terça-feira, 27 de agosto de 2024

Revista Peleja (1979-1992), AESA (Arcoverde-PE): Registros Mnemônicos

 Revista Peleja (1979-1992), AESA (Arcoverde-PE): Registros Mnemônicos 


Alder Júlio Ferreira Calado


“Peleja” foi o título da Revista, mantida pela Autarquia do Ensino Superior de Arcoverde (AESA), de 1979 a 1992, período durante o qual foram publicados 10 números. Nas linhas que seguem, tratarei de destacar alguns aspectos acerca de vários pontos concernentes à Peleja.


Em que cenário histórico surgiu a Revista?


A faculdade de formação de professores de Arcoverde surge em 1969, como uma iniciativa assumida por três instituições: a Diocese de Pesqueira, a prefeitura municipal de Arcoverde e a secretaria de educação do estado de Pernambuco. Por força desta parceria, coube à Diocese de Pesqueira, por meio do Bispo Dom Severino Mariano de Aguiar, participar com a cedência do espaço inicial - salas do Colégio Diocesano Cardeal Arcoverde - para a instalação de salas destinadas ao funcionamento da faculdade; à prefeitura municipal de Arcoverde, por meio do Prof. Giovanni Pôrto, então prefeito do Município, assegurar um certo número de funcionários municipais, para os serviços gerais da instituição, ao mesmo tempo, assegurar condições progressivas de investimento na construção do futuro prédio da faculdade; ao governo do Estado, por meio da secretaria estadual da educação, coube ceder parte do seu quadro docente.


Para tanto, foi fundamental a formação de um grupo que coordenasse as atividades fundantes desta parceria, razão pela qual foi formada uma direção provisória da qual fizeram parte o Pe. Antônio Inocêncio Lima, o Prof. José Rabelo de Vasconcelos, contando ainda com a participação, em seus inícios, de outros integrantes, a exemplo do Pe. Delson Cursino, então Diretor do Colégio Cardeal Arcoverde.


Nos inícios dos anos 70, começaram a funcionar as atividades da faculdade, com os cursos de Licenciatura de Curta Duração em Letras, em História, Biologia, Matemática, e em Geografia, frequentados por alunos e alunas de Arcoverde e da região.


Considerando as condições de extrema concentração na capital do estado das Universidades Públicas, a iniciativa se revela de grande impacto sobre o processo de interiorização do Ensino Superior em Pernambuco. 


Da faculdade de formação de professores à autarquia do ensino superior de Arcoverde 


Diversos desafios tiveram que ser enfrentados e transpostos: a construção de novas instalações, o atendimento às exigências progressivas emanadas da legislação então vigente; a organização de vestibulares para as diversas áreas; a necessidade de transformar as licenciaturas de curta duração em licenciaturas plenas, entre outros.


O sentido de uma revista naquele contexto.


No final dos anos 1970, em Pernambuco, o Ensino Superior restringia-se principalmente a Capital do Estado e a Caruaru, que abrigava duas faculdades: a Faculdade de Direito e a Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Caruaru (FAFICA) a Garanhuns, a Nazaré da Mata… As famílias interioranas do sertão dispunham rarissimamente de uma IES, ao alcance de seus filhos. Em Arcoverde e Região, chegou a vez de se instalar uma Escola de Ensino Superior, contando com sucessivos desafios a enfrentar. Um deles tinha a ver com a exigência do MEC de assegurar a oferta de licenciaturas de Plena Duração, que substituíssem as licenciaturas de curta duração. Para tanto, várias urgências eram apontadas. Àquela época, com exceção das Universidades Públicas e de algumas da rede particular de ensino (especialmente, as Pontifícias Universidades Católicas), não se exigia a tríplice dimensão (ensino - pesquisa - extensão). Mesmo assim, os que faziam a AESA, entenderam a necessidade de fomentar também atividades de pesquisa, de modo que seus professores e professoras dispusessem de um veículo para fazer circular suas produções, estimulando-os a assumirem atividades de pesquisa como forma de qualificação de sua docência. 


A despeito de a AESA corresponder a uma IES interiorana recém-instalada, sem as características próprias de uma Universidade, a comunidade acadêmica de Arcoverde entendia necessário comprometer-se progressivamente com a oferta de um ensino de qualidade, alimentado pela pesquisa, ainda que esta apenas embrionária. 


Foi assim que nasceu a revista Peleja, com uma periodicidade semestral (nem sempre cumprida à risca). Dadas as condições de trabalho então vigentes, não se podia contar com uma equipe liberada para tanto. A coordenação dos trabalhos da revista coube a Alder Júlio Calado, sempre contando com o apoio do Pe. Antônio Inocêncio Lima e do professor José Rabelo de Vasconcelos, com a colaboração dos colegas professores, em especial dos Chefes de Departamento: Prof.  Paulo Galindo (Dep. de Ciências); Prof. Osvaldo Oliveira (Dep. De Letras); Profa. Lucia Vieira (Dep. Est. Sociais); Prof. Luiz Oliveira (Dep. Ass. Ped.);  Letras, Biologia, Matemática, História e Geografia. Daí foram apontados os representantes do Conselho Editorial da Revista, cabendo-lhes a tarefa de fazerem circular, em seu respectivo Departamento, as notícias sobre a Peleja, bem como o convite aos docentes de participarem com textos seus, em cada número da Revista.


Recebidos os textos, na data-limite, cabia ao coordenador da revista solicitar apreciação de colegas, conforme a pertinência temática. Recebidos os textos devidamente apreciados, o coordenador da revista levava os originais para serem impressos pela Editora Vanguarda, em Caruaru, cabendo ainda ao coordenador da Revista proceder a revisão textual, a partir das provas impressas pela editora. 


Houve o número da revista que implicou um trabalho mais árduo. Trata-se do número 09 da Revista Peleja, inteiramente consagrado ao festival de Cantadores e Repentistas, realizado em Arcoverde, com promoção da própria faculdade de formação de Arcoverde, então dirigida pelo professor José Rabelo de Vasconcelos, ele próprio um apaixonado pela arte do Repente. O número 09 da Revista Peleja implicou, por conseguinte, em um longo e árduo trabalho. Primeiro, o trabalho de transcrição ou de degravação de todos os números apresentados no Festival - narrações, cantorias, declamações, além dos versos de cada dupla de repentistas. Trabalho realizado pelo coordenador, com a ajuda da Sra. Tânia Magalhães, então Secretária da Diretoria da AESA. Após a extensa transcrição de tantas fitas de gravador, veio o trabalho de revisão textual, antes da entrega à Editora Vanguarda dos originais. 


Ponderações acerca do repertório temático de Peleja 


Como acima mencionado, o objetivo central da revista Peleja é o de proporcionar condições mínimas aos docentes da AESA, de produzirem textos sobre temas de suas respectivas áreas de conhecimento  em vista de qualificarem seu exercício de docência. Este era o sentido fundamental da existência do CUNEPRA (Centro Universitário de Estudo e Pesquisa Regionais de Arcoverde), ao qual estava ligada a Revista Peleja, sobre cujo temário faremos algumas considerações.


O número 01 de Peleja, que data de Março de 1979, foi inaugurado, rememorando aspectos da estrutura e do quadro funcional desta IES. Ainda neste número, já no início, constam os dados relativos ao corpo redacional da Revista Peleja incluindo os nomes dos representantes dos Departamentos que compunham o Concelho de Redação da Revista, quadro que se alterava,  alguns anos depois, conforme o período de gestão dos chefes de Departamento, de modo que em outros números figuram outros nomes: 


No que toca aos conteúdos do primeiro número de Peleja, constam,  além da apresentação, registros referentes a criação da AESA e da Faculdade de Formação de Professores; uma referência ao CUNEPRA e seus objetivos, em especial a criação da Revista Peleja. Quanto aos artigos que aí figuram, comparecem os seguintes:

  • De autoria do Prof. José Rabelo de Vasconcelos, uma reflexão sobre o Professor e a Metodologia Científica;

  • O Prof. Osvaldo Bezerra de Oliveira nos brindou com o texto intitulado “Literatura Fantástica” ;

  • Por sua vez o Professor Paulo Galindo reflete acerca dos avanços e dos descaminho da Física, em nosso tempo; 

  • “A Física na vida moderna” foi o tema de que tratou o Prof. Nilson Magalhães;

  • Por seu turno coube ao Escritor Luís Wilson nos fornecer dados biográficos de Napoleão Arcoverde, figura da história regional;

  • O Prof. José Áureo R. Bradley tratou de examinar, em seu artigo, de que modo o novo Código Penal recepciona os desafios da Revolução Sexual;

  • “Nordeste:Acumulação e Empobrecimento” foi a contribuição trazida pelo Prof. Alder Júlio Ferreira Calado.


Ao final deste número 1 de Peleja, vêm publicados dois relatórios de prestação das atividades relativas à gestão do professor José Rabelo de Vasconcelos, correspondentes aos anos de 1977 e 1978. 


Também de 1979 (novembro) data o segundo número da Revista. Sua apresentação já indica os autores dos textos nela contidos, começando pelo de autoria do Prof. José Rabelo de Vasconcelos, ao expor, em linhas gerais, os pontos principais de uma palestra sua, intitulada “O Reino dos Cantadores de São José do Egito”, rememorando e enaltecendo a genialidade dos poetas e repentistas de São José do Egito.


Aparecendo pela primeira vez, o Prof. Aleixo Leite Filho nos brinda com uma bela poesia, tematizando um desafio já então enfrentado: o da poluição. Poeta e folclorista, o Prof. Aleixo passa a ser um dos colaboradores mais assíduos da Revista. 


Seguindo em sua área de conhecimento - o campo do Direito, o Prof. Aurélio Bradley enfoca, desta vez, o universo jusnaturalista, discorrendo acerca de posições teórico-conceituais entre o Direito Natural e o Direito Positivo. A questão do controle familiar constituiu o tema trabalhado pelo Prof. Alder Júlio F. Calado, em que discute brevemente políticas de planejamento familiar que não passem pela discussão das camadas populares, uma vez que não raramente 


Escolhido como Paraninfo do ano o Prof. Osvaldo Bezerra de Oliveira compartilha seu belo discurso de paraninfo  destacando que, como dizia Cênica, “Aprendemos para a Vida, não para a Escola”. 


O número 03 da Revista Peleja se apresenta um pouco mais espesso que os números precedentes: alcança 100 páginas. Aparece em julho de 1980. Após a apresentação, o primeiro texto, de autoria do Sr. Joel de Holanda, então Secretário de Educação do Estado de Pernambuco, correspondendo ao seu discurso de Paraninfo das turmas concluintes de 1979. Em sua Oração de paraninfo, ele cuida de expressar seus agradecimentos pela distinção recebida, ao tempo em que conclama os formandos e formandas a assumirem, com entusiasmo e dedicação, sua missão de Educadores e Educadoras.


Em “Penúltimo Canto” o Prof. José Áureo Bradley, exercitando sua imaginação literária, a partir dos desafios existenciais de nossa região empenha-se em denunciar as contradições e condições desumanizantes do nosso mundo, sugerindo, porém, sinais de esperança e de resistência de nossa gente, em face da situação vivenciada. 


Noam Chomsky constitui uma das principais referências entre os estudiosos da Linguística. Tocado pelas ideias seminais de Chomsky, o Prof. Osvaldo Bezerra de Oliveira nos oferece, em seu texto uma contribuição, no sentido de destacar as ideias centrais daquele intelectual, ressaltando a relevância da linguagem como uma das marcas centrais do ser humano.


O Prof. Paulo Galindo desta vez, nos propõe uma reflexão oportuna acerca do “Pensamento Social Antes de Marx”, assim contribuindo para alargarmos nossa percepção do caráter social da mensagem cristã de justiça, que precedeu as formulações do Marxismo. Mangação do Pajeú e o título de autoria do Prof. Aleixo Leite Filho, livro do qual ele extraiu esta amostra instigante de sua marca de humorista, aliada a outras, de poeta, romancista  e de folclorista.


A Revista Peleja também recebia contribuições de discentes (internos e externos à ESA). Desta vez, foi o caso da universitária Lidia de Sousa Queirós que tratou de rememorar a relevância da Declaração Universal dos Direitos Humanos, sublinhando as contradições ainda hoje existentes. Os dois últimos textos deste número de Peleja - “Chico Rei: Do Cativeiro\Libertou-se com os Irmãos” e “Relações de Dependência Social no Agreste Centro Ocidental de Pernambuco” - são de autoria do Prof. Alder Júlio Calado. Quanto ao primeiro texto, trata-se de um relato feito em versos, inspirados no romance “Chico Rei”, leitura que lhe fora recomendada  pelo Prof. Eduardo Hoornaert, então membro da Coordenação da CEHILA-popular, empenhada em fazer circular temas de nossa história brasileira e latina-americana, em forma de cordel. Quanto ao segundo texto, trata-se de um estudo histórico, referente ao Agreste Centro-Ocidental de Pernambuco, na perspectiva da teoria da Dependência.


O número 04 de Peleja - o segundo do ano de 1980 - contém, na primeira parte, instigantes matérias, no âmbito da Literatura Sertaneja, trazendo a lume, de início, “Os Mandamentos do Cantador”, escritos pelo Prof. José Rabelo de Vasconcelos. A seguir, comparecem autores e poetas sertanejos, a compartilharem relatos e versos de rara beleza. Eis o que nos oferecem seus autores: José Marcolino, Dedé Monteiro, Zé de Cazuza, Aleixo leito e Filho, Genival Vicente de lima. A Segunda parte deste número vem consagrada a temas específico as áreas de conhecimento de seus respectivos autores: Vandenir casado Lima (“Trabalho de Auto-Instrução em Matemática”); Antonia Lima (“Colorindo o Pensamento”); Paulo Galindo Cavalcante (dando continuidade ao tema “O Pensamento Social Cristão antes de Marx - Uma Abordagem Crítica (II); Mário Marangon (“A Revolução de 30”); e Alder Júlio F. Calado (“Questionamento da Postura de Intelectual nas Classes Populares”).


Em 1981, a Revista Peleja circulou apenas uma vez: Agosto\1981 após a apresentação (“Peleja\5”), o Pe. Antonio Inocencio Lima comparece com um relato dando conta da organização das obras sociais das Paróquias do Livramento e do Santíssimo Redentor, (ambas em Arcoverde), pertencentes à Diocese de Pesqueira, em convênio com instituições públicas.


Retomando sua temática preferida - a do Direito -, e embasado em renomados especialistas na área, o Prof. Áureo Bradley problematiza potencialidades e limites do Estado Social, balizado nos valores democráticos e sua evolução histórica, no contexto da Modernidade.  Estudioso apaixonado pela história da Matemática o Prof. José Marcelo Lourenço da Silva visando a estimular seus estudantes a experimentarem semelhante encanto pela matemática, traz à tona postulados euclidianos e de outros teóricos da Matemática, assim agindo didaticamente em seus argumentos.   


Sempre empenhado em recolher e divulgar a cultura popular, especialmente a poesia Sertaneja, o Prof. Aleixo Leito e Filho apresenta páginas antológicas da lavra do Poeta José Lopes Neto, mais conhecido como “Zé Catota”. A seguir, o Prof. Aleixo, sob o título “O Telurismo de Aleixo Leito e Filho", compartilha trechos significativos de sua correspondência com figuras nacionais de nossa Literatura e de nosso Folclore, a exemplo de Carlos Drummond de Andrade e Luís Câmara Cascudo. 


A estudante Rita Maria de Lima traz, como sua contribuição, uma breve reflexão sobre episódios fantásticos presentes em nosso mundo. Colaborador assíduo de Peleja o Prof. Genival Vicente e Lima, mostra-se engajado na defesa e propagação de nossa Literatura Sertaneja, sempre comprometido com a fidelidade aos valores do cordel e de toda a produção cultural de nossa gente. 

 

Neste número, o Prof. Paulo Galindo, concluiu sua série de textos acerca do Pensamento Social que precedeu a produção de Karl Marx. por sua vez, o Prof. Mário Marangon nos brinda com sua incursão pela América Espanhola, refletindo historicamente sobre os laços de dependência que acompanham sua trajetória histórica. O Prof. Alder Júlio F. Calado, tomado por uma motivação didática, esposa um roteiro de pequeno Roteiro de Metodologia Científica. 


Uma novidade em Peleja\06: a presença de novos colaboradores, jovens professores. Um número 6 da revista aparece em Dezembro de 82. “O Estado e a Justiça no Código de Hammurabi”  corresponde ao título da reflexão tecida pelo Prof. Áureo Bradley, ao examinar as noções de “Estado” e de justiça, no famoso código de Hammurabi, tomando como paradigma conceitual juristas da Modernidade. 


No texto “Mostração do Ofício”, o Prof. Aleixo Leito e Filho em homenagem ao Poeta Manuel Betanzos Santos, publica seu poema intitulado “Canto/Chão, que descreve, de forma estética, as aventuras de um combatente no  enfrentamento dos desafios.  Disposto a recolher diferentes versões sobre saudade, o Prof. Genival Vicente de Lima cuida de garimpar estrofes ontológicas acerca da saudade fruto do rastreamento que faz de exímios poetas sertanejos, a exemplo de Patativa do Assaré, Dedé Monteiro, Aleixo Leite Filho e Maria do Carmo Cristóvão.


O Prof. Paulo Galindo, ao escrever seu artigo intitulado “Evolucionismo, Criacionismo e Filosofias Políticas”, empenha-se em  destacar elementos que caracterizam as concepções do  criacionismo e do evolucionismo, apontando suas potencialidades (Evolucionismo), fundamentado-se uma perspectiva político-filosófica. A contribuição de Rita Maria de Lima consistiu, desta vez, em publicar uma brevíssima reflexão sobre o altruísmo, escrita por Gordon Powell.


Evandro Valério Lira e Jorge Ventura de Moraes, jovens professores, inauguram sua participação em Peleja, propondo o artigo “Capitalismo: O que é, de Onde veio e para onde vai” contribuindo assim para uma melhor compreensão didática dos desafios de nossa realidade. Eraldo Galindo da Silva também surge como um jovem estreante, colaborando com Peleja, com sua pertinente análise econômica, relativa à introdução da célebre peça “Gota D'água”, de autoria de Paulo Pontes e Chico Buarque. Discutir aspectos relevantes da conjuntura econômica brasileira, durante a Ditadura  Militar.


“A ausência de Revoluções no Nordeste” é o título do artigo escrito pelo Prof. Mário Marangon. Aficionado pela temática histórico-filosófica, o autor se mostra tocado pela constatação da ausência de movimentos revolucionários  em nossa região. Em diálogo fraterno com o autor, o Prof. Alder Júlio F calado empenha-se em fazer um contraponto, ao comentar uma série de movimentos revoltosos, no nordeste. 


O número 07 de Peleja aparece em  Setembro de 1983, com várias novidades. De início, os estudantes universitários Jorge Ventura, Paulo R. Vieira e Valdênia Brito, em homenagem a Dom Severino Mariano de Aguiar, Bispo emérito da Diocese de Pesqueira, e um dos protagonistas da criação da Faculdade de Formação de Professores de Arcoverde houveram por bem selecionar e publicar uma série de pronunciamentos radiofônicos, intitulados “Pingos de Conversa”, programa apresentado na Rádio Difusora de Pesqueira.


Encantado com os versos do Poeta Helvécio Afonso de Melo, o Prof. Aleixo Leite Filho homenageia, oferecendo-nos além de uma notícia biográfica do Poeta,  uma amostra antológicas de seus versos. O tema da saudade volta às nossas páginas  desta feita  por meio do texto intitulado “Cancioneiro da Saudade”, de autoria do  Prof. Genival Vicente de Lima. Estreando em Peleja, o colaborador Adércio Simões Franco apresenta uma pertinente reflexão didática sobre o famoso “Sermão da Sexagessima de Vieira”. 


Mais um estudante comparece às páginas de Peleja. Trata-se de Américo José de Freitas, cujo texto passeia por relevantes achados, no campo da Matemática, fornecendo dados biográficos e invenções feitas por Matemáticos antigos, a exemplo de Eratóstenes de Cirene (atual Líbia, África). Sob o título “O Desejo e Objeto”, o artigo do Prof. Airton Freire de Lima, mergulha no enigma da relação entre o Desejo e Objeto, apresentando potencialidades e limites da condição humana, em seu existir. João Estevão, por sua vez empenha-se em nos alertar quanto aos riscos de uma Educação ideologizada, a serviço da manutenção do sistema dominante, enquanto o também  Estudante Enildo Galindo, nos propõe uma entrevista imaginária com a fome, por meio da qual denuncia as raízes sociais da miséria: O sistema capitalista.


Ácido colaborador de Peleja o Prof. Paulo Galindo nos faz um relato de suas observações panorâmicas da terra e da gente da Espanha, País em que estagiou, a trabalho, como engenheiro a serviço do Dnocs. Já demonstrando talento analítico, como estudante, Evandro Valério reflete, desta vez, sobre a relevância da contribuição de Karl Marx, para o que oferece, de forma didática, uma breve notícia biográfica daquele autor, justamente no ano de seu centésimo aniversário de morte.


Literatura Popular e Memória Histórica dos Oprimidos, corresponde ao texto escrito da conferência apresentada por Alder Júlio F. Calado por ocasião do Encontro, em Arcoverde, do Grupo de Estudos Linguística e Sociedade, da UFPE. O Prof . José Áureo Bradley, em seu artigo intitulado “Educação a triste realidade Brasileira”, aponta dilemas e desafios enfrentados pela sociedade Brasileira, ainda sob o regime militar.


De Setembro de 1984 data o número 08 de Peleja. Desta vez, o Prof. José Aurélio Bradley, em seu artigo “Estrutura de Poder e Exigências Cristãs de uma Ordem Política”, nos oferece uma oportuna reflexão acerca de um documento profético publicado pela CNBB, como denúncia das estruturas de poder mantidas pela Ditadura Militar, ao mesmo tempo em que anuncia as exigências éticas da Ordem Democrática. Laborioso pesquisador da Literatura Sertaneja, o Prof. Aleixo Leite e Filho dá sequência ao tema tratado, no número anterior de Peleja a compartilhar versos antológicos de nossos poetas populares. 


Como era de se esperar  a fundação da AESA contribuiu notavelmente para a dinamização das atividades culturais de Arcoverde e região. Disto da prova o relato escrito por Alder Júlio F. Calado, ao relatar a três experiência artístico-culturais, inscritas no calendário institucional da AESA: o festival o Festival de Violeiros e Repentistas, o Festival de Teatro de Arcoverde e o Festival de Músicas e Inspirações Cristã, este último sob do Pe. Adilson Simões. Altamente diversificada a literatura de cordel comporta um universo temático bastante amplo razão por que houve bem o Prof. Genival Vicente de Lima brindar-nos com sua proposta didática de classificação do Cordel.


Em seu texto, mantendo-se  em seu campo de conhecimento, o Prof. Airton Freire de Lima explora os labirintos do inconsciente focando desta vez  os significados do silêncio, na psicanálise. Mostrando sua sensibilidade e seu senso crítico, o Prof. Paulo Galindo Cavalcante, numa época em que o famigerado agronegócio já mostrava fome de lucro, levanta fundados questionamentos acerca dos verdadeiros interesses da agricultura de exportação.


As páginas que seguem vêm protagonizadas por nossos talentosos estudantes - Eraldo da Silva, Valdeblan Siqueira, Maria Elena de Almeida, Antônio Carlos Amaral Pinheiro, Aleska Paula Freitas, Paulo Melo, Luís Carlos Júnior,  Teresinha Pereira -, trazendo suas contribuições cada qual em sua área específica.


Um filme longa metragem sacudiu a consciência social trazendo toda uma geração de militantes trata-se de Queimadas, o objetivo da reflexão crítica por Alder Júlio Ferreira Calado. Ao final de sua gestão à frente da AESA, o Prof . José Áureo Bradley cuida de destacar, a título de prestação de contas, pontos relevantes de seu legado.


Inclusive pelo número de páginas -221-, o número 09 da Revista Peleja só apareceu em Abril de 1987, em razão de obstáculos enfrentados. No entanto, sentimo-nos recompensados pelo protagonismo estético-literário que nele vem estampado. Eis o que vem anotado em sua apresentação: “Com mais de um ano de atraso, vem a público o número 09 de Peleja, da Faculdade de Formação de Professores de Arcoverde. É lamentável! Não conto as vezes que fui delicadamente cobrado ora por colegas professores, ora pela Direção da Escola, ora por alunos e colaboradores. Havia -e com razão- uma impaciência coletiva. A todos respondia que se tratava, em parte, da mudança de donos da gráfica (Vanguarda), que também alegava a sobrecarga de demanda do ano eleitoral (1986).”


Nem com tamanho atraso, porém, a gráfica atendeu a nossa demanda. O número 09 de Peleja sai apenas com os anais do II Festival de Poetas e Repentistas de Arcoverde, realizado em 1985. A série de artigos concernentes às mais diversas áreas do conhecimento vamos ter que encaminhar a outra gráfica, possivelmente ainda neste primeiro semestre.


De todo modo, a publicação integral dos anais do II Festival de Poetas e Repentistas de Arcoverde compensa a longa espera. O alto nível do trabalho das duplas de repentistas e de poetas que apresentaram, é qualquer coisa incomum neste Nordeste e nesse Brasil. Vimos assim desfilarem repetentiss de nomeada, como: Ivanildo Vila Nova, Geraldo amâncio, Oliveira de Panelas, Severino Feitosa - só para citar alguns; bem como poetas e declamadores da melhor estirpe, como: Patativa do Assaré, Lourival Batista, Zé de Cazuza, Dedé Monteiro, Zé Marcolino.


Entre as novidades alegres, inclui-se o nível de politização do repente que, longe de subtrair ao poeta seu potencial artístico, antes lhe confere e propicia o exercício do senso crítico e da dimensão social do repente. O II Festival foi realizado no ano que iniciava a “Nova República”, tempo marcado pelas ocorrências que resultaram no desaparecimento trágico de Tancredo Neves. Isso também faz parte do temário dos montes.  


De parabéns, a equipe coordenadora do Festival, à frente o Prof. José Rabelo de Vasconcelos, Diretor da Faculdade e principal responsável pelo evento que vai encantando, cada vez mais, um público crescente de aficionados de repente. Que o diga a lotação expressiva da “Quadra do Cordel”. A circulação de Peleja sofreu uma interrupção, durante o período em que seu Redator - Coordenador esteve ausente do Brasil, para o seu doutoramento. Em dezembro de 1992, voltou a circular, em seu décimo e último número.


Peleja/10 inicia com o instigante  artigo do Prof. Eraldo Galindo, sob o título “A Universidade que Queremos”, a refletir, de modo crítico-propositivo, o que fazer da Universidade Brasileira, em busca de sua contribuição mais efetiva para a superação de nossos desafios. 


O Prof. Lemuel Guerra em seu artigo “Arte e Comunicação” - texto decorrente da aula inaugural do primeiro semestre de 1992, por ele proferida, na Faculdade de Formação de Professores de Arcoverde - , navega no universo das Artes, mostrando suas relações com a comunicação, bem como suas interfaces com a Educação, inspirando-se em uma bibliografia de qualidade. 


Tema de sua tese de Doutorado, na Universidade Paris-8, em “Igreja e Sociedade no Brasil: O Papel Político das CEBS, na década de 80”, Alder Júlio F. Calado compartilha, inclusive a título de prestação de contas, seus principais achados, resultantes da pesquisa desenvolvida. 


Tomada por um compromisso com a causa ecológica e, ao mesmo tempo, pelo sentimento de indignação contra atitudes discriminatórias do chamado Primeiro Mundo contra os Países Periféricos, a Prof. Eloisa Cosmo de Lima compartilha passos de uma investigação sobre a fauna do Nordeste, indicando o grau de responsabilidade ecológica, também em âmbito institucional. 


“Linguística - Forma de Interação”, corresponde a contribuição oferecida pela Prof. Palmira Brito Cavalcante, na qual discorre e problematiza a metodologia de ensino, recorrente em nossas salas-de-aula, propondo atitudes pedagógicas mais críticas e comprometidas com nossa realidade social no âmbito da linguagem.


Preocupado com o “déficit” de atenção observável nas relações ensino-aprendizagem, inclusive em Matemática, o Prof. José Francisco de Oliveira, empenha-se em propor pistas didáticas de superação. O Prof. Paulo Marcondes Ferreira Soares, em seu artigo “O Moderno e seu Pos (A Cultura na Contemporaneidade), tenta compreender e situar as diferenças básicas entre os pensadores modernos e pós-modernos, apoiado em suas figuras representativas.


“O Mito do Éden” constitui o objeto da análise proposta, pelo Prof. Ailton Freire, com arte e poesia e com instigante jogo de palavras, interpretando a biunivocidade de olhar  o relato bíblico. O Prof. Paulo Galindo nos traz sua apreciação dos desafios conjunturais enfrentados por grupos e comunidades populares, inclusive as pastorais sociais, em face dos desafios históricos hoje presentes.


Em “Sintomatologia e Elemento Emocional”  o Prof. Otávio Júnior, ao problematizar a incidência médica  exclusiva, considera a necessidade de se compreender a interferência de outros fatores, na ocorrência de doenças, a exemplo de fatores psicológicos. Na ocasião das comemorações dos 500 anos do impropriamente chamado “Descobrimento da América”, o estudante e militante da causa negra Luiz Eloy de Andrade, cuida de denúncia esta invasão da qual resultaram tantos danos para nossa terra e nossa gente. 


Professor comprometido com a causa ecológica do sertão, o Prof. José Ivan de Lima nos propõe uma incursão crítica sobre o drama da poluição urbana sobre os nossos rios temporários. A Prof. Elsa Galindo compartilhar suas inquietações acerca dos descaminhos observáveis no dia-a-dia do nosso ensino básico. Por fim o Prof. Aleixo Leite Filho nos traz, em conclusão, páginas antologias da Poesia Sertaneja.


Eis algumas linhas sobre a Revista Peleja, da qual muito nos orgulhamos, pelas reflexões, pelos diversos textos oferecidos em suas páginas. Trabalho de uma geração que vem sendo sucedido, ao seu modo, por novos protagonistas, aos quais nos associamos neste processo em que uns semeiam, outros cultivam e outros vão colhendo.


João Pessoa, 13 de Agosto de 2024









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