EM INCESSANTE BUSCA
DE OUTRO BRASIL: “Nem o passado como era, nem o presente como está”...
Alder Júlio Ferreira Calado
Todos os dias, e em especial neste PRIMEIRO DE MAIO, Dia dos
Trabalhadores e Trabalhadoras, somos instigados a nos debruçarmos sobre rumos e
caminhos do mundo, desde o chão do dia-a-dia de nossa sociedade. E podemos
fazer isto, ensaiando perguntar-nos um conjunto articulado de questões, bem ao
nosso alcance, várias das quais apresentando-se-nos bastante incômodas, graças
à sua força de interpelação. Eis como cuido, hoje, de compartilhar algumas
linhas provocativas, sentindo-me eu o primeiro provocado, com tais
questionamentos.
* Uma parte imensa de Trabalhadores e Trabalhadoras, no
mundo e no Brasil, graças à sua situação concreta – migração forçada, incidência
de etno-genocídio, feminicídio, violência social, desemprego, sub-emprego,
crescente precarização do trabalho, etc., etc., etc. – acha-se quase
impossibilitados de refletir criticamente e, menos ainda, de enfrentarem as causas de sua stiuação. Eles, elas antes as
sofrem do que as compreendem. Ainda assim, muitos deles e delas fazem o que
está ao seu alcance. Mas, nossos questionamentos se dirigem, prioritariamente,
a um número considerável de Trabalhadores e Trabalhadoras, no Brasil, que reúnem,
sim, condições favoráveis de se fazerem questionamentos do tipo: Mergulhados em
terreno pantanoso de uma crise multifacetada (econômica, política, ética, ecológica,
de paradigmas...), temo-nos dado ao INCESSANTE trabalho, não apenas de buscar compreender
melhor o que se passa, mas também de ensaiarmos saídas, ao nosso alcance?
* No empenho em compreendermos melhor o que acontece, no
mundo e no Brasil, sem prejuízo das fontes de nossos habituais parceiros, temos
examinado criticamente tamabém outras fontes, que pensam diferentemente de nós
e dos “nossos”, a fim de nos inteirarmos de suas críticas?
* Por mais que nos agradem os comentários feitos pelos “nossos”,
será que, atendo-nos exclusivamente a tais fontes, não corremos o sério risco de empobrecer nossa
visão (auto)crítica?
* Se nos pretendemos fiéis à Classe Trabalhadora, será que
nos limitarmos a analisar a realidade, apenas desde as fontes que coincidem plenamente
com o nosso sentir-pensar-querer-agir, não acabamos sucumbindo a um grave
reducionismo endógeno?
* Em seu carisma de exímio analista social, Eduardo Galeano
costumava dizer que “A história é um profeta com um olhar voltado para trás:
pelo que foi, e contra o que foi, anuncia o que será.” E quanto a nós, pessoal
e coletivamente, será que nos damos ao trabalho de tomar certa distância
crítica desta síndrome do imediatismo de que vimos sendo reféns, e
buscamos examinar, em relação aos “nossos”
analistas de referência quase exclusiva, o que se dizia e se escrevia dos
inúmeros escândalos cometidos pel às forças dominantes de há quinze, vinte, trinta anos atrás, enquanto hoje, diante de fatos de semelhante gravidade, o que anda
sendo dito e escrito? Quanta contradição!
* Será que temos lembrança e consciência de nosso programa
de ações (organizativas, formativas e de mobilização), vivenciado nas décadas
70 e 80, no campo e na cidade, e que fomos progressivamente abandonando ou
secundarizando, fazendo vistas grossas a condições essenciais de transformação
social, embriagados e seduzidos pelo “atalho” da desmedida ocupação dos espaços
governamentais, de que acabamos nos tornando reféns, com altíssimos custos que
hoje amarga a sociedade brasileira?
* Será que nos damos conta – inclusive e sobretudo, nossas principais
organizações de base – das terríveis consequências de nosso adesismo, de nossa
perda de autonomia, de nossa credibilidade junto a enormes parcelas das classes populares?
* Temos tido o cuidado de priorizar as análises de quem, a
despeito de certos limites, se tem apresentado coerente, nas linhas-mestras de suas análises, sem comportarem frequentes e
graves contradições (de quem afirma coisas hoje, para negá-las pouco tempo
depois, remanescendo similares os fundamentos da atual realidade, sem fazerem
qualquer autocrítica dos equívocos cometidos)?
* Numa sincera busca de retomada, EM NOVO ESTILO, desses
compromissos interrompidos, serão mesmo iguais as chances de êxito, ante os
profundos estragos cometidos – em especial em consequência de um progressivo
desenraizamento de parte expressiva de nossas forças do cotidiano de nossa
gente, inclusive com estilo de vida próximo do nosso povo?
* Nos segmentos de esquerda (partidários, sindicais,
populares, eclesiais, etc.), diante do evidente descrédito experimentado e das
pressões internas e externas por mudanças de rumo e de caimihos, será mesmo razoável que tal processo de autocrítico
e de “renovação” seja conduzido pelas mesmas figuras dirigentes e seus
prepostos?
* Por mais árduas que sejam as batalhas travadas e a serem
ainda enfrentadas, conforta-nos a convicção de que, ao longo de sua história, aos
humanos não são colocados desafios que, a seu tempo e graças ao seu esforço
persistente, não sejam capazes de superar. Isto posto, por que razão confiar acriticamente
a CONDUÇÃO desTe processo às mesmas forças que, a despeito de terem
protagonizado ganhos econômicos inegáveis, malograram fragorosamente em ítens
fundamentais da luta ético-política? Uma coisa é seguir contando com sua
participação, outra é seguir confiando-lhes a condução desse processo, sem que
se disponham a emitir sinais convincentes de autocrítica?
* Seria mesmo sinônimo de garantia, sob o pretexto de
construir a “unidade”, a qualquer preço, das forças de resistência aos ataques
das classes dominantes e dirigentes, propugnar por uma reedição sem critérios
sustentáveis de simples frentes conduzidas por lideranças cujos frutos são
amplamente conhecidos (por ex.: em matéria de aliancismo, de associação espúria
com o que há de pior das “elites” brasileiras, enriquecimento ilícito de
figuras, parcerias com representantes de forças antagônicas, recurso habitual a
expedientes aéticos)?
* Se é verdade que nos empenhamos na construção de um novo
modo de produção, de um novo modod e consumo e de um novo modo de gestão
societal, por que teimamos em apostar o melhor de nossas energias criativas,
para administrar o inadministrável (o modelo vigente)?
Neste Primeiro de Maio de 2017, eis o que me ocorre
compartilhar, como mensagem de solidariedade a todas aquelas e aqueles –que-vivem-do-Trabalho-?
João Pessoa, 1 de Maio de 2017.
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