segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

TRAÇOS DA MÃE-ÁFRICA : em busca de nossas raízes (XXXVII)

TRAÇOS DA MÃE-ÁFRICA : em busca de nossas raízes (XXXVII)

Alder Júlio Ferreira Calado

    E da Música africana, o quê dizer? Desafio enorme até para quem é especialista. Imagine-se para um analfabeto em música... Basta tomar em consideração que se trata de um imenso continente, com quase cinqüenta países, formados por distintas nações, tribos, etnias, línguas, religiões... Fala, porém, mais alto meu atrevimento de dizer algo sobre o complexo e multifacetado universo musical africano. Com a preciosa ajuda de diversos “sites”, vão aparecer, quando nada, sugestões de visita a essa ou àquela página, conforme o interesse eventualmente suscitado.
    Influenciados por um universo enredado numa extensa variedade de tipos (músicas tradicionais ou “folclóricas”, músicas religiosas, músicas de massa com forte controle do mercado, etc.), gêneros, sub-gêneros e de estilos musicais - , desponta toda uma constelação de excelentes cantores e cantoras, em distintos países da África. Só na África do Sul, fala-se na existência de cerca de sessenta artistas e grupos musicais, dentre os quais se destacam nomes como o de Miriam Makeba (a celebrada “Mama África”) e o de Jabu Khanyile of Bayete, o Grupo Soul Brothers, entre outros. Em geral, as letras de suas músicas aludem às questões do cotidiano, às suas lutas e esperanças na construção de uma nova África do Sul, além de suas significativas conquistas.
    São tantos os bons nomes de artistas da música africana, espalhados por vários países, dos quais aqui lembramos, por exemplo: Lourdes Van-Dunem, a grande dama da música angolana; Angélique Kidjo (Benin), com sua música afro-americana; de Burkina Faso, podemos citar o artista engajado Zêdess (Zongo Seydou); Makossa, Makassi e Tchamassi (Camarões); em Cabo Verde, é famosa Cesária Évora, que costuma apresentar-se descalça, em “shows” de solidariedade aos sem-teto e às mulheres pobres.
    Na Costa do Marfim, pontificam figuras como Alpha Blondy (Seydou Koné), considerado a estrela internacional mais popular do Afro-Reggae, desde a partida do jamaicano Bob Marley, bem como Tiken Jah Fakoly. Ao primeiro perguntaram por que havia escolhido cantar o Reggae, ao que respondeu: “Porque os jamaicanos são mais africanos do que os negros americanos.” Tiken Jah Fakoly também é conhecido pelo seu engajamento, enquanto artista, ajudando, como ele próprio diz, a “despertar as consciências”.
    Situada numa região fronteiriça entre a África, o Oriente e o Ocidente, a Etiópia apresenta-se como uma das mais diversificadas, do ponto de vista artístico-cultural, inclusive em suas expressões musicais: conta com cerca de cem línguas, além de um significativo mosaico religioso. Isso contribui também para sua diversidade no terreno da música tanto sacra quanto profana. Aí são muito apreciados os bardos com os seus mais variados instrumentos de corda, a executarem canções de amor e a recitarem contos populares.
    No Quênia – tão conhecido também entre nós pelos seus campeões de corridas -, pontificam grupos de hip hop, a exemplo do Nairobi Yetu, um grupo formado por jovens da periferia de Nairobi. Vale observar o título de um dos álbuns desse grupo: “Grito por jutiça”... Se a África do Sul tinha suscitado admiração pela quantidade de artistas e grupos musicais, o quê dizer do Mali, onde se estima atuarem cerca de oitenta? Já foi chamado de “Superpontência musical”, inclusive pelo brilhantismo de artistas seus como Salif Keita, Toumani Diabaté, Djelimady Tounkara e Kader Keita.
    Como se observa, é um mosaico musical considerável. Mesmo prometendo dar continuidade, no próximo número, há de se convir que conseguimos apenas fornecer um breve “aperitivo” para os que eventualmente se disponham a prosseguir as buscas. Concluo lembrando que, nos distintos povos da África (não somente, aliás), a música constitui um dos bens culturais mais acessíveis (pelo menos do ponto de vista do consumo) ao conjunto da população. A ela têm acesso alfabetizados ou não, bem como os mais diversos segmentos sociais, independentemente de classe, de gênero, de etnia, de idade/geração, religião, etc.Como, de resto, se dá em tantos outros países. Se isto, por um lado, há de ser louvado, por conta do seu caráter estético e pelo seu alcance lúdico-pedagógico, por outro lado, não se deve esquecer que, como outros bens culturais, a música tem uma relevante função social – tanto para a formação da consciência crítica de um povo, como para sua alienação. E isso é um desafio, não apenas para os povos africanos, Ou, por acaso, nós estamos isentos disso?... “Sites” visitados: http://pt.wikipedia.org/wiki/Salif_Keita






Nenhum comentário:

Postar um comentário