TRAÇOS DA MÁE-ÁFRICA: em busca de nossas raízes (XLI)
Alder Júlio Ferreira Calado
O protagonismo dos movimentos sociais da África é a grande esperança de mudança para centenas de milhões de africanos mantidos à margem das riquezas, da cultura e dos direitos mais elementares que lhes são negados pelo modelo dominante. Continente gigantesco, a África corresponde à quinta parte da superfície terrestre, abrigando algo em torno de um bilhão de habitantes, no universo dos 6,5 bilhóes que povoam nosso Planeta.
Terra e Povos de tantas potencialiidades! Território extenso e variado. Montanhas, vales, planícies, rios, florestas, fauna, vasto litoral, subsolo rico... Uma Gente portadora de uma cultura milenar! O processo de colonização - e hoje de recolonização, feita desta vez pelos grandes conglomerados transnacionais, com o apoio das grandes potências – não cessa de multiplicar as vítimas (os Humanos e o Planea)..
Com efeito, em que condições reais vivem esses nossos irmãos e irmãs, em sua grande maioria? A julgar pelas estatísticas oficiais, a exemplo de dados recentes lançados pela OIT, dando conta de que em torno da metade da humanidade vive abaixo da linha de pobreza, a situação da população africana deve ser pior, por conta dos sofisticados mecanismos de exploração que são infligidos às maiorias empobrecidas daquele enorme continente.
São dezenas, centenas de milhões de crianças, de jovens, de mulheres, de trabalhadores destituídos de suas terras, desempregados, sub-empregados, sobrevivendo como mendigos nas periferias dos grandes centros urbanos. As estatísticas oficiais são escabrosas, com a agravante do balanço de que essa situação não apenas se manteve, como se tem deteriorado, no curso dos últimos anos, ao ponto de que, segundo dados recentes da UNCTAD (da ONU), “nos últimos 30 anos o número de pessoas que vivem com menos de 1,00 dólar se duplicou nos países menos desenvolvidos.”.
Diante desse quadro tenebroso, não resta aos empobrecidos senão confiarem em suas próprias forças, e avançarem na organização e na construção de uma nova sociedade que lhes faça justiça, aos Humanos e ao Planeta que também geme, e não menos.
Quando refletimos sobre as grandes mudanças sociais, percebemos que todas resultaram de lutas protagonizados pelos principais interessados: os empobrecidos. De fato, são os empobrecidos – mulheres, jovens, negros, trabalhadores e seus aliados – as forças de transformação com que se pode e se deve contar. Atalhos têm servido mais para retardar ou para iludir do que propriamente para fazer avançar no horizonte desejado: uma nova sociedade na qual a todos sejam assegurados todos os direitos – econômicos, sociais, políticos, culturais -, em harmonia com o Planeta.
Nesse sentido, desperta-nos esperança quando ouvimos o que os representantes dos povos africanos, organizados em associações e sobretudo em movimentos sociais com projeto alternativo de sociedade, demonstram clareza acerca desse desafio. É o que manifesta, por exemplo, uma liderança africana, uma das organizadoras do Fórum Social Mundial, na África: “O Fórum da África Ocidental constitui o lugar das manifestações que dizem respeito ao conjunto dos países dessa sub-região, entre os quais o Mali. Vai acontecer em Lomé (Togo). Alilás, diferentes atores do movimento social africano vão participar, em todo o mundo de outras manifestações que lhes permitirão restituir as conclusões das iniciativas em marcha, ao longo de 2007. (...) O Fórum Social Mundial foi e continua sendo uma oportunidade privilegiada e sem precedente de mobilização da sociedade civil, em escala planetária. Se ele não existisse, seria preciso criá-lo para se fazer face a essa ordem econômica mundial violenta e com freqüência indiferente aos direitos econômicos, políticos, sociais e culturais. O FSM é tanto mais necessário, quando a democracia tem perdido consideravelmente seu sentido, enquanto poder popular para o povo e pelo povo. A ditadura das multinacionais é sem limite. Seus interesses é que determinm as políticas dos países ricos que, por sua vez, influenciam, por meio dos seus condicionamentos, as dos países endividados e dependentes do Sul.” (“Interview avec Aminata Dramane Traoré http://ipsinternational.org/fr/_note.asp?idnews=3939)
A despeito dos limites do Fórum Social Mundial – não tem caráter deliberativo eficaz -, não se deve ignorar tratar-se de um espaço de conscientização, capaz de desmascarar os mecanismos de dominação do atual sistema, de modo a permitir uma acumulação de forças por parte dos povos marginalizados, que assim vão se preparando para um dia fazer valer seus direitos.
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