários dizem respeito exclusivamente a fontes controladas pelo governo israelense ou por seus aliados (Estados Unidos e países do bloco europeu), razão pela qual toda a avaliação das ocorrências serve para condenar como “terroristas” apenas os militantes do Hamas, sem que seja entrevistado qualquer representante dos palestinos. Trata-se de uma prática vergonhosa, cinicamente tomada como jornalismo “independente”... Ai de quem, buscando ter um acompanhamento crítico dos fatos, se limite a esses veículos de comunicação sem também acessar alguns canais ou sítios alternativos.
É, com efeito, somente graças ao acesso de fontes ideologicamente diversificadas e criticamente interpretadas, que conseguimos uma aproximação credível dos fatos. Isto requer todo um processo formativo de nossa consciência crítica, a partir da perspectiva “dos de baixo". Trata-se, pois, de aprender a ler criticamente a realidade, em retrospectiva histórica. Em vão se busca uma compreensão objetiva dos fatos presentes ( como nas cenas ainda veiculadas em profusão, pela mídia corporativa e pelas redes sociais controladas pelo Imperialismo), sem que os percebamos em seu processo histórico, afinal eles não caem prontos do céu. No caso específico, é necessário analisar os acontecimentos em curso, pelo menos desde a fundação do Estado de Israel, em 1948, para não retrocedermos aos sinais do século XIX, quando aparece a primeira proposta de fundação de um Estado Sionista, nos termos formulados por Theodor Herzl.
Contra a posição dos povos árabes, especialmente do povo palestino, a ONU decide criar o Estado de Israel, em 1948, fazendo vistas grossas a injusta repartição dos territorios entre Palestinos e Judeus- fato conhecido como a “Partilha” - , desencadeando, desde então, uma sucessão de levantes do povo arabo-palestino, dos quais resultaram violentas repressões do Estado de Israel, como a de 1967, conhecida como “Guerra dos 6 dias”, por força da qual Israel usurpa territórios árabes, anexando-os. Daí resultando diversas iniciativas de resistências, oscilando entre explosões e acordos. Em 2006, em consequência de mais uma explosão de resistência, o Estado de Israel redesenha pela força o quadro atual do território palestino, inclusive da Faixa de Gaza, minúsculo território (365km²) onde se mantêm confinados, qual campo de concentração mais de 2 milhões de palestinos, em condições socioeconômicas de enorme precariedade (altissímos indíces de desemprego - fala-se em mais de 70% de desempregados -, enorme parcela da população mantida na linha de pobresa, controle externo por Israel para energia, da mobilidade, etc.).
Já estamos no quinto dia desses confrontos, quatro dos quais intensos bombardeios a centenas de prédios de Gaza, vitimando não apenas palestinos - inclusive mulheres, crianças e idosos -, mas também destruindo escolas, universidade, colapsando serviços de saúde, já tendo atingido mortalmente onze funcionários da ONU.
Se muito nos impactam os dados cruéis praticados pelo Hamas, revolta-nos não menos, o terrorismo de Estado perpetrado pelo governo sionista de Israel, lembrando que este ainda promete incursão por terra e seu exército… Chamam-nos a atenção, já no quarto ou quinto dia de bombardeios, os dados hoje veiculados pelos próprios meios de comunicação oficial da imprensa coorporativa:
“A ONU aponta que mais de 263 mil palestinos foram deslocados de suas casas, como resultado dos mísseis disparados na contra ofensiva de Israel sobre Gaza. Mais de 175 mil pessoas deslocadas estão sendo acolhidas em escolas da UNRWA, a agência da ONU para os refugiados palestinos.
Mais de mil residências em Gaza foram destruídas e cerca de 560 foram gravemente danificadas e tornadas inabitáveis. Outras 12,6 mil sofreram danos menores, segundo dados publicados pela ONU nesta quarta-feira (11)…;
Os ataques aéreos israelenses também danificaram sete instalações que forneciam água e serviços de saneamento a mais de 1,1 milhão de pessoas, informou a ONU. Em algumas zonas, os esgotos e os resíduos sólidos acumulam-se nas ruas, constituindo um perigo para a saúde.
Os 13 hospitais e outras instalações de saúde em Gaza estão apenas parcialmente operacionais devido à escassez de abastecimento e ao racionamento de combustível. O hospital de Beit Hanoun está também inacessível devido aos danos causados nas zonas circundantes.
A quem, como nós, acompanha atentamente a cobertura da mídia corporativa brasileira, sem deixar de acompanhar igualmente fontes alternativas, resulta chocante a falta de ética jornalística cometida por fontes como a CNN, quase um porta-voz do governo de Israel…
Eis por que reiteramos, com insistência, a recomendação de estarmos sempre atentos, a conferir a cobertura da mídia corporativa, confrontando-a com outras fontes de informação e jornalistas credíveis, tais como: José Arbex, Breno Altman, Nathália Urban, Brian Neer, Rogério Anitablian, José Reinaldo Carvalho, Jones Manoel, Reginaldo Nassar, entre outros.
Uma das efemérides do dia de hoje - a do mal chamado “ Descobrimento da América “ que a justo título, Enrique Dussel trata como “o encobrimento do outro, em seu conhecido livro sobre 1492 ” - se associa a um dos traços abomináveis do Estado sionista de Israel: O de manter colonos seus em terras Palestinas. Tal exercício de memória histórica nos ajuda a fazer uma leitura críticas destes acontecimentos, em perspectiva histórica, o'que nos mantém acesa a esperança no imponderável da história: Hoje, prevalecem as trevas; amanhã, poderemos ouvir o galo da madrugada, a anunciar a gestão de um novo tempo de justiça e de paz.
João Pessoa, 12 de outubro de 2023.
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