TRAÇOS DA MÃE ÁFRICA - Em busca de nossas raízes (XVIII)
Alder Júlio Ferreira Calado
Nigéria, vasto (923.768 Km²) e complexo país africano. Banhada ao Sul pelo Golfo de Guiné, a Nigéria situa-se nos confins entre o Níger, Benin, Camarões e Tchad. Tem uma população que se aproxima de 129 milhões de habitantes, o mais populoso do continente, ocupando o nono lugar, enquanto o Egito (com cerca de 78 milhões de habitantes) vem em 15º lugar no quadro geral dos países de maior população do mundo.
Sua diversificada população falam diferentes línguas (o ioruba, o fulani, o banto e línguas mendingas, sendo o inglês língua oficial imposta pelos colonizadores, após a segunda metade do século XIX. Como se pode perceber já pelos termos acima, temos muito a ver com a Nigéria. Parte de nossas raízes culturais recebemos de lá, em razão dos africanos e africanas para aqui arrastados e escravizados.
No começo dos anos 90, à semelhança do que também ocorreu no Brasil, em 1960 (em que nossa capital passou do Rio de Janeiro para Brasília), sua então capital (Lagos) foi transferida para Abuja. Depois de décadas de colonização inglesa, a Nigéria consegue finalmente separar-se da Inglaterra, em 1960, década durante a qual vários outros povos africanos conquistariam sua independência política, nos limites do processo da chamada descolonização. Que resta a completar-se. Lá e por aqui, também.
Como tantos outros, também a Nigéria possui riquezas naturais diversificadas. Tem uma base agropecuária, sustentada por produtos primários como o algodão, o cacau, a cana de açúcar, entre outros, aos quais se acrescentam atividades extrativistas, como no caso da madeira (inclusive o famoso ébano). Mas, a Nigéria é um país cobiçado por grandes conglomerados transnacionais e seus aliados, graças principalmente aos seus recursos naturais, destacando-se gás natural, petróleo, ferro, carvão, entre outros.
Prova dessa cobiça vem estampada nas consequências sofridas pela Mãe-Natureza, também na Nigéria: acelerado desflorestamento, degradação do solo, poluição das águas, desertificação. O rápido processo de urbanização faz-se à custa da expulsão de significativos segmentos da população rural, jogados no meio da rua, sem condições as dignas necessárias, tais como saneamento, água tratada, energia elétrica, moradia digna, trabalho decente, serviços públicos essenciais.
Estrangeiros em sua própria terra, como ocorre também entre nós. Tocados pela busca de sobrevivência, um certo número resolve migrar, em busca de aventurar sua vida, na Inglaterra e outros países europeus. E lá, não é difícil imaginar o que esses migrantes acabam encontrando: enquanto uns são admitidos, em condições precárias, para fazerem os serviços sujos que os nativos rejeitam, outros tantos vivem na mais cruel clandestinidade, sendo caçados pela polícia como animais de quinta categoria.
Se é verdade que, ainda hoje, migrante continua como sinônimo de “estrangeiro”, “forasteiro” ou algo do gênero, lutamos por um mundo alternativo, por uma outra globalização, em que todos e todas se sintam em casa em qualquer parte do Planeta, onde desejem viver e trabalhar.
Nesse sentido, é muito positivo o intercâmbio que se desenvolve entre universidades públicas de distintos países, em que são firmados convênios que permitem, por exemplo, a jovens africanos estudarem em nossas universidades, como ocorre em relação à UFPB, onde estudam jovens de Angola, da Guiné, Bissau, Cabo Verde e outros países. E que a jovens brasileiros sejam asseguradas bolsas de estudo para esses e outros países africanos, do mesmo modo que já há para outros países, sobretudo para a Europa e para a América do Norte. Essa troca de experiências é muito relevante para rompermos os muros dos preconceitos e, sobretudo, para ensaiarmos uma fecunda experiência multi/intercultural, numa perspectiva de autonomia e alteridade alimentada por figuras como Amílcar Cabral e Paulo Freire.
João Pessoa, maio de 2006.
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