TRAÇOS DA MÃE ÁFRICA: Em Busca de Nossas Raízes (XXVII)
Alder Júlio Ferreiro Calado
O Gabão constitui, desta feita, o alvo de nossa curiosidade de incursionar pelas entranhas da Mãe África. Situa-se no extremo Oeste, na região sub-saariana, limitando-se ao Norte com a Guiné Equatorial; ao Sul e a Leste, com a República do Congo, e a Oeste, com o Oceano Atlântico. Ocupa uma área de 267.667 Km²., correspondendo a cerca de duas vezes e meia do território de Pernambuco.
O país se apresenta com um relevo movimentado, destacando-se a região de planaltos, ao Norte e a Leste; a faixa montanhosa, ao centro; e a região de planície, na área costeira. Seu sistema hidrográfico é composto principalmente pela bacia do Oguê, que banha mais de dois terços do território.
Tendo como capital a Cidade de Librevielle, o Gabão conta com uma população de 1,454,867 hab. (cf. indexmundi), apresentando uma baixa densidade demográfica. Trata-se também de uma população mal distribuída geograficamente: cerca de três quartas partes da população se acham concentradas em três cidades (Libreville, Port Gentil e Franceville). Quanto à sua composição étnica, a população do Gabão é formada por diferentes grupos étnicos, entre os quais várias tribos Bantu (Fang, Bapunu, Nzebi, Obamba), além de outros grupos africanos e descendentes dos colonizadores europeus, principalmente franceses. Ainda por conta do estigma da colonização, o Francês tornou-se a língua oficial, mas lá se falam o Fang, o Miene, o Nzebi, o Bapunu, o Bandjabi.. Seu PIB é estimado para 2007 em pouco mais de US$ 10.2 bi, sendo estimada sua renda per capita, para este ano, em US$ 7.200.
Como em tantos outros países africanos, o Gabão enfrenta desafios em sua economia, principalmente em sua agricultura e em sua pecuária, tendo seu ponto forte nos recursos naturais, alvo maior da cobiça dos colonizadores de ontem e de hoje. O Gabão produz petróleo, urânio, manganês, além de jazidas de outro (estimadas entre 30 e 50 toneladas) e de diamantes (cf. o site bchcbd.natualssciences.be/gabon/documentsnat/rapnat/chap1.htm
O drama maior do Povo do Gabão é semelhante ao que caracteriza a maior parte dos povos africanos: são as diversas formas de colonização ainda hoje presentes. As potências européias, por mais que passem uma idéia de convivência “democrática” com esses países, continuam a manter boa parte do controle das riquezas desses povos, que se batem diante de tão graves desafios, a exemplo do grau de incidência da AIDS, inclusive no Gabão. Quando se busca identificar mesmo o pensamento de representantes locais ou de seus aliados mais confiáveis, são frequentes denúncias de exploração.
Guillaume Menchi, em artigo intitulado “Le Monde diplomatique, champion de l’anti-impérialisme sélectif”, escrito em 29 de dezembro de 2004, no conceituado Le Monde diplomatique, afirma que “Na África, o Estado francês é um grande criminoso. Desde a outorga das independências, não parou de apoiar ditaduras e, com muita frequência, manter guerras civis ou de fomentar golpes golpes de Estado. Para a classe dirigente francesa, o obtenção de saídas vantajosas, a pilhagem de matérias primas (petróleo, gás, urânio, metais preciosos, madeira, etc.) e a influência sobre as instituições internacionais (principalmente na Assembléia Geral da ONU) são apostas consideráveis diante das quais as considerações humanistas não têm qualquer valor. Se as antigas colônias francesas se acham parcialmente, mas sobretudo formalmente independentes, o Estado francês lança mão de um complexo conjunto de laços franco-africanos que sustenta o sistema neo-colonial: bases militares garantindo a segurança dos interesses franceses (Dakar, Djibouti, Libreville, Port-Bouêt, Bangui), “ajuda” bilateral, Franco CFA, acordos de cooperação (militares, econômicos, técnicos e culturais), produção e seleção de turmas dirigentes francófilas. A situação econômica desses países, com frequência desastrosa para suas populações, reflete a nocividade desse sistema e profunda hipocrisia das declarações francesas de solidariedade Norte-Sul. Na França, essa dominação é amplamente ocultada. Os meios de comunicação franceses preferem evocar o imperialismo americano”.
Seja dito, de passagem, que a contundência da crítica ao próprio Monde diplomatique não impediu a publicação do texto. Seja como for, temos ainda muito chão pela frente para enfrentar e vencer os mais distintos desafios da construção de uma sociabilidade alternativa que faça justiça aos Africanos, bem como a todos os Humanos e ao Planeta.
João Pessoa, junho de 2007
Nenhum comentário:
Postar um comentário