quinta-feira, 5 de outubro de 2023

TRAÇOS DA MÃE ÁFRICA: Em Busca de Nossas Raízes (XXV)

TRAÇOS DA MÃE ÁFRICA: Em Busca de Nossas Raízes (XXV)

 Alder Júlio Ferreiro Calado


África comporta um complexo mosaico de expressões religiosas. À semelhança do que se passa no campo linguístico, em que, por desconhecimento ou sob a influência da cultura ocidental, se imputam aos Povos Africanos línguas como Inglês, Francês, Português como se fossem idiomas falados “por todo o mundo”, também algo assim se passa no campo das religiões, como se o Cristianismo, em suas diferentes denominações, fosse a religião principal, secundada pelas “manifestações de animismo”...


É claro que, devido ao secular processo histórico de colonização - como, de resto, sucedeu em outras regiões do mundo, inclusive nas Américas - tanto os idiomas acima mencionados como as igrejas cristãs têm um lugar de inegável destaque. O equívoco surge, quando se pretende tomá-las como únicas ou praticadas “por todo o mundo africano”. Na verdade, nas dezenas de países que compõem o território africano, o que se observa mesmo é a presença de um complexo mosaico de línguas e de religiões.


A tal ponto, que há quem afirme que “Cada população africana desenvolve sua religião específica, que faz parte integral de sua herança cultura. Pode-se, portanto, dizer que há tantas religiões africanas tradicionais quantos são os povos africanos” (cf. página da Internet, no endereço www.academie-universelle.org/manuel/chap2/chap2a/religions/afrique.html


Com efeito, apesar da quase onipresença em terras africanas das “botas” dos colonizadores, com sua cultura, sua língua, sua religião, não se deve subestimar a capacidade de resistência dos Povos Africanos, não apenas em terras de menor controle ocidental, como ao interno das próprias áreas de sua presença hegemônica.


Como esquecer, por conseguinte, a expressiva incidência até hoje das mais tradicionais manifestações de religiosidade dos ancestrais dos Povos Africanos, difundidas até certo ponto ao longo do continente? E o quê dizer do expressivo contingente dos adeptos do Islam, seguido por enorme parcela dos Africanos, em suas mais diversas regiões? Outra área de reconhecida tradição islâmica é a de países como Argélia, Marrocos, Mauritânia… Em vários desses países, inclusive na Líbia, a incidência do Islamismo diz respeito à grande maioria da população, como na Argélia, onde chega a cerca de 97%... (afriquepluriel.ruwenzori.net/religion-generalite.htm).


Por outro lado, há também casos atípicos, como o da África do Sul, onde é forte a presença de igrejas cristãs (protestantes, em sua maioria), por fortes razões históricas. Por falar na África do Sul, tivemos recentemente em Salvador a presença alegre e solidária do bispo Desmond Tutu, que se tem notabilizado na luta pelos Direitos Humanos, não apenas em seu país.


Em parte de outras áreas, pode-se observar a presença de outras expressões religiosas, sobretudo as de caráter autóctone. Seja como for, desperta curiosidade incursionar pelo campo religioso dos Povos da África. A esse respeito, várias páginas na Internet ajudam a entender um pouco esse rico mosaico. Uma delas, em língua inglesa, fornece além de dados econômicos, políticos e demográficos, um quadro panorâmico e didático (inclusive por meio de um mapa) da distribuição geográfica das principais expressões religiosas da África (cf. o site do Christians Solidarity International: www.esi-int.org/word_map_africa_religion_php


Alguns analistas manifestam a impressão de que, entre componentes do segmento africano de jovens universitários, desenvolve-se um esforço de retorno às religiões de seus ancestrais. Esforço que enfrenta, entre os principais obstáculos, a difícil correlação de forças, em vista da relativa penetração de religiões alóctones, como resultado e expressão do processo de colonização. Não obstante, convém assinalar um traço relevante, resultante da herança da religião de seus ancestrais, que esses jovens apresentam, conforme a seguinte observação feita por analista: “A religião africana é uma afirmação (...) Seus valores essenciais são a harmonia e a união no seio da família e do clã, bem como com os mortos-vivos e os espíritos. Ela é coletiva, antes de ser individual, e os Africanos que se convertem ao Cristianismo ou ao Islam, carregam esses valores em sua nova fé.” (Olivier Bain, conforme o seguinte site acima mencionado).


João Pessoa, março de 2007

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